
"� muito, muito dif�cil pensar em estar perto das pessoas de novo. Uma das coisas que mexem comigo, quando penso na possibilidade de algum dia estar novamente em uma sala lotada de gente sem m�scara, � que passei muito tempo ansiando desesperadamente por esse dia, e agora, �s vezes, me pego tendo meio que uma rea��o de p�nico... N�o quero ter medo, afinal � isso que eu quero. Ainda assim, h� uma parte de mim que agora reage de uma maneira que eu n�o costumava reagir, que est� aterrorizada."
- Os introvertidos (e os pr�ticos) que est�o gostando de viver de m�scara
- Como o isolamento na pandemia pode estar afetando nossa mem�ria
Muitos de n�s est�o no mesmo barco. Fomos for�ados a ser antissociais, pelo menos em termos f�sicos, h� um ano j�.
Como resultado, muita gente est� achando estranha qualquer intera��o social pessoal — parece que temos que reaprender a sentar em uma sala com outro humano.
At� mesmo os sonhos se transformaram de maneiras sem precedentes, com uma tend�ncia a pesadelos relacionados ao distanciamento social.
Ent�o, quando as restri��es acabarem, teremos que passar por uma curva de aprendizado para nos sentirmos 'normais'? Nossos m�sculos sociais atrofiaram de alguma forma, e teremos que "exercit�-los" novamente?
Felizmente, esses m�sculos s�o bastante resistentes, e relatos de lugares que foram menos afetados pela covid-19 sugerem que n�o demora muito para voltar a ter alguma vers�o de normalidade social.
Ainda assim, s�o esperados alguns contratempos no meio do caminho. Portanto, pode ser �til estar preparado para eles.
Seu c�rebro em isolamento
N�o � surpreendente que muitos de n�s possam estar se sentindo socialmente "enferrujados".
Todos n�s, em diferentes graus, vivenciamos a solid�o e o isolamento social durante a pandemia, duas condi��es que podem estar ligadas ao decl�nio cognitivo de maneiras espec�ficas.
Por exemplo, pessoas com redes sociais menores e menos complexas tendem a ter uma am�gdala, centro de processamento de emo��es do c�rebro, menor.
A solid�o cr�nica pode afetar os n�veis de horm�nios associados ao estresse e aos la�os sociais; um dos efeitos pode ser uma maior propens�o � depress�o.
Em geral, pessoas solit�rias tendem a ser mais paranoicas e negativas.
O isolamento prolongado tamb�m afeta a mem�ria e a recorda��o verbal. Criaturas sociais, incluindo os humanos, precisam de bastante est�mulo interativo para manter seus c�rebros em boas condi��es.

Ent�o, se voc� tem tido mais dificuldade atualmente de encontrar aquela palavra que est� na ponta da l�ngua, o lockdown pode ter um papel nisso.
No meu caso, 90% do tempo agora, converso apenas com meu parceiro, em um padr�o de conversa��o que estou bem acostumada a ter.
Fico um pouco tr�mula na hora de conversar com um amigo, como se fosse preciso desenterrar uma linguagem que era outrora familiar.
Quando as pessoas estiverem autorizadas a passar um tempo juntas novamente, pode ser dif�cil encontrar as palavras certas.
� claro que, como as circunst�ncias individuais variam amplamente, o mesmo vai acontecer com a transi��o de volta � vida social p�s-pandemia.
Uma pessoa desempregada, clinicamente vulner�vel, que passou o tempo todo morando sozinha, pode se sentir mais desorientada na pr�xima fase do que uma pessoa financeiramente est�vel, que mora e trabalha em uma grande casa compartilhada.
No geral, algumas das mudan�as comportamentais podem ser revertidas rapidamente com um retorno aos padr�es sociais mais comuns.
Mas Daniela Rivera, bi�loga da Universidade Mayor de Santiago, no Chile, acredita que as altera��es f�sicas no c�rebro, como as relacionadas � mem�ria, n�o v�o desaparecer t�o facilmente.
