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Estado de Minas ECONOM�S EM BOM PORTUGU�S

O Nobel da Paz � luz para ofuscar o obscurantismo e resgatar a democracia

Somente a atua��o jornal�stica �tica � capaz de vencer restri��es � liberdade, combater fake news e tentar preservar as estruturas pol�ticas democr�ticas


12/10/2021 06:00 - atualizado 12/10/2021 00:05

Maria Ressa e Dmitry Muratov, vencedores do Nobel da paz
Vencedores do Nobel da Paz, Maria Ressa e Dmitry Muratov t�m em comum a busca pela verdade e graves persegui��es por seus governos (foto: Isaac LAWRENCE, Yuri KADOBNOV / AFP)
Dois jornalistas, Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da R�ssia, foram os vencedores do Nobel da Paz em 2020. Os laureados t�m em comum a busca pela verdade, por meio da constru��o da imprensa independente e ativista, e pelo fato de sofrerem graves persegui��es de seus governos pelo incans�vel trabalho denunciante, em busca da justi�a e da paz. Somente a atua��o jornal�stica �tica � capaz de vencer restri��es � liberdade de imprensa, combater fake news e preservar as estruturas pol�ticas democr�ticas. Do contr�rio, as sociedades caminham rumo ao mundo paralelo terraplanista. 

Em 2010, todo o mundo, exceto os Estados Unidos, beneficiou-se das publica��es feitas pelo fundador do site Wikileaks, Julian Assange. � �poca, foram divulgados milhares de documentos confidenciais do governo norte-americano sobre sua atua��o no Iraque e no Afeganist�o. Julian Assange conseguiu abrigo na Embaixada do Equador, em Londres, por sete anos. Seu site, Wikileaks, ficou conhecido por “hackear” valios�ssimas informa��es confidenciais. O jornalista segue preso em Londres.

O jornalista Gleen Greenwald foi ganhador do Pulitzer, maior pr�mio de jornalismo dos Estados Unidos, com a revela��o de dados confidenciais, recebidos de Edward Snowden, sobre os programas secretos de vigil�ncia global realizado pelos Estados Unidos. Greenwald fundou o jornal americano The Intercept, em 2013. No Brasil, Greenwald liderou a opera��o Vaza Jato, maior den�ncia jornal�stica pol�tica do Pa�s, que trouxe � tona o desmonte de grande parte da Opera��o Lava Jato. O jornalista sofreu v�rias amea�as de morte. 

Em 2016, a opera��o Panam� Papers, promovida pelo Cons�rcio Internacional de Jornalistas Investigativos e o jornal alem�o S�ddeutsche Zeitung, levou a p�blico o resultado do acesso a cerca de 11,5 milh�es de documentos oriundos do escrit�rio Mossack Fonseca, respons�vel pela cria��o de offshores em v�rios locais do mundo e com sede no Panam�. Os dados revelados denunciaram a cria��o, ao longo de 40 anos, de 214 mil empresas (de fachada) offshores em mais de 200 pa�ses e envolvendo chefes de Estado, ministros e parlamentares de v�rios pa�ses.

No in�cio do outubro do ano corrente, quase cinco anos ap�s o vazamento dos dados do Mossack Fonseca, veio a p�blico outra grande investiga��o da mesma natureza: a Pandora Papers. Novamente liderada pelo Cons�rcio Internacional de Jornalistas Investigativos, a Pandora Papers contou com a colabora��o de v�rias institui��es jornal�sticas da Am�rica Latina e, no Brasil, contou com a participa��o de jornalistas do El Pa�s, da Ag�ncia P�blica de jornalismo investigativo, do digital Poder 360, da Revista Piau� e do portal Metr�poles. 

Mais ampla que a Panama Papers, a investiga��o Pandora Papers teve acesso a documentos de 14 escrit�rios especializados na abertura de offshores e contou com a colabora��o de 600 jornalistas investigativos que se debru�aram sobre o vazamento de dados de mais de 27.000 companhias abertas entre 1971 e 2018. Foi essa opera��o que revelou as empresas do atual Ministro da Economia, Paulo Guedes. 

Mas n�o s� de jornalismo investigativo e imprensa independente t�m vivido o mundo que busca combater fake news e estados ditatoriais. Entre o �ltimo trimestre de 2018 e o primeiro de 2019, em algumas cidades do Brasil, foi apresentada a exposi��o Ra�zes, do artista pl�stico chin�s e grande ativista dos direitos humanos Ai Weiwei. Filho do poeta Ai Qing, que, por suas cr�ticas ao Partido Comunista chin�s, na �poca do governo Mao Ts�-tung, foi obrigado a viver com sua fam�lia em campo de trabalho for�ado no noroeste da China, Ai Weiwei seguiu os passos do pai e tornou-se grande defensor de causas humanit�rias.

