mão de uma idosa segurando uma bengala

Fazer exames preventivos e estar atento aos sintomas persistentes � uma das formas de facilitar o rastreamento da doen�a, que tende a crescer no Brasil em fun��o da maior expectativa de vida e do envelhecimento da popula��o

Sabine van Erp/Pixabay
Ainda pouco conhecido, o mieloma m�ltiplo �, atualmente, o segundo c�ncer hematol�gico mais frequente no mundo, ficando atr�s apenas das leucemias. Atacando a medula �ssea e com alta taxa de letalidade, a doen�a ainda n�o tem cura, mas os tratamentos v�m se modernizando nos �ltimos anos.

De acordo com estudo da Janssen, farmac�utica da Johnson & Johnson, uma das grandes dificuldades no diagn�stico do mieloma � que seus sintomas podem ser facilmente confundidos com sinais t�picos do envelhecimento, fazendo com que os pacientes busquem diversos atendimentos antes de descobrir a neoplasia.

Fazer exames preventivos e estar atento aos sintomas persistentes � uma das formas de facilitar o rastreamento da doen�a, que tende a crescer no Brasil em fun��o da maior expectativa de vida e do envelhecimento da popula��o.

Embora a incid�ncia do mieloma m�ltiplo permane�a desconhecida no Brasil, pesquisadores indicam que a doen�a pode atingir quatro em cada mil brasileiros, representando aproximadamente 7.600 novos casos por ano. Nos Estados Unidos, s�o registrados 19 mil casos no mesmo per�odo.
Para entender melhor o mieloma e os seus tratamentos, � importante analisar o in�cio da enfermidade, que ainda n�o tem causas conhecidas.

A doen�a

  • Na medula �ssea, todos temos c�lulas chamadas plasm�citos, que s�o respons�veis por produzir anticorpos que combatem v�rus e bact�rias.
  • O mieloma m�ltiplo acontece quando um clone de plasm�cito sofre muta��o, fica defeituoso e come�a a se multiplicar desordenadamente, formando um tumor.
  • Edvan Crusoe, m�dico hematologista do Centro de Oncologia e Hematologia da Bahia e coordenador do Centro Integrado de Tratamento do Mieloma M�ltiplo Rede D'or Oncologia, explica que essas c�lulas doentes ocupam o espa�o das saud�veis e comprometem o seu funcionamento.
  • Os anticorpos doentes passam a produzir prote�nas desordenadas, que come�am a se acumular no organismo, causando uma s�rie de desequil�brios.
  • As principais altera��es s�o resumidas em quatro: les�es �sseas, altera��es renais, hipercalcemia e anemia.
  • Os altos n�veis de c�lcio que a doen�a causa no sangue, chamados hipercalcemia, podem sobrecarregar os rins e resultar em altera��es renais mais s�rias. O problema � detectados por meio de exames sangu�neos.
  • O maior dep�sito de c�lcio no organismo acontece como consequ�ncia de outro sintoma do mieloma. Os plasm�citos desordenados passam a atacar os ossos, causando microfraturas espont�neas no paciente, o que aumenta os n�veis de c�lcio liberado.
  • Segundo Edvan Crusoe, cerca de 80% a 90% dos pacientes de mieloma apresentam les�es �sseas, tamb�m respons�veis pelas dores apresentadas.
  • Por fim, a grande maioria dos pacientes apresenta anemia — cerca de 70%. Ela surge porque as c�lulas saud�veis da medula passam a ser substitu�das pelos plasm�citos doentes.

Sintomas

  • Os sintomas mais comuns costumam ser confundidos com pequenos problemas, como dores �sseas e a fraqueza e mal-estar em virtude da anemia. Alguns pacientes apresentam infec��es de repeti��o pela defici�ncia no sistema imunol�gico.
  • As mais prevalentes s�o infec��es urin�rias e pneumonias.
  • Muitos dos pacientes costumam visitar mais de um m�dico ou pronto-socorro, tratam o sintoma, mas dificilmente recebem o diagn�stico de mieloma com rapidez.

    Leia tamb�m: Anvisa aprova anticorpo biespec�fico da Janssen para mieloma m�ltiplo.