Com o encolhimento de algumas partes do c�rebro, a fun��o da mem�ria pode ser comprometida por anos ap�s per�odos de isolamento social — e com isso, nossa capacidade de nos conectarmos facilmente com outras pessoas.
Mas n�o � apenas como nossos c�rebros podem ter mudado.
No geral, os psic�logos est�o vendo mais adultos relatando estresse em rela��o a intera��es sociais, variando desde n�o saber como encerrar as intera��es sem um aperto de m�o ou um abra�o, at� ficar sem assunto.
Mas certos grupos s�o fontes espec�ficas de preocupa��o.
A situa��o � especialmente delicada para pessoas com transtorno de ansiedade social.
"Manter o progresso � muito importante — porque uma vez que voc� n�o est� perto de pessoas, como n�o temos estado h� praticamente um ano, � muito f�cil voltar aos velhos padr�es", explica Marla Genova, ex-pesquisadora de psicologia que agora � coach de pessoas com ansiedade social e de fala.
Tamb�m h� preocupa��es em rela��o �s crian�as em idade escolar que perderam a sincronia social durante a incerteza dos lockdowns.
"Nesta idade, o c�rebro ainda est� se desenvolvendo e refinando a conectividade neural; portanto, � uma fase cr�tica para desenvolver habilidades sociais que v�o definir suas intera��es com seus pares", explica Rivera.

Ela receia que o isolamento prolongado possa levar alguns a desenvolver fobia social.
Os idosos, por sua vez, t�m maior chance de morar sozinhos e podem se sentir menos � vontade %u200B%u200Bcom dispositivos tecnol�gicos para manter o contato social.
Rivera prev� que o per�odo de ressocializa��o pode ter alguns efeitos em pessoas vulner�veis, como hiperatividade, intoler�ncia, irritabilidade e ansiedade, entre outros.
Como voltar devagar
Lockdowns prolongados e culturas diferentes v�o proporcionar experi�ncias variadas � medida que os pa�ses liberarem as restri��es. Mas alguns pontos em comum e li��es podem ser observados.
O contato f�sico, um aspecto que antes era dado como certo ao estar perto de outras pessoas, provavelmente parecer� estranho por um tempo.
Para Andre Robles, que administra uma ag�ncia de viagens em Quito, no Equador, onde algumas restri��es foram suspensas, "� um pouco estranho ver uma sociedade t�o calorosa ser um tanto distante nos cumprimentos".
"A batida de cotovelos se tornou a nova sauda��o de ol�", diz ele.
Outras pessoas est�o achando estranho voltar a abra�ar.
A quest�o que est� exigindo alguma calibragem para Melanie Musson, especialista em seguros que vive no Estado americano de Montana, � descobrir as diferentes atitudes de cada um em rela��o ao risco de contrair a doen�a.
Os casos est�o diminuindo lentamente no Estado, que est� profundamente dividido quanto ao uso de m�scaras.
"� estranho quando encontro pessoas que se preocupam com a covid", explica Musson. "Como me cerco principalmente de pessoas que n�o (se preocupam), vivo em uma bolha de normalidade. Tem muita gente por a� que discorda disso e que n�o se sente confort�vel, no entanto. Minha bolha estourou quando percebi que muitas pessoas n�o voltaram ao normal."
Na verdade, a socializa��o com m�scara est� ajudando a fazer as coisas parecerem mais normais em Cingapura, diz Roger Ho, psic�logo da Universidade Nacional de Cingapura: "A vida est� como de costume, s� que com m�scara."
Experi�ncias anteriores com o uso de m�scaras, como durante a epidemia de Sars, e a alta ades�o �s exig�ncias governamentais ajudaram.
Ho sugere que mais educa��o p�blica em lugares onde h� resist�ncia �s m�scaras pode ajudar a socializar dessa forma a parecer menos estranho.
Uma maneira de reduzir o julgamento sobre os encontros e o nervosismo em rela��o �s aglomera��es � restringir seu c�rculo social, e muitas pessoas est�o relatando fazer exatamente isso.

