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Estado de Minas ECONOM�S EM BOM PORTUGU�S

Democracia sob o jogo de for�as das redes sociais

Aclamada atua��o das elites tecnol�gicas na dissemina��o informacional e na esfera p�blica trouxe tamb�m efeitos delet�rios sobre o comportamento dos indiv�duos


17/01/2023 06:00

Aplicativos de celular
As redes sociais v�m se consolidando como espa�os de transa��es (econ�micas) (foto: Pixabay/Reprodu��o)
Quando o filme “A rede social” foi lan�ado, h� mais de uma d�cada, houve encantamento geral e fasc�nio pelo poder que se estruturava via comunica��o digital. Em pouco mais de 12 anos e refor�adas pela necessidade de restri��o de contato decorrente da pandemia da Covid-19, as redes sociais, para al�m de se consolidarem como poderoso ve�culo de comunica��o, tornaram-se ambientes de intensas trocas e exposi��es. Por um lado, as redes sociais v�m se consolidando como espa�os de transa��es (econ�micas) em geral; por outro, t�m sido cada vez mais utilizadas como espa�os ideol�gicos, de dissemina��o de fake news e de fragiliza��o das democracias.  
 
Desde o sucesso de “A rede social”, v�rios outros filmes mostraram como a evolu��o das redes sociais vem se tornando um perigo de dif�cil regula��o por conta dos agentes econ�micos. Dois outros filmes se destacam – na verdade, a lista cont�m ao menos 9 filmes com essa tem�tica e que merecem ser vistos –, “Privacidade hackeada” e “O dilema das redes”, de 2019 e 2020, respectivamente, document�rios com depoimentos de especialistas em tecnologia e alertas dos impactos dos algoritmos e do acesso aos dados dos usu�rios sobre a capacidade de persuas�o e manipula��o de seus comportamentos. 
 
Considero esses dois filmes imperd�veis e indico para quem quer compreender um pouco melhor a influ�ncia digital sobre os indiv�duos, mesmo aqueles que se consideram fora das redes. Afinal, o mundo expandiu suas fronteiras para algo paralelo, virtual, em constante crescimento e que afeta, direta ou indiretamente, as sociedades, a regula��o econ�mica e a vida dos indiv�duos. 
 
Jean Tirole foi laureado ao Nobel de Economia, em 2014, por sua contribui��o cient�fica aos estudos de regula��o dos mercados. Em setembro de 2020, Tirole apresentou, em um webin�rio promovido pelo The Bendheim Center for Finance, seu recente estudo acerca da autoimagem na esfera p�blica e privada. As quest�es fundamentais trazidas por Tirole s�o “ainda estamos livres para pensarmos(?); at� que ponto desenhamos e projetamos nossa autoimagem para a sociedade(?)”. O economista sinaliza que, cada vez mais, em detrimento da autenticidade, os indiv�duos buscam fazer parte de grupos identit�rios e, para se resguardarem, tornam-se menos aut�nticos – s�o os chamados guetos de pensamento.
 
 
Tirole � tamb�m autor do artigo Digital Dystopia, publicado na American Economic Review, em 2021, no qual mostra como a expans�o da vida na esfera p�blica pode levar � desintegra��o do tecido social na esfera privada. Dentre suas principais conclus�es, o autor aponta a necessidade de melhoria do desenho legal, bem como das salvaguardas constitucionais, na atua��o das empresas tecnol�gicas de redes sociais. 
 
Vale frisar que a aclamada atua��o das elites tecnol�gicas, no in�cio da d�cada passada, na dissemina��o informacional e na esfera p�blica, trouxe tamb�m efeitos delet�rios sobre o comportamento dos indiv�duos e crescente impacto sobre suas capacidades de terem ou n�o controle sobre seus sentimentos. 
 
O filme-document�rio “O dilema das redes” mostra como os algoritmos produzem “match” entre pessoas com ideias relativamente pr�ximas, mas, pior do que isso, s�o capazes de induzi-las a se identificarem mutuamente e a constru�rem “guetos de pensamento” – conceito trazido por Tirole no webin�rio supracitado. 
 
 
Por sua vez, “Privacidade hackeada” explica o papel crucial da empresa Cambridge Analytica e do estrategista Stephen Bannon na elei��o do ex-presidente norte-americano Donald Trump. Bannon tamb�m assessorou, informalmente, o ex-presidente Jair Bolsonaro e criou, em 2019, o chamado “O Movimento”, organiza��o com a finalidade �ltima de unir os pa�ses populistas de extrema direita da Europa.
 
As redes sociais nas sociedades democratas atuam de forma privada e, portanto, permitem a dissemina��o de estrat�gias que v�o desde a guetiza��o do pensamento � cria��o de avalanches de fake news capazes de manipular e induzir os indiv�duos a agirem conforme objetivos previamente tra�ados. 
 
No Brasil, a profus�o de fake news, a insurg�ncia de atos virtuais violentos e de conspira��es sobre temas dos mais diversos, desde os riscos da vacina��o, terraplanismo, comunismo, atua��es do Poder Judici�rio etc. v�m corroborando para a corros�o do tecido social privado, enfraquecendo a autenticidade dos indiv�duos, fortalecendo a polariza��o e a intoler�ncia. 
 
 
 O exemplo mais extremo da guetiza��o do pensamento, no Brasil, foi a cria��o de acampamentos em frente a v�rios quart�is-generais do Ex�rcito, em sua maioria nas capitais das regi�es Sudeste, Sul e Centro-Oeste, como manifesta��o ao resultado leg�timo das urnas eleitorais. Desde 1996, o brasileiro convive com elei��es democr�ticas realizadas com urnas eletr�nicas. Fra��o dos mesmos eleitores que n�o contestou o resultado de 2018 decidiu lutar por direitos inexistentes, mas estava, na verdade, buscando golpe militar. 
 
As perigosas estrat�gias daqueles que, financiados ou n�o, manipulados ou n�o, abduzidos ou n�o, mas que aderiram � guetiza��o do pensamento ditatorial e golpista de Na��o s�o, nesse momento, alvo de regula��o das a��es destrutivas que as redes sociais podem exercer sobre a liberdade e a capacidade de altern�ncia de ideias, de poder e de debates que somente a democracia � capaz de propiciar. A esses indiv�duos, a aplica��o severa da Lei � o �nico caminho para garantir a manuten��o do regime democr�tico no pa�s.
 
Parafraseando Winston Churchill, “a democracia � a pior forma dentre os regimes pol�ticos, com exce��o de todas as demais”. Acredito e concordo com o “�timo relativo” de Churchill e adentro 2023 com menos pessimismo que em 2022, apesar da destrui��o patrimonial e das cenas de desrespeito a toda sociedade brasileira, ocorridas no inesquec�vel 08 de janeiro do m�s corrente. 
 
 
A todos e todas que acreditam, assim como eu, que o �timo relativo segue sendo o regime democr�tico, deixo meus votos de que, em 2023, a esperan�a na guetiza��o dos melhores e mais altru�stas pensamentos coletivos, virtuais ou n�o, possam induzir nossa Na��o e o mundo a melhores, mais dignas e universais condi��es sociais e humanas. E que a fragilizada democracia encontre, na regula��o das redes sociais, espa�o para seguir como o mais desafiador, livre e justo regime pol�tico para a prosperidade das Na��es!

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