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Estado de Minas DEZEMBRO VERMELHO

Desigualdades e estigmas prolongam pandemia de Aids

No Dia Mundial de Luta Contra a Aids, relat�rio 'Desigualdades Perigosas' do Unaids marca a data e refor�a a luta contra a discrimina��o


01/12/2022 09:50 - atualizado 01/12/2022 09:51

teste de aids
Hoje (1�/12), no Dia Mundial de Luta Contra a Aids, especialistas e ativistas refor�am que discrimina��o contra grupos vulner�veis e pessoas que vivem com HIV persistem (foto: Marcelo Camargo/Ag�ncia Brasil)
Atingir o compromisso global de encerrar a pandemia de Aids at� 2030 passa pelo combate �s desigualdades e estigmas que acompanham essa emerg�ncia de sa�de p�blica desde o seu surgimento, h� 41 anos, destaca o relat�rio Desigualdades Perigosas, divulgado esta semana pelo Programa das Na��es Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) para marcar o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado hoje (1°). Especialistas e ativistas refor�am que, mesmo com o avan�o dos medicamentos dispon�veis, a discrimina��o contra grupos vulner�ves e pessoas que vivem com HIV reduz o acesso � sa�de, impede o diagn�stico precoce e causa mortes por aids que poderiam ser evitadas com tratamento.

Em mensagem divulgada para marcar a data de combate � doen�a, o secret�rio-geral das Na��es Unidas, Ant�nio Guterres, alertou que o mundo ainda est� distante de eliminar a Aids at� 2030 e afirmou que as desigualdades perpetuam a pandemia da doen�a.

"S�o necess�rias melhores legisla��es e a implanta��o de pol�ticas e pr�ticas voltadas para eliminar o estigma e a discrimina��o que afetam as pessoas que vivem com HIV, sobretudo aquelas em situa��o de vulnerabilidade. Todas as pessoas t�m o direito de ser respeitadas e inclu�das", disse. 

Segundo o Unaids, 38,4 milh�es de pessoas viviam com HIV em todo o mundo em 2021. Esse n�mero � maior que a popula��o do Canad� ou que a soma de todos os habitantes dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. No Brasil, o n�mero de pessoas vivendo com HIV passava de 900 mil no ano passado, de acordo com o Minist�rio da Sa�de, e, desse total, cerca de 77% tratavam a infec��o com antiretrovirais. A efetividade do tratamento dispon�vel gratuitamente no pa�s � reiterada pelo percentual de 94% de pessoas com carga viral indetect�vel entre as que fazem uso dos medicamentos contra o HIV. Quando o paciente em tratamento atinge esse n�vel de carga viral, ele deixa de transmitir o HIV em rela��es sexuais.
Desde o in�cio da pandemia de Aids, em 1980, at� dezembro de 2020, o Brasil j� teve mais de 1 milh�o de casos da doen�a, que causaram 360 mil mortes. A taxa de detec��o vem caindo no Brasil desde o ano de 2012, quando houve 22 casos para cada 100 mil habitantes. Em 2020, essa propor��o havia chegado a 14,1 por 100 mil, o que tamb�m pode estar relacionado � subnotifica��o causada pela pandemia de COVID-19.

HIV ou Aids?

O v�rus da imunodefici�ncia humana (HIV) � um agente infeccioso que pode entrar no corpo humano por meio do sexo vaginal, oral e anal sem camisinha; por meio do uso de seringas e outros objetos cortantes ou perfurantes contaminados; pela transfus�o de sangue contaminado; e da m�e infectada para seu filho durante a gravidez, o parto e a amamenta��o, se n�o for realizado o tratamento preventivo. Quando se instala no corpo humano, esse v�rus tem um tempo prolongado de incuba��o, que pode durar v�rios anos, e sua atividade ataca o sistema imunol�gico, respons�vel por defender o organismo. Se essa infec��o n�o for detectada e controlada a tempo com o uso de antirretrovirais, o HIV pode enfraquecer as defesas do corpo humano a ponto de causar a S�ndrome da Imunodefici�ncia Humana (aids). Portanto, a sigla HIV se refere ao v�rus, e a sigla Aids, � doen�a causada pelo agravamento da infec��o pelo HIV.

