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Estado de Minas DRAMAS DA PANDEMIA

G�meas prematuras que perderam m�e para COVID-19 lutam pela vida em UTI

Obstetras e neonatologistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem que partos prematuros em gr�vidas com quadro grave de covid aumentaram neste ano. Quase mil gestantes morreram de covid em 2021.


03/07/2021 06:28 - atualizado 03/07/2021 09:09


Filhas de Expedito nasceram com 26 semanas, mas se recuperam bem na UTI neonatal(foto: iSEA)
Filhas de Expedito nasceram com 26 semanas, mas se recuperam bem na UTI neonatal (foto: iSEA)

Enquanto a barriga da Aline crescia, Expedito Silva de Lima constru�a com as pr�prias m�os a casa onde a fam�lia iria morar, em Bara�na, na Para�ba.

O casal ficou surpreso, mas feliz quando soube que teria g�meas. Aline tinha tr�s filhos de um relacionamento anterior e Expedito seria pai pela primeira vez. O dinheiro para manter a fam�lia era pouco, mas eles contavam com a ajuda de parentes.

"Minha irm� falou para eu morar na casa dela durante a gravidez, enquanto eu constru�a a nossa pr�pria casa. Aqui � todo mundo vizinho, � uma vilinha", conta o servente de pedreiro.

Mas os planos mudaram de repente, quando Aline, de 31 anos, come�ou a sentir dor de cabe�a, febre e fraqueza. Fez o teste de covid, mas, antes mesmo de receber o resultado positivo, come�ou a sentir falta de ar e deu entrada no Instituto de Sa�de Elp�dio de Almeida (ISEA), em Campina Grande.

Tr�s dias depois, sofreu uma parada cardiorrespirat�ria e os m�dicos iniciaram uma ces�rea de emerg�ncia. Foram seis horas tentando salvar m�e e beb�s. As meninas nasceram sem respirar, foram reanimadas e levadas para a UTI neonatal. Mas a m�e morreu no mesmo dia, em 30 de maio.


Aline estava grávida se seis meses quando pegou covid. Em poucos dias, teve uma parada cardiorrespiratória e morreu. As bebês, gêmeas, estão internadas(foto: Acervo Pessoal)
Aline estava gr�vida se seis meses quando pegou covid. Em poucos dias, teve uma parada cardiorrespirat�ria e morreu. As beb�s, g�meas, est�o internadas (foto: Acervo Pessoal)

As duas filhas, que nasceram com 26 semanas de gesta��o, continuam internadas sem previs�o de alta.

"Foi um choque muito grande perder Aline assim. A gente n�o esperava", diz Expedito. Ao ver as filhas na incubadora pela primeira vez, t�o pequenininhas, ele sentiu um misto de emo��es.

"Fiquei de cora��o aliviado de ver minhas filhas e de cora��o partido, porque perdi minha esposa."

A obstetra Melania Amorim, que tratou Aline enquanto esteve internada, disse que as g�meas continuam na UTI sem previs�o de alta porque ainda n�o ganharam o peso necess�rio para deixar o hospital.

"Elas nasceram com menos de 1kg e precisam ficar l� ainda um bom tempo, pois t�m que ganhar peso."

UTIs neonatais lotadas com 'legi�o de prematuros'

Casos como o de Aline e as g�meas prematuras est�o se tornando rotina na vida de obstetras e pediatras em todo pa�s. A epidemia de covid-19 no Brasil j� matou pelo menos 1.461 gr�vidas, sendo 1.007 apenas neste ano, segundo dados oficiais compilados pelo Observat�rio Obstetr�cio Covid-19.

Mas o n�mero � bem maior, segundo especialistas, porque muitos casos de S�ndrome Respirat�ria Aguda (Sars) acabam n�o sendo testados para covid.

Al�m disso, as altas nos casos de infec��o pelo coronav�rus em 2021, com a variante P.1 como cepa prevalente, tem provocado uma "avalanche" de nascimentos de beb�s prematuros, lotando maternidades e UTIs neonatais em diferentes cidades do pa�s, segundo neonatologistas e obstetras ouvidos pela BBC News Brasil.

