
No palco desse acontecimento ruidoso, celebrando novos tempos e 100 anos da Independ�ncia do Brasil, estavam dois mineiros que n�o tiveram o devido reconhecimento pela hist�ria e ca�ram no esquecimento: o poeta Agenor Barbosa, ent�o com 26 anos, natural de Montes Claros, na Regi�o Norte do estado, e a pintora Zina Aita, de 22, belo-horizontina de fam�lia italiana. Para suprir essa lacuna, a professora e escritora Ivana Ferrante Rebello e o arque�logo e historiador Fabiano Lopes de Paula, ambos conterr�neos do poeta, lan�am no dia 5 de dezembro, em Belo Horizonte, o livro Uma tristeza mineira numa capa de garoa. Agenor Barbosa: um poeta mineiro na Semana de Arte moderna (Editora Ramalhete).
Para os autores, h� muito para conhecer, pesquisar e estudar sobre a Semana de 22. Diz a professora Ivana: “N�o podemos entender a repercuss�o da Semana de Arte Moderna apenas lendo a repeti��o do que se publicou sobre ela. Muitos aspectos do evento merecem ser memorados, inclusive a participa��o dos dois mineiros. Zina Aita � pouco referenciada; Agenor Barbosa foi desmerecido e esquecido. O prest�gio de que Barbosa gozava no in�cio do s�culo 20 em Belo Horizonte e, depois, em S�o Paulo n�o condiz com esse esquecimento”.
Fabiano fala sobre os caminhos que nortearam a obra in�dita sobre o poeta e a pintora: “O que nos interessou nessa pesquisa, mais do que falar da participa��o mineira no Modernismo de 1922, foi identificar tra�os de uma modernidade, gestada � mineira, em Belo Horizonte, antes de 1922. Tratava-se de um Modernismo em surdina, como definiu Cyro dos Anjos, mas com tonalidade pr�pria.” Ele explica que “a Semana de Arte Moderna foi balizada por duas caracter�sticas: o esp�rito pol�mico e destruidor que desconsiderava tudo o que fora feito no Brasil e que se pautava pelo gosto acad�mico. E a necessidade de encontrar uma dic��o aut�ntica para as artes nacionais”.
Fei��es paulistas
O que faz um nome ser esquecido? Para os dois autores, h� muitas raz�es: a n�o perman�ncia no cen�rio art�stico, a falta de publicidade em torno de seus nomes e obras, e, especialmente, o fato de eles n�o terem sido estudados pela academia. Segundo Ivana, “a Semana, at� pelo fato de ter acontecido em S�o Paulo, foi tomando fei��es paulistas. As universidades do estado de S�o Paulo condensam a maior parte dos estudos sobre o tema, com destaque para os que se dedicam aos nomes de M�rio de Andrade e Oswald de Andrade. A repeti��o dos estudos sobre a Semana, quase sem altera��o, refor�a o protagonismo de alguns e o apagamento de outros”.
Minas, acrescenta, foi inserida no contexto da arte modernista apenas com a chamada “caravana paulista”, em 1924, quando chegam aqui M�rio de Andrade, Oswald de Andrade e seu filho Non�, Tarsila do Amaral, o jornalista Ren� Thiolier e Ol�via Guedes Penteado (esp�cie de mecenas dos modernistas), al�m do advogado Godofredo Telles e do poeta franco-su��o Blase Cendrars.
Minas, acrescenta, foi inserida no contexto da arte modernista apenas com a chamada “caravana paulista”, em 1924, quando chegam aqui M�rio de Andrade, Oswald de Andrade e seu filho Non�, Tarsila do Amaral, o jornalista Ren� Thiolier e Ol�via Guedes Penteado (esp�cie de mecenas dos modernistas), al�m do advogado Godofredo Telles e do poeta franco-su��o Blase Cendrars.
E registram: “Esse � o momento em que o jovem Carlos Drummond de Andrade) entra em contato com o grupo e inicia uma bela amizade liter�ria com M�rio de Andrade (documentada em cartas). Para muitos a participa��o de Minas Gerais no modernismo brasileiro come�a a partir da�, culminando, logo ap�s, com o famoso grupo de A revista, em torno da qual re�nem-se nomes como Drummond, Nava, Em�lio Moura, Cyro dos Anjos.”
