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Estado de Minas AUMENTO DA GASOLINA

Gasolina alta: bicicleta e cavalo tomam lugar de carros no interior de MG

Movimento de ve�culos motorizados nas cidades mais carentes de MG diminuiu, com moradores buscando alternativas para tornar os deslocamentos menos onerosos


21/03/2022 04:00 - atualizado 21/03/2022 10:16

Homem andando à cavalo
Bicicleta e cavalo tomam lugar de carros no interior de MG (foto: Milqueias Mota/divulga��o)

Em Bonito de Minas, de 11,5 mil habitantes, munic�pio do norte-mineiro que tem o terceiro pior IDH (0,537) do estado, depois do �ltimo reajuste a gasolina est� sendo vendida a R$ 7,85. O valor imp�s sacrif�cios � popula��o da cidade, onde a renda m�dia dos trabalhadores � de 1,6 sal�rio m�nimo e a renda per capita anual chega a R$ 7.204,87, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�sticas (IBGE).

Com o aumento da gasolina, moradores da cidade est�o deixando de andar de ve�culos motorizados. “O movimento de ve�culos na cidade diminuiu bastante. O pessoal passou a andar mais de bicicleta. A gente tamb�m percebe que muitas pessoas voltaram a andar a cavalo”, descreve Milqueias Mota Figueiredo, assistente social,  servidor p�blico e vereador em Bonito de Minas.

Segundo Milqueias, o reajuste dos combust�veis, por impactar v�rios setores da economia, provocou “mudan�as dr�sticas” na vida da popula��o da cidade. “O impacto do aumento da gasolina em um munic�pio carente como o nosso � muito grande. Por causa do aumento do custo de vida, as fam�lias acabam deixando de fazer coisas que faziam antes, como frequentar os bares. O lazer diminuiu bastante. O consumo de carne tamb�m caiu”, constata.


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Morador de Bonito de Minas, Valdivino Carneiro Ara�jo sente na pele os efeitos da alta dos combust�veis, ao mesmo tempo que acompanha o impacto do reajuste na vida de seus conterr�neos. Ele trabalha com transporte na cidade e leva passageiros at� Janu�ria (a 51 quil�metros de Bonito de Minas), para compras, tratamento de sa�de, atendimento banc�rio ou outras atividades no munic�pio mais desenvolvido.

O motorista disse que, com o �ltimo reajuste dos combust�veis, aumentou de R$ 20 para R$ 25 o valor cobrado por passageiro no trecho Bonito de Minas/Janu�ria. “Do jeito que a gasolina est� cara, estou pagando para trabalhar. Mas, se aumentar o pre�o da viagem para R$ 30, as pessoas n�o conseguem pagar, pois o povo daqui ganha, em m�dia, um sal�rio m�nimo por m�s”, afirma Valdivino, cuja grande maioria da clientela � formada por aposentados da zona rural e benefici�rios de programas de distribui��o de renda do governo, as principais fontes que movimentam a renda dos pequenos munic�pios do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha.

No Norte do estado, o quadro se repete em Santa Cruz de Salinas, de 4,074 mil habitantes e IDH de 0,577, que est� entre os 32 mais baixos de Minas Gerais. O litro da gasolina na cidade chegou a R$ 7,99. A alta no pre�o atinge pessoas como o motorista Ronei Neres Alves. Ele transporta os moradores que v�o at� Salinas (100 quil�metros de Santa Cruz) � procura de consultas e exames m�dicos, saques banc�rios e outros servi�os n�o existentes no pequeno munic�pio onde residem.