A P.1, primeiro identificada em Manaus e rebatizada de Gamma pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), � mais transmiss�vel e capaz de driblar parcialmente anticorpos produzidos pela vacina ou por infec��es anteriores de covid.

Enquanto em 2020, foram reportados 6.805 casos de gr�vidas infectadas pelo coronav�rus, s� nos primeiros cinco meses de 2021, o n�mero foi de 7.679.


Aumento no número de gestantes com covid em 2021 tem provocado 'legião de prematuros' nas maternidades(foto: iSEA)
Aumento no n�mero de gestantes com covid em 2021 tem provocado 'legi�o de prematuros' nas maternidades (foto: iSEA)

"Estamos enfrentando um problema terr�vel de superlota��o, principalmente nos leitos de UTI neonatal covid, porque a gente n�o pode misturar. � uma legi�o de prematuros e, muitas vezes, �rf�os de m�e", diz � BBC News Brasil a obstetra Melania Amorim, do Instituto de Sa�de Elp�dio de Almeida, hospital que realiza cerca de 600 partos por m�s na Para�ba.

"Houve aumento muito grande esse ano de interna��es e casos de covid-19 em gestantes. Se t�m aumento em gestantes, tamb�m temos n�mero maior dos nascimentos prematuros."

Pesquisas apontam qque a covid-19 aumenta o risco de morte neonatal e de parto prematuro. E, em alguns casos, quando a gr�vida desenvolve quadro muito grave da doen�a, os m�dicos precisam fazer ces�rea de emerg�ncia e antecipar a gesta��o, como ocorreu com Aline.

"A gente tenta levar a gesta��o adiante, mesmo com a gr�vida intubada, estabilizando o quadro dela. Mas em alguns casos, � necess�rio interromper prematuramente, para tentar salvar a vida da m�e e dos beb�s", explica Melania Amorim.

A obstetra paraibana coordena uma pesquisa que envolve sete hospitais em tr�s Estados do Nordeste - Pernambuco, Cear� e Para�ba. Entre esses hospitais est�o o ISEA, em Campina Grande, a Maternidade Frei Dami�o, em Jo�o Pessoa, e a maternidade da Universidade Federal do Cear�, em Fortaleza.

"Posso dizer com toda certeza que em todos esses centros a taxa de nascimentos prematuros disparou por conta da covid-19", diz.

"J� aconteceu de ter que recorrer a hospitais de cidade vizinha para arrumar leito para beb� prematuro nascido em ces�rea de emerg�ncia."

Superlota��o no Sul

E o problema n�o � localizado no Nordeste. O principal hospital de Porto Alegre est� com a UTI neonatal lotada por causa da disparada no n�mero de prematuros nascidos de m�es com covid.

"A gente nunca tem leito agora na UTI neonatal. Houve um aumento de nascimentos prematuros em fun��o da covid materna. Diria que a situa��o est� pior mesmo desde abril", diz � BBC News Brasil Rita de C�ssia Silveira, diretora da UTI neonatal do Hospital das Cl�nicas de Porto Alegre (HCPA).


Quanto mais prematuro o bebê, maiores os riscos de ter complicações após o nascimento(foto: iSEA)
Quanto mais prematuro o beb�, maiores os riscos de ter complica��es ap�s o nascimento (foto: iSEA)

Por ser um hospital de refer�ncia, o HCPA costuma receber casos graves de beb�s com problemas gen�ticos que chegam de diferentes cidades do Rio Grande do Sul e at� de outros Estados.

Mas, devido � superlota��o causada pela covid-19, transfer�ncias foram suspensas.

Segundo Silveira, houve um aumento de 20% do n�mero de partos prematuros no hospital em maio, na compara��o com o mesmo per�odo do ano passado.

"Estamos lotados, mas tivemos outro dia que produzir uma vaga, porque chegou um beb� transferido por determina��o judicial", conta a neonatologista, que tamb�m � professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Outras maternidades sofreram superlota��o de UTIs com beb�s prematuros e gr�vidas em estado grave entre mar�o e abril, no pico da segunda onda de covid.

