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Estado de Minas DOR

Como aliviar dores nas costas

Dependendo do diagn�stico feito por especialistas, tratamento pode variar de medicamentos a fisioterapia ou exerc�cios f�sicos


29/08/2022 09:28 - atualizado 29/08/2022 09:28
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Mulher com dor nas costas sentada em sofá
Ao longo da vida, oito em cada 10 pessoas enfrentam dor nas costas (foto: Getty Images)
Ao longo da vida, oito em cada 10 pessoas enfrentam dor nas costas. Esse problema de sa�de pode ser tanto um inc�modo quanto um dos principais motivos de afastamento do trabalho. O quadro piorou durante a pandemia, e mais de 55 mil trabalhadores brasileiros se afastaram por causa de problemas na coluna no primeiro semestre de 2021.

Por isso, uma das perguntas de sa�de mais buscadas na internet �: como aliviar dores nas costas? A depender do diagn�stico feito por especialistas, esse tratamento pode envolver, por exemplo, medicamentos, exerc�cios f�sicos, fisioterapia, pilates e orienta��es sobre dor e postura, explicam especialistas � BBC News Brasil.

O mais eficaz desses tratamentos, segundo especialistas e estudos cient�ficos, costuma ser o exerc�cio f�sico, a exemplo de caminhada, nata��o e ciclismo. S� que apenas o diagn�stico feito por um profissional especializado poder� indicar que tipo de exerc�cio f�sico correto ajudar� cada paciente. Caso contr�rio, a dor pode piorar ainda mais. Ali�s, ficar parado � outro fator que pode agravar a dor.

E o que � a dor? Bem, ela � definida pela Associa��o Internacional de Estudos da Dor (Iasp, na sigla em ingl�s) como uma "experi�ncia sensorial e emocional desagrad�vel, associada a danos teciduais reais ou potenciais" e que � "sempre uma experi�ncia pessoal influenciada em diferentes graus por fatores biol�gicos, psicol�gicos e sociais". Ela tamb�m est� ligada a mecanismos de prote��o do corpo.

Especialistas classificam a dor em tr�s n�veis ligados � dura��o dela: aguda, subaguda e cr�nica. "Se durar at� um m�s, ela � considerada dor aguda. De um a tr�s meses, seria uma dor subaguda. E com mais de de tr�s meses seria uma dor cr�nica", explica em entrevista � BBC News Brasil o m�dico reumatologista Martin Fabio Jennings Sim�es, da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

Segundo Sim�es, 80% dos casos de dor aguda v�o se resolver mesmo sem tratamento. Nos casos restantes, o tratamento da dor passar� tanto pelo n�vel de dor quanto pelo complexo processo de investiga��o em torno de diversas causas poss�veis.

Quais? O Sistema de Sa�de do Reino Unido (NHS) afirma que uma das causas mais comuns de dores nas costas � a les�o muscular. Em seguida, com menos frequ�ncia aparecem a h�rnia de disco e a ci�tica (les�es ligadas ao disco entre as v�rtebras da coluna) e a espondilite anquilosante (inflama��o cr�nica nas articula��es). Por fim, h� outras possibilidades mais raras, como c�ncer, fratura ou infec��o.

Leia tam�m:  Postura errada ao usar eletr�nicos pode gerar dores no pesco�o e ombros.
 

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam ainda outras causas poss�veis, como infec��o por herpes-z�ster, c�lculo renal (pedra no rim), degenera��o ligada � idade, problemas de sa�de mental, sedentarismo e obesidade, al�m de problemas de postura.

Entenda mais abaixo.

Como aliviar as dores nas costas? Quais s�o os tratamentos?

Existe uma confus�o comum entre as pessoas sobre o que deve ser feito quando se tem dor nas costas: repousar ou se movimentar?


Homem com dor nas costas em frente a laptop
Mais de 55 mil brasileiros se afastaram do trabalho por causa de problemas na coluna no primeiro semestre de 2021 (foto: Getty Images)

Sim�es, da Sociedade Brasileira de Reumatologia, explica que quase sempre a melhor solu��o � se movimentar, principalmente por meio de exerc�cios f�sicos. A coluna tem a fun��o de mexer o corpo humano: virar, curvar, movimentar etc. Esse movimento faz com que a coluna fique forte e flex�vel. E uma rotina de atividades f�sicas que trabalham a coluna ajudam com a for�a, resist�ncia e flexibilidade.

