
Calouros em 2020 ou 2021, um batalh�o de estudantes universit�rios far� este ano uma nova estreia na vida acad�mica, desta vez nos ambientes dos c�mpus, que muitos nem sequer chegaram a conhecer. Por for�a da pandemia de COVID-19, eles passaram do banco da escola ao ensino a dist�ncia, n�o conheceram de perto colegas e professores e se ajeitaram como puderam no “novo normal”. Com boa parte das institui��es de ensino superior prestes a voltar a oferecer atividades presenciais, eles ter�o agora que fazer nova adapta��o, desta vez para o conv�vio t�te-�-t�te com a comunidade acad�mica. Educadores apontam necessidade de nivelamento para driblar eventuais preju�zos � aprendizagem, especialmente nos cursos mais pr�ticos.
�s v�speras da mudan�a, o Estado de Minas ouviu estudantes e professores sobre suas experi�ncias nesses quase dois anos de pandemia e expectativas diante do novo caminho. A possibilidade de acessar aulas gravadas a qualquer momento e n�o precisar se deslocar para assisti-las foram algumas das vantagens de estudar em casa listadas por estudantes. No outro prato da balan�a, um esfor�o maior para se concentrar, menos troca de experi�ncias e impossibilidade de praticar o que foi ensinado.

Maria Clara Dias Brand�o, tamb�m de 20, come�ou a cursar Farm�cia na Newton Paiva dias antes de a pandemia do coronav�rus levar a institui��o a suspender as aulas presenciais. “S� frequentei a escola por duas semanas e querendo ou n�o j� havia criado uma expectativa sobre como � estar realmente em uma faculdade presencialmente”, conta.
Ambas colocam a comodidade no rol de vantagens do ensino remoto. “Para quem trabalha ou tem outras atividades durante o dia, poder estudar em casa � mais c�modo. Consegue-se fazer melhor os intervalos, o tempo que temos livre em casa � melhor para estudar porque as aulas ficam gravadas”, pontua Lav�nia. E Maria Clara completa: “O deslocamento �, de certa forma, bem desgastante. Ent�o, ficar em casa tem esse ponto positivo”.
Mas n�o faltam desvantagens, avaliam. “Para mim, � muito mais dif�cil me concentrar nas aulas, os trabalhos em grupo s�o muito mais complicados a dist�ncia. At� a mentoria dos professores � mais dif�cil, assim como o contato entre os alunos da pr�pria turma, a concentra��o durante as aulas. Voc� acaba tendo que aprender sozinho algumas coisas que o ensino a dist�ncia deixa mais disperso”, diz a jovem.
Na mesma linha, Maria Clara identifica um “desgaste mental” maior para organizar os estudos em casa. “Estar ali de frente para uma tela a maior parte do dia, perder a diferencia��o entre o que � minha casa e o que � minha faculdade, de certa forma atrapalha na concentra��o e influencia no aprendizado, provocando um desgaste mental muito maior. Isso acaba nos levando a uma certa frustra��o, pois a gente come�a a se cobrar mais”, afirma.
As duas dizem se sentir seguras diante da possibilidade de, enfim, conviver diretamente com a comunidade acad�mica, desde que sejam adotados protocolos de seguran�a para evitar o cont�gio do coronav�rus e que tudo seja monitorado. Grande parte das institui��es de ensino p�blicas e privadas de Belo Horizonte v�o voltar ao ensino presencial a partir de fevereiro, com todos os protocolos de seguran�a � COVID-19. Enquanto algumas j� divulgaram o calend�rio, com aulas presenciais a partir de 7 de fevereiro, outras aguardam eventuais mudan�as impostas por autoridades p�blicas antes de bater o martelo.
“Tenho medo em rela��o � COVID-19 porque temos uma variante (a �micron, prevalente no momento) com maior transmiss�o. Mas tomando todas as medidas de seguran�a, com todo mundo vacinado, distanciamento e usando m�scara, creio que me sentiria segura em voltar e seria muito proveitoso porque este � o meu pen�ltimo ano de faculdade”, diz Lav�nia. “Com cuidado e consci�ncia por parte de todos a aula presencial ser� bem mais tranquila”, acrescenta Maria Clara.
Para professor, exerc�cio da profiss�o ficou prejudicado

Na avalia��o de Pablo, seu perfil como professor n�o � adequado para as aulas mediadas pela tela do computador. “N�o funcionou. Como professor, construo o aprendizado nas trocas com meus alunos, principalmente nas trocas de experi�ncia que enriquecem. Dar aula para uma tela de computador n�o permite intera��o em tempo real, sem falar que as telas nos esgotam. Os alunos passam a maior parte da aula com c�mera desligada, microfone fechado, ent�o n�o temos muita intera��o. Para mim, foi muito ruim”, conta.
Mas, independentemente do perfil do professor, ele avalia que o modelo adotado ao longo da pandemia provocou perdas na educa��o. “Acredito que os indicadores de avalia��o da educa��o v�o identificar uma perda grande nos n�veis de aprendizado. Tenho conversado muito com os estudantes e eles t�m sinalizado essa perda na absor��o de conte�do. Eles relatam que t�m tido dificuldade porque �s vezes escutam (grava��es de) 50 minutos, duas horas do professor falando e n�o absorveram o conte�do. Ent�o, em m�dio e longo prazos, vamos ter essa manifesta��o de perda do aprendizado”, aposta.
