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Estudo preliminar de Oxford n�o diz que vacinados t�m 251 vezes a carga viral de n�o vacinados

Originalmente em ingl�s, o artigo foi traduzido para o portugu�s e compartilhado por milhares de usu�rios nas redes sociais


01/09/2021 21:38 - atualizado 01/09/2021 21:38

 


 

Captura de tela feita em 31 de agosto de 2021 de uma publicação no Twitter ( . / )
Captura de tela feita em 31 de agosto de 2021 de uma publica��o no Twitter ( . / )
“Profissionais de sa�de totalmente vacinados transportam 251 vezes a carga viral”, indica o t�tulo de um texto publicado no �ltimo 23 de agosto e que soma mais de 3 mil intera��es nas redes sociais. O artigo cita um estudo cient�fico do Grupo de Pesquisas Cl�nicas da Universidade de Oxford. Mas trata-se de um trabalho n�o revisado por pares que analisa a carga viral do novo coronav�rus em profissionais da sa�de infectados com a variante delta e com as cepas iniciais da covid-19, antes do in�cio da vacina��o. Especialistas indicaram � AFP que, para comparar a carga viral em pessoas vacinadas e n�o vacinadas, teria sido necess�rio estudar os dois grupos infectados com a mesma cepa.


“Um artigo pr�-impresso do prestigioso Grupo de Pesquisas Cl�nicas da Universidade de Oxford, publicado em 10 de agosto no The Lancet, constatou que indiv�duos vacinados transportam 251 vezes mais a carga do v�rus COVID-19 em suas narinas em compara��o com os n�o vacinados”, afirma o subt�tulo do texto publicado no site The Defender Children’s Health Defense, organizado por Robert Kennedy Jr, conhecido no movimento antivacina dos Estados Unidos.

Originalmente em ingl�s, esse artigo foi traduzido para o portugu�s e compartilhado por milhares de usu�rios no Facebook (1, 2), no Instagram (1, 2, 3), no Twitter (1, 2, 3) e em outros sites.

“Indiv�duos vacinados est�o lan�ando explos�es virais concentradas em suas comunidades e provocando novos surtos de COVID. Os trabalhadores de sa�de vacinados est�o quase certamente infectando seus colegas de trabalho e pacientes, causando terr�veis danos colaterais”, aponta a publica��o.

Essa alega��o tamb�m circulou em franc�s e em espanhol.

De onde vem esse n�mero?

A cifra compartilhada nas publica��es virais foi obtida de uma publica��o cient�fica preliminar: “Transmiss�o da variante delta do SARS-CoV-2 entre trabalhadores de sa�de vacinados, Vietn�”, postada em 10 de agosto de 2021.

Nesse “preprint”, ou publica��o n�o revisada por pares, os pesquisadores estudaram as infec��es pela variante delta do novo coronav�rus entre a equipe m�dica de um hospital especializado no tratamento de doen�as infecciosas no Vietn�. Todos haviam sido vacinados contra a covid-19 com o imunizante da AstraZeneca.

Entre 11 e 25 de junho de 2021, 69 dos 900 trabalhadores do hospital testaram positivo para o SARS-CoV-2, todos infectados pela variante delta. Desses 69, 62 participaram de um ensaio cl�nico. Entre os infectados, 49 eram pr�-sintom�ticos e apenas um necessitou de suprimento de oxig�nio.

Ao contr�rio do que afirmam os internautas, o texto n�o � um “estudo publicado na The Lancet”, mas uma vers�o preliminar de um artigo cient�fico que ainda n�o foi revisado por pares ou publicado em uma revista cient�fica.

O preprint foi divulgado em uma plataforma dentro do site da The Lancet, que reserva uma parte de seu portal para esse tipo de artigo. Mas a revista m�dica deixa clara a diferen�a entre o que est� dispon�vel na se��o “preprints com The Lancet” e o que � publicado na revista em si.

“As publica��es dispon�veis aqui n�o s�o publica��es da Lancet e n�o est�o necessariamente sendo examinadas pela The Lancet”, escreve o site que abriga esses trabalhos.

