
Mas existe uma coisa que ela tem estranhado: o pre�o dos produtos j� subiu duas vezes neste ano e deve subir a terceira em dezembro. "E muito produto tem ficado em falta. Mal come�a um ciclo de promo��es, de que todo mundo est� atr�s, e eu quase n�o consigo fechar o primeiro pedido, j� esgotou", diz Cida, dona de um ponto de venda em uma galeria, na zona oeste de S�o Paulo. "Ou os produtos est�o com limite de compra, o que � ruim, porque n�o consigo atender minhas clientes."
As observa��es de Cida refletem a ponta de um iceberg que a multinacional brasileira de cosm�ticos Natura&Co. -dona das marcas Natura, Avon, The Body Shop e Aesop- vem tentando contornar com mais afinco desde a contrata��o de Barbosa, que j� fazia parte do conselho de administra��o da companhia.
A infla��o crescente nos principais mercados do grupo -Europa e Am�rica Latina-, acompanhada do impacto cambial, do aumento do pre�o de mat�rias-primas e commodities, como �leo de palma, resinas e pl�sticos, t�m comprometido as margens da multinacional brasileira.
Outros impactos s�o a guerra na Ucr�nia (que aumentaram os custos com energia, por exemplo) e a queda no poder de compra da popula��o.
O resultado foram menos promo��es e falta de produtos com pre�os atrativos.
A julgar pelos resultados do terceiro trimestre da companhia, divulgados na noite de quarta-feira (9), ainda h� muito trabalho a fazer. O grupo amargou preju�zo de R$ 559,8 milh�es entre julho e setembro deste ano, contra um lucro de R$ 272,9 milh�es no terceiro trimestre do ano passado. A receita l�quida caiu 5,7% no per�odo, na compara��o anual, para R$ 9 bilh�es.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, deprecia��o e amortiza��o), que mede o potencial de gera��o de caixa de uma empresa, recuou 5,7%, para R$ 772,5 milh�es.
Apesar de ruins, os n�meros do terceiro trimestre -o primeiro sob a gest�o de Barbosa-, s�o quase um alento considerando o acumulado dos primeiros nove meses de 2022, na compara��o anual: preju�zo de R$ 1,97 bilh�o (frente a lucro de R$ 352,6 milh�es), queda de 9% na receita l�quida, para R$ 25,9 bilh�es, e Ebitda 20% menor, para R$ 2,06 bilh�es.
"� claro que n�o estamos satisfeitos com estes n�meros", disse Barbosa nesta quinta-feira (10), em teleconfer�ncia com analistas e, depois, com a imprensa. "Nossa prioridade � melhorar as margens e o fluxo de caixa."
Spin-off, IPO ou s�cio s�o op��es para a lucrativa Aesop
Uma queda de quase 70% no valor das suas a��es negociadas na B3, a Bolsa de Valores brasileira, separa a Natura de novembro de 2021 da Natura de hoje. Em 10 de novembro do ano passado, as a��es ordin�rias, com direito a voto (ON), eram negociadas em torno de R$ 40. Nesta quarta-feira (9), fecharam o preg�o cotadas a R$ 13,14. No per�odo, o Ibovespa, principal �ndice da Bolsa brasileira, subiu cerca de 4%.
Ap�s comprar a australiana Aesop em 2013, a Natura adquiriu a brit�nica The Body Shop em 2017 e a americana Avon, em 2019. Com isso, tornou-se a Natura &Co., com a proposta de virar uma plataforma global de marcas de beleza, no estilo L'Or�al.
Mas a companhia ficou grande e complexa demais para lidar com rapidez com problemas distintos em diferentes regi�es geogr�ficas. Foi obrigada a descentralizar as tomadas de decis�o.
Com a vinda de Barbosa, a empresa anunciou uma reestrutura��o, a fim de tornar a holding mais leve e eficiente. O grupo tamb�m estuda "destravar valor" da sua marca de luxo, a Aesop, que tem um plano de expans�o consistente na China: a primeira loja da marca foi inaugurada neste ano em Xangai.