No livro, com apresenta��o de Angelo Oswaldo de Araujo Santos, posf�cio de Manoel Hygino dos Santos e pintura na capa de Georgino J�nior, artista montes-clarense falecido recentemente, os autores mostram que, apesar da tend�ncia conservadora, Minas, antes da Semana de Arte Moderna, apresentava aspira��es modernas. “O grupo simbolista mineiro influenciou o esp�rito de 1922. As revistas mineiras Vita e Vida de Minas, publicadas nos primeiros anos de s�culo 20 em Belo Horizonte, apresentavam em seus n�meros quadros conservadores e publica��es progressistas.
Ao lado de trovas populares, tradu��es, publicavam poemas de nota��o vanguardistas. No ano de 1914, a revista Vita traz, por exemplo, um longo artigo de Jos� Eduardo da Fonseca intitulado O Feminismo. O esp�rito de Minas Gerais, metaforizado na constru��o da cidade de Belo Horizonte, representa metaforicamente as tens�es e as diferen�as materializadas nos palcos do Teatro Municipal paulista. Nem tudo que ali se apresentou foi modernista, mas todos que ali se reuniram tinham aspira��es modernas. Mesmo que Agenor Barbosa esteja esquecido no seu estado natal, vale o registro anotado por Fabiano. “Em S�o Paulo, ele se tornou nome de rua.”
Ao lado de trovas populares, tradu��es, publicavam poemas de nota��o vanguardistas. No ano de 1914, a revista Vita traz, por exemplo, um longo artigo de Jos� Eduardo da Fonseca intitulado O Feminismo. O esp�rito de Minas Gerais, metaforizado na constru��o da cidade de Belo Horizonte, representa metaforicamente as tens�es e as diferen�as materializadas nos palcos do Teatro Municipal paulista. Nem tudo que ali se apresentou foi modernista, mas todos que ali se reuniram tinham aspira��es modernas. Mesmo que Agenor Barbosa esteja esquecido no seu estado natal, vale o registro anotado por Fabiano. “Em S�o Paulo, ele se tornou nome de rua.”
A PINTORA...
Zina Aita
• Natural de Belo Horizonte, Zina Aita era filha de italianos. Na It�lia entre 1914 e 1918, manteve contato com as novidades est�ticas que movimentavam Roma, Floren�a, Mil�o e Veneza. Retorna a Belo Horizonte e, a convite de An�bal Mattos, exp�e suas pinturas no ent�o pr�dio do Conselho Deliberativo (esquina da rua da Bahia com Avenida Augusto de Lima, no Centro de BH). Na Semana, seus quadros impressionam pela nova t�cnica e pelo cromatismo.
Para a estudiosa Aracy Amaral, as telas de Zina Aita foram bem modernas. Ivone Luzia Vieira tamb�m registra o pioneirismo da jovem pintora e seu desejo de inovar “por meio do pioneirismo entre o eterno e o fugaz”. Retorna � Europa, em 1924, onde continua sua carreira art�stica. Seu nome foi, naturalmente, talvez pelo distanciamento geogr�fico, sendo pouco a pouco apagado. Raramente � citada, mesmo que tenha tido participa��o ativa na Semana de 22. Comparativamente, Tarsila Amaral, que n�o participou do evento fisicamente, enviando apenas algumas telas, integra todas as rela��es sobre a Semana.
H� fotos de Aita ao lado de M�rio de Andrade e Anita Malfatti. Encontramos desenhos dela na Klaxon, a revista modernista mais conhecida, e refer�ncias elogiosas a seu nome em carta de Manuel Bandeira a M�rio de Andrade, em artigo de S�rgio Milliet e em outro de M�rio de Andrade. Seu aspecto franzino e seu car�ter introspectivo tamb�m concorreram para que sua imagem fosse, pouco a pouco, sendo esquecida.