Tratamento

  • Os tratamentos para o mieloma costumam desacelerar a progress�o do c�ncer e diminuir os sintomas.
  • Como n�o tem uma cura ainda, o mieloma m�ltiplo tem car�ter c�clico, ou seja, mesmo ap�s um tratamento inicial bem-sucedido, os pacientes costumam voltar a apresentar sintomas e sinais cl�nicos, precisando de um novo cuidado.
  • No Brasil, os tratamentos dispon�veis s�o a quimioterapia, a administra��o de corticoides, o transplante de medula �ssea. Os mais recentes consistem na administra��o de anticorpos biespec�ficos e na imunoterapia.
  • A quimioterapia e os corticoides atuam atacando as c�lulas doentes.
  • O transplante s� � indicado para pessoas com menos de 65 anos e com uma condi��o cl�nica boa o suficiente para tolerar o transplante aut�logo, no qual s�o usadas as c�lulas do pr�prio paciente. 
  • condi��o cl�nica boa o suficiente para tolerar o transplante aut�logo, no qual s�o usadas as c�lulas do pr�prio paciente.
  • Antes de iniciar o tratamento, s�o removidas c�lulas saud�veis da medula do paciente. Depois, ele passa por outros tratamentos, como a quimioterapia ou a terapia-alvo, que ataca as c�lulas doentes.
  • Em seguida, � feito o transplante para garantir a recupera��o do paciente e a produ��o de c�lulas saud�veis.
  • Edvan comenta que, no in�cio dos anos 2000, come�aram a ser usados os inibidores e os imunomoduladores.
  • Os primeiros atuam matando as c�lulas doentes diretamente e os segundos estimulam o sistema imunol�gico a ficar ativo novamente.
  • Entre 2014 e 2015, foi aprovado o uso dos primeiros anticorpos monoclonais biespec�ficos. A Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) aprovou, recentemente, um novo medicamento biespec�fico da Janssen para o uso em pacientes adultos com mieloma m�ltiplo recidivado ou refrat�rio e que receberam pelo menos tr�s terapias anteriores, incluindo um inibidor de proteassoma, um agente imunomodulador e um anticorpo monoclonal.
  • Os medicamentos biespec�focos atuam como uma esp�cie de ponte, sendo capazes de se ligar a dois tipos de c�lulas diferentes. De um lado, se conectam com os receptores dos plasm�citos, matando as c�lulas doentes. Do outro lado, se ligam �s c�lulas de defesa do organismo, estimulando o sistema imunol�gico, auxiliando o corpo a eliminar os plasm�citos desordenados.
  • Recentemente, e ainda n�o dispon�vel no Brasil, a comunidade m�dica come�ou a avaliar um novo tipo de tratamento, no qual se removem linf�citos do paciente e os transformam, para que eles atuem especificamente contra uma prote�na presente no tumor.
  • Por ser uma terapia personalizada, leva tempo e tem custos elevados, mas acredita-se que seja uma das grandes solu��es para aumentar a sobrevida de pacientes com mieloma m�ltiplo.

Eduardo Fl�vio Ribeiro � hematologista e coordenador do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Santa L�cia

Em que idade o mieloma m�ltiplo costuma surgir, ele � mais comum em homens ou mulheres?

O mieloma � considerado uma doen�a de pessoas idosas. No Brasil, os pacientes t�m uma m�dia de 69 anos, o que � um obst�culo para o tratamento com o transplante, que s� pode ser feito em pessoas um pouco mais jovens. O aumento no aparecimento da doen�a come�a a partir dos 50 anos, apenas 5% dos pacientes t�m uma idade inferior. Cerca de 10% t�m entre 50 e 60 anos e 85% t�m 60 anos ou mais. A propor��o � muito semelhante entre homens e mulheres, n�o h� uma diferencia��o grande por g�nero.

Por que os idosos s�o mais suscet�veis?

O mieloma ainda n�o tem uma causa predeterminada, mas o surgimento da doen�a est� relacionado ao envelhecimento. Assim como as outras partes do organismo, o sistema imunol�gico tamb�m � suscet�vel aos danos provocados pelo envelhecimento.

Qual a expectativa de vida dos pacientes com mieloma?

At� meados de 2018, a sobrevida global de pacientes era estimada em aproximadamente cinco ou seis anos. Mas isso, felizmente, tem mudado nos �ltimos anos. O acesso a novas terapias est� aumentando esse n�mero e estamos no momento em que essa curva est� crescendo. Esperamos conseguir entregar uma sobrevida de 10 anos conforme melhoramos o acesso aos tratamentos mais modernos.