Circula nas redes sociais desde o dia 26 de novembro de 2021, com mais de 1.800 intera��es, uma publica��o dizendo em tom ir�nico que as vacinas n�o estariam reduzindo o n�mero de casos e de mortes por covid-19 ao redor do mundo.
“‘Vacinas reduziram o n�mero de casos e mortes por Covid19’. �erto”, diz uma publica��o compartilhada no Twitter que acompanha capturas de tela de dois gr�ficos com dados sobre o n�mero de novos casos e mortes por covid-19 no mundo.
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As publica��es viralizadas indicam que as cifras foram retiradas da plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford. O primeiro gr�fico mostra o n�mero de novos casos de covid-19 no mundo e o segundo, o n�mero de mortes, desde o in�cio da pandemia at� novembro de 2021. Ambos incluem a m�dia dos �ltimos 7 dias.
An�lise global
Especialistas consultados pelo AFP Checamos afirmaram n�o ser poss�vel avaliar a efic�cia da vacina��o contra a covid-19 a partir da observa��o do n�mero global de casos e de mortes pelo v�rus.Segundo os pesquisadores ouvidos, tal an�lise em escala global � equivocada, pois h� diversos fatores que influenciam os processos de contamina��o e �bitos que devem ser levados em conta. Entre eles, as diferen�as na cobertura e no ritmo vacinal entre os pa�ses e a ado��o de medidas que restringem a circula��o de pessoas, as diferen�as nos ritmos de transmiss�o do v�rus em cada localidade, bem como a idade e as comorbidades dos pacientes.
Isaac Schrarstzhaupt, cientista de dados e coordenador da Rede An�lise Covid-19 do Brasil, explicou ao Checamos que a conclus�o feita a partir da observa��o dos dois gr�ficos virais tem como principal problema o mau uso do paradoxo de Simpson, segundo o qual as tend�ncias de dados espec�ficos n�o se refletem na tend�ncia global.
“Esse paradoxo, em estat�stica, acontece quando pegamos um agrupamento de v�rias coisas (no caso dele, o mundo inteiro) e somamos v�rias situa��es boas e ruins, sendo que nenhuma representa o todo. O que eu quero dizer com isso � que ele est� pegando locais com aumentos fortes de mortes e cobertura vacinal baixa e somando com locais com pouqu�ssimas mortes e cobertura vacinal alta, e querendo dizer que � tudo uma coisa s�”, disse o pesquisador sobre a publica��o viralizada.
Schrarstzhaupt sustenta que n�o � poss�vel generalizar a situa��o de uma epidemia em um pa�s continental como o Brasil, tampouco de uma pandemia no mundo todo: “A situa��o global � uma mistura de muitas situa��es distintas, com comportamentos distintos, transmiss�o distinta, medidas distintas, campanhas de vacina��o distintas…”, completou.

Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e professor visitante da Universidade da Calif�rnia em San Diego, concorda que � equivocada a associa��o feita na publica��o viralizada. Segundo ele, � necess�rio “levar em considera��o os dados desagregados. Porque a vacina��o pode estar aumentando no Brasil, estagnada nos EUA e iniciando na �frica”.
No mesmo sentido, Alu�sio Barros, epidemiologista e professor da UFPel, diz que a varia��o da porcentagem de vacinados entre os pa�ses “� enorme” e que “n�o faz sentido olhar n�meros globais”. Para Barros, o principal problema da an�lise viralizada “� n�o levar em conta as caracter�sticas de cada pa�s, ou mesmo regi�o dentro de [cada] pa�s. Os movimentos de casos e mortes s�o muito diferentes”. Ele ainda afirma que “� muito dif�cil ver uma tend�ncia clara” ao analisar todos os dados juntos.
Jones Albuquerque, cientista do Laborat�rio de Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Instituto para Redu��o de Riscos e Desastres da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), destaca:
“S� se poderia comparar mundialmente mortes com vacinas se todos os pa�ses tivessem pelo menos a mesma cobertura vacinal, o que n�o � o caso”.
Efeitos da vacina��o
De acordo com uma publica��o do Our World in Data, “para entender como a pandemia est� evoluindo, � crucial saber como as taxas de mortalidade de covid-19 s�o afetadas pelo estado de vacina��o”. Segundo o projeto, a taxa de mortalidade � “uma m�trica-chave” que pode evidenciar “com precis�o” o quanto as vacinas s�o eficazes contra as formas graves da doen�a.O site afirma que tais dados podem variar quando houver altera��es devido a fatores como “diminui��o da imunidade, novas cepas do v�rus e o uso de refor�os”.
