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Estado de Minas D�VIDA

Por que Brasil vacinou 88 milh�es em 3 meses contra H1N1 e agora patina contra covid-19

Pa�s foi exemplo a ser seguido na imuniza��o durante a �ltima pandemia, mas falta de vacinas causada por erros do governo federal nos colocam em uma situa��o bastante diferente desta vez.


19/04/2021 06:37 - atualizado 19/04/2021 08:56


Em três meses, quase metade da população foi vacinada contra H1N1 em 2010(foto: ABR)
Em tr�s meses, quase metade da popula��o foi vacinada contra H1N1 em 2010 (foto: ABR)

O Brasil virou um exemplo a ser seguido na pandemia. O pa�s superou sua meta e vacinou mais de 88 milh�es de pessoas.

Quando a campanha come�ou, a maioria das doses necess�rias j� estavam nas m�os do governo federal, que tinha desde o ano anterior acordos para a compra de tr�s imunizantes.

O governo tamb�m lan�ou uma campanha contra os boatos que colocavam em xeque a efic�cia e a seguran�a das vacinas.

O resultado: mais de 45% dos habitantes j� est�o imunizados. Nenhum lugar do mundo vacinou tanto quanto aqui.

Essa era a situa��o do Brasil em junho de 2010, tr�s meses depois do come�o da campanha de imuniza��o contra a gripe su�na, doen�a causada por uma variante do v�rus H1N1 que causou uma crise global.

O Brasil chega agora, na luta contra a covid-19, � mesma marca dos tr�s meses de vacina��o, mas em uma situa��o bem diferente.

Pouco mais de 25 milh�es de pessoas, cerca de 12% da popula��o, receberam ao menos uma dose desde 17 de janeiro, e s� 8,5 milh�es, em torno de 4%, tomaram as duas doses necess�rias.

"A gente continua a ser um exemplo, s� que o pior e n�o mais o melhor como a gente j� foi", diz Cristina Bonorino, integrante do comit� cient�fico da Sociedade Brasileira de Imunologia.


Pouco mais de 10% da população foi vacinada contra a covid-19 até agora(foto: EPA)
Pouco mais de 10% da popula��o foi vacinada contra a covid-19 at� agora (foto: EPA)

A pesquisadora diz que essa diferen�a � por causa da falta de vacinas. "Se n�o fosse por isso, certamente n�o estar�amos onde estamos hoje", diz.

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imuniza��es, acha a mesma coisa. "� o �nico limitador", diz ele.

Ele acredita que hoje mais gente poderia estar vacinada a essa altura do que h� dez anos, porque a covid-19 � uma doen�a mais perigosa que a gripe su�na.

"O que move as pessoas � a sensa��o de risco. Teria filas e filas, pessoas estariam sendo vacinadas 24 horas por dia. Mas estamos em uma campanha de vacina��o que n�o tem vacina."

A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou a campanha de vacina��o contra H1N1 e esteve � frente do Programa Nacional de Imuniza��o entre 2011 e 2019, diz que a campanha atual � mais complexa.

Isso porque as vacinas hoje s�o aplicadas em duas doses, em vez de uma como a para H1N1, e os imunizantes t�m regimes diferentes de administra��o.

Mas ela acredita que o pa�s tinha o potencial de estar em uma posi��o melhor, porque a popula��o quer se vacinar e toda a estrutura estava pronta para essa campanha.

"� lament�vel. Temos um programa que � refer�ncia, mas estamos na rabeira mundial, junto com pa�ses que n�o t�m a menor capacidade de fazer vacina��o por causa de quest�es pol�tica e erros estrat�gicos que levaram � escassez de vacinas", diz Domingues.