Para isso, estuda um IPO (oferta p�blica inicial de a��es, na sigla em ingl�s), um spin-off (a empresa passa a ser independente do grupo) ou um novo s�cio para a marca, vindo do mercado de private equity.
Quanto � desvaloriza��o recorde das a��es da companhia, Barbosa afirma que a recupera��o dos pap�is vir� como consequ�ncia da implementa��o das a��es da companhia para aumentar as margens e as sinergias entre Avon e Natura, especialmente na Am�rica Latina, com destaque para Brasil, Col�mbia e Peru em 2023. "� preciso acelerar esta integra��o e a reorganiza��o do grupo."
Segundo Barbosa, o quarto trimestre da empresa vai ser "muito forte", mas ainda com margens pressionadas, por conta da infla��o.
Para analistas, grupo pode vender opera��es da Avon International
Na opini�o de Thiago Macruz, analista do Ita� BBA, a Natura se tornou uma empresa pesada, principalmente depois da aquisi��o da Avon, com v�rias �reas de suporte a cada marca.
"Mas, com a chegada de Barbosa, a gente percebe um esfor�o do grupo em criar maior autonomia para diversas �reas, descentralizando as tomadas de decis�o, o que tende a deixar a empresa mais �gil."
Para Macruz, a Natura deve se voltar � Am�rica Latina, seu principal mercado. Na regi�o, a receita l�quida cresceu 10% no terceiro trimestre, na compara��o anual.
J� na Europa, a empresa est� mais exposta � infla��o e �s press�es de custo, como reflexo da guerra na Ucr�nia. "N�o me surpreenderia se o grupo vendesse algum ativo no exterior para gerar caixa, como opera��es da Avon International ou da The Body Shop", afirma o analista.
No terceiro trimestre, a receita l�quida da Avon International (que engloba todas as opera��es da Avon fora da Am�rica Latina) caiu 8,1% em moeda corrente. Na The Body Shop, a queda foi de 19,5%. J� a Aesop registrou alta de 21,5% no per�odo.
Para Danniela Eiger, analista da XP, tamb�m faria mais sentido se o grupo deixasse mercados deficit�rios da Avon International. "De qualquer forma, a empresa precisa acelerar a integra��o entre Natura e Avon na Am�rica Latina, para gerar mais sinergias", afirma.
A analista da XP tamb�m chama a aten��o para os resultados ruins da The Body Shop. "Houve um desbalanceamento da opera��o no p�s-pandemia, com fechamento de canais de venda", afirma. "A performance da marca � muito aqu�m do esperado."
Danniela afirma que, em 2023, a empresa, como todos os grandes grupos de consumo, vai ter que lidar com o aumento da press�o inflacion�ria, de um lado, e um certo al�vio com o controle da pandemia, de outro. "Aqui mais atividades voltaram ao presencial do que na Europa, apesar da nova onda �micron", diz.
Para Ana Paula Tozzi, s�cia da AGR Consultores, houve um erro estrat�gico na compra da Avon, com a manuten��o das decis�es centralizadas na holding. "O back office [fun��es administrativas] ficou muito pesado", afirma.
"Os neg�cios ficaram com pouca autonomia e velocidade de transforma��o", diz ela, que acredita que o desempenho das a��es na Bolsa deve melhorar.
Ana Paula tamb�m espera que a companhia centre esfor�os na Am�rica Latina no ano que vem. "Haver� recess�o na Europa em 2023, e 2024 continuar� muito ruim", diz. "Com exce��o do mercado de luxo, segmento da Aesop, que vai muito bem."
Raio-X da Natura&Co.
(Dados de 2021)
Funda��o: 1969
Funcion�rios: 35 mil
Receita l�quida: R$ 40,1 bilh�es
Lucro l�quido: R$ 1 bilh�o
Presen�a: Mais de 40 mercados nas Am�ricas, Europa, �sia e Oceania
Principais concorrentes: O Botic�rio, L'Or�al, Nivea