O repouso, por outro lado, s� costuma ser indicado para quadros bem espec�ficos, como a dor ligada � h�rnia de disco. Mas ainda assim � um repouso relativo pelo menor tempo poss�vel, e n�o completo, absoluto. Ou seja, a pessoa vai fazer o que conseguir fazer, como as atividades dom�sticas, e n�o ficar completamente parada na cama, afirma Sim�es.

Isso porque o repouso carrega alguns problemas, como enfraquecimento dos m�sculos, rigidez das articula��es e perda do preparo f�sico. Al�m do risco maior de virar um caso cr�nico.

Segundo Sim�es, � como riscar um f�sforo perto da gasolina. Mas por qu�? Uma das explica��es passa pela chamada catastrofiza��o, uma distor��o de pensamento que acaba, grosso modo, transformando obst�culos em coisas maiores do que eles de fato s�o. De certa maneira, cada coisa vira uma "cat�strofe". Ou seja, muitas vezes a dor sentida n�o � proporcional � causa dela.

Os fatores psicol�gicos e/ou psiqui�tricos t�m bastante import�ncia no diagn�stico e, por extens�o, no tratamento da dor. Assim como quest�es ligadas ao trabalho, � gen�tica, � biof�sica, � situa��o socioecon�mica, a outros problemas de sa�de (os sinais vermelhos e amarelos, ou red flags e yellow flags, em ingl�s) e a fatores como tabagismo e sedentarismo.

Esses pontos ser�o considerados quando o tratamento for definido, mas tudo come�a pelo diagn�stico feito por um m�dico especializado.

"Voc� s� vai come�ar a se tratar corretamente se for diagnosticado corretamente, e n�o tentar se autodiagnosticar, procurar no Google. E o diagn�stico correto passa tamb�m por excluir as causas, porque existe um card�pio enorme de possibilidades quando o paciente chega com dor nas costas", explica Sim�es.

A dor nas costas cr�nica, que s� n�o � mais comum que a dor de cabe�a (enxaqueca), pode ser classificada em diversos grupos.


Um deles � a dor nociceptora ou inflamat�ria (ou seja, h� causa espec�fica ligada aos neur�nios sensoriais, como artrite, isquemia, infec��o, dor p�s-operat�ria, les�o, dor ligada ao envelhecimento).

Outro � a dor neurop�tica, mais ligada a les�es ou doen�as que afetam o sistema nervoso, como compress�o da raiz espinhal e hidrocefalia de press�o normal.


Pessoas nadando em piscina com raias
Nata��o � um dos exerc�cios f�sicos que costumam ser ben�ficos (foto: Getty Images)

O grupo mais comum, por�m, � a dor inespec�fica. Melhor dizendo, n�o se descobre exatamente qual � a estrutura espec�fica que est� causando aquela dor. Estima-se que isso ocorra com at� 90% dos pacientes com dores nas costas.

Leia tamb�m: Dor nas costas e fratura �ssea s�o principais sintomas do mieloma m�ltiplo.

Por esse e outros motivos, uma quest�o importante nesse momento do diagn�stico � que o m�dico explique ao paciente o que � a dor, em um processo chamado de educa��o em neuroci�ncia da dor (pain neuroscience education, ou PNE em ingl�s), abordagem que tem sido adotada tamb�m por algumas "escolas de coluna" (back school, em ingl�s).

"Quando o paciente tem uma dor, ele fica assustado. Ser� que � c�ncer? Ser� que vou ficar parapl�gico? Por isso, � importante para o paciente entenda o que � a dor, porque ela est� ali, como que conseguimos trat�-la, como ele enfrenta essa dor. Da� a pessoa n�o tem expectativas irreais, cren�as, erros cognitivos, ela consegue enfrentar melhor essa situa��o. Quando ela recebe educa��o em neuroci�ncia da dor, a pessoa costuma perceber a dor com uma intensidade menor do que quando ela n�o recebe essas informa��es", afirma o m�dico ortopedista Jonas Lenzi de Araujo, da Sociedade Brasileira para Estudos da Dor (Sbed).

