(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ECONOMIA

Articulador do Plano Real alerta sobre riscos de n�o se combater infla��o

Gustavo Franco assegura que a crise global n�o vai lan�ar o pa�s em uma recess�o duradoura, mas � preciso repensar a pol�tica econ�mica


04/07/2022 09:45 - atualizado 04/07/2022 10:00

Gustavo Franco
(foto: Arquivo pessoal)


O economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e s�cio fundador da gestora de investimentos Rio Bravo, teve participa��o central na formula��o, operacionaliza��o e administra��o do Plano Real, que interrompeu o processo hiperinflacion�rio que o Brasil viveu entre o fim dos anos 1980 e o in�cio dos anos 1990.

"Sa�mos da cracol�ndia monet�ria”, diz. “Outro desafio ser� chegar �s Olimp�adas, j� que os v�cios daqueles tempos tiveram consequ�ncias duradouras sobre a nossa sa�de econ�mica.”

De acordo com o economista, � preciso repensar os planos para o futuro diante dos riscos de uma desacelera��o global e at� de recess�o no pa�s em 2023, no contexto atual de piora do quadro fiscal.

“N�o acredito em recess�o duradoura, mas a nossa prosperidade n�o est� garantida”, alerta. A seguir, a entrevista de Gustavo Franco concedida ao Correio Braziliense.

Quais os maiores desafios da opera��o de guerra que foi o in�cio do Plano Real? Que lembran�as o senhor guarda dessa �poca?

A lembran�a que domina todas as outras � a do tamanho da desgra�a, uma esp�cie de Cracol�ndia monet�ria. Era o fim da linha. Acho que esgotamos todo o dicion�rio em mat�ria de erros macroecon�micos e levamos o pa�s para uma trajet�ria terminal. Ainda sinto arrepios de pensar na encrenca que foi combater tantos problemas, tudo ao mesmo tempo, e com tanta gente achando que n�o era isso tudo (fen�meno que nos acostumamos a descrever como negacionismo). Como se houvesse uma fina neblina encobrindo e diminuindo o problema.

Depois de 28 anos, podemos afirmar que o Plano Real foi bem sucedido, apesar da escalada recente da infla��o? Que desafiosa estabilidade da moeda ainda enfrenta?
� claro que foi (bem sucedido). Sa�mos de uma situa��o de quase-colapso e voltamos � normalidade em muitos assuntos, come�ando pela infla��o. N�o significa que todos os problemas est�o resolvidos, nem que nunca mais vamos errar. Sa�mos da Cracol�ndia, o que foi uma grande vit�ria. Outro desafio ser� chegar �s Olimp�adas, j� que os v�cios daqueles tempos tiveram consequ�ncias duradouras sobre a nossa sa�de econ�mica.

Hoje vemos a infla��o voltando a dois d�gitos e o Banco Central n�o conseguindo cumprir as metas por mais de um ano consecutivo, apesar do forte aperto monet�rio. O que est� acontecendo?
� outro ambiente, muito perigoso, j� que essa pequena dosagem da mesma droga que j� nos fez tanto mal pode trazer complica��es desproporcionais. Claro que h� risco de perda de controle, como no caso dos “ex-alco�latras”. Mas o Banco Central tem feito a sua parte. Essa batalha mais recente est� pelo meio do caminho, � importante, pois � o primeiro Banco Central com autonomia (mandatos que entram pelo pr�ximo governo), mas tudo indica que ter� sucesso em controlar a infla��o.
Para onde vai a infla��o? A popula��o j� est� incomodada com a perda do poder de compra e os pobres, como sempre, s�o os maiores prejudicados.

A popula��o brasileira � hipersens�vel � infla��o, e por boas raz�es. N�o h� fam�lia brasileira que n�o tenha uma hist�ria ou uma experi�ncia muito triste associada � infla��o. Isso confere certa base para a constru��o pol�tica das pol�ticas de estabiliza��o e para as institui��es que defendem a moeda. Mas, infelizmente, a mem�ria da trag�dia vai ficando para tr�s, o que apenas favorece o negacionismo. Qual o maior legado do Plano Real, na sua avalia��o?
A defesa do poder de compra da moeda em car�ter permanente, feita atrav�s de uma reorganiza��o institucional, com vistas a proteger o cidad�o dos excessos gerados em Bras�lia. Parece banal em nossos dias, mas era um sonho em 1993.

Como o senhor avalia a movimenta��o do governo para criar pacotes de bondades que devem desequilibrar o quadro fiscal em 2023? E como o pr�ximo governo, seja qual for, conseguir� lidar com essa bomba fiscal?
Avalio com muita preocupa��o, e n�o apenas pelo impacto fiscal direto do “pacote”. H� o problema de se banalizar tanto a “emerg�ncia” quanto as PECs. Tem havido uma tend�ncia preocupante, desde o in�cio da pandemia, de se fazer pol�tica econ�mica atrav�s de emendas constitucionais. Isso � muito perigoso, pois as coisas deixam de ter limites, os pesos e contrapesos (lei eleitoral, Lei de Responsabilidade Fiscal) ficam enfraquecidos.

Diante desse cen�rio de piora dos riscos fiscais em um ano eleitoral, h� perigo da volta da hiperinfla��o ou ela foi definitivamente controlada?
N�o creio no retorno da hiper. Leva muitos anos para construir uma cat�strofe como a hiperinfla��o, acho que o pa�s n�o seria capaz de repetir tantos erros, pois as pessoas e as institui��es aprenderam. O “peso pol�tico” da infla��o � gigantesco, e a minha experi�ncia � de que o combate � infla��o sempre vence as elei��es. A experi�ncia do real foi preciosa nesse sentido, seja para demonstrar o quanto a infla��o � danosa para a popula��o, ou como � bom viver sem infla��o, seja para atestar que existe uma polpuda recompensa pol�tica em se trabalhar contra a infla��o e n�o a favor dela.

Quais suas perspectivas para as economias brasileira e global? H� riscos de recess�o em 2023?
As perspectivas j� foram melhores. Estamos perdendo tempo, hesitando diante de reformas e agendas que foram lan�adas 28 anos atr�s, de sorte a reconstruir a prosperidade junto com a moeda. Passou tanto tempo que precisaremos reformar a ideia de reforma e repensar nossos planos para o futuro. N�o acredito em recess�o duradoura, mas a nossa prosperidade n�o est� garantida.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)