O uso de preservativos masculinos e femininos e gel lubrificante est�o entre as principais a��es preventivas contra o HIV. Tamb�m j� est�o dispon�veis a Profilaxia Pr�-Exposi��o (PrEP), que consiste no uso de antirretrovirais para prevenir a infec��o caso a pessoa venha a ser exposta ao v�rus, e a Profilaxia P�s-Exposi��o (PEP), que pode impedir a infec��o caso seja administrada at� 72 horas ap�s a exposi��o. Mesmo no caso de haver uso dessas profilaxias, a camisinha continua importante, pois previne tamb�m outras infec��es sexualmente transmiss�veis, como a s�filis e as hepatites virais.
Ao menos 30 dias ap�s uma poss�vel exposi��o ao HIV, � fundamental fazer um teste para a detec��o do v�rus, exame que pode ser realizado em unidades da rede p�blica e nos centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). O diagn�stico precoce da infec��o e o in�cio r�pido do tratamento protegem o sistema imunol�gico da pessoa infectada, j� que esse ser� o alvo do HIV quando a carga viral aumentar.

Diretor m�dico associado de HIV da GSK/ViiV Healthcare, Rodrigo Zili explica que os antiretrovirais usados hoje para o tratamento das pessoas que vivem com HIV s�o menos t�xicos para o corpo humano, causam menos efeitos colaterais e s�o administrados em quantidade bem menor de comprimidos. A farmac�utica � a fornecedora do Dolutegravir e outros medicamentos usados no Sistema �nico de Sa�de (SUS) para combater o v�rus. Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente os antirretrovirais a todas as pessoas que vivem com HIV e necessitam de tratamento, contando atualmente com 22 medicamentos em 38 apresenta��es farmac�uticas diferentes.   

“O tratamento hoje � muito menos t�xico. Nem se usa mais a palavra coquetel, porque n�o � um conjunto enorme de rem�dios como se tinha antigamente. E, se a pessoa descobre o HIV a tempo de n�o ter desenvolvido a imunodefici�ncia, ela tem chance muito grande de ter uma vida totalmente normal tomando rem�dios diariamente”, afirma o infectologista. Ele refor�a que a pessoa com HIV pode ter expectativa de vida at� maior do que pessoas que n�o foram infectadas pelo v�rus. “Essa pessoa que est� em tratamento est� acompanhando todas as doen�as praticamente. Ent�o, ela faz check-ups peri�dicos, faz exames peri�dicos, tem aconselhamento para manter um estilo de vida saud�vel, e acaba podendo ter uma vida mais saud�vel do que algu�m que n�o tem HIV e n�o faz acompanhamento m�dico”. 

Mesmo com esses avan�os no tratamento contra o HIV e a disponibilidade gratuita dos medicamentos, o acesso � sa�de ainda � marcado por desigualdades, pondera Zili. “Por mais que se tenha um programa 100% p�blico, o acesso � informa��o e aos servi�os n�o � totalmente igualit�rio”, lembra o infectologista. 

Quest�es sociais

O coordenador do Grupo Pela Vidda-RJ, M�rcio Villard, avalia que o combate terap�utico � Aids avan�ou mais do que a supera��o dos preconceitos que afetam as pessoas que vivem com HIV. Mesmo com medicamentos menos t�xicos e uma expectativa de vida maior, quest�es sociais afastam pessoas com HIV de uma vida plena. 

“Quando a gente fala em qualidade de vida, n�o pode entender somente a quest�o terap�utica e biom�dica. � preciso tamb�m entender as quest�es sociais que envolvem a pessoa com HIV, porque enfrentamos ainda muitos problemas relacionados a estigmas, preconceitos e exclus�o social que interferem na qualidade de vida”, afirma. "O que acontece � que o HIV sempre traz consigo uma condena��o. De alguma forma, a sociedade vai te condenar, seja pelo seu estilo de vida, seja pela sua orienta��o sexual, seja por voc� pertencer a um determinado grupo da sociedade. Praticamente ningu�m escapa, at� uma crian�a que nasce com HIV vai ser estigmatizada por isso. Infelizmente, esse cen�rio n�o mudou".

