
Quando graves, as altera��es anormais nos batimentos do cora��o, as chamadas arritmias, podem ser tratadas com desfibriladores. Por�m, os aparelhos m�dicos dispon�veis s�o implant�veis. Pesquisadores da Cl�nica Mayo, nos Estados Unidos, trabalham no desenvolvimento de um dispositivo que, ao contr�rio dos convencionais, � inserido de forma extravascular, deixando o tratamento mais seguro e menos dolorido. A nova tecnologia m�dica foi apresentada no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia e na revista The New England Journal of Medicine.
O cora��o humano, assim como o de outros mam�feros, � dividido em quatro partes principais - dois �trios e dois ventr�culos, esquerdo e direito. "S�o as c�maras mais importantes do �rg�o. O �trio recebe o sangue do corpo, enquanto os ventr�culos bombeiam o sangue novamente para todo o organismo", explica Carlos Rassi, cardiologista do Hospital S�rio Liban�s, unidade Bras�lia, e professor da Universidade de Bras�lia (UnB). A fun��o dos desfibriladores � gerar choques el�tricos para controlar as palpita��es do cora��o.
Por�m, a coloca��o desses equipamentos convencionais, chamados cardioversores-desfibriladores implant�veis (CDIs), pode ser um fator de sofrimento aos pacientes. Al�m disso, ao longo do funcionamento, ele pode causar dor e desconforto. Est�o dispon�veis no mercado dois tipos principais: os intravenosos e os subcut�neos.
Rassi explica que, nos primeiros, os eletrodos - fios respons�veis por conduzir a corrente el�trica do cora��o ao gerador - precisam ser anexados dentro das veias principais do cora��o, como a veia cef�lica, a axilar e a subcl�via. J� nos subcut�neos, a bateria � implantada embaixo da pele, na lateral do t�rax, enquanto os sensores ficam dispostos ao longo do osso esterno.
A equipe americana apresentou uma nova forma de implantar os cardioversores com seguran�a e efici�ncia. Em vez de introduzir os eletrodos no interior das veias do cora��o ou subcutaneamente acima do esterno, os pesquisadores colocaram os fios atr�s do osso esterno, mais pr�ximo ao cora��o. Com a nova t�cnica, relatam, os riscos associados ao uso dos desfibriladores - como colapso pulmonar, danos graves �s veias card�acas e perfura��o do cora��o - podem ser evitados.
A nova tecnologia m�dica tamb�m apresenta vantagens em rela��o ao manuseio e � otimiza��o dos gastos de carga el�trica. "Como o eletrodo est� atr�s do esterno e pr�ximo ao cora��o, a estimula��o pode ser administrada, e a desfibrila��o requer menos energia, o que proporciona uma maior vida �til da bateria", afirma Paul Friedman, m�dico eletrofisiologista e primeiro autor do estudo. Chama aten��o ainda o tamanho do dispositivo, menor que os tradicionais. "Fomos capazes de desfibrilar efetivamente usando um dispositivo com metade do tamanho", compara Friedman.
A fim de analisar a efic�cia da solu��o m�dica, a equipe selecionou 316 volunt�rios com arritmia, n�o submetidos a cirurgia card�aca e que n�o usavam marca-passo. A taxa de �xito da desfibrila��o foi de 98,7%. Al�m disso, o novo aparelho encerrou sem dor 70% dos epis�dios de arritmias ventriculares. Seis meses depois do procedimento, 92,6% dos participantes n�o apresentavam complica��es graves relacionadas ao sistema ou ao procedimento para implant�-lo.
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Os resultados refletem uma experi�ncia inicial e ainda � necess�rio um maior acompanhamento dos pacientes a longo prazo, avalia Friedman. Ele aponta melhorias operacionais a serem desenvolvidas. "As taxas de choque inadequadas s�o maiores do que com os dispositivos atuais, mas semelhantes ou inferiores � experi�ncia inicial com outros tipos de desfibriladores, e j� foram tomadas medidas para reduzi-las", diz. H�, por exemplo, equipamentos externos, dispon�veis em hospitais, cl�nicas e locais com grande fluxo de pessoas, como aeroportos.
A expectativa do grupo � de que, no futuro, o novo desfibrilador se torne uma alternativa eficaz e otimizada aos pacientes com problemas de arritmia card�aca. "Estamos buscando caminhos mais eficientes e seguros de atendimento aos pacientes com esses dist�rbios", enfatiza Yong-Mei Cha, diretora do Laborat�rio de Dispositivos Implant�veis da Mayo Clinic e pesquisadora principal do estudo.
Carlos Rassi pondera que os desfibriladores n�o s�o direcionados a todas as pessoas com arritmias ventriculares. "H� pacientes, por exemplo, que desenvolvem arritmia em decorr�ncia de disfun��es renais, como o ac�mulo de pot�ssio no sangue. Nesses casos, corrige-se o dist�rbio metab�lico com medicamentos betabloqueadores ou antiarr�tmicos", ilustra o cardiologista.
*Estagi�ria sob a supervis�o de Carmen Souza