
Ao mesmo tempo, embora no seu direito, bateu p� pelas candidaturas mais radicais e sem futuro de Fernando Haddad e Edegar Pretto, em S�o Paulo e no Rio Grande do Sul, contra as mais vi�veis de M�rcio Fran�a e Beto Albuquerque, respectivamente.
No primeiro caso, Lula exerceu sua autoridade para avocar a palavra final sobre o programa junto com Geraldo Alckmin, depois de incorporada a vis�o dos demais partidos da coliga��o. No segundo, emitiu sinais de que as candidaturas petistas n�o s�o prioridade nos dois estados.
� a racionalidade pol�tica m�nima diante do realismo b�sico tantas vezes emitido por ele de que n�o d� para ganhar elei��o e governar s� com a esquerda e afrontando os valores de uma sociedade majoritariamente conservadora que ainda rejeita fortemente o seu partido.
� b�-a-b� que n�o precisa ser um Lula para enxergar, mas que continua meio miragem para o partido de velhos comunistas calejados na luta de classe, no sindicalismo anos 40 e na ocupa��o de espa�os. Que ficou velho, de ideias e campanhas velhas, e n�o sabe.
A julgar pelo programa, o partido continua na cren�a no Estado paiz�o que tudo paga, contra controle de gastos, reformas, responsabilidade fiscal, o empresariado e a liberdade de aplicar como quiser no mercado financeiro.
Num r�pido e revelador trecho de sua vis�o do passado, prop�e "superar o estado neoliberal" que s� existe na cabe�a deles ou ajudaram a implantar em seus �ltimos governos e "acabar com a volatilidade da moeda", que s� pode ser proibir a especula��o de curto prazo na Bolsa.
N�o � uma ideia de estudantes, mas de velhos estudantes. N�o � surpreendente que o programa tenha sa�do da cabe�a de um monte de gente bem formada, reunida na funda��o do partido, Perseu Abramo, sob comando e lideran�a de Aloizio Mercadante, um dos jovens antigos da agremia��o.
Na mesma semana, uma das badaladas esperan�as e s�mbolos de renova��o do partido, Fernando Haddad, deu entrevista ao Roda Viva, onde deixou transparecer a velha demoniza��o da zelite, a coisa mais velha e ran�osa que cultivam.
Haddad � um bom funcion�rio p�blico que, como seus pares, v� no gasto p�blico a solu��o para todos os problemas. Mas sua vis�o de economia � de dar d�. Acredita mesmo que o empresariado � o bicho-pap�o que n�o paga mais ao funcion�rio porque n�o quer e que o consumo � que traz riqueza, n�o o contr�rio.
Ao explicar melhor sua frase tamb�m reveladora de que S�o Paulo "� o bunker de certa mentalidade econ�mica", diz que o empres�rio � "curto prazista" que s� pensa no balan�o do final do ano e n�o na valoriza��o do empregado que a m�dio e longo prazo vai produzir consumo.
Algu�m precisa lhe ensinar que empres�rios desatentos ao balan�o quebram e pagam os sal�rios dispon�veis no mercado se quiserem ter empregados. Se engenheiros ou pedreiros est�o escassos, pagam 10. Se est�o sobrando, pagam 1.
N�o v�o pagar menos, porque n�o iriam conseguir bra�os, nem a mais porque tamb�m quebrariam. Seus concorrentes com for�a de trabalho mais barata reduziriam seus pre�os, como fazem os chineses concorrendo ali na esquina.
Tamb�m tem dificuldade de dizer no programa como vai cabalar o voto do interior, onde o eleitorado � ainda mais conservador, fechando o arco de irrealidade bem cara do partido diante da nova geopol�tica.
Tem boa vontade, � simp�tico e conciliador, mas ainda n�o descobriu como e parece ignorar que boa parte do conservadorismo vem da elite empresarial que chama de insens�vel e focada no lucro de curto prazo.
