
Todavia, os dados apresentados s�o incapazes de gerar uma sensibiliza��o e
preocupa��o para minimizar tais manchetes. H� governos e integrantes da sociedade que adotam medidas para limitar a perman�ncia desses resultados, mas ainda istantes dos n�meros necess�rios para conter as consequ�ncias negativas sobre o meio e a sociedade.
De um lado, a Ci�ncia ao se dividir entre os aquecimentistas (que creem que algo precisa ser feito rapidamente em defesa do meio ambiente) e os c�ticos (que lan�am d�vidas sobre da problem�tica ambiental global), o que favorece a perda da agilidade na busca por uma solu��o. Os maiores l�deres atuais n�o parecem dispostos a enxergar a Terra como uma estrutura a sinalizar que algo pode sair do controle e afetar a esp�cie mais complexa e a mais vulner�vel que habita o planeta: a humana.
Do outro lado, a ideia consolidada de que pessoas simples n�o interessam alimenta a discrimina��o e o abandono social mundo afora.
O extenso territ�rio brasileiro possui um substrato rochoso, que armazena riquezas minerais abundantes, importantes para a economia e sustento de muitos, mas n�o a qualquer pre�o.
As condi��es impostas pela tropicalidade dominante no pa�s explicam a riqueza da fauna e da flora, distribu�dos em v�rios biomas, que impressionam pela fabulosa diversidade e deveria ser orgulho de uma na��o. Mas n�o � visto assim. A floresta, at� etimologicamente, foi substitu�da pela mata. Isso retira a impon�ncia da cobertura vegetal e favorece o desprezo no cuidado e tratamento das �reas verdes nacionais.
A tentativa de enfraquecimento do Minist�rio do Meio Ambiente (MMA) e dos Povos Ind�genas, na �ltima semana, com a aprova��o pela Comiss�o Mista, de uma Medida Provis�ria (MP) que prev� uma reorganiza��o das duas pastas, retirando poder de decis�o sobre pontos estrat�gicos das quest�es socioambientais, demonstra que o papel que o Brasil representa nos avan�os de prote��o ao planeta e na defesa dos povos origin�rios est� seriamente comprometido e permanecer� em segundo plano, caso sejam aprovadas as altera��es propostas na C�mara dos Deputados e no Senado.
Ap�s quatro anos de um governo que tratou com descaso a quest�o ambiental e a das minorias �tnicas, esperava-se uma mudan�a radical nas a��es em defesa de ambos. Mas a for�a de um congresso conservador, das institui��es agr�rias e econ�micas do pa�s s�o maiores que poss�veis pretens�es em prol da natureza e das representatividades sociais.
Os catastr�ficos anos do governo anterior n�o foram suficientes para mobilizar a sociedade, tornando-a capaz de exigir de suas lideran�as pol�ticas a��es s�rias e cont�nuas em defesa de um desenvolvimento sustent�vel, tendo a natureza e o social tratados como prioridade. A fase materialista em que a humanidade se encontra est� bem representada no Sul Global e no Brasil. Tudo leva a crer que novamente haver� um abandono das causas socioambientais movidas por interesses superiores �queles que est�o � frente do Minist�rio do Meio Ambiente.
As novas propostas apresentadas indicam que a popula��o permanece alheia �s grandes decis�es tomadas pelos pol�ticos. Ignora que em algum momento os efeitos de tais medidas ir�o repercutir sobre ela. � uma lei universal: a��o e rea��o. Talvez nem tarde tanto para que sejam percebidos, de forma ainda mais contundente e penosa para muitos.
Sinais j� est�o espalhados h� tempos: recordes de temperaturas nos polos,
derretimento dos solos polares (Permafrost), aumentando os riscos de exposi��o a bact�rias e v�rus armazenados em camadas de gelo durante mil�nios, cujos efeitos podem ser desastrosos sobre a humanidade), possibilidades de novas pandemias em escala de tempo curto etc. Entretanto, o homem permanece imerso num mundo fict�cio, de uma natureza sempre a servi-lo, independentemente dos males que possa causar.
O antecessor na presid�ncia brasileira foi estrat�gico no desmantelamento formal das ag�ncias de prote��o � natureza, que um dia j� foram motivo de orgulho do pa�s. Todas a institui��es em defesa do meio ambiente – pol�cia ambiental, IBAMA, ICMBio etc.- sofreram cortes dr�sticos, variando de 1/4 � metade de seu or�amento. Os projetos de mitiga��o e adapta��o �s mudan�as clim�ticas tiveram seus gastos reduzidos em mais de 90% durante a vig�ncia tenebrosa daquele que esteve como l�der nacional.
O MMA teve como um dos dirigentes, durante esse governo, o senhor Ricardo Salles, que renunciou ao cargo ap�s den�ncias de envolvimento com uma rede internacional de tr�fico de madeiras! Essa � uma das demonstra��es do descompromisso com a pasta e o papel que deveria representar.
O ex-ministro estabeleceu uma pol�tica de quase destrui��o do meio ambiente, defendendo a ideia de que, no seu trabalho, desfazer era mais importante do que fazer.
Como tal, foi “passando a boiada”. Seu sucessor, considerado um lobista do
agroneg�cio, continuou com uma pol�tica similar. A doen�a criava ra�zes cr�nicas. A escolha dos ministros era um sintoma claro do mal que estava a se instalar.
Mas o ano de 2023 surgia com um pouco mais de luz. Esperava-se que o novo governo conseguisse avan�ar nas pautas mais afetadas, durante os dif�ceis anos de 2019-2022. Havia uma aposta positiva de mudan�as que colocariam o pa�s novamente entre aqueles que podem e devem fazer algo para o planeta e para as minorias mais desfavorecidas.
As exig�ncias resultariam em um agroneg�cio mais sustent�vel, que tamb�m gera lucro, pois as demandas internacionais imp�em seriedade entre as pr�ticas econ�micas e as normas ambientais. A ideia de um campo pr�spero, sem regras, n�o tem tamanho valor e estava sendo reavaliada para o bem de uma coletividade e n�o apenas de uns poucos.
Entretanto, com um Congresso Nacional regressista e um Senado com predom�nio da extrema-direita (99 e 14 cadeiras, respectivamente) haver� muitas dificuldades para a implementa��o das medidas propostas pelo novo governo e seus representantes nos minist�rios, ao longo dos pr�ximos anos. Se a sociedade estivesse mais ciente do seu papel e dos riscos futuros que pode sofrer, seria mais atuante. Mas perdura o sil�ncio, que diz tanto.
A difus�o de informa��es falsas (fake news), aceitas por uma significativa parcela da sociedade como verdades, blinda os pol�ticos e torna a sociedade quase uma marionete nas m�os inescrupulosas que controlam as m�dias sociais, pouco envolvidas com um coletivo. O Minist�rio da Comunica��o precisa, urgentemente, agir para evitar esses desmandos e disseminar dados verdadeiros como mecanismo de combate � desinforma��o.
Os alertas globais est�o acionados h� d�cadas, mas a luz amarela n�o coloca o homem no estado de tens�o que poderia promover grandes mudan�as. O que se observa � uma sociedade opaca em rela��o a a��es efetivas, mais sustent�veis. Ent�o, como disse o escritor franc�s, Andr� Gide: “tudo o que precisa ser dito j� foi dito. Mas j� que ningu�m estava ouvindo, � preciso dizer outra vez.” Quem sabe, um dia, escutem; s� se espera que n�o seja tarde demais.