E detalha que “esses resultados n�o devem ser utilizados para tomada de decis�es m�dicas ou de sa�de p�blica, e n�o devem ser apresentados a um p�blico n�o familiarizado sem destacar que s�o preliminares e que n�o foram avaliados por pares”.

“Uma interpreta��o errada dos dados”


O n�mero “251” aparece na parte de resumo (“abstract”, em ingl�s) da pr�-publica��o, um apanhado do trabalho realizado que resume a maneira como as pesquisas foram conduzidas, bem como as conclus�es alcan�adas.

“A carga viral nos casos de infec��o pela variante delta eram 251 vezes mais elevados do que a [carga viral] daqueles casos de infectados por cepas antigas, detectadas entre mar�o e abril de 2020”, relatam os pesquisadores.
Captura de tela feita em 27 de agosto de 2021 da seção de preprints no site da The Lancet ( . / )
Captura de tela feita em 27 de agosto de 2021 da se��o de preprints no site da The Lancet ( . / )

Em outros termos, � explicado que os profissionais de sa�de - todos vacinados na amostra - infectados pela variante delta tinham cargas virais superiores �s daquelas de pessoas infectadas pelas cepas iniciais do v�rus, durante os primeiros meses da pandemia, quando as vacinas contra a covid-19 ainda n�o estavam dispon�veis.

“O objetivo desse artigo � comparar a carga viral nas pessoas contaminadas pela variante delta com rela��o �quelas que haviam sido contaminadas em 2020 com as cepas iniciais. Os pesquisadores descobriram que as pessoas contaminadas pela variante delta possu�am 250 vezes mais carga viral - ou seja, quantidade de v�rus - do que as infectadas um ano antes”, explicou Fr�d�ric Altare, imunologista e diretor de pesquisa no Instituto Nacional da Sa�de e da Pesquisa M�dica (Inserm) da Fran�a, contactado em 25 de agosto de 2021 pela equipe de verifica��o da AFP.

“Percebe-se que eles est�o interessados nesse trabalho somente nas pessoas vacinadas, mas n�o � porque est�o vacinadas que essas pessoas possuem essa carga viral”, continuou o especialista.

“Comparar as cargas virais de pessoas vacinadas com as de pessoas que n�o est�o vacinadas e n�o utilizar as mesmas cepas virais equivale a comparar peras e ma��s”, acrescentou � AFP, no mesmo 25 de agosto, o professor Jean-Daniel Leli�vre, chefe do servi�o de doen�as infecciosas no Hospital Henri-Mondor de Cr�teil, Fran�a. Ele explicou, ainda, que concluir que a carga viral de vacinados � “251 vezes superior �quela de n�o vacinados”, como faz o artigo compartilhado nas redes sociais, � uma “interpreta��o errada de dados cient�ficos”.

Na verdade, as cepas originais do v�rus detectadas durante os primeiros meses da pandemia foram suplantadas posteriormente pelas variantes.

Segundo dados da Rede Gen�mica da Fiocruz, em agosto de 2021, 46,5% dos genomas sequenciados do SARS-CoV-2 eram da variante delta. Essa cepa, inicialmente detectada na �ndia, � considerada 60% mais transmiss�vel do que sua antecessora, a alfa, e duas vezes mais transmiss�vel que a original do v�rus.

“As amostras dos vacinados s�o colhidas um ano depois, com uma variante diferente que � muito mais infecciosa e que se propaga muito mais r�pido, e todos com, provavelmente, m�todos de PCR quantitativos [testes de PCR que permitem avaliar a carga viral da amostra], que evolu�ram depois de um ano”, assinalou � AFP no mesmo sentido Yves Buisson, epidemiologista e membro da Academia de Medicina da Fran�a, em 25 de agosto de 2021.

Para comparar as cargas virais de pessoas vacinadas e n�o vacinadas seria necess�rio utilizar uma amostra de pacientes infectados pela mesma cepa viral e em um per�odo de tempo semelhante, o que n�o foi feito nesse trabalho, j� que a carga viral de pacientes n�o vacinados infectados pela variante delta n�o foi pesquisada.

