
Na pr�xima sexta-feira (26/2), o Brasil completa um ano desde seu primeiro caso confirmado de COVID-19: um empres�rio de 61 anos, que contraiu a doen�a em viagem � It�lia, �nico epicentro da doen�a fora da China �quela �poca. Desde ent�o, o pa�s, que s� foi atingido pelo v�rus depois da �sia e da Europa, se tornou ponto central da doen�a na Am�rica Latina. E protagonista no mundo, atr�s apenas dos EUA em mortes.
Diante do in�cio da vacina��o, ainda que de maneira lenta, qual o futuro do Brasil no combate � crise? O que devemos fazer para n�o repetir os erros do passado?
“A gente j� tinha perdido o controle da pandemia quando fechamos a fronteira. Ent�o, n�o teve efetividade. Depois, n�o tivemos, e permanecemos sem ter, instru��es claras por parte do governo federal. A gente teve o ministro da sa�de dizendo uma coisa e o presidente o desmentindo", explica Ethel.
"O v�rus sobrevive fazendo c�pias dele mesmo. Quando isso ocorre, ele pode 'errar' e fazer muta��es, que � natural desse tipo de v�rus. O problema � o v�rus fazer mudan�as que d� a ele vantagens sobre n�s"
Ethel Maciel, infectologista, doutora em epidemiologia e professora da Universidade Federal do Esp�rito Santo (Ufes)
O que vai acontecer nos pr�ximos meses, para a professora da Ufes, depende da capacidade que o Brasil e o mundo ter�o de frear a transmiss�o acelerada do coronav�rus. � a partir do cont�gio exponencial que o microrganismo patog�nico pode sofrer muta��es. E isso pode at� mesmo anular a efic�cia das vacinas aplicadas atualmente.
"O v�rus sobrevive fazendo c�pias dele mesmo. Quando isso ocorre, ele pode 'errar' e fazer muta��es, que � natural desse tipo de v�rus. O problema � o v�rus fazer mudan�as que d� a ele vantagens sobre n�s", diz a especialista. De acordo com ela, foi o que aconteceu com os subtipos surgidos na �frica do Sul, no Reino Unido
e em Manaus, que s�o muito mais transmiss�veis que os outros.
"A gente acompanhou, inclusive, que a �frica do Sul suspendeu a vacina��o com a AstraZeneca (Oxford) por conta da diminui��o da efic�cia devido a essa muta��o. Ent�o, � algo muito preocupante", afirma Ethel.
Na pr�tica, quanto mais demorarmos para frear a transmiss�o do v�rus, por meio da imuniza��o e das medidas de controle sanit�rio (uso da m�scara e distanciamento social), mais chance o coronav�rus tem de se alterar e “vencer” a batalha contra as vacinas.
Na pr�tica, quanto mais demorarmos para frear a transmiss�o do v�rus, por meio da imuniza��o e das medidas de controle sanit�rio (uso da m�scara e distanciamento social), mais chance o coronav�rus tem de se alterar e “vencer” a batalha contra as vacinas.
Nesse sentido, a doutora da Ufes alerta para a necessidade de um plano nacional de imuniza��o eficiente. “Se a gente conseguir vacinar, at� julho, pelo menos esse grupo priorit�rio de 78 milh�es de pessoas, acho que a gente pode terminar o ano melhor. Mas, se a campanha se arrastar, a pandemia vai se prolongar. Talvez, tenhamos que tomar outras doses da vacina", diz.
Discord�ncia
Ethel chegou a participar do in�cio dos estudos do governo federal para definir o p�blico priorit�rio, mas deixou a mesa de discuss�es depois que a gest�o Jair Bolsonaro (sem partido) excluiu a popula��o carcer�ria desse grupo.
O principal ponto de discord�ncia da especialista quanto � estrat�gia do governo passa pela obrigatoriedade da imuniza��o. Apesar do presidente ser publicamente contra isso, Ethel Maciel defende que a prote��o contra o v�rus � um ato coletivo: a maioria da popula��o precisa estar protegida para frear a prolifera��o.
“A vacina � uma estrat�gia coletiva, diferente daquele medicamento que voc� toma para combater a sua doen�a. � algo que a gente toma para prevenir a circula��o do v�rus de maneira acelerada. Sua liberdade termina quando o outro passa a ser prejudicado”, afirma.
“A vacina � uma estrat�gia coletiva, diferente daquele medicamento que voc� toma para combater a sua doen�a. � algo que a gente toma para prevenir a circula��o do v�rus de maneira acelerada. Sua liberdade termina quando o outro passa a ser prejudicado”, afirma.
Outro ponto abordado por ela � o crit�rio geogr�fico. Ela defende que a Regi�o Norte do pa�s seja imunizada primeiramente. "A gente precisa vacinar ali mais rapidamente. Os pesquisadores j� perceberam que o surgimento de variantes e a acelera��o do v�rus � maior ali. N�o sabemos se por causa do clima ou por outro fator", defende.
E as escolas?
Logo ap�s a confirma��o do primeiro caso em fevereiro de 2020, n�o demorou muito para que as escolas fechassem suas portas para o ensino presencial. Em BH, a interrup��o aconteceu menos de um m�s depois, em 18 de mar�o. Diante disso, quais alternativas o poder p�blico deve tomar para que a educa��o, sobretudo a p�blica, retome suas atividades o quanto antes?
Para Ethel Maciel, a escola � uma extens�o da sociedade. Portanto, elas s� devem ser abertas quando a pandemia for controlada, o que ainda est� longe de acontecer.