O ativista explica que a estigmatiza��o das pessoas com HIV tem ra�zes ligadas � LGBTfobia, j� que os primeiros surtos de HIV se deram na popula��o homossexual, bissexual e transexual nos Estados Unidos, e a imprensa da d�cada de 80 refor�ou a associa��o entre a popula��o LGBTI e o HIV, chamando a aids at� mesmo de c�ncer gay.

“Isso come�ou nos Estados Unidos, se espalhou pelo mundo e acabou virando um selo. Aqui no Brasil, at� o ano passado, homossexuais n�o podiam doar sangue, independentemente de ter ou n�o o v�rus”. 

O Pela Vidda-RJ foi fundado em 1989 pelo soci�logo e ativista Hebert Daniel e atua desde ent�o na luta por direitos das pessoas que vivem com HIV. �s 11h de hoje, o grupo vai promover ato p�blico na Pra�a Mau�, no centro do Rio de Janeiro, com o tema Viver com o HIV � poss�vel. Com o preconceito, n�o. Entre as principais demandas atuais da popula��o que vive com HIV, Villard conta que est�o a assist�ncia jur�dica para garantir direitos previdenci�rios e trabalhistas. Os problemas incluem processos seletivos que eliminam candidatos que testam positivo para HIV, enquanto essa testagem � vedada por lei em qualquer exame admissional, peri�dico ou demissional. Fora esses direitos, as pessoas com HIV tamb�m procuram a organiza��o n�o governamental para receber acolhimento afetivo.

“A maior dificuldade ainda � a quest�o do estigma. Quando a pessoa tem esse diagn�stico, ela tem dificuldade de lidar com ele. E, ao se colocar para a fam�lia, no trabalho e para os amigos, vai enfrentar discrimina��o. S�o raros os casos em que a pessoa consegue viver tranquilamente, independentemente de sua sorologia”.


Ang�stia e cura

A dificuldade de encontrar informa��o e acolhimento depois do diagn�stico foi o que moveu o influenciador Jo�o Geraldo Netto a compartilhar sua experi�ncia na internet desde 2008.

"Inicialmente, eu falava de uma maneira mais oculta, n�o falava especificamente que eu vivia com o v�rus. Mas a� eu senti a necessidade de falar sobre isso mais abertamente. Eu descobri que, falando, eu me curava de certa forma. Sentia algo muito positivo quando falava sobre os dramas, os medos que eu tinha de fazer tratamento, de morrer, de adoecer. E eu vi que aquilo era muito bem recebido. Isso foi me dando for�a", conta.

O jornalista acrescenta que a maioria das pessoas que entram em contato nas redes sociais est� angustiada, seja porque acredita que se exp�s ao risco de infec��o ou porque j� recebeu o diagn�stico e est� tentando lidar com ele. Jo�o Geraldo acredita que o peso social do HIV afasta as pessoas do teste e do diagn�stico precoce, porque muitas n�o se percebem parte de um suposto grupo social que poderia ser infectado e outras preferem n�o saber o resultado do teste por medo. 

“A quest�o do preconceito � algo t�o forte que atrapalha de fazer o teste, de procurar ajuda e tratamento e impede que a pessoa tome o medicamento todo dia. Ent�o, o grande problema do HIV hoje n�o � mais um problema cl�nico, � um problema social”, diz. “As pessoas que chegam ao meu canal mais angustiadas s�o aquelas que passaram por situa��o que consideram moralmente errada e acreditam que � uma puni��o para elas. E a pior puni��o que elas conseguem imaginar � uma doen�a como a Aids. Ent�o, isso � muito doloroso, sabe? Porque voc� v� que est� conversando com uma pessoa que acha que a pior coisa que pode acontecer na vida � o que voc� tem”.

Em suas postagens nas redes sociais, o influenciador comenta sobre HIV e temas do dia a dia e de sua vida pessoal, como fotos de viagens, reuni�es com amigos e declara��es de amor ao namorado. Em um de seus perfis, chamado Superindetect�vel, ele deixa a seguinte mensagem: “Respira fundo! Pela frente ainda tem muito mundo. Agora pode na%u0303o estar, mas tudo pode ficar bem”.


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