Os erros do governo Bolsonaro


Presidente questionou diversas vezes eficácia e segurança das vacinas(foto: Reuters)
Presidente questionou diversas vezes efic�cia e seguran�a das vacinas (foto: Reuters)

Os tr�s especialistas ouvidos pela BBC News Brasil tamb�m concordam neste outro ponto: a falta de vacinas � uma consequ�ncia de decis�es do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

O governo brasileiro apostou por muito tempo em um �nico imunizante, o da farmac�utica AstraZeneca, que foi desenvolvido em parceria com a Universidade de Oxford, do Reino Unido.

Bolsonaro se recusou a comprar doses da CoronaVac, vacina criada pela chinesa Sinovac com o Instituto Butantan, em meio a uma disputa pol�tica com o governador paulista, Jo�o Doria (PSDB).

O instituto, ligado ao governo de S�o Paulo, diz que ofereceu em julho do ano passado 160 milh�es de doses, mas n�o teve resposta.

O presidente inclusive desautorizou o general Eduardo Pazuello depois do ent�o ministro da Sa�de anunciar em outubro a compra de 46 milh�es de doses da CoronaVac.

"Mandei cancelar", disse o presidente. "N�o compraremos vacina chinesa."

Seu argumento era de que s� adquiriria vacinas aprovadas pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), ignorando que seu governo j� tinha desde julho um acordo para adquirir a vacina de Oxford, que tamb�m n�o tinha sido chancelada pela ag�ncia �quela altura.

O presidente tamb�m n�o quis comprar a vacina da Pfizer. A farmac�utica americana disse que ofereceu 70 milh�es de doses em agosto.

Bolsonaro se justificou dizendo que uma cl�usula do contrato previa que o governo federal, em vez da empresa, se responsabilizaria por danos � sa�de causados pelo imunizante, que usa uma tecnologia in�dita em vacinas baseada em engenharia gen�tica.

"Se voc� virar um jacar�, � problema de voc�, p�", ironizou o presidente, em meados de dezembro.


Em meio a disputa política com Doria, Bolsonaro se recusou a comprar doses da CoronaVac(foto: Reuters)
Em meio a disputa pol�tica com Doria, Bolsonaro se recusou a comprar doses da CoronaVac (foto: Reuters)

Mas a� a vacina de Oxford atrasou. Erros na pesquisa obrigaram os cientistas a fazer mais testes, e a AstraZeneca teve — e ainda tem — dificuldades para produzir o que prometeu.

O governo Bolsonaro acabou fechando um acordo com o Butantan em janeiro e com a Pfizer em mar�o, mas j� havia perdido um tempo importante.

Um outro acordo foi acertado com a Covax Facility, alian�a liderada pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) para levar vacinas contra a covid-19 aos pa�ses mais pobres.

Mas o governo brasileiro, que tinha a op��o de encomendar doses suficientes para at� 50% da popula��o, optou pela cobertura m�nima, de 10%.

"O governo n�o encomendou as vacinas quando elas estavam sendo encomendadas por outros pa�ses. N�o diversificou por achar que n�o era necess�rio. S� teve escolha errada. N�o teve uma certa. Assim fica dif�cil", diz a imunologista Cristina Bonorino.

O que fizemos de diferente h� dez anos


Vacinação em 2010 foi apenas para os grupos de risco(foto: ABR)
Vacina��o em 2010 foi apenas para os grupos de risco (foto: ABR)

O governo federal agiu de maneira bem diferente uma d�cada atr�s.

Lu�s In�cio Lula da Silva, ent�o no fim do seu segundo mandato, anunciou a compra de um imunizante do laborat�rio franc�s Sanofi Pasteur, que ainda estava sendo testado, em agosto de 2009.

Fazia dois meses que a OMS havia reconhecido que o surto de H1N1 havia se transformado em uma pandemia.

A nova variedade tinha sido identificada em abril daquele ano no M�xico e nos Estados Unidos — no Brasil, os primeiros casos foram confirmados no in�cio de maio.

Um dia depois da OMS declarar a pandemia, a uma farmac�utica su��a, a Novartis, anunciou a produ��o de uma vacina contra a gripe su�na.