� imposs�vel, portanto, concluir com base nesse estudo que hoje uma pessoa vacinada teria uma quantidade mais significativa de v�rus em seu organismo do que uma pessoa n�o vacinada. At� a apari��o da variante delta, diferentes estudos (1, 2, 3) conclu�ram que as vacinas reduziram a carga viral, como explicado � AFP Claude-Agn�s Reynaud, imunologista e diretora de pesquisa no Centro Nacional de Pesquisa Cient�fica (CNRS) da Fran�a.

“O v�rus entra pelo nariz e torna-se perigoso nos pulm�es. O que a vacina faz � prevenir que ele des�a pelo sistema respirat�rio e chegue at� os pulm�es. � por isso que temos quase 95% de efic�cia contra formas graves da doen�a”, afirmou em 3 de agosto de 2021.

A situa��o, no entanto, tornou-se mais complexa com a apari��o da variante delta, com a qual o grau de cont�gio, de fato, suscita temores de queda no n�vel de prote��o das vacinas existentes e de rebote na circula��o e transmiss�o do v�rus, tanto entre vacinados quanto entre n�o vacinados.

Al�m disso, os especialistas apontam que a vacina utilizada para imunizar os trabalhadores de sa�de no hospital vietnamita era a AstraZeneca. Sua efic�cia � ligeiramente menor diante das formas sintom�ticas da doen�a provocadas pela variante delta: 60% contra 88% para a Pfizer/BioNTech, segundo um estudo brit�nico publicado em maio.

Vacinados n�o s�o “uma amea�a para n�o vacinados”


Usar esse estudo para sustentar a alega��o de que as pessoas vacinadas s�o “uma amea�a” para as n�o vacinadas � “pura desinforma��o”, assinalaram � AFP os cientistas entrevistados.

“Em nenhum caso as pessoas vacinadas podem ser altamente contaminantes e perigosas para as n�o vacinadas”, afirmou Fr�d�ric Altare, que refor�ou a import�ncia da acelera��o da campanha de vacina��o devido ao aumento de casos de covid-19 em raz�o da variante delta.

Segundo dados divulgados em 24 de agosto de 2021 pelas autoridades norte-americanas, a efetividade das vacinas Pfizer e Moderna contra a covid-19 caiu de 91% para 66% desde que a variante delta tornou-se dominante nos Estados Unidos.

Al�m das caracter�sticas da delta, isso poderia estar ligado ao fato de a efetividade das vacinas diminuir com o tempo: de 88% para 74% ap�s cinco a seis meses para a Pfizer e de 77% para 67% ap�s quatro a cinco meses para a AstraZeneca, de acordo com um estudo brit�nico publicado em 25 de agosto de 2021. Por isso cada vez mais pa�ses consideram uma dose de refor�o, em geral uma terceira dose.

De forma un�nime, os especialistas insistem que as vacinas s�o indispens�veis na luta contra essa variante. “O que os cientistas recomendam � que haja o maior n�mero de pessoas protegidas”, declarou � AFP o epidemiologista Antoine Flahault no �ltimo dia 27 de agosto.

Isso porque, mesmo que as vacinas contra o novo coronav�rus n�o impe�am a transmiss�o ou a contamina��o, elas ainda s�o muito eficazes na preven��o de formas graves da doen�a e hospitaliza��o.

Um estudo publicado em 21 de julho de 2021 no New England Journal of Medicine concluiu que duas doses da vacina Pfizer, por exemplo, s�o 88% efetivas na prote��o contra formas graves da doen�a causada pela variante delta e 35% efetivas com uma dose.

O epidemiologista Yves Buisson tamb�m aponta que, no preprint viralizado nas redes sociais, apenas um dos 62 enfermeiros infectados no hospital vietnamita precisou do apoio do oxig�nio. Isso mostra, segundo ele, a efetividade da vacina��o.

“Por fim, � importante lembrar que estar vacinado n�o pode impedir que se respeite as medidas de distanciamento e que se continue usando a m�scara, pois ainda � poss�vel ser portador e transmissor do v�rus, principalmente no caso da variante delta”, explicou o especialista.

No entanto, “cada pessoa que abriga o v�rus fornece um campo de jogos para ele, onde � prov�vel que sofra uma muta��o”, advertiu Claude-Agn�s Reynaud.

Conte�do semelhante foi verificado pelas equipes da Ag�ncia Lupa e do Aos Fatos.
 

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