menino obeso medindo a barriga com fita métrica

N�o basta o portador de obesidade ser convidado a fazer dietas e exerc�cios, porque na maioria das vezes ele vai precisar do apoio de profissionais

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Na campanha de 2023 para o Dia Mundial da Obesidade, em 04/03, a Associa��o Brasileira para o Estudo da Obesidade e S�ndrome Metab�lica (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) querem conscientizar a sociedade para ‘um outro jeito de olhar’. � essencial mudar a perspectiva para a doen�a, entendendo que a obesidade precisa ser olhada com mais empatia. N�o basta o portador de obesidade ser convidado a fazer dietas e exerc�cios, porque na maioria das vezes ele vai precisar do apoio de profissionais.

A conscientiza��o da popula��o sobre os riscos e como tratar � urgente. Dados da �ltima pesquisa Vigitel, do Minist�rio da Sa�de, divulgada ano passado, mostram que os n�meros relacionados � obesidade e ao sobrepeso n�o param de crescer no pa�s. Quase seis em cada 10 brasileiros estavam com sobrepeso em 2021, um aumento de cerca de 2% em rela��o a 2019. J� o �ndice de obesidade ficou em 22,35% em 2021, tamb�m superior aos anos anteriores e o dobro do registrado h� 15 anos. A maioria das pessoas acima do peso � do sexo masculino, mas as mulheres lideram entre os que j� s�o considerados obesos.

� essencial mudar a perspectiva para a doen�a, entendendo que a obesidade precisa ser olhada com mais empatia. Quase seis em cada 10 brasileiros estavam com sobrepeso em 2021. � considerada um problema de sa�de p�blica no mundo, em todas as faixas et�rias

Dados da �ltima pesquisa Vigitel, do Minist�rio da Sa�de, divulgada em 2022



Reconhecida pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) como uma doen�a cr�nica, a obesidade tamb�m � considerada um dos principais problemas de sa�de p�blica atualmente no mundo, em todas as faixas et�rias. Isso porque a doen�a tem potencial de causar e agravar diversas outras como diabetes, inflama��es no f�gado, hipertens�o arterial, problemas respirat�rios, al�m de aumentar o risco de infarto, AVC e de alguns tipos de c�ncer

Preconceito e estigma 

“Ainda existe muito preconceito e estigma em rela��o � obesidade e esse paciente precisa justamente do oposto, que � apoio e compreens�o, seja de m�dicos, da fam�lia, do seu ciclo social e da sociedade em geral. Por isso, � fundamental abordarmos a obesidade como o que ela �: uma doen�a que precisa ser tratada com acompanhamento profissional”, lembra o cirurgi�o bari�trico Cid Pitombo. A qualidade de vida do indiv�duo � um fator relevante para o aumento de peso, por isso � considerado um tratamento complexo e requer o envolvimento de v�rias especialidades.

A obesidade n�o deve ser considerada apenas pelo “ac�mulo excessivo de gordura” no corpo. � preciso um olhar mais amplo e considerando diferentes fatores que levam ao desenvolvimento da doen�a, al�m do perfil gen�tico do indiv�duo, como sociais e ambientais, o sedentarismo, alimentos ultraprocessados, consumo excessivo de calorias, dist�rbios end�crinos, entre outros.
 
 
O diagn�stico eficiente � o primeiro passo para iniciar o atendimento do paciente, com sobrepeso e obesidade. Para isso � preciso contar com profissionais de sa�de que estejam preparados para o atendimento, capacitados e sensibilizados para essa tem�tica, compreendendo que o excesso de peso � uma doen�a, com riscos de morbidade e mortalidade.

Cada doente deve ser cuidado de maneira individual, mas com abordagem multidisciplinar. Na classifica��o de risco, seguindo o �ndice de Massa Corporal (IMC), deve-se considerar as fases do curso da vida (crian�as, adolescentes, adultos, idosos e gestantes), faixa et�ria e o acompanhamento do paciente, seja na sa�de p�blica ou privada. � importante considerar a infraestrutura no acolhimento e no atendimento dos pacientes nos estabelecimentos de sa�de.

A cirurgia bari�trica

Cid Pitombo

"� fundamental abordarmos a obesidade como o que ela �: uma doen�a que precisa ser tratada com acompanhamento profissional%u201D, lembra o cirurgi�o bari�trico Cid Pitombo

Reprodu��o Internet

A partir do diagn�stico � que as estrat�gias de tratamento s�o especificadas j� que ser� observado o perfil do paciente para obter os melhores resultados. Nem todo doente, com sobrepeso ou obesidade, apresenta comorbidades, como hipertens�o e diabetes, por isso precisam de acompanhamento diferenciado. Nos casos mais graves, quando o IMC est� acima de 40 kg/m², n�o sendo poss�vel controlar o peso corporal, com a combina��o de atividade f�sica e acompanhamento nutricional, a cirurgia bari�trica surge como recurso terap�utico para perda de peso.
“O paciente candidato � bari�trica precisa ser muito bem avaliado por um m�dico, j� que somente esse profissional pode definir qual � a melhor forma de abordar e tratar cada tipo de obesidade. � fundamental entender as condi��es cl�nicas e tamb�m psicol�gicas do paciente para sabermos se a indica��o � mesmo a bari�trica e se � o melhor momento para faz�-la”, ressalta Pitombo. 