"Provavelmente n�o foi um ano em que voc� apresentaria alguns de seus amigos a outros amigos que eles n�o conhecem. Ent�o, isso � parte da sensibilidade e da estranheza em torno da covid-19- n�o querer ampliar muito o c�rculo de amigos", avalia Matilda Marseillaise, escritora de um blog de cultura francesa que mora em Adelaide, na Austr�lia.
De fato, v�rias pessoas mencionaram estar mais seletivas sobre com quem escolhem socializar, por uma quest�o tanto de conforto f�sico quanto psicol�gico.
Uma pesquisa do psic�logo Richard Slatcher e seus colegas da Universidade da Ge�rgia, nos EUA, sugere que a grande perda do contato social casual foi parcialmente compensada pelo fortalecimento dos la�os familiares imediatos e das amizades mais pr�ximas, que as pessoas geralmente valorizam mais.
Parte da readapta��o social pode significar aprender como realocar o tempo e a energia investidos na fam�lia de volta para amigos, colegas e conhecidos, sem perder a proximidade constru�da com entes queridos.
Readapta��o gradual
Durante todo o processo, � importante sermos pacientes e gentis com n�s mesmos.
Como aconselha o Centro Nacional de Ansiedade Social dos Estados Unidos, "tenha em mente que cada um de n�s agora �, at� certo ponto, socialmente desajeitado".
N�o h� necessidade de pressa para se livrar do estranhamento tamb�m.
Um dos poucos lados positivos da longa campanha de vacina��o � que "a lentid�o desse processo vai ajudar na readapta��o", diz Slatcher, enfatizando nossa resili�ncia.
"Alguns dos estresses que vir�o, como receber convidados em casa novamente, ser�o um estresse agrad�vel."
E para aqueles que pensam que podem ter mais dificuldades para se reintegrar � sociedade, o tratamento para o transtorno de ansiedade social pode oferecer algumas perspectivas.
Isso envolve com frequ�ncia terapia de exposi��o, ou seja, a exposi��o gradual a situa��es desconfort�veis, a fim de desenvolver mais toler�ncia a elas.
Apesar das regras de distanciamento social, ainda existem maneiras de conseguir essa exposi��o — voc� pode, por exemplo, trocar coment�rios nas redes sociais ou compartilhar opini�es para praticar a assertividade.
Evitar situa��es sociais pode apenas gerar mais evas�o.
Portanto, Genova, coach de ansiedade social, incentiva as pessoas a n�o passarem mais do que alguns dias consecutivos em isolamento, sempre que poss�vel. Mas isso n�o significa necessariamente ter contato f�sico.
A bi�loga Rivera recomenda, por exemplo, "diferentes tipos de enriquecimento ambiental" para moderar o estresse do isolamento.
Isso pode incluir atividades f�sicas como andar de bicicleta, atividades sociais como "caf�s" virtuais, atividades cognitivas como jogos para treinar o c�rebro, assim como atividades emocionais, como terapia.
Por fim, mesmo que tenhamos que nos preparar hoje em dia para atender o telefone, fazer uma imita��o desajeitada de um abra�o ou descobrir se nos sentimos confort�veis %u200B%u200Bquando um amigo sugere um encontro, lembrar da resili�ncia social que come�a a se revelar ao redor do mundo pode ajudar.
As fotos ic�nicas de piscinas lotadas durante um festival de m�sica em Wuhan, na China, onde a pandemia come�ou, exemplificam como o mundo ser� capaz de voltar a viver socialmente, quando for seguro fazer isso.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Work Life.
J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Leia mais sobre a COVID-19
- Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil e suas diferen�as
- Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades
- Entenda as regras de prote��o contra as novas cepas
- Como funciona o 'passaporte de vacina��o'?
- Os protocolos para a volta �s aulas em BH
- Pandemia, epidemia e endemia. Entenda a diferen�a
- Quais os sintomas do coronav�rus?