Em Santa Cruz de Salinas, de pouco mais de 4 mil habitantes, no Norte de Minas, gasolina chega perto dos R$ 8
Em Santa Cruz de Salinas, de pouco mais de 4 mil habitantes, no Norte de Minas, gasolina chega perto dos R$ 8 (foto: Ra�ssa Fernandes/Divulga��o)


Ronei revela que, com as mudan�as de pre�o na bomba do posto, suas despesas com combust�veis dobraram em um semestre. “H� seis meses, eu abastecia o carro com R$ 60 de gasolina e dava para fazer a viagem de ida e volta de Santa Cruz a Salinas. Agora, gasto R$ 120 pra ir e voltar. Estamos pagando para trabalhar”, reclama o motorista, que cobra R$ 50 do passageiro pelo deslocamento.

Na mesma regi�o, em Crist�lia (5,9 mil habitantes e com IDH de 0,583), a gasolina est� mais em conta do que em Santa Cruz de Salinas, sendo vendida a R$ 7,80. Mas o pre�o pesa muito no bolso dos moradores, como constata o assistente social Mailson Pereira Chaves, da prefeitura da cidade.

“O problema � que o aumento dos combust�veis eleva o custo de vida. O impacto � maior ainda em um lugar como Crist�lia, de baixo IDH e pouca renda. As pessoas est�o deixando de comer carne para consumir alimentos mais baratos como frango e macarr�o”, relata Mailson.

Ainda no Norte de Minas, na pequena Ibiracatu (5,4 mil habitantes), o litro da gasolina tamb�m chegou na casa dos R$ 8 (R$ 7,98). O aumento no pre�o complicou a vida de moradores como Hiane Rodrigues Magalh�es. Ele mora a oito quil�metros da sede urbana, para onde se desloca diariamente de carro para trabalhar como servidor p�blico.

De uma hora outra, Hiane viu sua despesa com o pr�prio transporte quase dobrar. “Antes, eu gastava R$ 10 por dia de gasolina para ir e voltar do trabalho. Agosta, o custo passou para R$ 18”, relata, lembrando que o aumento dos combust�veis impactou a vida de todo os produtores rurais do munic�pio, historicamente castigado pela seca.


Posto em Botumirim, cidade do Norte de Minas
Posto em Botumirim, cidade do Norte de Minas (foto: Helena Queiroz/Divulga��o)

Dono de posto tamb�m reclama

A disparada no pre�o dos derivados de petr�leo tamb�m traz dificuldades para os donos de postos de combust�veis nos munic�pios de baixa renda. A reclama��o � de Gilvan Domingos Almeida, que administra um posto em Botumirim (foto), cidade do Norte de Minas que tem 6,25 mil habitantes e IDH de 0,602.

Depois do �ltimo reajuste da Petrobras, o litro de gasolina est� sendo vendido a R$ 7,79 na localidade. “Estamos trabalhando no limite. Na verdade, a gente teria de colocar um pre�o maior para cobrir os custos de frete e ter algum lucro. Mas, se fixar um valor maior, a popula��o da cidade deixa de abastecer pela falta de condi��o a financeira”, argumenta Gilvan.

Ele reclama que os donos de postos de lugares como Botumirim – distante 590 quil�metros de Betim, onde fica a Refinaria Gabriel Passos – pagam muito mais pelo frete, que tamb�m ficou mais alto devido ao pr�prio reajuste dos combust�veis: “Para o transporte de Betim at� Botumirim, a gente paga R$ 0,40 pelo litro de gasolina. O custo do transporte de Betim at� Montes Claros (cidade polo da regi�o, distante 432 quil�metros) � de R$ 0,22 por litro de combust�vel”.

A gasolina mais cara de Minas

Coronel Murta (9,2 mil habitantes), cujo IDH � de 0,627, foi o munic�pio de baixa renda do Vale do Jequitinhonha onde a reportagem do EM encontrou o pre�o da gasolina mais alto: em um posto a R$ 8,49, R$ 1 a mais do que valor encontrado em Belo Horizonte; e, em outro, a R$ 8,59.