Bari�trica n�o � recomendada para todos os casos severos

De acordo com o m�dico, nem todo portador de obesidade pode operar. � importante que os obesos entendam que somente a presen�a de outros problemas n�o � indica��o absoluta para a cirurgia, devendo cada caso ser analisado, levando-se em conta o tempo que est� com a doen�a, a gravidade, a resposta ao tratamento e o IMC do paciente. “A cirurgia � complexa, por�m muito segura e r�pida, levando em torno de 40 minutos. � uma cirurgia, n�o se pode banalizar”, esclarece o m�dico Cid Pitombo.
 
Cada paciente � estudado a fundo para ter a certeza de que a bari�trica � a melhor solu��o. Temos que avaliar a capacidade cardiopulmonar, verificar se n�o h� doen�a vascular sobretudo dos membros inferiores, tem que haver controle m�ximo da glicemia e o psicol�gico tem que estar bem controlado. O paciente precisa estar preparado para as restri��es da dieta p�s-operat�ria, por exemplo. Ele tem que estar disposto a mudar bastante seus h�bitos alimentares, principalmente no in�cio. At� mesmo a mobilidade influencia. Temos que avaliar em que estado o paciente se encontra. Muitos precisam emagrecer para operar”, ressalta Pitombo.

Diabetes

Vale lembrar que a cirurgia bari�trica tamb�m j� tem sua efic�cia reconhecida para o controle do diabetes tipo 2. Isso porque, ap�s o procedimento, o alimento passa a chegar mais rapidamente ao intestino, promovendo a libera��o de diversos horm�nios, entre eles o GLP1. Esse horm�nio age sobre o p�ncreas, que, por sua vez, passa a produzir mais insulina, fazendo com que o a��car no sangue diminua.

Conhe�a os principais tipos de cirurgia bari�trica

- Bypass: um dos procedimentos mais feitos no pa�s para tratamento da obesidade m�rbida, costuma ser feito por videolaparoscopia, t�cnica minimamente invasiva. Uma grande parte do est�mago � desconectada e, em seguida, a por��o restante � ligada ao in�cio do intestino. Nenhuma parte dos �rg�os � retirada nessa cirurgia, sendo poss�vel a revers�o. Essas altera��es levam o paciente a ter menos fome, sentindo-se saciado com pouca ingest�o de alimentos. Tamb�m diminui a quantidade de calorias absorvidas pelo intestino, levando ao emagrecimento r�pido.

- Banda g�strica ajust�vel: procedimento muito pouco praticado no Brasil, consiste na coloca��o de um anel que possui um bal�o, no alto do est�mago. Tem por objetivo diminuir a ingest�o de alimentos, mas tem pior resultado em perda de peso quando comparada a outros m�todos.

- Sleeve: cirurgia autorizada no pa�s h� pouco mais de 10 anos somente, consiste em retirar grande parte do est�mago deixando em formato de um tubo. Possui perda de peso e resultado no controle da doen�a metab�lica menores que o bypass.

Entenda porque a cirurgia � apenas o in�cio do tratamento

Ap�s a alta hospitalar, o paciente segue seu acompanhamento ambulatorial, com a mesma equipe multidisciplinar. � de fundamental import�ncia o cuidado com a dieta - adaptada a cada t�cnica cir�rgica utilizada - e a sua progress�o com o passar do tempo. Inicialmente o paciente ingere somente pequenas quantidades de l�quidos, com o tempo a dieta evolui com rela��o � consist�ncia e volume. “O acompanhamento das patologias coexistentes permite a adequa��o das medica��es em uso e a eventual suspens�o das mesmas - total ou parcialmente", explica o cirurgi�o.

Avalia��es laboratoriais peri�dicas s�o praticadas a fim de se diagnosticar precocemente os poss�veis dist�rbios nutricionais associados principalmente �s t�cnicas mistas, e assim trat�-los precocemente. “O apoio psicol�gico � de fundamental import�ncia. Assim, o paciente inicia uma longa caminhada tendo ao lado v�rios profissionais que o acompanhar�o. A cirurgia n�o � o fim, mas sim o in�cio do tratamento”, alerta Cid Pitombo, cirurgi�o bari�trico e metab�lico.

Os benef�cios � sa�de s�o diversos, como: melhoria da sa�de cardiovascular, diminuindo o risco de doen�a coronariana, acidente vascular cerebral e doen�a card�aca perif�rica, com redu��o da press�o arterial e dos n�veis de colesterol. Remiss�o a longo prazo para diabetes tipo 2 em obesos; al�vio da depress�o, eliminar a apneia obstrutiva do sono; al�vio da dor nas articula��es; melhora a fertilidade e outras condi��es m�dicas, como a s�ndrome metab�lica; reduz riscos de complica��es na gravidez e de doen�a da ves�cula biliar, entre outros. 

O paciente deve ter compreens�o das mudan�as. A bari�trica reduz a absor��o de alimento e provoca altera��o nos horm�nios que est�o relacionados � fome e � saciedade. “O volume de alimentos que passa a ingerir � menor sim, mas nada t�o restritivo. Gradativamente, quem opera vai aumentando a quantidade de comida at� o limite considerado normal”, finaliza o m�dico Cid Pitombo.