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Estado de Minas LGBTQIAP

'No Censo, muito mais pessoas v�o se assumir homossexuais', diz ativista

Levantamento do IBGE se baseia em autodeclara��o; resultados s�o semelhantes a de outros pa�ses, mas pr�prio instituto aponta que pode haver subnotifica��o


26/05/2022 08:00 - atualizado 26/05/2022 10:59

Foto tirada na Parada do Orgulho LGBT de Belo Horizonte em 2018. Há uma multidão nas ruas segurando uma imensa bandeira LGBT (com as cores do arco-íris) conjuntamente.
Levantamento da PNS mostra que o Brasil possui 2,9 milh�es de pessoas autodeclaradas homossexuais ou bissexuais, mas IBGE afirma haver subnotifica��o (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional de Sa�de (PNS), divulgou nesta quarta-feira (25/5) os dados de “orienta��o sexual autoidentificada da popula��o adulta”. O resultado mostrou que 2,9 milh�es de brasileiros de 18 anos ou mais se declaram l�sbicas, gays ou bissexuais, mas o pr�prio IBGE afirma que os n�meros podem estar subnotificados.
 
O caso repercutiu nas redes sociais por conta da baixa porcentagem, levando internautas a questionarem a efetividade da pesquisa e chegando a fazer piadas sobre o assunto. P�ginas e personalidades relacionadas ao ativismo LGBTQIAP se manifestaram sobre a poss�vel subnotifica��o. O Estado de Minas conversou com pesquisadores e lideran�as LGBTQIA para entender os motivos da subnotifica��o. 

Segundo o estudo do IBGE, 94,8% da popula��o, o que equivale a 150,8 milh�es de pessoas, identificam-se como heterossexuais; 1,2%, ou 1,8 milh�o, declaram-se homossexual; e 0,7%, ou 1,1 milh�o, declara-se bissexual. Al�m disso, 1,1% da popula��o, o que equivale a 1,7 milh�o de pessoas, disse n�o saber responder � quest�o e 2,3%, ou 3,6 milh�es, recusaram-se a responder.
 
Uma minoria, 0,1%, ou 100 mil, disse se identificar com outras orienta��es. O estudo n�o mapeou identidades de g�nero. Em Belo Horizonte, 3,4% se autodeclararam homossexuais ou bissexuais um percentual que ficou acima da m�dia nacional (1,8%) e a m�dia em Minas (1,4%).

Poss�veis motivos para uma subnotifica��o

De acordo com o pr�prio IBGE, o n�mero de l�sbicas, gays e bissexuais registrados na pesquisa pode estar subnotificado, apontando a LGBTfobia e estigmas relacionados � comunidade LGBTQIAP como principais fatores respons�veis pela inseguran�a das pessoas em declarar a pr�pria orienta��o sexual.
 
Apesar disso, os n�meros brasileiros s�o semelhantes a de outros pa�ses, como o Chile, onde 1,8% se declara homossexual ou bissexual. Na Col�mbia, h� registros de 1,2% da popula��o; nos Estados Unidos, s�o 2,9%; e no Canad�, 3,3%.

De acordo com o Relat�rio de Mortes Violentas de LGBT no Brasil em 2021, realizado pelo Grupo Gay da Bahia, 300 pessoas da comunidade LGBTQIAP sofreram morte violenta no pa�s, n�mero que representa 8% a mais que no ano anterior. Dessas 300 mortes, 276 foram homic�dios e 24, suic�dios.

Uma usu�ria do Twitter comenta em sua conta que participou do �ltimo Censo do IBGE e que, durante a conversa, o pesquisador revelou ter ficado contente quando ela e a parceira assumiram ser um casal. Para ele, era ruim ver casais n�o se assumirem por medo da exposi��o.


“A gente n�o est� afirmando que existem 2,9 milh�es de homossexuais ou bissexuais no Brasil. A gente est� afirmando que 2,9 milh�es de homossexuais e bissexuais se sentiram confort�veis para se autoidentificar ao IBGE como tal”, diz a analista da PNS Nayara Gomes.


Para Gregory Rodrigues, coordenador nacional de comunica��o da Alian�a Nacional LGBTI e coordenador estadual da Alian�a Nacional LGBTI em Minas Gerais, o fator socioecon�mico tamb�m interfere nos resultados apresentados pelo IBGE. “A grande maioria que n�o teve medo de se autodeclarar s�o pessoas escolarizadas, com uma faixa de renda maior, ou seja, esse � um dos fatores que influencia muito no dado final”, explica ele.
 
Gregory Rodrigues é um homem de cabelos e barba castanhos. Ele usa um terno preto com camisa branca e uma gravata preta. Ao seu lado, há um palanque com uma bandeira LGBT (com as cores do arco-íris) pendurada. Ele segura um microfone.
Gregory Rodrigues, coordenador estadual da Alian�a Nacional LGBTI+ em Minas, comenta sobre a subnotifica��o da pesquisa (foto: Arquivo Pessoal/Reprodu��o)

De acordo com o IBGE, a popula��o de homossexuais ou bissexuais � maior entre os que possuem escolaridade a n�vel superior (3,2%), maior renda (3,5%) e idade entre 18 e 29 anos (4,8%).

O pesquisador Thiago Coacci pondera que fora das capitais tratar da orienta��o sexual n�o � uma quest�o t�o �bvia para as pessoas, o que pode ter gerado d�vida na resposta � quest�o. 
 
