
Naquela d�cada, o dom�nio econ�mico foi praticamente controlado pela lideran�a americana, criando uma for�a quase unipolar de controle do poder, surfando, principalmente, nas ondas das altas tecnologias de informa��o e sem a press�o da corrida armamentista imposta pela Guerra Fria.
Nesse cen�rio, como pren�ncio de uma nova alian�a, em 1996, o ent�o Ministro das Rela��es Exteriores da R�ssia, Yevgeni Primakov, prop�e um estreitamento das rela��es mais cordiais com a �ndia e a China, em uma tentativa de frear ou contrapor a supremacia geopol�tica do Ocidente, representada pela Uni�o Europeia (mesmo com crescimento abaixo das estimativas) e pelos Estados Unidos.
Tal aproxima��o enfrentaria dificuldades hist�ricas devido �s rela��es tensas entre os envolvidos, e se acumularam com o tempo, mas com as vantagens populacionais e territoriais muito atrativas. Vencer os obst�culos e criar elos mais s�lidos poderiam gerar mais ganhos e mudar o cen�rio geopol�tico em um futuro n�o t�o distante.
Assim, quando o economista-chefe do banco Goldman Sachs, Jim O’Neill, prop�s, em 2001, o termo BRIC em alus�o �s economias emergentes de alta representatividade no horizonte - Brasil, R�ssia, �ndia e China- ele profetiza uma nova concep��o de lideran�a, j� desejada, de um amanh� a raiar.
Ap�s cinco anos da cria��o do termo BRIC, em 2006, os pa�ses deram o pontap� inicial em um di�logo de fortalecimento pol�tico, com o primeiro encontro dos respectivos ministros das Rela��es Exteriores, durante a 61ª Assembleia Geral das Na��es Unidas (AGNU), para tratarem de assuntos de interesses comuns.
Ali se projetava um esfor�o conjunto que avan�aria para um grupo informal, baseado na busca do fortalecimento das rela��es de interesses comuns. Como prova disso, a partir de 2009, os encontros anuais tornaram-se regulares, desde o primeiro encontro em Yekaterinburg, R�ssia.
O BRIC nasce de uma brincadeira de palavras de O’Neill, para se transformar em um bloco que se expande, com a inser��o da �frica do Sul, em 2011 e atrai cada vez mais a aten��o de outros atores; a� se encontra uma das grandes indaga��es atuais: expandir ou n�o, em curto prazo?
Enquanto isso, aos poucos, assiste-se � cria��o de v�rias institui��es do bloco, o que inclui o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o Arranjo Contingente de Reservas (CRA, na sigla em ingl�s) e a grande possibilidade de cria��o de uma moeda comum (provisoriamente, chamado “projeto R5” – referente a cada uma das moedas das na��es do bloco – real, rublo, rupia, renminbi e rand- , que come�a com a letra “R”), algo in�dito ao envolver pa�ses sem proximidade regional e sem a participa��o de pa�ses centrais.
Crescer economicamente, desenvolver e manter a soberania nacional s�o as principais prioridades sem, entretanto, definir compromissos legais comuns, em parte devido � “informalidade” do bloco. H� uma grande diversidade nos �mbitos pol�tico – econ�micos entre os membros, e a obrigatoriedade legal de algumas a��es poderia, muitas vezes, engessar os interesses individuais de cada na��o. H� resist�ncia a isso, especialmente, sob a �tica da China, que tra�a outras estrat�gias.
O maior peso do BRICS � representado pela China, o gigante humilhado do passado renasce ap�s um apagamento no cen�rio mundial e, hoje, � a segunda economia do mundo, com um PIB estimado em 25 trilh�es de d�lares e, simultaneamente, percorre seus pr�prios caminhos, como o Belt and Road Initiative (BRI).
Nesse percurso, colide com �ndia, um dos membros do grupo, principalmente, no que se refere aos trechos do BRI que envolvem o Paquist�o, antigo rival indiano na disputa de fronteiras na regi�o da Caxemira. Essa � uma das peculiaridades e s�o elementos que podem comprometer uma maior integra��o ao longo do tempo.