Na exposi��o Ra�zes, ao menos quatro tem�ticas foram retratadas de forma impactante: (1) a pris�o de Ai Weiwei, pelo ex�rcito chin�s, por denunciar a morte de mais de 5.000 crian�as em uma escola constru�da com materiais de baixa qualidade, na prov�ncia de Sichua, na China, ap�s grave abalo s�smico na regi�o; (2) a expropria��o da individualidade por meio do trabalho coletivo massivo e sem identidade; (3) a situa��o dos refugiados em busca de abrigo na Europa; e (4) os dados vazados pelo ex-agente da Ag�ncia de Intelig�ncia Americana e um dos integrantes do Wikileaks, Edward Snowden.

Outras formas de express�o art�stica tamb�m t�m se prestado ao combate �s fake news, � repress�o e ao autoritarismo. De 2019 para c�, destaco dois document�rios importantes que come�am a trazer mais luz aos perigos que as redes sociais t�m, cada vez mais, exposto as sociedades democr�ticas. Nada � privado: o esc�ndalo da Cambridge Analytica trata da utiliza��o n�o autorizada de dados pessoais dos usu�rios do Facebook, extra�dos pela empresa Cambridge Analytica,  para influenciar as elei��es presidenciais dos Estados Unidos, em 2016. Nesse document�rio podemos ver a import�ncia da participa��o de Steve Bannon na elei��o do presidente Donald Trump e a omiss�o da empresa Facebook. 

O segundo document�rio, O Dilema das Redes, � tamb�m investigativo e aponta para os perigos dos algoritmos constru�dos para “manipular” os usu�rios das redes sociais. Ambos document�rios trazem relatos de especialistas que trabalharam em grandes grupos como, Facebook, Instagram ou mesmo Cambridge Analytica, al�m de professores de renomadas universidades e mostram como as sociedades democr�ticas est�o vendo seus sistemas pol�ticos fragilizados e tensionados pela perigosa influ�ncia e poder de manipula��o das empresas de redes sociais sobre seus usu�rios. 

Ainda na semana passada, a ex-funcion�ria do Facebook, Frances Haugen, dep�s no Congresso americano, levando graves den�ncias da conduta anti�tica daquela rede sobre o bem-estar social. Segundo Haugen, Facebook utiliza pol�tica de constru��o de algoritmos capaz de aumentar a intera��o social �s custas da dissemina��o de discursos de �dio entre fam�lias e amigos, da exposi��o de conte�dos sobre anorexia aos adolescentes, da viol�ncia �tnica etc.  

A imprensa independente tem se mostrado, cada vez mais, como o caminho mais importante para se combater o crescimento do autoritarismo, da China aos Estados Unidos. Artistas-ativistas incans�veis tamb�m t�m sido ant�doto contra aberra��es que o mundo contempor�neo vem expondo seus indiv�duos. De um lado, tem-se grupo de pessoas corajosas lutando por liberdade, justi�a, verdade, democracia e bem-estar social. Do outro, o poder econ�mico das redes sociais, cada vez mais �vido por lucros e crescimento, ganhando espa�o, em parte, com a promo��o latu sensu da viol�ncia e do agravamento da sa�de mental.

Neste domingo, o jornal El Pa�s lan�ou nova campanha contra o obscurantismo e pela divulga��o da verdade. “Porque si somos m�s, la oscuridad es menos” � representada por um indiv�duo que tenta apagar cada vela acessa at� conseguir deixar tudo escuro. Segundos depois, surgem v�rias pessoas, cada uma com uma vela acessa na m�o, trazendo luz ao ambiente antes escurecido. 

Nesse jogo de acende e apaga, todos estamos saindo um pouco queimados. Boa parte do capital que nutre a dissemina��o da informa��o nas sociedades tem fragilizado as rela��es interpessoais, deteriorado a sa�de mental das crian�as e jovens, bem como a dignidade e o bem-estar coletivos. O Nobel da Paz dado aos dois jornalistas-ativistas � oportuno gesto para sensibilizar os poderosos meios de comunica��o na luta contra o obscurantismo. Que a grande imprensa brasileira reflita sobre seu papel e suas rela��es de depend�ncia com o capital p�blico e privado, t�o nocivas � maioria da popula��o. Que seus “engajamentos” n�o se deem pela via da viol�ncia, e sim pela promo��o da paz!

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