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Estado de Minas COVID-19

Mais de 400 mil mortos: 4 fam�lias e a dor de partidas antes dos 40 anos

Em homenagem �s centenas de milhares de v�timas da pandemia, hist�rias de mineiros que partiram jovens deixando uma saudade que n�o cabe em n�meros


30/04/2021 06:00 - atualizado 30/04/2021 12:15

Cinthia Matias da Silva, com a mãe, Eunice e a foto de Michelle, que morreu aos 32 anos: doença interrompeu vida intensa (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Cinthia Matias da Silva, com a m�e, Eunice e a foto de Michelle, que morreu aos 32 anos: doen�a interrompeu vida intensa (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

Os n�meros disparam, se multiplicam na casa das centenas de milhares de mortos no pa�s, mas ainda s�o menores que a dor de parentes e amigos, para quem resta a saudade profunda de pessoas queridas v�timas da COVID-19. Sofrimento n�o tem idade, mas parece ser ainda maior quando se chora a partida repentina de pessoas no auge de seus projetos.

Em homenagem aos mais de 400 mil brasileiros que perderam suas vidas para a pandemia, o Estado de Minas conta as hist�rias de alguns deles, homens e mulheres com at� 40 anos de idade que se foram deixando entre quatro fam�lias la�os desfeitos e planos pessoais sepultados. Trajet�rias que s�o tamb�m um grito de alerta para os riscos da doen�a, mesmo para pessoas jovens e saud�veis.

Michelle desejava estudar no exterior. Dan�bia come�aria no emprego novo e a irm� Vanessa voltava � terra natal depois de cinco anos. Conhecido pelos atos solid�rios, Valdinei se formaria em assist�ncia social no fim do ano, enquanto Elias n�o deixava nada para depois. Era casado, trabalhava, amava a vida e adorava m�sica. Na despedida, recebeu a homenagem dos amigos: o rock preferido, do Guns'N'Roses, cujo t�tulo em portugu�s � “Batendo na porta do c�u”.

De repente, um vazio dif�cil de acreditar

"Minha m�e e eu estamos num luto sem fim, com uma dor que nunca vai passar. Vamos apenas aprender a conviver com ela" - Cinthia Matias da Silva, irm� de Michelle que morreu aos 32 anos e morava em Santa Luzia, na Grande BH (foto: Arquivo pessoal/divulga��o)
Uma jovem do seu tempo: estudava, trabalhava, gostava de viajar, de estar com os amigos, de ir a shows e de “corujar” os sobrinhos Bernardo, de 5 anos, e Lucas, de 2 anos. Assim era a extrovertida e respons�vel Michelle Matias da Silva, de 32 anos, que morreu �s 12h30 de 8 de abril, v�tima da COVID-19. “Minha m�e e eu estamos em um luto sem fim, com uma dor que nunca vai passar. Vamos apenas aprender a conviver com ela”, conta, com o sentimento que dilacera o cora��o, emba�a os olhos e ainda faz tremer a voz, a irm� Cinthia Matias da Silva, de 34, que vive com a m�e, Eunice Ferreira, de 52, e filhos em Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte.
 
Michelle tinha muitos planos, mas casamentos e filhos n�o estavam na lista. “Ela dizia que meus filhos j� bastavam para ela, que inclusive era madrinha do mais novo, o Lucas. Tinha paix�o pelos sobrinhos”, recorda-se Cinthia, ainda aprendendo a conjugar os verbos no passado para se referir a uma pessoa t�o querida e de conv�vio di�rio.

Nascida e criada em Santa Luzia, Michelle era t�cnica em tecnologia da informa��o e fazia curso superior em sistemas de informa��o. Devido � pandemia, passou a trabalhar em casa, em modo remoto. “Gostava muito de assistir a s�ries na televis�o e sair com os amigos, mas, na quarentena, ficou quieta em casa. Viajava bastante, por�m os passeios tamb�m foram deixados para quando tudo passasse”, diz a irm�, lembrando que Michelle tinha outra paix�o: crossfit.

