
Apesar de defender o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, o movimento Vem Pra Rua n�o est� chamando seus seguidores para a rua - pelo menos n�o neste s�bado (3/7), quando protestos puxados pela esquerda est�o marcados para acontecer em todo o pa�s.
O MBL (Movimento Brasil Livre) tamb�m escolheu n�o se juntar aos protestos.
"Temos muito receio quanto a aglomera��es por causa da pandemia, ent�o por enquanto n�o estamos marcando nem nos juntando a manifesta��es presenciais", afirma Adelaide Oliveira, porta-voz do MBL. "Desejo sorte e que n�o chova", diz ela sobre o protesto deste s�bado.Tanto o MBL quanto o Vem Pra Rua fazem parte de uma s�rie de grupos � direita que pararam de apoiar Bolsonaro em algum momento ap�s a posse do presidente em 2019. O MBL foi um dos primeiros a abandonar o barco, alguns meses ap�s a posse, quando Bolsonaro come�ou a dar sinais de que sua postura quanto � economia n�o seria liberal, como prometeu durante a campanha.
O Vem Pra Rua passou a defender o "Fora Bolsonaro!" em julho de 2020, ap�s o procurador-geral da Rep�blica indicado por Bolsonaro, Augusto Aras, fazer cr�ticas � Opera��o Lava-Jato.
Defensores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, os dois movimentos foram protagonistas de grandes manifesta��es em 2016, com alta capacidade de mobiliza��o.
Mas em 2021, mesmo apoiando o impeachment de Bolsonaro, os movimentos ainda n�o est�o clamando para suas bases de apoiadores que tomem as ruas e dizem que est�o focados em outras formas de atua��o.
Em contrapartida, movimentos de direita como o Livres aderiram ao protesto deste s�bado. Formado dentro do PSL, o movimento rompeu com o partido em 2018 quando Bolsonaro se candidatou � Presid�ncia pela sigla.
At� o momento, o presidente Jair Bolsonaro tem minimizado os atos contra si e participado de atos pr�-governo, como demonstra��o de for�a. Em sua live mais recente, em 1° de julho, ele ironizou o "superimpeachment". "Quem n�o tem o que fazer fica tentando atrapalhar a vida de quem produz", declarou.
Lado a lado no palanque, mas sem aglomera��o

Adelaide Oliveira, do MBL, destaca que o grupo tem atuado de outras formas antes de protagonizar protestos na rua. Ela destaca a atua��o parlamentar dos l�deres do movimento que foram eleitos em 2018, como o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e o deputado estadual Arthur do Val (DEM-SP), o Mam�e Falei.
Kim foi um dos parlamentares de direita que assinaram o "superimpeachment", um novo pedido protocolado pela oposi��o na quarta (30/06) que re�ne a motiva��o de outros mais de 120 pedidos em um �nico documento.
O parlamentar do MBL subiu ao mesmo palanque em que falavam nomes como o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) e a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional do PT, partido ferozmente combatido pelo MBL.
"Acho que ningu�m aqui tem nenhuma d�vida que, numa condi��o normal, assim como eu n�o estaria, os l�deres da esquerda n�o estariam (juntos). Eleitoralmente estaremos em campos distintos", disse Kim durante a apresenta��o do "superimpeachment". "Mas � algo maior que existe aqui, � algo maior que est� sendo protocolado contra o presidente criminoso, corrupto, Jair Bolsonaro, e por isso � uma causa suprapartid�ria. � uma quest�o de valores, � uma quest�o de moral."
"N�o tenho d�vida nenhuma de que a causa de derrubar esse que � um dos maiores males da hist�ria desse pa�s nos unifica nesse momento", disse Kim, que ao final gritou "Fora Bolsonaro!"
O discurso entusi�stico de Kim, um dos principais l�deres do movimento, fez surgir expectativas na esquerda de que o MBL fosse se juntar aos protestos deste s�bado, mas o movimento ainda n�o se uniu � esquerda quando o assunto � manifesta��o.
"Estamos avaliando o cen�rio da pandemia, mas por enquanto n�o � a hora", diz Adelaide. "� um dilema: quem faz mais mal pra sa�de, a pandemia ou o Bolsonaro? Ouvimos muito nossos seguidores e temos discuss�es internas sobre isso."
"J� chegamos a ter embri�es para organizar protestos, mas a� come�ou um momento muito ruim da pandemia no ano passado", afirma Adelaide.
A porta-voz refuta cr�ticas da esquerda que reclamam dos movimentos que est�o contra Bolsonaro, mas n�o est�o chamando para ir � rua. Segundo ela, o MBL continua atuando "fortemente" na internet e hoje j� existem outras formas de press�o.
"� muita tolice e estar 30 anos atrasado na hist�ria achar que s� existe uma forma de press�o, s� indo para rua. Estamos na internet onde o movimento tem vit�rias acachapantes", diz ela.
Apesar de eventuais troca de farpas, o Adelaide afirma que tem tido um canal de di�logo aberto com os movimentos de esquerda. "A gente conversa com todo mundo, somos democr�ticos. Claro que n�o quer dizer que concordo com as pautas. Mas quando a pauta � �nica e convergente, como tirar o Bolsonaro, a gente vai lutar pela mesma coisa."
Pauta unida, protestos diferentes
Luciana Alberto, porta-voz do movimento Vem Pra Rua, tamb�m cita a pandemia como um dos motivos para o grupo n�o aderir aos protestos.
"� algo que est� sendo discutido, � poss�vel que aconte�a, mas n�o h� nada agendado", explica Luciana. "Estamos acompanhando o calend�rio de vacina��o contra a covid-19 e acreditamos que em meados de setembro j� ser� poss�vel", diz ela.