Para a estudiosa Aracy Amaral, as telas de Zina Aita foram bem modernas. Ivone Luzia Vieira tamb�m registra o pioneirismo da jovem pintora e seu desejo de inovar “por meio do pioneirismo entre o eterno e o fugaz”. Retorna � Europa, em 1924, onde continua sua carreira art�stica. Seu nome foi, naturalmente, talvez pelo distanciamento geogr�fico, sendo pouco a pouco apagado. Raramente � citada, mesmo que tenha tido participa��o ativa na Semana de 22. Comparativamente, Tarsila Amaral, que n�o participou do evento fisicamente, enviando apenas algumas telas, integra todas as rela��es sobre a Semana.
H� fotos de Aita ao lado de M�rio de Andrade e Anita Malfatti. Encontramos desenhos dela na Klaxon, a revista modernista mais conhecida, e refer�ncias elogiosas a seu nome em carta de Manuel Bandeira a M�rio de Andrade, em artigo de S�rgio Milliet e em outro de M�rio de Andrade. Seu aspecto franzino e seu car�ter introspectivo tamb�m concorreram para que sua imagem fosse, pouco a pouco, sendo esquecida.
O POETA...
Agenor Barbosa
• Nascido em Montes Claros, em 1896, Agenor Barbosa chegou em Belo Horizonte em 1912. A partir de 1913 h� publica��es suas na revista Vita (1913-1915) e, depois, na revista Vida de Minas (1915-1916). Tamb�m publicou no Di�rio de Minas, com muita assiduidade. Em 1917, muda-se para S�o Paulo e l� se integra rapidamente � vida cultural paulista. Participa do grupo que se reunia, pioneiramente, na Vila Kyriall, onde estudavam e palestravam sobre a chamada “arte nova”.
Barbosa faz palestra sobre Alphonsus de Guimaraens, o simbolista mineiro a quem M�rio de Andrade abertamente admirava, e sobre “Os poetas do sub�rbio”. Nas p�ginas do Correio Paulistano, publica artigos defendendo a necessidade de renova��o da arte brasileira e sobre o mercado editorial paulista. Publica poemas, contos, cr�nicas e cr�ticas liter�rias no Correio Paulistano, nas revistas A Cigarra, Pan�plia e na Revista do Brasil. Seu nome � elogiado, respeitado e at� exaltado por Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e S�rgio Buarque de Hollanda.
Nunca se declarou modernista, assumindo por diversas vezes, sua voca��o e admira��o pelo Simbolismo. No entanto, seu nome est� no cat�logo do segundo dia da Semana de Arte Moderna, seus poemas foram a base do mais combativo discurso proferido no recital art�stico, por Menotti, e seu poema P�ssaros de A�o, que recitou ao lado de M�rio de Andrade, Oswald de Andrade, Ribeiro Couto, S�rgio Milliet, T�cito de Almeida e Pl�nio Salgado, em 15 de fevereiro de 1922, talvez seja o que melhor representa as contradi��es em torno do grupo que protagonizou a combativa Semana.
Barbosa faz palestra sobre Alphonsus de Guimaraens, o simbolista mineiro a quem M�rio de Andrade abertamente admirava, e sobre “Os poetas do sub�rbio”. Nas p�ginas do Correio Paulistano, publica artigos defendendo a necessidade de renova��o da arte brasileira e sobre o mercado editorial paulista. Publica poemas, contos, cr�nicas e cr�ticas liter�rias no Correio Paulistano, nas revistas A Cigarra, Pan�plia e na Revista do Brasil. Seu nome � elogiado, respeitado e at� exaltado por Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e S�rgio Buarque de Hollanda.
Nunca se declarou modernista, assumindo por diversas vezes, sua voca��o e admira��o pelo Simbolismo. No entanto, seu nome est� no cat�logo do segundo dia da Semana de Arte Moderna, seus poemas foram a base do mais combativo discurso proferido no recital art�stico, por Menotti, e seu poema P�ssaros de A�o, que recitou ao lado de M�rio de Andrade, Oswald de Andrade, Ribeiro Couto, S�rgio Milliet, T�cito de Almeida e Pl�nio Salgado, em 15 de fevereiro de 1922, talvez seja o que melhor representa as contradi��es em torno do grupo que protagonizou a combativa Semana.