Sintomas

As mudan�as tiveram in�cio em mar�o. “Comecei a sentir os primeiros sintomas e minha irm�, tamb�m. Fiz o teste e deu positivo. Consequentemente, por estarmos juntas, ela tamb�m estaria, pois morava no andar de baixo com minha m�e, enquanto eu no de cima, com meus filhos.”

Diante da presen�a do novo coronav�rus, as irm�s se isolaram para n�o transmitir � m�e. “S� que no oitavo dia comecei a passar muito mal e procurei o m�dico. Estava com princ�pio de pneumonia. Fui medicada e continuei no isolamento. Os sintomas dela eram mais fracos do que os meus, ent�o ela n�o procurou o m�dico”, ressalta Cinthia.

Em 12 de mar�o, no 13º dia ap�s o aparecimento dos sintomas, Cinthia perguntou � irm� se estava melhor. “Respondeu que sentia muita dor no peito e no corpo, e n�o quis ir ao m�dico. Mas, quatro dias depois, acordou muito mal, sem conseguir respirar direito. Ent�o minha m�e e eu a colocamos no carro e levamos para a UPA (unidade de pronto-atendimento).”

No dia 13, Michelle foi transferida para o Hospital S�o Jo�o de Deus “e depois n�o teve nenhuma melhora”, afirma Cinthia, lembrando que a irm� ficou “cinco dias resistindo na m�scara no centro de terapia intensiva at� ser intubada”. Antes do procedimento, a paciente pediu para falar com a irm�, pois estava com muito medo. “Depois disso, nunca mais ouvi a voz dela. Foram 28 dias internada, 23 no CTI, 16 intubada, depois traqueostomizada.”

Rock na despedida

"Ele aproveitava tanto a vida que se tornava imposs�vel ficar triste ao seu lado. Adorava m�sica de qualidade" Bet�nia Francismeire Braga, mulher de Elias, morto aos 35 anos. Morava em Brumal, em Santa B�rbara, na Regi�o Central do estado (foto: Arquivo pessoal/Divulga��o)
Tamb�m no m�s passado, moradores de Brumal e Sumidouro, em Santa B�rbara, na Regi�o Central de Minas, se despediram do amig�o do peito que adorava rock e as alegrias da vida. Elias Isa�as de Oliveira, conhecido por Tcheco, morreu aos 35 anos e ganhou emocionante homenagem da comunidade de Sumidouro, onde morou. O adeus foi ao som da sua m�sica favorita, “Knocking'On heaven's door”, do Guns'n'Roses. A escolha n�o poderia ser mais adequada, j� que o t�tulo, em portugu�s, quer dizer “Batendo na porta do c�u”.

Natural de Bar�o de Cocais, Elias era operador de equipamento para perfura��o de t�neis, e casado com Bet�nia Francismeire Braga, tendo uma filha de uni�o anterior. “Era uma pessoa muito extrovertida, verdadeiro ‘crian��o’. Aproveitava tanto a vida que se tornava imposs�vel ficar triste ao seu lado. Adorava m�sica de qualidade”, conta Bet�nia, m�e de Bruno, de 22, e Ana Paula, de 18. “Elias cuidou dos meus filhos como se fossem dele.”

Festeiro, sempre que podia Elias reunia familiares e amigos, “e era a alegria de todos”. Bet�nia revela que o marido “procurava viver um dia de cada vez, intensamente, como se fosse o �ltimo.” “Se tem uma coisa que n�o podemos dizer dele � que n�o viveu... E como viveu. Sempre muito apegado � fam�lia, aos amigos, queria comemorar tudo, independentemente da data. Um bom amigo e protetor.”

Mas tanta alegria foi embora de repente. “No in�cio, sentia muitas dores, mas nada fora do normal. Foi a uma consulta m�dica, e, acredito, j� precisaria ser internado, mas o mandaram voltar para casa. Na consulta seguinte, em 23 de fevereiro, foi preciso intern�-lo.”

Conforto

Nas palavras de Bet�nia, a dor da perda � grande e inacredit�vel. “O que nos conforta � saber que ele cumpriu seu papel maravilhosamente, sempre disposto a ajudar a todos, sem medir esfor�os.”

