
O ambiente e seus est�mulos s�o determinantes para o desempenho das habilidades inatas das crian�as e jovens. Nesse sentido, a resposta ao tipo de est�mulo que o ambiente provoca sobre as condi��es cognitivas e emocionais das crian�as e jovens est� diretamente relacionada aos adultos que os cercam. A pandemia da COVID-19 acentuou a preocupa��o com crian�as e jovens em geral, mas sobretudo com aqueles expostos a maior vulnerabilidade socioecon�mica. Dados rec�m divulgados sobre o trabalho infantil refor�am essa afirmativa.
2021 � o Ano Internacional para Elimina��o do Trabalho Infantil e no �ltimo s�bado, 12/6, comemorou-se o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil. Dois dias antes dessa data, a Organiza��o Internacional do Trabalho (OIT) e o Fundo das Na��es Unidas para a Inf�ncia (UNICEF) divulgaram o relat�rio Trabalho Infantil: Estimativas Globais 2020, tend�ncias e o caminho a seguir (original em ingl�s, Child Labour: Global estimates 2020, trends and road forward).
Leia tamb�m: As exporta��es que mascaram a produ��o e o (des)emprego
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Dentre o extenso trabalho estat�stico, alguns resultados chamam aten��o e despertam, para al�m do sentimento de pesar em rela��o ao retrocesso no combate ao trabalho infantil, preocupa��o e temor para a atual gera��o de crian�as e jovens, sobretudo residentes em pa�ses com baixa e m�dia renda per capita. Apresento, a seguir, tr�s aspectos do relat�rio que considero mais relevantes do ponto de vista de bem-estar social.
O primeiro diz respeito �s evid�ncias sobre os atingidos por esse retrocesso. Em 2000, 245,6 milh�es de crian�as e jovens, entre 5 e 17 anos de idade, exerciam algum tipo de trabalho; em 2012, esse n�mero havia ca�do para 168 milh�es e, em 2016, alcan�ado 151,6 milh�es. Em suma, em um per�odo de 16 anos, 94 milh�es de crian�as e jovens haviam deixado de trabalhar.
Lamentavelmente, em 2020 esse n�mero voltou a subir, chegando a 160 milh�es, incrementado exclusivamente pelo ingresso de crian�as entre 5 e 11 anos de idade nas atividades laborais, enquanto a faixa et�ria de 12 a 17 anos manteve-se em queda.
Lamentavelmente, em 2020 esse n�mero voltou a subir, chegando a 160 milh�es, incrementado exclusivamente pelo ingresso de crian�as entre 5 e 11 anos de idade nas atividades laborais, enquanto a faixa et�ria de 12 a 17 anos manteve-se em queda.
O segundo aspecto s�o as estimativas para o final de 2022: em cen�rio de continuidade da situa��o vivenciada at� o presente, sem medidas que mitiguem esse retrocesso, o relat�rio estima incremento de mais 8,9 milh�es de crian�as e jovens em atividades laborais; no entanto, caso haja medidas de prote��o social, esse cen�rio voltaria � tend�ncia vivida at� 2016 e retiraria 15,1 milh�es do trabalho; por �ltimo, no cen�rio mais pessimista, cujas medidas de austeridade fiscal afetariam negativamente as prote��es sociais, chegar-se-ia a 206,2 milh�es de crian�as e jovens trabalhando.
O �ltimo aspecto que destaco � a estimativa de que mais de um ter�o das crian�as que trabalhavam n�o estavam na escola, embora as meninas viessem apresentando queda mais acentuada na participa��o no trabalho comparativamente aos meninos. Adicionalmente, o Unicef estimou que mais de 130 milh�es de meninas estavam fora da escola antes da pandemia do COVID-19 e que cerca de 11 milh�es delas n�o deveriam voltar �s aulas ap�s a pandemia.
Estudo conjunto realizado pelo Citi Global Insights e Plan International - respectivamente, o internacional banco Citi e a organiza��o humanit�ria independente com foco nos direitos das crian�as e na luta pela igualdade para as meninas -, produziu o relat�rio The case for holistic investment in girls – improving lives, realizing potential, beneffiting everyone (O caso do investimento hol�stico nas meninas – aprimorando vidas, realizando potencial, beneficiando todos).