ENTREVISTA/Ivana Ferrante Rebello e Fabiano Lopes de Paula
Holofotes para outros nomes
Por que Minas n�o ganhou destaque na Semana de Arte Moderna de 1922?
Ivana - A Semana de Arte Moderna (1922) teve seu epicentro na cidade de S�o Paulo, no Teatro Municipal, com patroc�nio da alta burguesia paulista. Naturalmente, o esp�rito progressista e cosmopolita da cidade era o palco adequado para os eventos comemorativos do centen�rio da independ�ncia brasileira, e a Semana Modernista veio trazer a contribui��o da intelectualidade e da classe art�stica para a ordem do dia.
Houve tamb�m as presen�as significativas de Di Cavalcanti, M�rio de Andrade, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade, que tomaram para si a tarefa de “proclamar a independ�ncia do Brasil” no campo art�stico, ressaltando a necessidade de o pa�s se desvincular das influ�ncias passadistas e europeias e descobrir a pr�pria dic��o est�tica. O fato de o palco central dos eventos ter acontecido em S�o Paulo conferiu � Semana de 1922 o selo de paulista, mas houve a participa��o de artistas de muitos lugares do Brasil, inclusive de Minas Gerais.
Houve tamb�m as presen�as significativas de Di Cavalcanti, M�rio de Andrade, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade, que tomaram para si a tarefa de “proclamar a independ�ncia do Brasil” no campo art�stico, ressaltando a necessidade de o pa�s se desvincular das influ�ncias passadistas e europeias e descobrir a pr�pria dic��o est�tica. O fato de o palco central dos eventos ter acontecido em S�o Paulo conferiu � Semana de 1922 o selo de paulista, mas houve a participa��o de artistas de muitos lugares do Brasil, inclusive de Minas Gerais.
Houve dois mineiros que participaram de forma significativa nos palcos do teatro municipal, em 22: o poeta Agenor Barbosa e a pintora e ceramista Zina Aita. Agenor Barbosa j� estava residindo em S�o Paulo, desde 1917, como redator do Correio Paulistano. Na reda��o do jornal ele conhece Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade e, com eles, integra o grupo que idealizaria a Semana de Arte Moderna. Zina Aita, pintora de Belo Horizonte, recebe o convite de Manuel Bandeira e M�rio de Andrade para expor seus quadros no famoso recital art�stico. Passados muitos anos dos ruidosos acontecimentos que abalaram o ritmo e o gosto art�stico da cidade de S�o Paulo, alguns nomes se destacaram e levaram adiante o esp�rito de 22: M�rio de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral. Outros nomes que tiveram papel important�ssimo na Semana (sua organiza��o, patroc�nio, credibilidade), como Gra�a Aranha, por exemplo, foram sendo paulatinamente esquecidos.
Por que Agenor Barbosa e Zina Aita ficaram apagados?
Ivana - H� v�rias raz�es. O fato de um nome ser paulatinamente esmaecido se deve � tend�ncia que t�m os estudos de se apoiarem sempre no j� dito. Na escrita do livro Uma tristeza mineira numa capa de garoa. Agenor Barbosa: um poeta mineiro na Semana de Arte moderna, consultando o que havia sido publicado acerca do tema, observamos uma tend�ncia � repeti��o, quase todos dizem o mesmo. Muitas coisas ser�o retomadas com a proximidade das comemora��es do centen�rio da Semana de Arte Moderna.
E o poeta?
Ivana - Agenor Barbosa nos pareceu, todavia, o mais injustamente esquecido. Em todos os livros e teses consultados, seu nome integra a lista de participantes, mas s�. Poucos se dedicam a falar sobre ele; citam-no apenas. Vimos seu nome arrolado ao lado do adjetivo “desconhecido” e outros, que se aprofundaram um pouco na quest�o, declararam que ele foi autor apenas dos 4 poemas referenciados por Menotti Del Picchia, na confer�ncia da segunda noite, dedicada � poesia. Rubem Borba de Moraes declara, certa feita, que os poemas de Agenor Barbosa eram lidos �s gargalhadas por certos integrantes do grupo que se reunia, ap�s a realiza��o da Semana de Arte Moderna, para discutir sobre a arte brasileira. Al�m disso, pesa contra ele o fato de n�o ter publicado nenhum livro, embora tenha escrito diariamente no Correio Paulistano, entre 1917 e 1929. Nas raras men��es a seu nome, ele � tido como paulista, carioca ou simplesmente como “poeta da prov�ncia”.