Isso s� foi poss�vel porque j� existiam imunizantes contra a gripe comum, e os laborat�rios s� precisaram desenvolver vers�es que protegessem contra o novo H1N1.

Os termos acertados entre o governo brasileiro e a Sanofi previam a importa��o de 18 milh�es de doses. Depois, tamb�m a fabrica��o de mais 33 milh�es de doses pelo Instituto Butantan, que tinha um acordo de transfer�ncia de tecnologia com essa empresa.

O Brasil comprou outras 40 milh�es de doses da canadense GlaxoSmithKlein em novembro de 2009. Um terceiro contrato foi fechado em janeiro de 2010, com a Organiza��o Pan-Americana de Sa�de, bra�o da OMS nas Am�ricas, para mais 10 milh�es de doses.

O governo federal disse na �poca que esperaria ter a maioria das doses em m�os para dar in�cio � vacina��o, que s� come�ou de fato em mar�o de 2010, seis meses depois da China se tornar o primeiro pa�s do mundo a imunizar contra H1N1.

"Em 2010, teve planejamento. Mais de 50% das doses j� estavam no pa�s quando a vacina��o come�ou, e todo o quantitativo chegou durante a campanha", diz Carla Domingues.

Desorganiza��o, confus�o e ansiedade

A epidemiologista avalia que outra diferen�a entre aquela �poca e hoje foi que o calend�rio de vacina��o foi sido divulgado dois meses antes da primeira dose ser aplicada.

Desde janeiro, j� se sabia quando seria imunizado cada um dos seis grupos de risco da gripe su�na: profissionais de sa�de, gestantes, ind�genas, pessoas com comorbidades, crian�as entre 6 meses e 2 anos de idade e adultos saud�veis entre 20 e 29 anos. Depois, foram inclu�dos adultos entre 30 e 39 anos.

Domingues recorda que houve uma campanha nacional na �poca para explicar como seria a vacina��o e que as pessoas deveriam esperar sua vez.

"A popula��o entendeu isso. N�o teve gente indo pra outra cidade para tomar vacina ou tentando furar a fila porque n�o sabe quando vai conseguir se vacinar", afirma a especialista.

Desta vez, o governo Bolsonaro divulgou o esbo�o de um plano de imuniza��o contra a covid-19 em meados de dezembro, mas sem um cronograma — e chegou a ser cobrado pelo Supremo Tribunal Federal por causa disso.

Questionado, o ministro Pazuello disse que a vacina��o come�aria "no dia D, na hora H". Dias depois, ele anunciou em um encontro com prefeitos que seria em 20 de janeiro, uma quarta-feira.


Diferenças nos critérios de vacinação entre Estados e municípios deixa população confusa, diz epidemiolgista(foto: Reuters)
Diferen�as nos crit�rios de vacina��o entre Estados e munic�pios deixa popula��o confusa, diz epidemiolgista (foto: Reuters)

Pego no contrap� por Doria, que mandou aplicar a primeira dose da CoronaVac assim que a Anvisa aprovou a vacina, no pr�prio dia 17, o general adiantou o come�o da campanha nacional para a segunda-feira.

A vacina��o come�ou com 6 milh�es de doses da CoronaVac. O primeiro lote da vacina de Oxford s� chegou ao pa�s cinco dias depois.

"Hoje, o que estamos vendo � a pr�pria defini��o de um plano desorganizado. O governo federal abriu m�o de definir a pol�tica e deixou cada Estado e munic�pio fazer como quiser", diz Domingues.

Enquanto alguns lugares est�o vacinando quem tem 65 anos, diz a epidemiologista, outros ainda est�o aplicando em quem tem 70. Alguns j� imunizam professores e profissionais de seguran�a, enquanto outros n�o.

"Olha a confus�o que isso causa na cabe�a das pessoas... Muita gente fica ansiosa."

