
"Desde a inf�ncia, simpatizo-me com o Z� Gotinha. Nem quando crian�a tive medo de me vacinar, muito pelo contr�rio. Mas jamais imaginaria que, na vida adulta, vacinar seria t�o s�mb�lico e me faria chorar como aquelas meninas e meninos que n�o entendiam bem as agulhadas. Al�m de jornalista desde 2008, sou professora universit�ria, o que me credenciou para integrar o grupo vacinado em Belo Horizonte, nesta sexta-feira (4/6): os docentes de n�vel superior.
N�o consegui dormir de quinta para sexta-feira, acordando diversas vezes com imagens, sem muito sentido, de que grupo priorit�rio a imuniza��o se destinaria - uma preocupa��o �tica, uma vez que considero fundamental obedecer a ordem estabelecida pelo Programa Nacional de Imuniza��es (PNI).
Acordei �s 5h de uma noite n�o dormida para ir bem cedo vacinar. Ao lado da minha casa, tem um centro de sa�de. Fui at� l� e me informaram que a vacina��o de professores estava sendo realizada em alguns postos espec�ficos. Escolhi, sem refletir muito sobre o meu gesto, que tomaria no posto que fica na Rua Carangola, tamb�m bem pr�ximo da minha casa.
Quando l� cheguei, havia uma fila pequena, com andamento relativamente r�pido. Mostrei meu v�nculo com a faculdade onde dou aula e minha identidade. Depois que fiz o cadastro, fiquei pronta para receber a dose, ent�o, de repente, meio veio � mente que estava no pr�dio da antiga Faculdade de Fiolosofia, Ci�ncias e Letras da UFMG, a Fafich.
Neste momento, as l�grimas vieram com a for�a de queda d'�gua. N�o consegui conter a emo��o. Embora estivesse muito feliz por, enfim, poder ser vacinada, n�o imaginava que seria tomada por sentimento t�o desestabilizador.
Chorei, porque a Fafich foi local de resist�ncia � ditadura militar em 1968, quando o regime pol�tico brasileiro caminhava para o momento de maior censura e cerceamento das liberdades individuais.
Chorei, porque h� um ano e tr�s meses escrevo todos os dias sobre COVID-19 e tenho que informar o n�mero de pessoas que morreram v�timas dessa doen�a, algo que sempre me devastou muito: ver os n�meros aumentarem e os governos e, at� mesmo a sociedade, relativizarem as estat�sticas.
Chorei pelas duas profiss�es que escolhi, jornalista e professora, que t�m sido t�o vilipendiadas no Brasil.
Chorei por estar na Fafich e saber que tantos jornalistas brilhantes foram formados ali.
Chorei por entender como um simples gesto de me vacinar se tornou ato de cidadania num pa�s que parte da popula��o descredibiliza a imprensa, a ci�ncia, a educa��o e a vacina.
Chorei por entender que o Brasil vai passar por esse momento sombrio, como passou por outros de igual terror no passado.
Desde o in�cio da pandemia, em mar�o de 2020, fui destacada para a equipe do jornal Estado de Minas que cobre a COVID-19. O diretor de reda��o pediu que eu tivesse aten��o especial ao desenvolvimento de vacinas.
Ent�o, desde aquela �poca, passei a acompanhar os estudos que se cadastravam numa plataforma cient�fica internacional para iniciarem os ensaios cl�nicos. Aprendi sobre cada uma das etapas de desenvolvimento de uma vacina, passei a entender como era feita a avalia��o dos estudos por pares. E, como jornalista, diariamente esperava poder dar a t�o sonhada not�cia de que t�nhamos vacina para a COVID-19.
Os estudos avan�aram com mais agilidade do que de costume e, no final de 2020, j� t�nhamos vacinas dispon�veis. Parecia um sonho at� que olhei para a realidade brasileira. Embora a vacina estivesse dispon�vel no mundo, n�o havia sinaliza��o por parte do governo federal para um plano nacional de imuniza��o. O que era para ser a sa�da festejada para a maior pandemia que a humanidade j� enfrentou come�ou a ser algo de ataques de teorias da conspira��o, que questionavam o valor da vacina e colocavam em xeque a efic�cia.
Meu trabalho como jornalista, como de todos os meus colegas de reda��o, ent�o, passou a ser desmentir boatos, desinforma��o e mentiras sobre as vacinas. Acompanhei de perto o desenvolvimento da vacina nas universidades mineiras, em especial a UFMG, dando ampla visibilidade �s pesquisas, �s dificuldads dos pesquisdores e � import�ncia de termos uma vacina com tecnologia nacional.
Em �mbito internacional, apresentei quais eram os estudos mais avan�ados. Tamb�m apresentei o CTVacinas; anunciei em primeira m�o quando os testes pr�-cl�nicos foram iniciados em primatas n�o-humanos; dei em primeira m�o, numa entrevista exclusiva com a reitora Sandra Goulart, que a Prefeitura de Belo Horizonte financiaria parte da pesquisa da maior universidade mineira.
O Plano Nacional de Operacionaliza��o de Vacina��o Contra � COVID-19 foi lan�ado e o que deveria ser motivo de alegria se tornou ponto de investiga��o devido aos chamados fura-filas. Algo que jamais estaria no meu horizonte de expectativas ocorria: as pessoas tentavam burlar a ordem de prioridade, tentativas de roubo de vacinas, golpes para aplica��o de vacinas a pre�os elevad�ssimos.
O ditado 'farinha pouca, meu pir�o primeiro' revelou uma face triste de nossa cultura, o jeitinho. Formas de conseguir ser inclu�do em grupo de prioridades, atestados falsos e at� mesmo mudar sua vincula��o profissional para poder ser vacinado.
Esperei a minha vez e confesso que at� fico triste em saber que a vacina��o segue t�o lenta e que � preciso que as categorias travem uma verdadeira guerra para conseguir o direito de ser vacinado. Sigo, por�m, com a esperan�a de que vamos superar esse momento t�o dif�cil. N�o posso jamais deixar de agradecer ao Sistema �nico de Sa�de e � ci�ncia por esse momento. Hoje, j� na meia-idade, sigo amando o Z� Gotinha, mais do que nunca."
Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil
- Oxford/Astrazeneca
- CoronaVac/Butantan
- Janssen
- Pfizer
Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades
Como funciona o 'passaporte de vacina��o'?
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus.
Entenda as regras de prote��o contra as novas cepas
[VIDEO4]
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:
- Veja onde est�o concentrados os casos em BH
Coronav�rus: o que fazer com roupas, acess�rios e sapatos ao voltar para casa
Animais de estima��o no ambiente dom�stico precisam de aten��o especial
Coronav�rus x gripe espanhola em BH: erros (e solu��es) s�o os mesmos de 100 anos atr�s