Como surgiu o interesse para pesquisar a vida dos dois mineiros desconhecidos?
Fabiano - O nome de Agenor Barbosa nos chegou a partir de uma cita��o no livro Efem�rides Montes-clarenses, de Nelson Viana. H� dois escritores que o mencionam em artigos de jornal: o historiador Aroldo L�vio e o jornalista Manoel Hygino. N�o sab�amos que havia um poeta mineiro na Semana de Arte Moderna. Como verificamos depois, ningu�m sabia. A pesquisa elucidou caminhos, desanuviou preconceitos, permitindo-nos contar uma outra hist�ria. E, nesse percurso de descobertas, reencontramos o nome da pintora Zina Aita.
Ela foi mais estudada e reconhecida que Agenor, mas ainda assim, mereceria maior destaque. O que nos interessou nessa pesquisa, mais do que falar da participa��o mineira no Modernismo de 1922, foi identificar tra�os de uma modernidade, gestada � mineira, em Belo Horizonte, antes de 1922. Tratava-se de um Modernismo em surdina, como definiu Cyro dos Anjos, mas com tonalidade pr�pria. Havia alguma coisa de muito moderno em revistas que publicavam versos de Gilka Machado (1913), versos de n�tida inflex�o er�tica, ou versos de Alzira Reis, poeta que tamb�m foi a primeira m�dica formada em Minas Gerais, que defendia o div�rcio e integrou a luta pelo direito ao voto feminino. Ao lado desses versos, havia, obviamente, versos parnasianos, academicistas, bem comportados. Isso elucida muito a heterogeneidade do modernismo brasileiro na primeira hora.
Ela foi mais estudada e reconhecida que Agenor, mas ainda assim, mereceria maior destaque. O que nos interessou nessa pesquisa, mais do que falar da participa��o mineira no Modernismo de 1922, foi identificar tra�os de uma modernidade, gestada � mineira, em Belo Horizonte, antes de 1922. Tratava-se de um Modernismo em surdina, como definiu Cyro dos Anjos, mas com tonalidade pr�pria. Havia alguma coisa de muito moderno em revistas que publicavam versos de Gilka Machado (1913), versos de n�tida inflex�o er�tica, ou versos de Alzira Reis, poeta que tamb�m foi a primeira m�dica formada em Minas Gerais, que defendia o div�rcio e integrou a luta pelo direito ao voto feminino. Ao lado desses versos, havia, obviamente, versos parnasianos, academicistas, bem comportados. Isso elucida muito a heterogeneidade do modernismo brasileiro na primeira hora.
O que norteou a Semana de 22?
Fabiano - A Semana de Arte Moderna, como sabemos, foi balizada por duas caracter�sticas: o esp�rito pol�mico e destruidor que desconsiderava tudo o que fora feito no Brasil e que se pautava pelo gosto acad�mico; e a necessidade de encontrar uma dic��o aut�ntica para as artes nacionais. N�o h� consenso, por exemplo, na historiografia liter�ria brasileira, sobre os anos que antecederam a Semana de 22. Alguns v�o denominar o per�odo, entre 1890 at� 1920, de “�poca do simbolismo”; para Trist�o de Ata�de ou Alceu Amoroso Lima, viv�amos o “pr�-modernismo”, para Afr�nio Coutinho foi a fase de transi��o ou sincretismo e para Ant�nio C�ndido, a produ��o liter�ria no Brasil, entre 1900 e 1920, n�o conseguiu criar uma nova proposta est�tica, tendo preservado ou elaborado alguns tra�os do romantismo, por isso ele denominou o per�odo de “literatura de perman�ncia”. Essas diferen�as apenas explicitam as tens�es, diferen�as e pluralidades que vigiam no Brasil.
O que dizer sobre o Brasil daquele tempo?