Com o cora��o ainda apertado, Bet�nia diz que quest�es pessoais nunca foram motivo para Elias ficar triste ou se lamentando por algo que n�o deu certo. “Nesses momentos, enxergava a oportunidade de recome�ar. Hoje, sentimos que falta uma parte de n�s – n�o s� para familiares e amigos, como para a comunidade inteira de Brumal, os colegas do trabalho, enfim, todos aqueles que o cercavam. Hoje s� nos restam lembran�as boas e saudade. Muita saudade.” O desejo maior agora � que Elias “descanse em paz, e que Deus lhe d� o melhor lugar, pois cumpriu muito bem os pap�is de esposo, pai, amigo, filho e irm�o”.

“As perdas seguidas n�o deixam a dor passar”

"Minhas sobrinhas eram pessoas muito 'pra cima', e, cada uma a seu modo, estavam recome�ando a vida. As perdas s�o irrepar�veis, principalmente para minha irm�, agora sem as duas filhas" - Val�ria Alves, tia de Vanessa, de 40 anos, que morreu em Governador Valadares (foto: Arquivo pessoal/divulga��o)
Em Governador Valadares, na Regi�o Leste de Minas, uma fam�lia chorou, em dezembro, duas perdas e ainda experimenta um sofrimento tamanho que nem o tempo � capaz de abrandar. Pesam ainda nas lembran�as, o Natal, de tristeza absoluta, a passagem de ano, que ficou sem sentido, os dias que se tornaram cinzas e cobertos de tristeza. No intervalo de 24 horas, Maria de Lourdes Pereira Ven�ncio perdeu as duas �nicas filhas. Ainda tenta se recuperar dos golpes mortais deferidos pela COVID-19.

Denúbia, irmã de Vanessa, mortas pela COVID-19 num intervalo de apenas 24 horas de diferença(foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
Den�bia, irm� de Vanessa, mortas pela COVID-19 num intervalo de apenas 24 horas de diferen�a (foto: Arquivo pessoal/Divulga��o)
Dan�bia Pereira Ven�ncio, de 36 anos, m�e de Emanuel e Gabriela, morreu em 10 de dezembro. Faria anivers�rio em 2 de janeiro. No dia seguinte, tamb�m v�tima do coronav�rus, quem partiu foi Vanessa Pereira Ven�ncio, de 40, m�e de Heric, Thalles e Raphael. Seu anivers�rio seria dez dias depois.

“Ainda estamos muito abalados. O sentimento de perda vai durar muito. � na f� que temos nos amparado”, conta a jornalista Val�ria Alves, irm� de Maria de Lourdes. Nas fotos da fam�lia, nos tempos pr�-pandemia, � poss�vel ver todo mundo junto, se abra�ando, comemorando datas importantes. “Minhas sobrinhas eram pessoas muito ‘pra cima’, tinham planos, e, cada uma a seu modo, estavam recome�ando a vida”, completa Val�ria.

Dan�bia havia “estudado bastante” e passado em concurso da prefeitura local para o cargo de auxiliar administrativo. Vanessa retornara � cidade natal ap�s morar cinco anos em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. “As duas estavam bem animadas com a vida.”
 

Cora��o grande

Val�ria, que tamb�m teve COVID-19, ressalta que Dan�bia era dona de um grande cora��o. “Maior do que o mundo, pois, quando passei mal, fez quest�o de ir comigo ao hospital.” Na sequ�ncia, quando um tio foi internado na UTI, tamb�m esteve presente para ajudar no que fosse preciso.

Quando adoeceram, as irm�s, que n�o tinham doen�as associadas, ficaram internadas durante sete dias em hospital de Governador Valadares. “Os la�os foram desfeitos, as perdas s�o irrepar�veis, principalmente para minha irm�, agora sem as duas filhas. Vamos ter f� para tentar colocar a vida de novo no eixo, mas as perdas seguidas de amigos n�o deixam a dor passar, parece que estamos em estado permanente de luto”, acredita Val�ria.