O estudo estimou que investimento equivalente a 1,53 d�lar por dia para cada menina residente em economias emergentes seria suficiente para que todas terminassem o ensino secund�rio e gerassem um impacto de 10% no aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de seu pa�s. A cada 1,50 gasto, gerar-se-iam 2,8 d�lares de retorno. Em suma, o estudo traz boas pistas sobre o retorno do investimento na educa��o das crian�as, mais especificamente das meninas, no bem-estar social e econ�mico.
O estudo estimou que investimento equivalente a 1,53 d�lar por dia para cada menina residente em economias emergentes seria suficiente para que todas terminassem o ensino secund�rio e gerassem um impacto de 10% no aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de seu pa�s. A cada 1,50 gasto, gerar-se-iam 2,8 d�lares de retorno. Em suma, o estudo traz boas pistas sobre o retorno do investimento na educa��o das crian�as, mais especificamente das meninas, no bem-estar social e econ�mico.
A situa��o de desamparo n�o pode e n�o deve prevalecer em nenhuma sociedade, por mais que os sinais apontem nessa dire��o. Deaths of despair (Mortes por desespero) foi considerado Business Book of the Year 2020 nos Estados Unidos e sua leitura � um desalento sobre a trajet�ria recente do capitalismo naquele pa�s.
Embora os autores, Anne Case e Angus Deaton - este �ltimo laureado a Nobel de Economia em 2015, defendam que o futuro do capitalismo deva ser de esperan�a e n�o de desespero, o livro traz sinais pouco convincentes de como esse quadro poderia ser revertido. Fiquei t�o fascinada pelo livro que li suas cerca de 250 p�ginas em uma sentada!
Embora os autores, Anne Case e Angus Deaton - este �ltimo laureado a Nobel de Economia em 2015, defendam que o futuro do capitalismo deva ser de esperan�a e n�o de desespero, o livro traz sinais pouco convincentes de como esse quadro poderia ser revertido. Fiquei t�o fascinada pelo livro que li suas cerca de 250 p�ginas em uma sentada!
Deaths of despair relata hist�rias n�o s� de mortes, mas de dor, adic��o, alcoolismo e suic�dio, bem como de vidas que t�m sido deixadas � margem, perdendo suas estruturas e signific�ncias.
A situa��o se agrava para aqueles com mais baixos n�veis de escolaridade – o estudo distingue pessoas com e sem n�vel superior, brancos e negros, americanos, africanos e hisp�nicos -, mas destaca como entre adultos americanos brancos sem bacharelado, entre 45 e 54 anos de idade, a mortalidade por drogas, �lcool e suic�dio vem crescendo vertiginosamente de 1990 at� 2017, sobretudo ap�s a Grande Depress�o de 2008. Queda dos sal�rios m�dios reais e do emprego, desde 1990, para os grupos et�rios de 24 a 54 anos de idade sem n�vel superior de escolaridade, vem acompanhada de desespero e subterf�gio atrav�s das “vias anest�sicas”.
Busca por drogas, �lcool, opioides e suic�dio acontece, em certa medida, quando a sociedade falha em prover para parte de seus integrantes a estrutura na qual eles possam viver dignamente, privando suas vidas de sentido e prop�sito.
Se os adultos brancos americanos com escolaridade mais baixa vivem situa��o de desalento e t�m buscado o consumo de opioides, �lcool e o ato de suic�dio como sa�da para anestesiar o desalento, o que podemos dizer das quase 200 milh�es de crian�as e jovens que certamente engrossar�o o coro da reprodu��o intergeracional da pobreza pelo mundo afora? At� o momento, as ind�strias farmac�uticas e seus stakeholders t�m sido grandes benefici�rios das drogas que produzem. � sociedade tem cabido somente a fatia do profundo adoecimento.
Se os adultos brancos americanos com escolaridade mais baixa vivem situa��o de desalento e t�m buscado o consumo de opioides, �lcool e o ato de suic�dio como sa�da para anestesiar o desalento, o que podemos dizer das quase 200 milh�es de crian�as e jovens que certamente engrossar�o o coro da reprodu��o intergeracional da pobreza pelo mundo afora? At� o momento, as ind�strias farmac�uticas e seus stakeholders t�m sido grandes benefici�rios das drogas que produzem. � sociedade tem cabido somente a fatia do profundo adoecimento.