
As imagens das pernas de um homem negro que se contorce dentro de um cambur�o da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) em Umba�ba, em Sergipe, s�o agoniantes. A cena fica pior quando se v� a fuma�a branca dentro do carro, e o alerta de quem filme de que ele morreria. E o desfecho n�o foi outro: Genivaldo de Jesus dos Santos, de 38 anos, foi asfixiado at� a morte no porta-malas que foi transformado em c�mara de g�s.
O assassinato foi na mesma data, 25 de maio, da morte de George Floyd nos Estados Unidos, dois anos atr�s. Tamb�m um homem negro morto asfixiado pela pol�cia, de forma cruel, um golpe que o impediu de respirar. L� nos Estados Unidos n�o houve d�vida que se tratava de um assassinato com motiva��o racial.
Aqui no Brasil, a rela��o entre a crueldade do assassinato de Genivaldo e a cor da pele dele � apagada, colocada embaixo do tapete, a n�o ser pelos movimentos negros, que n�o � de hoje denunciam a viol�ncia do Estado brasileiro contra pessoas negras - pretas e pardas. Segundo a fam�lia, o homem era v�tima de esquizofrenia e tomava rem�dios controlados. Ele era casado e deixou dois filhos.
A PRF emitiu nota em que afirma que os agentes empregaram "t�cnicas de imobiliza��o e instrumentos de menor potencial ofensivo" porque Genivaldo resistiu � abordagem.
A licen�a para se matar pessoas negras em opera��es policiais passou a fazer parte de uma ideia de seguran�a p�blica, nos �ltimos anos no pa�s. O presidente da Rep�blica Jair Bolsonaro, na �poca da campanha eleitoral, apresentou como proposta de que as mortes cometidas por policiais em servi�o sequer seriam investigadas. Proposta semelhante foi apresentada pelo ex-juiz Sergio Moro quando ele ocupou o Minist�rio da Justi�a no governo Bolsonaro. Ao ser questionado sobre o assassinato de Genivaldo Bolsonaro, disse que n�o sabia do fato e que iria "se inteirar com a PRF".
Na �poca do assassinato de George Floyd, vimos uma como��o de grande parte da sociedade brasileira, com manifesta��es nas redes sociais contra o racismo.
Mas por que n�o estamos vendo a mesma como��o e mobiliza��o em rela��o ao assassinato de Genivaldo?
Uma hip�tese � que as pessoas e at� mesmo as autoridades n�o veem para o ato uma motiva��o racial. Mas quando se analisa o perfil de pessoas mortas em opera��es policiais, quase sempre em favelas, quase na totalidade as v�timas s�o negras.
Em 2019, a menina �gatha Vit�ria Sales F�lix, de 8 anos, foi morta quando voltava para casa com a m�e, na noite de sexta-feira (20), no Complexo do Alem�o, na Zona Norte do Rio.
Jo�o Pedro foi morto em maio de 2020, no Complexo do Salgueiro, em S�o Gon�alo (RJ), durante uma a��o conjunta das pol�cias Civil e Federal.
Em junho de 2021, a designer de interiores Kathlen Romeu foi morta durante uma a��o da Pol�cia Militar no Lins de Vasconcelos, Zona Norte do Rio. A jovem negra tinha 24 anos e estava gr�vida de 14 semanas.
Em maio, 25 pessoas foram mortas em opera��o policial no Rio.
N�o s�o ind�cios suficientes para que se fa�a uma problematiza��o das mortes de pessoas negras?
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