No pr�ximo encontro (22 a 24 de agosto), na �frica do Sul, os temas discutidos
dever�o colocar em evid�ncia a expans�o do bloco (o BRICS-PLUS) e o fortalecimento da proposta de uma moeda comum, algo cada vez mais pr�ximo da realidade do BRICS, uma vez que grande parte dos acordos comerciais entre a China e a R�ssia, por exemplo, est�o sendo conduzidos em suas respectivas moedas, e o Brasil caminha para o mesmo contexto. Um passo para � frente formalizar a cria��o de uma moeda pr�pria.
N�o h� nenhum documento que obrigue o uso do d�lar como moeda internacional. O uso recorrente da moeda americana como principal sistema de troca global deve-se mais � hegemonia militar e econ�mica dos EUA do que � obrigatoriedade. A
desdolariza��o n�o ocorrer� da noite para o dia, mas pode vir com o tempo. Moedas s�o refer�ncia, at� que deixam de ser.
Quanto ao alargamento do bloco ou o BRIC-PLUS, talvez n�o seja o momento. Os ganhos podem n�o ser n�o expressivos como se espera. H� quest�es internas claramente conflitantes que podem se agravar como a chegada de novos membros.
Evidentemente, � um motivo de j�bilo perceber que h� tantos pa�ses interessados em um bloco visto, inicialmente, com ceticismo pelo Ocidente. Todavia, enquanto n�o houver certeza de aonde se quer e como chegar, a cautela deve ser a base.
Para ser grande, nem sempre o tamanho � o principal. Ajustar as metas reais e
poss�veis talvez seja mais sensato que simplesmente n�meros inflados. O BRICS
mostrou maturidade em momentos de crise, como aquela de 2008, gerada pelas
for�as dominantes que as pr�prias pot�ncias criadoras n�o tiveram condi��es de
evitar. Este amadurecimento deve ser o ponto norteador da ades�o de novos
integrantes.
Se este alargamento � visto com relut�ncia por parte dos membros originais, � sinal de que algo est� fora do lugar. Para a China isso pode significar a acelera��o do BRI e a sua maior participa��o na governan�a global, mas como ainda h� muitas incertezas envolvendo os mecanismos que ser�o utilizados pelos advers�rios para evitar a tomada do poder pelo Oriente, ir um pouco mais devagar, fortalecer os la�os com os grandes parceiros atuais para na sequ�ncia ampliar os passos talvez seja mais recomendado.
Com uma popula��o de mais de 3 bilh�es de pessoas, que corresponde a 43% da popula��o mundial e com gigantescas �reas territoriais (tr�s dos cinco maiores pa�ses existentes est�o no bloco), o BRICS enfrenta grandes desafios internos comuns, como o combate � pobreza e �s desigualdades, a redu��o da polui��o, o enfrentamento das mudan�as clim�ticas, os investimentos em inova��o e novas tecnologias.
Resolver ou minimizar estes problemas fortalece a imagem externa. O crescimento num�rico do bloco com estas desordens pode reduzir o poder geopol�tico que se almeja alcan�ar.
N�o se pode desconsiderar tamb�m as tens�es internas que com regularidade voltam � tona, como as quest�es fronteiri�as entre a China e a �ndia e a possibilidade de governos hostis, como ocorreu com a extrema-direita no poder brasileiro nos �ltimos quatro anos, que se aliou aos EUA e dificultou a integra��o regional com a China e divergiu com a R�ssia em rela��o � Venezuela, por exemplo.
Outro ponto sens�vel do BRICS est� associado a uma remodela��o da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), que d� � ONU mais poder de atua��o nas decis�es globais.
China e R�ssia, membros permanentes, com poder de veto no Conselho de Seguran�a (CS), expressaram apoio �s aspira��es do Brasil e da �ndia em desempenhar um papel maior na ONU, sem mencionar, entretanto, o apoio formal de ambos � entrada dos parceiros como membros permanentes do CS, o que pode ser interpretado como um descr�dito aos aliados.
O bloco possui uma presen�a transcontinental de alto valor estrat�gico e de peso econ�mico global significativo, que pode ser afetado com a ades�o de novos membros, com realidades socioecon�micas muito desiguais. Evidentemente, a China, uma das defensoras da amplia��o, deve ter em mente os imbr�glios que isso pode gerar.
Mas que n�o se esque�a do que dizia Sun Tzu, na “Arte da Guerra”: nunca se deve atacar com pressa e c�lera, mas com a prud�ncia e firmeza de um pequeno n�mero de pessoas se pode chegar a cansar e dominar at� grandes ex�rcitos. Talvez seja por a�.