O climat�rio provoca altera��es no comportamento das mulheres. E a irritabilidade e o turbilh�o de emo��es dos primeiros anos podem dar lugar a uma fase mais serena quando esse ciclo se fecha
Com a menstrua��o atrasada por mais de um m�s, o abdome aumentado e sentindo enjoos, Luciana Oliveira tinha certeza que estava gr�vida. Ela avisou o marido e foi ao ginecologista. No consult�rio, o diagn�stico foi bem diferente do que ela imaginava: "� o climat�rio. Voc� est� envelhecendo", decretou o m�dico. "Foi um choque. At� o termo, climat�rio, eu desconhecia. Para mim, era tudo menopausa", lembra Luciana, que na �poca tinha 48 anos e era m�e de quatro filhos.
Casos como o dela n�o s�o incomuns. Como o fim do per�odo reprodutivo da mulher est� ligado a uma s�rie de mudan�as indesej�veis, como o ganho de peso, o aumento da flacidez da pele e as altera��es de humor, muitas passam a vida inteira sem conversar sobre o assunto e s�o surpreendidas pelos primeiros sintomas.
O climat�rio compreende toda a fase de transi��o do per�odo reprodutivo para o n�o reprodutivo. Ele se estende dos 40 aos 65 anos e � caracterizado pela diminui��o progressiva da produ��o dos horm�nios sexuais, especialmente o estrog�nio.
O ciclo menstrual fica irregular, com meses em que n�o h� sangramento. O fluxo tamb�m pode variar bastante, tornando-se mais bem mais fraco ou muito mais intenso. A menopausa s� � definida quando h� aus�ncia de menstrua��o por pelo menos 12 meses consecutivos.
ANTICONCEPCIONAL
Como muitas mulheres tomam p�lula anticoncepcional com estrog�nio, esses sintomas podem ficar mascarados por alguns anos at� que a queda hormonal se acentue, explica Jos� Maria Soares Junior, chefe do Departamento de Obstetr�cia e Ginecologia da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo) e secret�rio executivo da SBRH (Sociedade Brasileira de Reprodu��o Humana).
"O uso da p�lula pode continuar at� os 50, 55 anos, sem preju�zo. Desde que essa mulher possa usar mesmo, que n�o haja risco de trombose, por exemplo. Por isso, � muito importante fazer o acompanhamento com um ginecologista", afirma o especialista.
Ao descobrir que estava no climat�rio, Luciana parou de tomar p�lula por indica��o m�dica e come�ou a usar m�todos contraceptivos n�o hormonais, como a camisinha. Com o tempo, os sintomas se intensificaram. Quando a menstrua��o descia, o fluxo era muito intenso e durava at� 20 dias. Ela chegou a ter anemia e precisou tomar rem�dio para interromper o sangramento e teve de modificar a alimenta��o para controlar o quadro. Tamb�m come�ou a sentir os famosos fogachos. "Eram ondas de calor que pareciam que vinham do est�mago at� a cabe�a, eu me sentia muito mal", relata.
Os fogachos fazem parte dos sintomas vasomotores, que s�o os mais comuns no climat�rio, diz Isabel Cristina Esposito Sorpreso, professora associada e livre docente da disciplina de ginecologia do Departamento de Obstetr�cia e Ginecologia da FMUSP e coordenadora do setor de climat�rio do Hospital das Cl�nicas da FMUSP. Al�m dos calores, est�o sudorese excessiva, taquicardia, vertigem e at� zumbido no ouvido, explica Sorpreso.
Mas n�o � s�. Outras manifesta��es muito frequentes s�o as altera��es de humor, como irritabilidade e sintomas depressivos, ins�nia, ressecamento vaginal, diminui��o da libido, incontin�ncia urin�ria, ganho de peso, queda de cabelo e aumento da flacidez na pele.
Luciana conta que suas unhas ficaram fracas e quebradi�as e a pele ganhou algumas manchas, por isso procurou um dermatologista. Ela tamb�m se sentia muito deprimida e irritada. "Um copo fora do lugar j� era motivo para briga. O m�dico me tranquilizava e dizia que essa fase ia passar. Mas foi bem dif�cil", diz.
�POCA DE MUDAN�AS
O apoio do marido foi essencial nesse per�odo. "Mesmo que �s vezes eu mandasse ele sair de perto de mim, quando estava muito nervosa, ele ficou firme ao meu lado." A menopausa chegou definitivamente para Luciana aos 52 anos. Ela conta que desde ent�o os sintomas melhoraram muito. O m�dico n�o indicou reposi��o hormonal (a n�o recomenda��o est� associada, geralmente, ao risco de c�ncer de mama e de trombose, entre outras condi��es), mas a tireoide foi afetada e ela passou a tomar rem�dio para hipotiroidismo –essa pode ser uma consequ�ncia da queda do estrog�nio.