"Menino bom que gosta de pobre", no dizer de Lula, Haddad n�o tem o perfil mais vot�vel em S�o Paulo do que o de M�rcio Fran�a, que ocupou o governo do Estado. Tem mais recall do estado inteiro e nenhum ran�o de esquerda, embora seja, por conveni�ncia e conjuntura, do PSB.
Da mesma forma que Edegar Pretto, um origin�rio do MST que chama o ex-governador Eduardo Leite de "privatista a servi�o do Deus mercado", tem menos cara de vit�ria do que Beto Albuquerque, deputado federal do PSB com passagens por secretarias de Estado que lhe deram mais recall.
E Marcelo Freixo � uma aposta ruim no Rio de Janeiro, onde fez um longa carreira pelos direitos humanos cujo combate projetou a direita de Jair Bolsonaro e a maledic�ncia cruel de que cada bandido morto � um voto a menos para ele.
Freixo � um problema para o esfor�o de alian�as de Lula, que n�o � toa trabalha para ter o ex-prefeito C�sar Maia (ex-DEM e atual PSDB) como vice. Ao mesmo tempo que d� ultimato aos candidatos do RS e n�o acha ruim que M�rcio Fran�a tamb�m saia candidato em S�o Paulo.
Lula � quem, sempre, no fim das contas, salva o PT de sua irracionalidade. Vai desautorizando aqui, contornando ali, impondo acol�. Jogando muito, inclusive com o pr�prio partido, cuja adolesc�ncia insuperada � meio culpa dele.
N�o teria pago o desgaste interno de atrair Geraldo Alckmin se n�o tivesse visto � dist�ncia que n�o teria chances isolado numa candidatura s� � esquerda.
Sabe o m�nimo que o partido deveria saber, que vai precisar muito mais da direita do que da esquerda para governar. Vai enfrentar o congresso do Centr�o, com 300 propriet�rios de terra afinados com Bolsonaro, e uma direita geral que vai come�ar a contestar o resultado das urnas assim que elas se fecharem, caso ven�a.
Sempre antes do que seus partid�rios, como sempre, ele anda vendo que n�o pode ser o presidente s� do PT, como o partido sempre acreditou e continua acreditando, apesar do bonde da hist�ria ter passado e n�o ter percebido.
A quest�o para os que est�o de fora e torcem para que isso seja verdade � at� que ponto esse Lula se faz desgarrado do PT s� para uso de curto prazo, como o cordeiro que vestiu na elei��o de 2002. E que esteja jogando o pa�s como joga com o partido que n�o deixa amadurecer.
Pelo seu hist�rico de colocar ou deixar a pe�ozada criar problema para aparecer com a solu��o conciliat�ria, � razo�vel supor que possa ter mandado ou deixado vazar o programa para criar a celeuma que viria a apascentar. Lula e PT tocam de ouvido.
Neste caso, come�ar� fazendo um governo de concilia��o, como � necess�rio, ou n�o consegue bater um prego. Mas, assim que estiver confort�vel na cadeira, come�a a ser o presidente do programa divulgado �s pressas. Com o qual, diga-se, tem grande afinidade e diverg�ncia provis�ria.
(Pode voltar com o imposto sindical que o programa divulgado parece disfar�ar em "moderniza��o das negocia��es coletivas" e dar dinheiro para o MST retomar suas invas�es.)
Se estiver jogando, de novo fingindo que n�o � PT para voltar a s�-lo na hora conveniente, � uma pena. Perder� a oportunidade de ser o presidente suprapartid�rio, estadista, de que o pa�s precisa nessa hora dif�cil e para o qual � de fato um dos mais preparados.
O "Beab� da Pol�tica"
A s�rie Beab� da Pol�tica reuniu as principais d�vidas sobre elei��es em 22 v�deos e reportagens que respondem essas perguntas de forma direta e f�cil de entender. Uma demanda cada vez maior, principalmente entre o eleitorado brasileiro mais jovem. As reportagens est�o dispon�veis no site do Estado de Minas e no Portal Uai e os v�deos em nossos perfis no TikTok, Instagram, Kwai e YouTube.