Esse tipo de abordagem tende a ajudar no tratamento, seja ele qual for. Porque problemas de sa�de mental, como depress�o, ansiedade, estresse e catastrofiza��o, podem contribuir para a cronifica��o. Ou seja, a dura��o da dor pode passar de menos de um m�s para mais de tr�s meses.

Em geral, a dor nas costas prejudica a qualidade de vida do paciente, e a sensa��o de impot�ncia � bastante comum entre quem sofre desse problema. E esse cen�rio pode agravar ainda mais a sa�de mental dessas pessoas, numa esp�cie de escalada psicol�gica.

"Ent�o, existem v�rios tipos de terapia, t�cnicas, tratamentos. No fundo, elas tentam abordar esses aspectos de dor cr�nica, de catastrofiza��o, enfrentamento ou aspectos psicol�gicos que afetam de uma forma negativa a sensa��o de dor, a experimenta��o da dor", afirma Sim�es, da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

Diante de todos esses fatores no diagn�stico, o tratamento definido dever� ent�o ser o mais efetivo e o menos agressivo para cada paciente. E quais s�o eles? Entre os tratamentos poss�veis, h� os medicamentosos, os n�o medicamentosos, as orienta��es ergon�micas e as cirurgias (s� para casos raros), por exemplo.

Tratamentos n�o medicamentosos

Os estudos cient�ficos mais recentes e robustos apontam que o melhor tratamento para quadros cr�nicos de dor (que duram mais de tr�s meses) � o exerc�cio f�sico sem uso de rem�dios. Principalmente para a dor lombar (ou lombalgia), na parte de baixo das costas.

Esses exerc�cios incluem os aer�bicos, como nata��o, caminhada e ciclismo, e os de fortalecimento dos m�sculos, como o pilates.


S� que nem sempre os pacientes fazem somente exerc�cios. Os tratamentos podem envolver medicamentos associados, como antidepressivos (duloxetina) e anticonvulsivantes (pregabalina).

Outro tratamento associado pode passar pelas chamadas "escolas de coluna" (back school, em ingl�s). Os pacientes aprendem e praticam exerc�cios para fortalecer as costas e de uma educa��o da postura mais correta ao andar, sentar, trabalhar e dormir.

Mas n�o se trata apenas de orientar os pacientes a utilizar a coluna da melhor forma poss�vel. Mas tamb�m de ensin�-los sobre quest�es como o que � a dor, como os fatores psicol�gicos influenciam a sensa��o e a recupera��o (como frustra��o e temor de nunca melhorar) e como o tratamento vai ocorrer dali em diante (inclusive para evitar les�es e saber lidar com reca�das).


Ali, eles s�o orientados de que n�o � necess�rio estar 100% recuperado para retomar atividades e de como a respira��o e uma boa noite de sono podem fazer muita diferen�a para a recupera��o, por exemplo.


Mulheres fazendo aula de pilates
Pilates pode ser indicado para alguns casos (foto: Getty Images)

"As escolas de coluna t�m um efeito melhor quando o aspecto psicol�gico tamb�m � abordado. Ou seja, a catastrofiza��o, o enfrentamento… Ent�o, voc� tem uma abordagem com t�cnicas de terapia cognitivo comportamental, a TCC (abordagem comum para casos de depress�o na qual, por meio da conversa, o terapeuta ensina o paciente a identificar e lidar com pensamentos, cren�as e sentimentos negativos, quebrando o ciclo em torno dele)", afirma Sim�es. "Ent�o, a pessoa reprocessa a dor, trabalha como a encara. A forma como ela encara e processa esse tipo de dor tamb�m est� muito relacionada com outros obst�culos que a pessoa tem."

Especialistas listam outras abordagens que tamb�m costumam ter efeitos positivos contra as dores na coluna, como fisioterapia, medita��o (como mindfulness) e pilates, uma forma de exerc�cio que permite desenvolver for�a, aumentar a flexibilidade e melhorar a postura do corpo.