Foi o caso da Maternidade de Campinas, no Estado de S�o Paulo, que ultrapassou 100% de ocupa��o nesses dois meses. Nesse per�odo, tr�s mulheres morreram ainda gr�vidas ou logo depois de dar luz aos beb�s.

"Chegamos a ter um grande n�mero de interna��es de gestantes e pu�rperas suspeitas ou infectadas pelo coronav�rus entre mar�o e abril", disse o diretor do hospital, Marcos Miele.

Parto na UTI e m�ltiplas mortes por dia

Melania Amorim diz que perdeu as contas do n�mero de gr�vidas intubadas que teve que operar com urg�ncia para salvar os beb�s em 2020 e 2021.

Tanto no ISEA, na Paraiba, quanto no Hospital das Cl�nicas de Porto Alegre, partos prematuros tiveram que ocorrer nas UTIs, porque transferir a mulher para o centro cir�rgico significaria risco adicional de queda da oxigena��o.

"Nossas interrup��es, o obstetra tem feito na CTI quando � urg�ncia urgent�ssima e a gestante n�o tem condi��o de transfer�ncia dado seu comprometimento pulmonar", diz Rita de C�ssia Silveira, diretora de neonatologia do Hospital das Cl�nicas de Porto Alegre.

"Outro dia operamos uma m�e gr�vida de g�meos que entrou em trabalho de parto na CTI. Fizemos a ces�rea l� mesmo por causa da gravidade. A m�e continua internada em estado grave. As g�meas se recuperam bem, mas nasceram com 29 semanas."


Pesquisas mostram que mulheres grávidas têm mais chances de ter bebês prematuros(foto: EPA/Nathalia Aguilar)
Pesquisas mostram que mulheres gr�vidas t�m mais chances de ter beb�s prematuros (foto: EPA/Nathalia Aguilar)

J� Melania Amorim se lembra emocionada do dia em que perdeu duas gr�vidas com covid num espa�o de poucas horas, h� tr�s semanas. As duas estavam na UTI e tiveram que passar por ces�reas de emerg�ncia porque o quadro de sa�de se deteriorou de repente.

Os beb�s, todos prematuros, sobreviveram e se recuperam na UTI. Um deles ser� criado pela av�. Os outros dois, g�meos, ficar�o com o pai.

"O problema dessa pandemia, com essas mortes � granel, � que n�o tem tido tempo de a gente elaborar o luto. Mal h� uma morte e j� temos que lidar com outra", lamenta a obstetra.

"Escolhi essa especialidade pensando em lidar com a vida. Trabalho em UTI h� muitos anos, mas mesmo assim o desfecho costuma ser feliz. Mortes maternas n�o deveriam acontecer e de repente � uma atr�s da outra."

As consequ�ncias para a vida da prematuridade

Um beb� � considerado prematuro quando nasce com menos da 37ª semana de gesta��o. Quanto mais prematuro e menor o beb�, maiores os riscos de morte e complica��es de sa�de.

"Abaixo de 30 semanas � um ponto de corte bastante significativo para maior gravidade associada � prematuridade. A gravidade � proporcional � baixa idade gestacional", diz Rita de C�ssia Silveira, diretora de neonatologia do Hospital das Cl�nicas de Porto Alegre.

As especialistas ouvidas pela BBC News Brasil destacam que as consequ�ncias da prematuridade n�o se encerram com a morte ou sobreviv�ncia do beb�. Muitos podem ter problemas de sa�de, de cogni��o e desenvolvimento ao longo da vida.

"Prematuridade n�o � algo que passa desapercebido na vida de uma crian�a. Tem consequ�ncias de longo prazo significativas dependendo do grau de prematuridade", diz a neonatologista.


(foto: iSEA)
(foto: iSEA)

"Ou seja, quanto menor a idade gestacional, quanto menor o peso, maior o risco de atraso no neurodesenvolvimento, de atraso no crescimento, de baixa imunidade, reinfec��es nos primeiros anos de vida, dificuldades alimentares…", elenca.

