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Estado de Minas GEOPOL�TICA

Haiti: da independ�ncia � ditadura Duvalier

O pa�s � pequeno, com 10,3 milh�es de habitantes na regi�o do Caribe e com a popula��o mais pobre do Hemisf�rio Ocidental


12/07/2021 06:55

Haitianos se reúnem em frente à embaixada dos EUa para pedir asilo, depois do assassinato do presidente Jovenel Mose(foto: Valerie Baeriswyl / AFP)
Haitianos se re�nem em frente � embaixada dos EUa para pedir asilo, depois do assassinato do presidente Jovenel Mose (foto: Valerie Baeriswyl / AFP)


O Haiti tem uma hist�ria tr�gica �nica. Desastres naturais, pobreza, disc�rdia racial e instabilidade pol�tica t�m atormentado o pequeno pa�s desde seus prim�rdios.

Em quase 220 anos de independ�ncia, o Haiti n�o possui um longo hist�rico de conclus�o de mandatos presidenciais e de processos democr�ticos consolidados. � o pa�s mais pobre do hemisf�rio ocidental, carrega uma hist�ria dolorosa de interven��es estrangeiras, explora��o econ�mica e regimes ditatoriais.

O primeiro pleito democr�tico exercido plenamente foi o de Rene� Preval (2006-2010), que assumiu o poder ap�s a sa�da de Aristide, em 2004. Neste ano iniciaram-se l� os trabalhos da for�a de paz da ONU, sob o comando do Brasil.

Localizado no Caribe, o Haiti ocupa 1/3 da por��o ocidental da Ilha Hispaniola, com a Rep�blica Dominicana nos 2/3 orientais. Com uma �rea de cerca de 28 mil km2, o pa�s tem, aproximadamente, o tamanho do estado de Alagoas e duas l�nguas oficiais: o crioulo haitiano e o franc�s.

Foi nesta ilha que Colombo estabeleceu o primeiro povoamento das terras descobertas do novo mundo, em 1492. A Espanha cedeu uma parcela ocidental � Fran�a em 1697 e, desde ent�o, foi considerada a col�nia mais rica da Fran�a e, provavelmente, do mundo, no s�culo XVIII.  

O Haiti era conhecido como “a p�rola das Antilhas”. Era t�o importante para a metr�pole que os franceses optaram por ceder o Canad� � Inglaterra a perd�-la durante as disputas por terra nas Am�ricas, envolvendo os dois rivais. 

Na d�cada de 1780, quase 40% de todo o a��car importado pela Gr� - Bretanha e Fran�a e 60% do caf� mundial vinham da pequena col�nia. Por um breve per�odo, o Haiti produziu anualmente mais riquezas export�veis do que toda a Am�rica do Norte continental.

O trabalho escravo africano tornou-se vital para o desenvolvimento econ�mico da col�nia. Os escravos chegavam �s dezenas de milhares enquanto a produ��o de caf� e a��car crescia. Sob o dom�nio colonial franc�s, quase 800.000 escravos chegaram da �frica respondendo por um ter�o de todo o com�rcio de escravos do Atl�ntico. 

Muitos morreram de doen�as e condi��es adversas das planta��es de a��car e caf�. As estat�sticas mostram que havia uma rotatividade completa da popula��o escrava a cada 20 anos. Apesar dessas perdas, em 1789, os escravos superavam a popula��o livre de quatro para um - 452.000 escravos em uma popula��o de 520.000.

Resistindo � explora��o, os haitianos se revoltaram contra os franceses. A revolta haitiana come�ou em 1791, teve como um dos seus l�deres um ex-escravo, Toussaint L’Ouverture, que gra�as � benevol�ncia do seu senhor, ao perceber sua capacidade de aprendizado, deu a ele acesso a uma educa��o destinada, geralmente, somente aos brancos. Esse conhecimento colaborou para liderar e conduzir os haitianos na revolu��o contra as barb�ries cometidas pelo colonizador franc�s. 

Entretanto, Toussaint cometeu dois erros funestos para sua lideran�a e seu pr�prio destino: acreditou em uma alian�a com Napole�o Bonaparte e manteve os haitianos, mesmo libertos, nos trabalhos for�ados nas �reas de plantios de caf� e cana-de-a��car e os brancos, como propriet�rios das terras.  Antigos aliados acabaram se rebelando contra o novo l�der. 

Em 1801, Bonaparte enviou mais de 25 mil soldados, com o intuito de recuperar o controle sobre a “joia francesa. Apesar dos �xitos iniciais, a valentia dos negros e as doen�as tropicais ceifaram as pretens�es do colonizador. Toussaint foi preso e enviado � Fran�a, onde morreu em uma cela fria, sem aquecimento, desprovido de m�nimos cuidados, inclusive alimentares. 

Um dos resultados mais importantes dessa revolu��o foi que ela for�ou Napole�o a vender a Louisiana aos EUA, em 1803, resultando em uma grande expans�o territorial dos Estados Unidos: Louisiana, Arkansas, Nebraska, Missouri, Iowa, Oklahoma, Kansas, Minnesota, Dakota, Colorado, Wyoming e Montana.