Fabiano - Permitimos dar ao nosso estudo uma vis�o arquitet�nica, de amplitude social, porque nos pareceu muito interessante os movimentos feitos em prol da moderniza��o e do progresso, em v�rias cidades brasileiras, com amplia��o de avenidas, cria��o de parques, a implementa��o do transporte urbano, a melhoria da ilumina��o p�blica etc. , enquanto a var�ola, a peste bub�nica e a febre amarela matavam milhares de brasileiros. Por tr�s das avenidas arborizadas e dos palacetes que se erguiam, havia car�ncia no saneamento urbano, pouco investimento nos aspectos sanit�rios e de sa�de. Decidimos nomear o per�odo que antecede 1922, de “Belle �poque � brasileira”.
Era uma �poca de ouro com o peso de todas as car�ncias e contradi��es vis�veis no pa�s. Ao lado do jornalismo bem-comportado e elitista de Olavo Bilac, l�amos, nas publica��es da �poca, a cr�nica ir�nica de Lima Barreto, que nos falava do sub�rbio. Falamos de um Brasil que apresentava um Monteiro Lobato que lutava pelo petr�leo brasileiro, estimulava publica��es nacionais e que escreveu Urup�s e de um Brasil que, pela voz do mesmo autor, publicou cr�tica violenta aos quadros da pintora Anita Malfatti, quando de sua exposi��o, em 1917.
Criavam-se as primeiras ind�strias, chegavam aqui oper�rios europeus para trabalhar, aumentavam as cidades, mas nos h�bitos, valores e costumes prevalecia um conservadorismo acomodado. Havia muita velocidade nos bondes el�tricos, mas muita lentid�o na absor��o das novas est�ticas. A Semana de 22 condensa essas diferen�as e contradi��es. Muitos dos que ali compareceram n�o foram modernistas. Tentaram adaptar-se �s novas tend�ncias, mas muito pouco do que foi ali apresentado representava o aut�ntico esp�rito revolucion�rio que a maioria queria.
Era uma �poca de ouro com o peso de todas as car�ncias e contradi��es vis�veis no pa�s. Ao lado do jornalismo bem-comportado e elitista de Olavo Bilac, l�amos, nas publica��es da �poca, a cr�nica ir�nica de Lima Barreto, que nos falava do sub�rbio. Falamos de um Brasil que apresentava um Monteiro Lobato que lutava pelo petr�leo brasileiro, estimulava publica��es nacionais e que escreveu Urup�s e de um Brasil que, pela voz do mesmo autor, publicou cr�tica violenta aos quadros da pintora Anita Malfatti, quando de sua exposi��o, em 1917.
Criavam-se as primeiras ind�strias, chegavam aqui oper�rios europeus para trabalhar, aumentavam as cidades, mas nos h�bitos, valores e costumes prevalecia um conservadorismo acomodado. Havia muita velocidade nos bondes el�tricos, mas muita lentid�o na absor��o das novas est�ticas. A Semana de 22 condensa essas diferen�as e contradi��es. Muitos dos que ali compareceram n�o foram modernistas. Tentaram adaptar-se �s novas tend�ncias, mas muito pouco do que foi ali apresentado representava o aut�ntico esp�rito revolucion�rio que a maioria queria.
No livro, voc�s se perguntam: De que Semana de Arte Moderna queremos falar? Ent�o, qual � a resposta?
Ivana - Procuramos falar de uma Semana de Arte Moderna que foi gestada em v�rios anos que a antecederam, cujos sinais poderiam ser lidos nos poemas que se publicavam em v�rios estados do Brasil, cujo teor e forma j� destoavam do gosto parnasiano. Procuramos desviar os holofotes dos mesmos nomes e fatos j� muito celebrados e repetidos, mostrando outros �ngulos. Quando Zina Aita foi convidada para expor na Semana de Arte Moderna, ela j� havia exposto no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, em 1920.