Segundo alguns dos dados exibidos na p�gina, nos Estados Unidos, em 2 de outubro de 2021, a taxa de mortalidade era de 7,29 para os n�o vacinados contra 0,55 dos vacinados. No Reino Unido, a cifra foi de 5,40 para n�o vacinados e 1,1 para vacinados em 24 de setembro de 2021. J� no Chile, o n�mero registrado em 20 de novembro foi de 2,48 para n�o vacinados ou sem o esquema vacinal completo contra 0,53 dos imunizados e 0,02 dos vacinados que tomaram a dose de refor�o.
Schrarstzhaupt sustentou que “todos os estudos cl�nicos de efic�cia e tamb�m os estudos de efetividade (efic�cia no mundo real) [t�m] dados robust�ssimos que mostram a redu��o forte de agravamentos e �bitos” pela covid-19. “Al�m disso, basta ver o status vacinal de quem est� internado gravemente ou faleceu, e temos sempre muito mais n�o vacinados do que vacinados”, concluiu.

Um estudo do Escrit�rio Regional da Organiza��o Mundial da Sa�de para a Europa e do Centro Europeu para Preven��o e Controle de Doen�as (ECDC) publicado em 25 de novembro de 2021 no jornal cient�fico Eurosurveillance estima que 470 mil vidas foram salvas entre pessoas com 60 anos ou mais desde o in�cio da implementa��o da vacina��o contra a covid-19 em 33 dos 53 pa�ses inseridos na divis�o europeia da OMS.
“As consequ�ncias das baixas taxas de vacina��o em alguns pa�ses est�o se refletindo atualmente em sistemas de sa�de sobrecarregados e altas taxas de mortalidade”, disse Andrea Ammon, diretora do ECDC.
E completou: “Mesmo em pa�ses que alcan�aram uma boa cobertura geral de vacina��o, ainda existem subpopula��es e grupos de idade em que a cobertura permanece abaixo do desejado. A vacina��o de grupos de idade mais avan�ada deve continuar a ser uma prioridade urgente para salvar o maior n�mero de vidas nas pr�ximas semanas e meses”.
A publica��o ainda alerta para a import�ncia da ado��o de medidas adicionais para conter o avan�o do v�rus al�m da vacina��o, como uso de m�scaras e distanciamento social.
Em novembro de 2021, Schrarstzhaupt reafirmou ao Checamos que “a vacina � super eficaz contra �bitos e hospitaliza��es, e tamb�m eficaz contra casos leves”.
Na mesma oportunidade, Christovam Barcellos %u23BC pesquisador titular do Laborat�rio de Informa��o em Sa�de do Instituto de Comunica��o e Informa��o Cient�fica e Tecnol�gica em Sa�de (Lis/Icict) da Fiocruz %u23BC completou: “A vacina tem duas tarefas. Salvar a vida de algumas pessoas e evitar casos graves, e a segunda tarefa � evitar transmiss�o”.
Nesse sentido, a Comiss�o Europeia informou que “os dados mostram que quanto maior a taxa de vacina��o, menor a taxa de mortes”, em um tu�te, em 23 de novembro, acompanhado de um gr�fico com cifras do ECDC.
Data shows us that the higher the vaccination rate, the lower the death rate. #COVID19#VaccinesWorkpic.twitter.com/mORrrQOPsj
— European Commission (@EU_Commission) November 23, 2021
Cobertura vacinal
Ao longo da pandemia, a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) tem expressado sua preocupa��o com o acesso desigual �s vacinas contra a covid-19 entre os pa�ses. Em 10 de agosto, a OMS pediu a l�deres mundiais que agissem para mudar a "vergonhosa" situa��o de desigualdade em rela��o aos imunizantes.Segundo o Painel Global para Equidade de Vacinas, uma iniciativa do Programa das Na��es Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), OMS e Universidade de Oxford, em pa�ses de alta renda 63,87% da popula��o em m�dia foi vacinada com, pelo menos, uma dose at� 23 de novembro de 2021. J� nos pa�ses de baixa renda, a taxa foi de 7,46%.
At� o �ltimo 1º de dezembro, 54,62% da popula��o mundial estava vacinada com pelo menos uma dose de vacina contra a covid-19 e 43,77% estava completamente imunizada:
Tamb�m em 1º de dezembro de 2021, segundo os dados oficiais coletados pela AFP e os disponibilizados pelo Our World in Data, o n�mero di�rio de novos casos ultrapassou os 680 mil e o de mortes superou a marca de 8.500.
*Esta verifica��o foi realizada com base em informa��es cient�ficas e oficiais sobre o novo coronav�rus dispon�veis na data desta publica��o.
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