A partir de agora, � correr atr�s do preju�zo. “A expectativa para a volta presencial est� alt�ssima. Espero que a variante �micron n�o traga uma piora nos �ndices de �bito, que as vacinas continuem se mostrando eficazes e possamos ter um retorno seguro”, afirma.
Depois de quase dois anos longe das salas de aulas, ele prev� dificuldades dos estudantes de se readaptar – ou estrear – ao ensino presencial nas faculdades. E j� vem discutindo o tema com os alunos. “Tenho falado com os meus alunos que � preciso que a gente aproveite esse retorno para tratar e administrar problemas que v�o vir daqui pra frente, esse processo de adapta��o � socializa��o, � sala de aula, ao n�vel de cobran�a que ensino presencial tem e que o remoto n�o tem”, completa.
Aos alunos que ainda n�o tiveram a experi�ncia do ensino superior presencial, ele alerta: “� preciso passar por esse processo de adapta��o, de ressocializa��o para compreender que a experi�ncia que tiveram at� aqui foi at�pica devido �s pandemia, mas que o ensino superior n�o � isso que eles viveram”. (NW)
Educadores receitam nivelamento
Eventuais efeitos prejudiciais – ou favor�veis – do ensino a dist�ncia sobre a forma��o dos estudantes est�o atrelados ao perfil de professores e alunos e tamb�m � din�mica dos pr�prios cursos escolhidos por cada um deles. Estudar em casa requer “maturidade do aluno quanto � sua organiza��o, determina��o e interesse pelo curso para que n�o haja preju�zo no processo de aprendizado. A participa��o do aluno se torna ainda mais importante, tem um protagonismo ainda maior do que no ensino presencial”, afirma Tiago Guimar�es, diretor do Centro Universit�rio Academia (UniAcademia) de Juiz de Fora e mestre em educa��o. Segundo ele, para certos cursos, o sistema remoto n�o traz muitas dificuldades, enquanto para outros sim. E para n�o eternizar lacunas e seus consequentes efeitos na disputa por uma vaga no mercado de trabalho, � preciso cobrar das institui��es um nivelamento na volta ao ensino presencial, defende, por sua vez, Fl�vio Sousa, diretor acad�mico e assessor de dire��o da Faculdade Arnaldo, em Belo Horizonte.
“Em cursos como engenharia de software, os alunos se adaptaram muito bem a esse processo porque � a �rea deles, a tecnologia � aquilo que eles est�o estudando. Outros, como a psicologia, precisam mais do fator humano, do relacionamento no dia a dia, que s�o grandes vantagens do ensino presencial, diz Tiago Guimar�es.
“Ent�o, primeiro: qual � o curso? Segundo: qual � o perfil? Terceiro: qual a maturidade para o processo de ensino que a pessoa tem? Quarto: como ela tem sua organiza��o? Todos esses s�o fatores que contribuem”, enumera. Para os que n�o se adaptam, a consequ�ncia imediata � a perda da qualidade da forma��o e, no futuro, preju�zos no mercado de trabalho, destaca.
Fl�vio Sousa concorda que h� diferen�as no impacto sobre o aprendizado a depender do curso. Ele avalia que o preju�zo maior � dos alunos matriculados nos cursos que exigem forma��o pr�tica. “Odontologia, enfermagem, medicina veterin�ria, por exemplo, seguramente, se n�o houver nenhuma adapta��o, esses profissionais precisar�o ser nivelados na pr�pria institui��o para alcan�ar um patamar aceit�vel de forma��o”, alerta. E d� o exemplo da faculdade onde trabalha, que, segundo ele, n�o deixou os alunos desamparados. “Tentamos suprir essa necessidade n�o deixando o aluno sem aula pr�tica. Se ele ficasse completamente isolado e sem pr�tica, n�o faria sentido algum ter aula remota. No caso da odontologia, o formando precisa necessariamente estar em uma cadeira de dentista, aprendendo a anestesia, a fazer restaura��o etc. N�o adianta explicar isso teoricamente para ele.”
“Para essas profiss�es, cursos com a forma��o baseada mais na pr�tica, seguramente as institui��es precisam se preocupar com um nivelamento porque o mercado vai cobrar um n�vel de excel�ncia, e talvez esse profissional formado nesse per�odo (de pandemia) vai ter uma lacuna”, refor�a.
Os pr�prios alunos que se sintam prejudicados com o aprendizado devem solicitar esse nivelamento �s institui��es, para que haja identifica��o e supera��o de gaps dentro do per�odo da gradua��o, defende. Mas n�o devem ficar � merc� da situa��o. � necess�rio que cada aluno insista muito no aprendizado autodirigido, fazendo sua pr�pria trilha. Para isso, existem diversas plataformas e acessos, inclusive gratuitos. “Se a pessoa tiver o m�nimo de repert�rio, vai saber identificar e suprir lacunas”. Para cursos de vi�s mais pr�tico a sa�da � solicitar �s institui��es de ensino que abram hor�rios complementares dos laborat�rios para que se aperfei�oem naquilo que est�o inseguros, com professores, monitores”, defende.
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