Outra alternativa, por�m mais complexa, seria imunizar os estudantes, os profissionais de educa��o e os idosos que convivem com essas pessoas para evitar um aumento vertiginoso dos casos.
Novos cuidados
A nova variante de Manaus requer mais cuidados por parte da popula��o com a COVID-19. Como ela � muito mais transmiss�vel, o ideal � que cada cidad�o compre uma m�scara N95, exatamente aquelas usadas pelos profissionais de sa�de. De acordo com a doutora da Ufes Ethel Maciel, esse item protege contra a maior parte das part�culas de v�rus e bact�rias.
Por outro lado, os custos desse tipo de equipamento de prote��o individual s�o mais elevados que os das m�scaras de tecido. Ainda assim, uma alternativa pode ser adotada: estudos cient�ficos comprovam que o uso de duas prote��es de tecido simultaneamente j� protege bem mais.
“Estudo agora do CDC americano (Centers for Disease Control and Prevention, o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as dos EUA) tamb�m diz o seguinte: se voc� usar duas m�scaras, voc� aumenta o poder de filtragem em 90%", explica a epidemiologista.
LINHA DO TEMPO
- 26 de fevereiro de 2020 – Minist�rio da Sa�de registra primeiro caso de COVID-19 no Brasil. Empres�rio de 61 anos contraiu a doen�a em viagem � It�lia, �nico epicentro fora da China at� aquele momento.
- Mar�o de 2020 – Minas tamb�m entra na rota da doen�a, no dia 8. Tr�s dias depois, 11, a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) reconhece que a crise de sa�de � uma pandemia. No dia seguinte, o Brasil registra a primeira morte de COVID-19. Tratava-se de uma mulher de 57 anos, moradora de S�o Paulo. J� no dia 24, em pronunciamento na TV, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chama a COVID-19 de “gripezinha” e “resfriadinho”.
- Abril de 2020 – Um dia depois do Congresso aprovar Projeto de Lei, Bolsonaro sanciona aux�lio-emergencial de R$ 600 no primeiro dia do m�s. O Fundo Monet�rio Internacional alerta que a economia global ter� seu pior ano desde a Grande Depress�o de 1929. Luiz Henrique Mandetta � demitido do Minist�rio da Sa�de. Nelson Teich o substitui.
- Maio de 2020 – Brasil ultrapassa a China em n�mero de mortos. Menos de um m�s no cargo, Teich pede demiss�o do Minist�rio da Sa�de no dia 15, e o general Eduardo Pazuello assume a pasta. Uma semana depois, o Brasil ultrapassa a R�ssia e passa a ser o segundo pa�s com mais doentes. Estudo da revista “Journal of the American Medical Association” n�o encontra evid�ncias de que a cloroquina reduz mortalidade. EUA restringe a entrada de turistas brasileiros.
- Junho de 2020 – No dia 5, o Brasil recebe primeiro lote de vacinas da Universidade de Oxford para iniciar testes. Uni�o recebe cr�ticas por falta de transpar�ncia, ap�s retirar do ar painel que informa dados sobre a pandemia e alterar metodologia. Em tr�s dias, pa�s registra 100 mil novos casos, entre 9 e 11. No dia 19, chega a 1 milh�o. Ainda em junho, Brasil se torna o vice-l�der no consolidado de �bitos, ultrapassando o Reino Unido. Governo anuncia parceria com a AstraZeneca.
- Julho de 2020 – Pa�s ultrapassa 2 milh�es de casos confirmados. Bolsonaro � infectado e se recupera sem sustos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) indicam que 1% da popula��o brasileira foi infectada pelo novo coronav�rus. Uma em cada tr�s mortes pela doen�a at� aquele momento aconteceram em julho.
- Agosto de 2020 – Instituto Butantan planeja submeter vacina � Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) em outubro. Em 11 de agosto, R�ssia anuncia registro do imunizante Sputnik 5, o primeiro do mundo, mas especialistas questionam falta de testes.
- Setembro de 2020 – Mundo registra 1 milh�o de mortes pela doen�a. Em discurso na ONU, Bolsonaro elogia sua gest�o na pandemia e ataca imprensa por “disseminar” o p�nico. No mesmo m�s, Brasil chega a 4,5 milh�es de casos.
- Outubro de 2020 – Segunda onda atinge em cheio a Europa, e pa�ses come�am a restringir circula��o de pessoas e atividades comerciais. Brasil supera 150 mil mortes por COVID-19. Donald Trump se infecta e se recupera sem sustos.
- Novembro de 2020 – Farmac�utica Moderna, sediada nos EUA, anuncia vacina com efic�cia de 94,5%. No mesmo m�s, Uni�o Europeia acorda com a Pfizer e a BioNTech para compra de doses para seus 27 pa�ses. Elei��es municipais s�o realizadas no Brasil, enquanto estudo do Imperial College de Londres atesta que o pa�s tem sua maior taxa de transmiss�o desde maio.
- Dezembro de 2020 – Reino Unido e EUA come�am a vacinar sua popula��o. Governo federal divulga plano de imuniza��o. Pesquisadores que assinam o estudo afirmam que n�o participaram a fundo das discuss�es. Cresce preocupa��o de aumento de transmissibilidade com per�odo de festas.
- Janeiro de 2021 – Brasil computa seu pior m�s em termos de casos de COVID-19: um diagn�stico a cada dois segundos, em m�dia. Em Minas, a cada 14 minutos, uma pessoa perdeu a vida para a virose. Instituto Lowy, em Sydney, na Austr�lia, d� ao Brasil o t�tulo de pior gest�o da pandemia. Nova Zel�ndia ganha como melhor.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
- Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
- Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.
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