O novo pa�s independente nasceu no dia 01 de janeiro de 2004. Mas n�o foi reconhecido pela antiga metr�pole. A primeira rep�blica do Hemisf�rio Ocidental (EUA), inicialmente, se recusou a reconhecer a segunda (os americanos brancos temiam que a exist�ncia do Haiti desafiasse sua economia escravizada), depois a ocupou brutalmente (1915-1934) e, finalmente, passou d�cadas se intrometendo em seus assuntos. 

O Haiti independente e pauperizado, n�o encontrava compradores para seus produtos. Os cultivos de caf� e cana-de-a��car foram quase dizimados. Os danos ambientais promovidos pelas guerras causaram desastres na economia. Em 1825, ap�s a amea�a de invas�o por uma flotilha francesa, o pa�s concordou em pagar � Fran�a uma “d�vida de independ�ncia” de 150 milh�es de francos em ouro para compensar os colonos pela perda de terras e escravos. 

Embora a indeniza��o tenha sido reduzida posteriormente para 90 milh�es de moedas de ouro, a d�vida paralisou a na��o caribenha, que s� terminou de pag�-la aos bancos franceses e americanos em 1947. Isso explica, para muitos haitianos, parte de todos os problemas que enfrentam at� hoje. Eles tiveram que pagar pela liberdade conquistada.

Na d�cada de 50, do S�culo XX, anos depois da interven��o dos EUA, inicia-se a sangrenta Era Duvalier. Fran�ois Duvalier (1957 a 1971) obteve uma vit�ria suspeita na elei��o presidencial de 1957. O novo l�der vinha de uma fam�lia negra modesta de Porto Pr�ncipe. Sua pol�tica era baseada em um nacionalismo pr�-negro, fortemente apoiado pelos militares e aceita��o da religi�o Vodu pelo estado. 

Durante as elei��es, o ex�rcito desqualificou o rival mais popular de Duvalier, Daniel Fignol�, e, provavelmente, alterou as c�dulas. Em meio � pol�mica, Duvalier assumiu, oficialmente, a presid�ncia em 1957, com o apoio da maioria nas duas casas do Legislativo. 

Duvalier era m�dico, conhecido como “Papa Doc”, por causa de sua aparente preocupa��o com os haitianos pobres e doentes. Durante seu governo de 14 anos, no entanto, Duvalier se concentrou mais em controlar seu povo do que em cuidar dele. 

Seus m�todos ditatoriais eram severos at� mesmo para os padr�es do Haiti. Em 1961, garantiu para si o t�tulo de presidente vital�cio. Para controlar os militares, Duvalier frequentemente embaralhava a lideran�a, trazendo jovens soldados negros para posi��es de comando at� que eles tamb�m se tornassem uma amea�a para a administra��o. 

Duvalier criou a Guarda Presidencial e os Volunt�rios para a Seguran�a Nacional (VSN) ou Makout, como eram conhecidos, com o prop�sito claro de evitar tentativas de golpe. O VSN funcionou como um grupo paramilitar secreto, usando chantagem e terror para controlar os cidad�os do Haiti. Principalmente por meio de suas t�ticas brutais, Duvalier ocupou a presid�ncia at� sua morte natural, em 1971.

Seu filho, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, n�o foi diferente do pai. Vivia luxuosamente, em contraste com a mis�ria a que a maioria da popula��o estava exposta. Em 1983, ap�s a visita do Papa Joao Paulo II, que clamava por justi�a, alimentos, educa��o, emprego e dignidade ao povo haitiano, chegaria ao fim o regime de Baby Doc. O povo se revoltou contra a administra��o repleta de corrup��o. Em 1986, Duvalier renuncia ao cargo e foge para seu exilio de luxo na Fran�a, com os bilh�es roubados dos cofres p�blicos.  

O S�culo XX estava se encerrando sem que as mudan�as sociais chegassem ao pa�s. A falta de estabilidade pol�tica impunha um cen�rio de constante flagelo � popula��o. Na sequ�ncia dos acontecimentos, Jean Baptiste Aristide, um popular padre ligado � Teologia da Liberta��o, vence com 67% dos votos as elei��es de dezembro de 1990. Em menos de um ano seria deposto.

O seu retorno ao poder em 1994, com o apoio dos EUA, n�o mudou a realidade do pa�s e gera grande descontentamento junto a uma parcela mais abastada da sociedade haitiana. Aristide, para muitos, foi melhor como padre que como governo. 

A instabilidade pol�tica se soma � instabilidade geol�gica e clim�tica. O pa�s � palco de desastres naturais, como terremotos e furac�es, que comprometem ainda mais a fr�gil sociedade haitiana. 

O Haiti � uma terra escorregadia, como diz um prov�rbio comum entre os nativos, e como em uma terra escorregadia � dif�cil ficar em p� sozinho. Os haitianos sabem que somente juntos podem manter-se de p�, amparando uns aos outros. Est� sendo f�cil chegar aos dias melhores?  N�o. Mas, s�o resilientes. Essa � a for�a que os mant�m para os dias dif�ceis que se seguir�o.

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