As mentiras que contam sobre as vacinas


'É a maior vacinação que já aconteceu (no país)', disse o então ministro da Saúde José Gomes Temporão na época(foto: ABR)
'� a maior vacina��o que j� aconteceu (no pa�s)', disse o ent�o ministro da Sa�de Jos� Gomes Tempor�o na �poca (foto: ABR)

Assim como hoje, com os imunizantes contra covid-19, a vacina contra H1N1 tamb�m foi alvo de mentiras que circulavam pela internet e no boca-a-boca.

O Minist�rio da Sa�de disse na �poca que esses boatos eram "irrespons�veis" e lan�ou uma campanha para esclarecer que a vacina n�o causava autismo, paralisia, rea��es al�rgicas potencialmente fatais, problemas neurol�gicos ou malforma��o do feto em gestantes, entre outras coisas.

N�o houve nenhum esfor�o deste tipo agora, pelo contr�rio. O pr�prio Bolsonaro j� questionou a seguran�a e a efic�cia das vacinas em mais de uma ocasi�o, mesmo depois de elas serem aprovadas pela Anvisa.

Tamb�m j� disse diversas vezes que n�o as tomaria, porque j� tinha sido infectado, contrariando as recomenda��es das principais autoridades no assunto.

"A grande falha do governo foi o negacionismo, de todas as vacinas. N�o deram ouvidos � ci�ncia. Agora, estamos sem vacina no pior momento da pandemia", diz o imunologista Renato Kfouri.

O clima no pa�s era radicalmente diferente a esta altura do campeonato em 2010. Em meados de junho daquele mesmo ano, o governo federal veio a p�blico anunciar que tinha vacinado 88% dos 92 milh�es de brasileiros que faziam parte dos grupos priorit�rios tinham sido vacinados.

Havia conseguido bater assim a meta original, de aplicar em 80% dessa popula��o. O Minist�rio da Sa�de divulgou depois que o resultado final tinha sido ainda melhor e que mais de 88 milh�es de pessoas haviam sido imunizadas nos tr�s meses de campanha.

Foi "a maior vacina��o que j� aconteceu (no pa�s)", como disse o ent�o ministro da Sa�de Jos� Gomes Tempor�o em uma entrevista coletiva na �poca.

O pa�s pode agora superar essa marca, porque o governo federal diz j� ter comprado mais de 562 milh�es de doses, que ser�o entregues at� o final do ano.

A campanha de vacina��o contra a covid-19 pode entrar assim para a hist�ria, como tudo mais que diz respeito a essa pandemia. Mas a imunologista Cristina Bonorino diz que n�o est� otimista.

"Quantas vezes as previs�es do governo j� foram alteradas? Muda toda semana. D� para confiar que teremos 500 milh�es de doses at� o final do ano?"


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O que � um lockdown?

Saiba como funciona essa medida extrema, as diferen�as entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restri��o de circula��o de pessoas adotadas no Brasil n�o podem ser chamadas de lockdown.


Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil

  • Oxford/Astrazeneca

Produzida pelo grupo brit�nico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa). No pa�s ela � produzida pela Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz).

  • CoronaVac/Butantan

Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmac�utica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a libera��o de uso emergencial pela Anvisa.

  • Janssen

A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidi�ria da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do �nico no mercado que garante a prote��o em uma s� dose, o que pode acelerar a imuniza��o. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.

  • Pfizer

A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Minist�rio da Sa�de em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autoriza��o para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.

Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades

Como funciona o 'passaporte de vacina��o'?

Os chamados passaportes de vacina��o contra COVID-19 j� est�o em funcionamento em algumas regi�es do mundo e em estudo em v�rios pa�ses. Sistema de controel tem como objetivo garantir tr�nsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacina��o imp�em desafios �ticos e cient�ficos.


Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal

Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus.

 

 

Entenda as regras de prote��o contra as novas cepas



 

Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.


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