“A pessoa ainda precisa querer falar publicamente sobre orienta��o sexual, e sabemos que uma parcela consider�vel da popula��o LGBT est� no arm�rio”, acrescenta Thiago que � doutor em Ci�ncia Pol�tica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O fato de as pessoas esconderem a orienta��o homossexual ou bissexual foi ironizado nas redes sociais. Um internauta, ao comentar sobre a divulga��o dos resultados da pesquisa, simula um di�logo ironizando homens casados que se dizem heterossexuais, mas saem em encontros casuais com outros homens.


“Mas identifica��o n�o �, necessariamente, a mesma coisa de pr�tica. Eu posso ter sexo s� com homens e n�o me identificar como homossexual. Posso falar que esse termo n�o me contempla muito bem”, explica Thiago Coacci.

Nayara Gomes afirma que ainda � preciso percorrer um caminho com v�rias iniciativas de campanha e de sensibiliza��o com o intuito de naturalizar tanto os termos utilizados na pesquisa quanto a presen�a dessas pessoas nos mais diversos ambientes. “Quanto mais perguntarmos, mais as pessoas v�o se acostumar e � esse caminho que a gente pretende seguir. Temos alguns desafios”, acrescenta ela.

Perspectivas para o futuro

Assim como houve uma grande mudan�a na autodeclara��o racial de pessoas negras nas �ltimas d�cadas, h� uma tend�ncia de que pessoas da comunidade LGBTQIAP tenham maior liberdade para se declararem como tal no futuro.

Em 2004, 51,2% dos brasileiros se diziam brancos diante de 42% pardos e 5,9% negros, apontando para a predomin�ncia da popula��o brasileira que se autodeclarava branca. Em 2007, os n�meros viraram: 49,2% se disseram brancos, 42,5% pardos e 7,5% negros e, desde essa �poca, os n�meros continuam crescendo, chegando a 46,8% autodeclarados pardos e 9,4%, pretos de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (PNAD) de 2019.

“O Brasil n�o empreteceu, as pessoas n�o mudaram. O que aconteceu foi que, a partir de uma campanha forte do movimento negro, as pessoas come�aram a se identificar melhor com essas categorias e a declarar isso no Censo. O movimento LGBT caminha forte por esse mesmo caminho se a gente continuar com movimentos progressistas no Brasil”, afirma Thiago Coacci.

Os dados da pesquisa foram coletados em 2019. Segundo Coacci, isso tamb�m pode ter afetado as respostas dos participantes. “Foi o ano do in�cio do governo Bolsonaro e tinha aquele clima de terror que muitas pessoas LGBT sentiam. N�o tenho como dar certeza de que, exclusivamente, isso tenha acometido os resultados, mas s�o fatores como esse, complexos, que podem ter feito isso”, explica ele.

“Acredito que, a partir dos pr�ximos Censos, muito mais pessoas que s�o LGBT v�o ter a coragem de se assumir. Nossos pr�ximos anos v�o ser anos de muitas mudan�as, de retorno da garantia dos direitos plenos, da garantia do Estado Democr�tico de Direito", afirma Gregory Rodrigues.
 
Ele destaca que o Brasil passa por 'um cen�rio de medo" e de "tens�o pol�tica". "Tudo isso afeta os resultados de qualquer pesquisa que englobe a autodeclara��o”, completa.
 
A Alian�a Nacional LGBTI publicou, em nota, uma congratula��o ao IBGE pela pesquisa hist�rica referente � comunidade LGBTQIAP . Para a organiza��o, "� louv�vel percebermos que, em um cen�rio onde o preconceito segue presente e cada vez ganhando mais for�as, existem pessoas que t�m a coragem de se assumir, tornando-se exemplo de resist�ncia frente a esse quadro" e que "a visibilidade acerca de quem s�o e quantos s�o, como vivem, renda familiar, grau de escolaridade, acesso � sa�de [...] s�o essenciais para a constru��o das pol�ticas p�blicas que atendam �s necessidades desta popula��o".
 

A Pesquisa

A PNS visitou, ao todo, 108.525 domic�lios e realizou 94.114 entrevistas. Os dados representam 159,2 milh�es de brasileiros. Pela primeira vez, a pergunta “Qual � a sua orienta��o sexual?” foi feita aos entrevistados.

A quest�o faz parte de um bloco de perguntas consideradas sens�veis, incluindo perguntas sobre viol�ncia f�sica e sexual e atividade sexual, entre outras. As respostas s�o an�nimas e, na hora da entrevista, os pesquisadores buscam garantir a privacidade de quem est� respondendo para que n�o se sintam desconfort�veis diante dos demais moradores do domic�lio. Mesmo assim, a realidade brasileira de moradia ainda � prec�ria em muitas fam�lias, o que dificulta a precis�o das respostas.

Segundo o relat�rio divulgado pelo IBGE, a coleta de dados sobre orienta��o sexual permite a avalia��o de poss�veis desigualdades existentes na popula��o nesse aspecto, al�m de, ainda que com limita��es, dar visibilidade � popula��o de homossexuais, bissexuais e outras orienta��es sexuais.

Questionada por jornalistas sobre a inclus�o de perguntas envolvendo orienta��o sexual e identidade de g�nero no Censo Demogr�fico de 2022, a coordenadora da PNS, Maria Lucia Vieira explica que, al�m de ser uma recomenda��o internacional que essa informa��o seja coletada no �mbito de question�rios de sa�de, a metodologia da PNS favorece a coleta.

Ela esclarece que, nesta edi��o, foi abordada apenas a orienta��o sexual. A PNS n�o coletou dados sobre identidade de g�nero, que ajudariam a identificar, por exemplo, o n�mero de pessoas trans no Brasil. O IBGE, no entanto, informa que estuda uma metodologia para incluir esse tema em suas pesquisas.
 
*Estagi�ria sob supervis�o. 
 


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