Os beb�s prematuros nascidos em centros de refer�ncia ainda conseguem receber tratamentos que evitem complica��es ap�s o parto. Mas com as UTIs desses centros lotadas, muitas mulheres gr�vidas com covid acabam ficando desassistidas.

"Quando h� risco de nascer com prematuridade, a gente pode fazer corticoide para acelerar a maturidade do pulm�o do beb�. Quando est� vendo que o risco de nascimento prematuro � iminente, pode fazer sulfato de magn�sio para prote��o neurol�gica, para diminuir o risco de hemorragia cerebral ou disfun��o motora grosseira", explica a obstetra Melania Amorim.

"Mas t�m as gr�vidas que n�o chegam aos servi�os de refer�ncia ou nascimentos que acontecem no meio do caminho, na ambul�ncia ou no pronto-socorro. E a� n�o d� para fazer interven��es para melhorar a vida e progn�sticos."

Beb�s criados por pais, av�s…

E, em alguns casos, a crian�a que sobrevive pode precisar de acompanhamento m�dico especializado e fisioterapia. Essas dificuldades se somam ao fato de v�rios desses beb�s terem perdido as m�es.

"Vamos ter um n�mero enorme de prematuros sendo criado pelas av�s, companheiros ou companheiras, pelas tias... E a gente sabe que esses prematuros podem ter uma s�rie de sequelas", diz Melania Amorim.


'Vamos ter um número enorme de prematuros sendo criado pelas avós, companheiros ou companheiras, pelas tias... E a gente sabe que esses prematuros podem ter uma série de sequelas', diz Melania Amorim(foto: iSEA)
'Vamos ter um n�mero enorme de prematuros sendo criado pelas av�s, companheiros ou companheiras, pelas tias... E a gente sabe que esses prematuros podem ter uma s�rie de sequelas', diz Melania Amorim (foto: iSEA)

Para as m�es que sobreviveram, os pr�prios efeitos prolongados da covid dificultam os cuidados com os filhos prematuros.

A neonatologista Rita de C�ssia Silveira se lembra de uma paciente que simplesmente n�o se lembra e n�o aceita que teve um beb�. A mulher precisou ser intubada e passar por ces�rea com 33 semanas de gesta��o, em mar�o deste ano.

Quando retiraram a ventila��o mec�nica, ela n�o se lembrava sequer que tinha engravidado. Mesmo depois de acompanhamento psiqui�trico e psicol�gico, a mem�ria sobre a gesta��o n�o retornou. Para piorar, o pai do beb�, que tamb�m havia sido internado com covid, morreu.

A crian�a, um menino, sobreviveu e est� sendo cuidado pela av�.

"A paciente n�o lembra de ter tido filho. Ela esqueceu. N�o lembra nada, diz que a crian�a n�o � dela. � uma jovem de 28 anos, que ficou com sequela na perna. Ela agora manca e os m�sculos est�o acabados, fracos. Muito triste", recorda a neonatologista.

Para as especialistas ouvidas pela BBC News Brasil, o impacto dos nascimentos prematuros provocados pela covid-19 continuar�o a ser sentidos ap�s o fim da pandemia.

"Os pediatras e as pol�ticas p�blicas de sa�de v�o ter que voltar uma aten��o especial para o acompanhamento dessa gera��o de prematuros e, muitos deles, infelizmente, �rf�os da covid", diz a obstetra Melania Amorim, de Campina Grande.

Enquanto isso, l� em Bara�na, Expedito se prepara para receber as filhas g�meas, que vai ter que criar sem a ajuda da companheira.

"Meu maior desejo � elas duas do meu lado. Quando receberem alta, n�o vou me separar delas."

Ele pretende terminar a casa simples que constru�a para viver com Aline e diz que vai "trabalhar de sol a sol" para as g�meas terem o que precisam. Sem emprego fixo, garante que "aceita qualquer bico e servi�o".

"Vou batalhar por elas duas. Vou dar o m�ximo de mim para dar o melhor a elas."

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