Como ocorre em outros munic�pios desprovidos de infraestrutura, os moradores de Coronel Murta sofrem mais ainda as consequ�ncias da carestia da gasolina pela maior necessidade de recorrer ao transporte, tendo que se deslocar � cidade mais pr�xima que tenha atendimento de sa�de, bancos e outros servi�os – no caso Ara�ua� (45 quil�metros de dist�ncia). Como no pequeno munic�pio n�o tem banco, os moradores precisam ir at� Ara�ua� para fazer saques, pagamentos e outras opera��es.

Moradora de Coronel Murta, a professora Maria Pereira precisa sempre ir a Ara�ua� para levar o filho para tratamento m�dico. Ela paga o servi�o a um motorista de t�xi. “Depois do aumento da gasolina, o pre�o cobrado passou para R$ 20 por passageiro. Como s�o duas pessoas, estou pagando R$ 80 em cada viagem (ida e volta). Ficou muito pesado”, lamenta a professora.

Moradores sofrem com o valor exorbitante na bomba: R$ 8,49 é o preço mais em conta da gasolina em Coronel Murta
Moradores sofrem com o valor exorbitante na bomba: R$ 8,49 � o pre�o mais em conta da gasolina em Coronel Murta (foto: Helena Queiroz/Divulga��o)


Ela reclama que o reajuste do pre�o da gasolina levou ao aumento do custo de vida dos moradores da cidade. “O munic�pio n�o produz quase nada. Agora, vai subir o pre�o do arroz, do feij�o... De todos os produtos industrializados que v�m de fora”, considera Maria Pereira.

Tamb�m morador de Coronel Murta, o produtor rural Vanderlei Neres dos Santos, de 52 anos, conta que, para completar a renda, faz fretes para a zona rural do munic�pio em uma caminhonete, “Com a alta dos combust�veis, nem sei se vai dar para ganhar mais alguma coisa”, lamenta.

Vanderlei conta que sempre plantou uma rocinha de milho e feij�o no seu quinh�o de terra na zona rural do munic�pio. Durante anos seguidos, sofreu com a seca. “Era s� chegar a �poca do milho “embonecar” (vingar) e o feij�o florescer que vinha o sol e destru�a tudo”, comenta. Com as chuvas de dezembro e janeiro, ele ficou satisfeito com a colheita nas lavouras, alegria que foi interrompida com os efeitos da “carestia” dos combust�veis. “Esse aumento veio na hora errada”, reclama o produtor rural.

Outro morador de Coronel Murta que protesta contra a disparada no pre�o da gasolina � S�lvio Pereira Neres Vieira, que ganha a vida com a renda do servi�o de transporte da cidade at� Ara�ua�, cobrando, atualmente, R$ 20 por passageiro – antes era R$ 15.

Ele afirma que, com a gasolina na cidade vendida a R$ 8,49 e a R$ 8,59 o litro, n�o est� recompensando rodar. “O que gente recebe n�o paga os custos do combust�vel”, diz S�lvio, alegando n�o ter como aumentar mais o valor do fretamento porque sua clientela � formada, em sua maioria, por aposentados que recebem um sal�rio m�nino por m�s.

Em Ara�ua� (de 37,7 mil habitantes e IDH de 0,663), o pre�o do litro da gasolina na bomba est� R$ 8,059.

Ainda no Vale do Jequitinhonha, no distrito de Leliv�ldia, no munic�pio de Berilo (11,8 mil habitantes, IDH de 0,628), a gasolina est� sendo vendida a R$ 8,299. Mas j� esteve mais cara, no dia posterior ao �ltimo reajuste da Petrobras, a R$ 8,50 o litro – e “baixou” em uma “promo��o” do posto.

Moradora de Leliv�ldia, a comerciante Rosemare Dias de Barros disse estar preocupada com o reajuste, pois, duas vezes por semana, precisa ir at� Ara�ua� (a 50 quil�metros da localidade) para frequentar aulas em uma faculdade particular. “Ainda n�o fiz os c�lculos, mas depois deste aumento da gasolina a viagem vai ficar muito cara”, afirma Rosemare.


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