
H� locais do mundo onde tudo morre, menos a morte. A morte escancara seu poder sobre tudo ao entorno. Torna est�ril os sonhos e as perspectivas. Escrever, nos dias de hoje, demanda uma boa dose de insensibilidade para acompanhar os fatos. � medida que as letras descrevem os horrores das guerras, um peso recai sobre ombros de quem l� e observa.
N�o h� como conceber o que isso significa para quem sobre os ombros recaem morteiros, misseis e explos�es, ceifando a vida de crian�as, jovens e idosos, sem distin��o de sexo. O �ltimo suspiro dos corpos dilacerados nem foi percebido, mas temido todo o tempo que antecedeu a morte.
Foram-lhes retirado esse direito. Aos sobreviventes nem a fuga alivia o medo e a dor. Viver nos locais onde a morte n�o morre faz exilados na sua pr�pria terra cercada.
A morte espreita o corpo e os becos meandrantes do sofrimento. � o ch�o sagrado, sangrado.
A geografia dessa eterna finitude tem c�digo postal, justificativas hist�ricas, cicatrizadas no olhar e alheias al�m das fronteiras da dor. Afinal, a indigna��o � uma mosca sem asas que n�o ultrapassa as janelas das nossas casas, j� dizia a can��o. � uma indigna na��o, que ousou ocupar o assoalho ancestral divino.
A apropria��o indevida de pequenos fragmentos textuais milenares, interpretados � revelia de interesses nem sempre nobres, para justificar o exterm�nio de um povo, ecoa a todo momento. � proibido recordar os vest�gios do que se � e o que foi vivido, alimentando o esquecimento e a solid�o que destro�am o oprimido.
Os lugares da morte permanente se espalham pelos diferentes continentes. Sua for�a � impulsionada pela convec��o do �dio, que esquenta e dilata nas profundezas do humano, eleva-se sobre todos, como a for�a de vulc�o que entra em erup��o, resfria quando o cheiro mortal se dissemina, para novamente retornar ao princ�pio do ciclo, que ir� se repetir dia ap�s dia, enquanto o �dio e a intoler�ncia forem a energia motriz.
Os lugares onde a morte n�o morre encontram respaldo numa sociedade que diz para esquecer tudo o que � doentio, ultrajante e que causa descontentamento, como se olvidar libertasse. N�o. N�o � liberdade, � apenas omiss�o na defesa de um coletivo! Ao esquecer o outro, pode-se viver sem amarras, mas o deixa acorrentado nos grilh�es cont�nuos da letalidade. A morte se faz eternidade.
A guerra, filha mais eficiente da morte, � o culminar dos atritos permanentes. A viol�ncia transparente na maior parte do tempo para o oprimido � velada e controlada pelo opressor. Externamente, a vida segue a normalidade do seu curso.
Nos locais onde a finitude segue sua inevitabilidade, surpreendendo nas esquinas do cotidiano, os vivos, ap�ticos, esquecem a luta pela justi�a, liberdade e igualdade para todos, onde o fim eterno reside permanentemente.
O sil�ncio � quebrado quando a morte � escancarada e os cad�veres se amontoam, enquanto os gritos s�o substitu�dos pelos sussurros difusos e desconexos dos omissos.
�queles que se sentem os �nicos soberanos sobre os terrenos onde a morte nunca morre cabem as decis�es sobre o futuro daqueles que ali se encontram. Os direitos compartilhados a todos os indiv�duos que ocupam as terras disputadas s�o o primeiro passo a ser dado. � a garantia de uma vida em equil�brio? N�o. Mas � a �nica forma de esperan�ar dias melhores. H� de se dar um cr�dito � vida.