Hoje, aos 57 anos, ela afirma que se sente muito bem e que come�ou a cuidar melhor de si mesma. Nunca falta nas aulas pilates e hidrogin�stica. "� como se eu estivesse na adolesc�ncia de novo, s� que a da terceira idade", brinca Luciana, que voltou a estudar e est� cursando o quarto semestre da faculdade de servi�o social. "A menopausa mudou muito a minha mentalidade. Agora sou uma pessoa muito mais reflexiva, converso mais com meus filhos e meu marido. Tamb�m comecei a cuidar mais de mim e do meu corpo", diz.
A psic�loga cl�nica Cleide Guimar�es, de 59 anos, concorda que o climat�rio provoca altera��es no comportamento das mulheres. E a irritabilidade e o turbilh�o de emo��es dos primeiros anos podem dar lugar a uma fase mais serena quando esse ciclo se fecha. "O problema � que estamos completamente sem apoio. E quando o climat�rio chega, ele costuma coincidir com outros per�odos dif�ceis", observa. "� nessa �poca que os filhos saem de casa, que nossos pais ficam mais velhos e fr�geis. Muitos casais se separam." Ela mesma enfrentou os primeiros sintomas do climat�rio aos 53 anos, junto com o luto pela morte do pai. E, mesmo sendo psic�loga, ficou em d�vida sobre o que estava passando.
"Meu pai tinha acabado de morrer e eu estava deprimida. Foi bem confuso. Eu j� tinha conhecimento sobre o climat�rio, mas era dif�cil saber o que estava causando o qu�", relata. "A sorte � que agi muito r�pido. J� estava fazendo um tratamento de base para depress�o e fui atr�s de uma nova ginecologista que fosse especialista no assunto." Como psic�loga, Cleide ressalta que essa fase tamb�m pode desestabilizar as rela��es familiares, principalmente quando a mulher n�o tem muito apoio. "Hoje � at� engra�ado lembrar, mas eu achava que nunca mais conseguiria usar uma blusa de l� na vida. Queria deixar a janela aberta mesmo quando estava frio. Minha rela��o com meus filhos e meu marido � muito boa. Mas e a mulher que n�o tem essa compreens�o toda em casa? Como fica?"
Leia tamb�m: Vibrador na menopausa: conhe�a os benef�cios
Cleide faz reposi��o hormonal, mas conta que teve de passar por uma adapta��o com os medicamentos. "Eu usei um gel por um tempo, mas me deu erup��es cut�neas. Depois comecei a usar adesivos e hoje estou bem." Para ela, al�m dos sintomas, existe a quest�o psicol�gica que tamb�m acaba afetando as mulheres. "� um per�odo em que o envelhecimento fica mais acelerado. A gente v� a nossa pele mudar, ficar mais fl�cida. O rosto muda bastante", observa. "Al�m da vaidade, existe um preconceito na sociedade contra tudo que � velho. E tamb�m a vergonha de admitir que est� passando por isso, perdendo a juventude. Por isso que as mulheres, no geral, n�o gostam de falar sobre menopausa."
SINTOMAS DO CLIMAT�RIO
- Fogachos
- Varia��es do ciclo e do fluxo menstrual
- Sudorese excessiva
- Altera��es de humor, como irritabilidade, ansiedade e tristeza
- Ins�nia
- Taquicardia
- Diminui��o da libido
- Aumento da flacidez na pele
- Ganho de peso
- Queda de cabelo
- Ressecamento vaginal
- Dor durante as rela��es sexuais
- Perda de massa �ssea, que pode levar � osteoporose
- Maior risco de doen�as cardiovasculares
Jos� Maria Soares Junior, chefe do Departamento de Obstetr�cia e Ginecologia da FMUSP, refor�a que o climat�rio � uma condi��o multifatorial. Sendo assim, as mudan�as nos h�bitos de vida s�o fundamentais para viver bem essa etapa. "Independentemente do tratamento indicado pelo m�dico, se ser� feita a reposi��o hormonal ou n�o, � preciso ter uma dieta equilibrada e dar prefer�ncia aos alimentos in natura, evitando os ultraprocessados e comidas muito gordurosas", afirma.
A atividade f�sica tamb�m precisa entrar na rotina. "Uma m�dia de 150 a 300 minutos de exerc�cios por semana, se poss�vel com a orienta��o de um educador f�sico", diz o m�dico, que tamb�m recomenda beber bastante �gua para se manter hidratada e vestir roupas leves quando estiver passando pela fase dos fogachos. A abordagem hol�stica � fundamental no climat�rio, destaca Isabel Cristina Esposito Sorpreso, professora associada do Departamento de Obstetr�cia e Ginecologia da FMUSP.
"A mulher deve fazer o acompanhamento com um ginecologista. O diagn�stico � cl�nico, a partir da sintomatologia, embora o especialista tamb�m possa pedir exames como o do horm�nio fol�culo-estimulante (FSH) e o horm�nio luteinizante (LH)", diz. Esse especialista deve reconhecer as necessidades individuais da paciente e, quando necess�rio, indicar que ela tamb�m se consulte com profissionais de outras �reas, como nutricionista, endocrinologista, cardiologista, psic�logo, reumatologista, entre outros, afirma a m�dica.
*Para comentar, fa�a seu login ou assine