Jovem solid�rio


"Estudava servi�o social e se formaria este ano. Queria trabalhar na �rea de Sa�de, mas tamb�m gostava de se divertir" Valdevino Rodrigues, de Alfenas, no Sul de Minas, que perdeu o filho Valdinei, de 31 anos, em 9 de abril (foto: Arquivo pessoal/divulga��o)
Longe dali, em Alfenas, no Sul de Minas, palavras n�o bastam para explicar a morte de Valdinei Aparecido Rodrigues, aos 31, em 9 de abril. Para entender e suportar tal sofrimento, “� preciso ter f� e acreditar na vontade de Deus”, diz o pai do rapaz, Valdevino Rodrigues, de 61, casado com Maria Ivone Alves Rodrigues. Os dois t�m tamb�m a filha Valdirene Alves, formada em administra��o.

Funcion�rio durante 10 anos de uma �tica em Alfenas, modelo fotogr�fico e estudante de servi�o social, Valdinei se formaria este ano, e queria trabalhar na �rea de Sa�de. Mas tamb�m curtia se divertir com os amigos. “Era solteiro, gostava muito de ir a shows, de ouvir m�sica sertaneja”, afirma o pai, explicando que o filho nasceu em Divisa Nova, tamb�m no Sul de Minas, e ainda crian�a se mudou com os parentes para Alfenas.

Recentemente, a fam�lia chorou a perda das av�s de Valdinei (a materna, de c�ncer; a paterna, por complica��es em decorr�ncia da COVID-19). O rapaz, tamb�m influencer nas redes sociais, adotara o sobrenome Lima da av� paterna.

Campanha

Os sonhos de solidariedade de Valdinei v�o continuar pelas m�os de seus amigos. Como ele estava sempre disposto a ajudar o pr�ximo a qualquer hora, foi criada a campanha “Fa�a uma m�e feliz”, batizada de Valdinei Lima. Ser�o recolhidos alimentos e material de limpeza para os necessitados no per�odo anterior ao Dia das M�es. Quem quiser ajudar pode entrar em contato com Valdirene, no e-mail [email protected].

Diz o texto da campanha: “Fa�a uma m�e feliz” � a forma solid�ria que encontramos para homenagear nosso amigo, irm�o e influencer Valdinei Lima. Quem o conheceu sabe como o acad�mico do curso de servi�o social amava ajudar o pr�ximo, trazendo muita alegria e bom humor. Nesta �poca de pandemia, muitas fam�lias passam por s�rias dificuldades financeiras. Que tal, no Dia das M�es, entregarmos um pouco da nossa solidariedade?”

Saud�vel

Sem qualquer tipo de doen�a associada, Valdinei era um jovem saud�vel, que bebia socialmente. Esses foram alguns dos motivos para a evolu��o da doen�a surpreender os m�dicos. “Ficou a grande perda, uma enorme saudade. Mas somos muito cat�licos e temos f� em Deus para continuar a vida”, conforta-se Valdevino.

 

O que � um lockdown?

Saiba como funciona essa medida extrema, as diferen�as entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restri��o de circula��o de pessoas adotadas no Brasil n�o podem ser chamadas de lockdown.


Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil

  • Oxford/Astrazeneca

Produzida pelo grupo brit�nico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa). No pa�s ela � produzida pela Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz).

  • CoronaVac/Butantan

Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmac�utica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a libera��o de uso emergencial pela Anvisa.

  • Janssen

A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidi�ria da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do �nico no mercado que garante a prote��o em uma s� dose, o que pode acelerar a imuniza��o. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.

  • Pfizer

A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Minist�rio da Sa�de em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autoriza��o para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.

Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades

Como funciona o 'passaporte de vacina��o'?

Os chamados passaportes de vacina��o contra COVID-19 j� est�o em funcionamento em algumas regi�es do mundo e em estudo em v�rios pa�ses. Sistema de controel tem como objetivo garantir tr�nsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacina��o imp�em desafios �ticos e cient�ficos.


Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal

Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus.

 

 

Entenda as regras de prote��o contra as novas cepas



 

Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.


Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:




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