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Estado de Minas COLORISMO

Os ACMs 'neg�es' do Governo Lula

Juscelino Filho, novo ministro das Comunica��es, mudou a autodeclara��o de branco para negro na �ltima elei��o


02/03/2023 13:30 - atualizado 10/03/2023 13:22

Lula e Juscelino Filho lado a lado.
Lula e Juscelino Filho (foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
 
Precisamos urgentemente falar de colorismo, mas n�o o colorismo que demarca racialmente a parcela negra da popula��o, at� porque temos pesquisas e publica��es que fazem isso com maestria. Precisamos falar � daquele colorismo que passa em branco e despercebido, o colorismo dentre os brancos brasileiros. Eu sei que essa � uma discuss�o densa e que aflora a fragilidade branca, mas algu�m tem que fazer essa conversa nada agrad�vel, mas necess�ria.
 
Nas �ltimas elei��es, assistimos a quantidade de candidatos a cargos no Legislativo e no Executivo que anteriormente se autodeclararam brancos e passaram a se declarar negros. Essas mudan�as de autodeclara��o se deram “coincidentemente” ap�s ser aprovada uma reserva de verbas direcionada �s pessoas negras em prol de promover a igualdade racial nos cargos pol�ticos brasileiros. Um caso que ganhou bastante notoriedade foi o do ACM Neto, que era candidato a governador no estado da Bahia. Nas pesquisas, ACM Neto era o favorito, mas viu seus planos de se tornar governador desabarem quando os eleitores baianos descobriram que ele se autodeclarou negro, mesmo possuindo fen�tipos brancos. O candidato recebeu in�meras cr�ticas nas redes sociais e recebeu o apelido ir�nico de ACM neg�o.
 
 
Para se livrarem de suas identidades brancas, pessoas brancas reivindicam uma ascend�ncia long�nqua com n�o brancos. Geralmente, elas argumentam que n�o s�o brancas por terem negros ou ind�genas em sua arvore geneal�gica. Essa ideia est� totalmente embasada em uma perspectiva biol�gica da ra�a, onde ser branco seria necessariamente ser branco puro. Nessa l�gica, s� poderia ser branco pessoas sem qualquer liga��o heredit�ria com negros ou ind�genas.



Como bem sabemos, diferentemente dos Estados Unidos, a ra�a e o racismo no Brasil n�o se d�o por casta, por ascendentes, e nem por gen�tipos, mas sim por apar�ncia f�sica, ou seja, pelo fen�tipo. Portanto, ter um ascendente long�nquo negro n�o far� a pessoa branca vivenciar socialmente as viol�ncias que uma pessoa negra vivencia. A racializa��o brasileira perpassa pela corporeidade, e da mesma forma que h� diversos tons de pele de pessoas negras, h� tamb�m muitos tons de branco. O branco no Nordeste do pa�s � diferente dos brancos do Sul, que por sua vez difere dos brancos do Norte, mas em comum todos t�m seus privil�gios hier�rquicos socialmente preservados.
 
Um fato que recentemente me chamou aten��o foi a quantidade de ministros que se autodeclararam negros na atual gest�o. Dos trinta e sete ministros do governo Lula, 10 se autodeclaram negros, isso mesmo, 10. A princ�pio, esse n�mero passa a ideia de que as coisas est�o melhorando e que, at� que enfim, h� uma gest�o mais diversa, n�o � mesmo? Mas quando fui pesquisar o rosto de cada um, duvidei se os 10 passariam em uma banca de heteroidentifica��o caso se declarassem negros, em um processo seletivo em uma faculdade com reserva de vagas para alunos negros ou em um concurso p�blico para servidores.

Na atual gest�o, as pessoas que se autodeclararam negras s�o: Anielle Franco, como ministra da Igualdade Racial; Luciana Santos, como ministra da Ci�ncia e Tecnologia e Inova��es; Margareth Menezes, como ministra da Cultura; Marina Silva, que ocupar� novamente o cargo de ministra do Meio Ambiente; Silvio Almeida, no Minist�rio dos Direitos Humanos; Fl�vio Dino, como ministro da Justi�a e da Seguran�a P�blica; Juscelino Filho, como ministro das Comunica��es; Rui Costa, como ministro da Casa Civil da Presid�ncia da Rep�blica; Carlos Lupi, como ministro da Previd�ncia Social; e Waldez G�es no Minist�rio da Integra��o e Desenvolvimento Regional.
 
Ent�o, Juscelino Filho, o ministro das Comunica��es foi um dos candidatos que mudou sua autodeclara��o nas �ltimas elei��es. Antes de existirem verbas destinadas aos candidatos negros, ele se via como branco e, agora, se v� como um homem negro. Ele n�o tem fen�tipos de uma pessoa negra, tem a pele clara, o cabelo liso e n�o possui fei��es faciais negroides. Usufrui de todo privil�gio da brancura, inclusive se sentindo t�o universal a ponto de se declarar negro publicamente sem nenhum constrangimento. Rui Costa, Fl�vio Dino e Waldez G�es tamb�m n�o passariam na banca de heteroidentifica��o, ao meu ver, mas passariam facilmente em uma vaga de emprego daquelas sele��es que pediam e as que ainda pedem curr�culo com foto. 
 
� importante salientar que quem possui a corporeidade como a deles n�o s�o abordados com trucul�ncia pela pol�cia por serem lidos como elemento suspeito em raz�o da ra�a, nem t�o pouco s�o chamados de 'macaco', ofensa destinada a pessoas negras, n�o s�o confundidos com ladr�es dentro de um carro, n�o s�o atingidos com 111 tiros, n�o s�o arrastados por quil�metros por uma viatura da pol�cia, muito menos assassinados em um estacionamento pelos seguran�as do supermercado, n�o est�o sujeitos a serem mortos em uma c�mera improvisada de g�s por policiais federais. Tudo isso porque n�o s�o negros, s�o brancos. S�o lidos e tratados socialmente como brancos na nossa sociedade.
 
Ser um branco nordestino � diferente de ser um negro nordestino. A resposta nada resignada quanto a isso da popula��o baiana se deu nas urnas, quando ACM Neto foi derrotado ap�s praticar oportunismo ideol�gico. O fato dos tr�s ministros citados aqui serem nordestinos assim como o ACM Neto, n�o fazem deles negros e nem incompetentes para ocupar o cargo para o qual foram nomeados, mas faz com qu� os dados de equipara��o racial no atual governo sejam subnotificados ou distorcidos. 
 
� importante levar em considera��o que, al�m da paleta do colorismo negro, h� tamb�m a paleta do colorismo branco, e que tentar negar a identidade racial branca por n�o ser o mais branco na paleta, n�o agrega em nada. Muito pelo contr�rio: prejudica as pol�ticas de promo��o da igualdade racial e, al�m de incentivar, legitima que pessoas brancas insistam em fraudar as cotas raciais.

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