Segundo Luciana, no entanto, mesmo que o movimento chame os seguidores para as ruas, a ideia � fazer protestos separados da esquerda.
"Ainda vamos discutir, mas pode at� ser que seja no mesmo dia, que eles sigam um percurso, sigamos outro", afirma.
Ela diz que a ideia de fazer algo mais separado tem a ver com mostrar que o desagrado com Bolsonaro est� em v�rios setores, e n�o por medo de problemas entre as milit�ncias ou por recusa de dialogar.
"Para a democracia, � sensacional que as pautas estejam unidas, mas que cada qual esteja representando o seu segmento", afirma Luciana.
"(Caso haja converg�ncia de protestos), a gente espera que n�o haja problemas entre as milit�ncias, j� que a pauta converge. Nossa conversa (com a esquerda) tem sido pac�fica tamb�m, isso � uma conquista, amadurecimento da sociedade", afirma ela.
Segundo Luciana, o Vem Pra Rua tem focado sua atua��o em outras frentes.
O grupo n�o assinou o pedido de "superimpeachment", mas protocolou o pr�prio pedido de impeachment um pouco antes, com 35 crimes de responsabilidade que Bolsonaro teria cometido.
O movimento tamb�m criou um mapa com contatos de parlamentares para que as pessoas fa�am press�o em seus representantes no sentido de aprova��o do impeachment.
Direita na rua

Apesar de MBL e Vem Pra Rua n�o estarem presentes neste s�bado, as manifesta��es n�o ter�o apenas militantes de esquerda.
De orienta��o liberal, o movimento Livres, por exemplo, decidiu chamar seus associados e seguidores para irem ao protesto de s�bado caso se sintam seguros.
"A mobiliza��o em nossos grupos pela participa��o das ruas foi crescendo muito nos �ltimos tempos", afirma Magno Karl, diretor-executivo do Livres. "Mas n�o queremos constranger as pessoas a irem. � uma situa��o muito diferente � minha, que moro sozinho e posso trabalhar de casa, do que algu�m que mora com idosos, ou que tem uma comorbidade", diz ele.
"N�o � covardia n�o ir aos protestos", defende.
O Livres tamb�m apoia a campanha na internet de apoio ao 'superimpeachment' e, diferentemente de outros grupos de direita, diz Magno, n�o � composto por "bolsonaristas arrependidos".
"N�s nascemos em oposi��o a Bolsonaro em 2018, e sofremos por n�o apoi�-lo, mesmo na �poca em que havia muitos liberais iludidos com ele por causa do Paulo Guedes."
Apesar da cr�tica, Karl afirma que o grupo tem tido muitas conversas com lideran�as tanto � esquerda com a direita, e acredita que podem "ser capaz de fazer a ponte."
"A gente tem uma leitura de que os movimentos de rua v�o crescer e a gente vai ter que acolher grupos que se enganaram com Bolsonaro", diz ele, que espera que n�o haja hostilidade por parte de grupos mais radicais de esquerda contra pessoas de direita nos protestos.
"A gente n�o sabe como vai ser. � claro que a gente imagina que pode haver hostilidade, um certo risco, al�m do risco de covid. Mas fora das redes sociais, (que �) onde est� o pessoal mais radical, existe muita disposi��o para coopera��o", afirma.
O l�der do movimento tamb�m afirma que o Livres deve estar mais preparado para os pr�ximos protestos, com mais material e chamadas com mais anteced�ncia.
E diz que a mobiliza��o � importante mesmo que o impeachment n�o se concretize.
"O tempo � curto porque a elei��o de 2023 est� chegando. Mas temos que fazer essa demonstra��o de oposi��o. Neste momento o debate est� na sociedade civil", diz ele.
"Se o Artur Lira (presidente da C�mara dos Deputados) pautar o impeachment, a� vamos focar em virar voto (contra Bolsonaro) no Congresso", diz Magno.
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O que a CPI pode fazer?
- chamar testemunhas para oitivas, com o compromisso de dizer a verdade
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O que a CPI n�o pode fazer?
Embora tenham poderes de Justi�a, as CPIs n�o podem:
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- declarar a indisponibilidade de bens
- autorizar buscas e apreens�es em domic�lios
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A hist�ria das CPIs no Brasil
CPIs famosas no Brasil
1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor
1993: CPI dos An�es do Or�amento (C�mara) - apurou desvios do Or�amento da Uni�o
2000: CPIs do Futebol - (Senado e C�mara, separadamente) - rela��es entre CBF, clubes e patrocinadores
2001: CPI do Pre�o do Leite (Assembleia de MG e outros Legislativos estaduais, separadamente) - apurar os valores cobrados pelo produto e as diretrizes para a formula��o dos valores
2005: CPMI dos Correios - investigar den�ncias de corrup��o na empresa estatal
2005: CPMI do Mensal�o - apurar poss�veis vantagens recebidas por parlamentares para votar a favor de projetos do governo
2006: CPI dos Bingos (C�mara) - apurar o uso de casas de jogo do bicho para crimes como lavagem de dinheiro
2006: CPI dos Sanguessugas (C�mara) - apurou poss�vel desvio de verbas destinadas � Sa�de
2015: CPI da Petrobras (Senado) - apurar poss�vel corrup��o na estatal de petr�leo
2015: Nova CPI do Futebol (Senado) - Investigar a CBF e o comit� organizador da Copa do Mundo de 2014
2019: CPMI das Fake News - dissemina��o de not�cias falsas na disputa eleitoral de 2018
2019: CPI de Brumadinho (Assembleia de MG) - apurar as responsabilidades pelo rompimento da barragem do C�rrego do Feij�o