"A medita��o, por exemplo, ajuda no controle da dor ao diminuir a atividade do sistema nervoso simp�tico, aquele que nos deixa preparados para lutar ou fugir. Quando fa�o medita��o, mindfulness, consigo diminuir a atividade desse sistema nervoso simp�tico, e diminuo a vincula��o de estresse, tens�o, ansiedade e medo �quela dor. H� ent�o uma melhor evolu��o cl�nica, tende a ter uma diminui��o da percep��o de dor", explica Araujo, da Sociedade Brasileira para Estudos da Dor.


H�, por fim, grande contraindica��o de algumas solu��es "milagrosas" que costumam surgir nas redes sociais, como cintas, �rteses, suportes lombares, palmilhas e corretores de postura. "Normalmente, quando se usa isso � em um p�s-operat�rio, p�s-fratura, mas n�o como forma de tratamento. O objetivo � ganhar for�a e elasticidade, ganhar mobilidade e fun��o. Quando n�s usamos esses equipamentos, a gente perde fun��o, perde mobilidade", afirma Araujo.

Tratamentos medicamentosos (� base de rem�dios)

Para o al�vio da dor, rem�dios como analg�sicos, anti-inflamat�rios, corticoides, opioides, antidepressivos e miorrelaxantes podem ser recomendados em fase aguda — h� expectativas em torno do poss�vel efeito positivo do canabidiol (um dos principais componentes da maconha) para a dor, mas ainda n�o h� consenso cient�fico nem evid�ncias robustas sobre eventuais benef�cios.

Mas, geralmente, esses rem�dios ajudam a aliviar ou controlar os sintomas, mas eles n�o resolvem os problemas que causam esses sintomas e nem aceleram a recupera��o do paciente. "Os opioides, por exemplo, s�o analg�sicos mais fortes para o controle da dor. Podem ser indicados quando o paciente tem uma dor muito mais intensa. Por�m, eles n�o s�o medica��es de primeira linha nem de segunda linha (os primeiros a serem indicados). Eles s�o mais para diminuir a percep��o de dor, enquanto o paciente faz uma reabilita��o de outra forma", explica Araujo, da Sociedade Brasileira para Estudos da Dor.

Al�m disso, ele lembra que muitos pacientes com dor talvez n�o possam usar alguns desses medicamentos por causa de outras quest�es de sa�de, como doen�as hep�ticas e renais, alergia e idade avan�ada. Sem falar nos poss�veis efeitos colaterais dos medicamentos para esses e outros pacientes.

Por outro lado, pode haver benef�cios com medicamentos associados ao chamado efeito placebo. Ou seja, medicamentos que n�o promovem qualquer altera��o no organismo, mas s�o capazes de modificar a forma como uma pessoa se sente em rela��o a determinadas doen�as e at� ajudar a melhorar certos sintomas.


Em 2018, a BBC e a Universidade de Oxford fizeram um experimento com cem participantes no Reino Unido que sofriam com dor nas costas h� anos. Eles foram informados de que metade receberia um poderoso rem�dio contra a dor e a outra metade receberia uma p�lula ineficaz. Mas ningu�m saberia quem recebeu o qu�.

S� que todas as 100 pessoas receberam comprimidos de arroz mo�do. Ou seja, placebo.

Depois de tr�s semanas, quase metade dos volunt�rios relataram ter uma melhora significativa na dor, um resultado positivo considerando que muitos deles tinham o hist�rico de tomar analg�sicos fortes.

Cientistas envolvidos com o experimento explicaram que a ci�ncia mostra que o efeito placebo tem um papel concreto na psicologia e na neuroqu�mica, inclusive com a libera��o de endorfina, um analg�sico natural que tem estrutura similar � morfina (um opioide poderoso contra a dor).

Estudos cient�ficos apontam que placebos podem funcionar mesmo quando os pacientes sabem que o que est�o tomando � um placebo.

Vale mencionar que outro fator positivo para a percep��o de melhora dos volunt�rios do experimento de 2018 foi a dura��o da consulta com os m�dicos envolvidos. A metade que passou mais tempo com os profissionais relatou melhora do que a outra metade.


- Este texto foi publicado originalmente em
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62712178

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