Suas telas j� traziam as influ�ncias das vanguardas europeias e a recusa ao cromatismo tradicional. Agenor Barbosa, que j� trabalhava como redator do Correio Paulistano, chegara � capital paulista como poeta admirado e extremamente ativo, nos jornais e revistas de Belo Horizonte. O que ele escreveu antes de ir a S�o Paulo conta muito de um escritor que absorve as tend�ncias e incoer�ncias de um per�odo que aglutinava a perman�ncia de uma escola parnasiana, apegada �s tradi��es da forma e as inova��es subjetivas propostas pelo Simbolismo (que contou com um grupo forte em Minas Gerais). Em S�o Paulo, participando ativamente das agremia��es liter�rias, saraus e palestras em torno da Arte Nova, ele integrou o grupo conhecido como Os Novos ou Os futuristas, como genericamente se chamavam.
Eram muito diferentes entre si, mas todos queriam a renova��o da arte brasileira. Procuramos fugir das repeti��es, dando destaque � participa��o dos dois mineiros, mas sabemos que h� outras hist�rias a respeito do Modernismo que ainda merecem ser contadas. Intrigou-nos o fato de v�rios nomes terem sido esquecidos. Tamb�m nos chamou a aten��o o fato de a participa��o das mulheres no evento ter sido esmaecida. Essas s�o outras hist�rias que podem ser contadas, outros modernismos que merecem ser lembrados.
O tempo e a natureza da pesquisa nos obrigaram a fazer este recorte espec�fico. Zina Aita impressiona com seu cromatismo bizarro o sagu�o do teatro Municipal. Sua tela, O Retrato, hoje em posse da fam�lia de Ardu�no Bol�var, testemunha de maneira palp�vel a participa��o de Minas Gerais na Semana de Arte Moderna, de 1922.
Suas telas j� traziam as influ�ncias das vanguardas europeias e a recusa ao cromatismo tradicional. Agenor Barbosa, que j� trabalhava como redator do Correio Paulistano, chegara � capital paulista como poeta admirado e extremamente ativo, nos jornais e revistas de Belo Horizonte. O que ele escreveu antes de ir a S�o Paulo conta muito de um escritor que absorve as tend�ncias e incoer�ncias de um per�odo que aglutinava a perman�ncia de uma escola parnasiana, apegada �s tradi��es da forma e as inova��es subjetivas propostas pelo Simbolismo (que contou com um grupo forte em Minas Gerais). Em S�o Paulo, participando ativamente das agremia��es liter�rias, saraus e palestras em torno da Arte Nova, ele integrou o grupo conhecido como Os Novos ou Os futuristas, como genericamente se chamavam.
Eram muito diferentes entre si, mas todos queriam a renova��o da arte brasileira. Procuramos fugir das repeti��es, dando destaque � participa��o dos dois mineiros, mas sabemos que h� outras hist�rias a respeito do Modernismo que ainda merecem ser contadas. Intrigou-nos o fato de v�rios nomes terem sido esquecidos. Tamb�m nos chamou a aten��o o fato de a participa��o das mulheres no evento ter sido esmaecida. Essas s�o outras hist�rias que podem ser contadas, outros modernismos que merecem ser lembrados.
O tempo e a natureza da pesquisa nos obrigaram a fazer este recorte espec�fico. Zina Aita impressiona com seu cromatismo bizarro o sagu�o do teatro Municipal. Sua tela, O Retrato, hoje em posse da fam�lia de Ardu�no Bol�var, testemunha de maneira palp�vel a participa��o de Minas Gerais na Semana de Arte Moderna, de 1922.
A menos de dois anos do centen�rio da Semana de Arte Moderna, qual ser� a melhor forma de resgatar a obra de Agenor Barbosa e Zina Aita?
Fabiano - Pareceu-nos importante ressaltar a presen�a mineira naquele evento que foi conhecido como um divisor de �guas nas artes nacionais. Os versos do poema “P�ssaros de a�o”, de Agenor Barbosa, recitado no dia 15 de fevereiro de 1922, no palco do Teatro Municipal da cidade de S�o Paulo, traduzem o esfor�o em adaptar-se ao esp�rito rebelde e livre que os modernistas de ent�o defendiam.

• Uma tristeza mineira numa capa de garoa. Agenor Barbosa: um poeta mineiro na Semana de Arte moderna
• De Ivana Ferrante Rebello e Fabiano Lopes de Paula
• Editora Ramalhete
• R$ 58
• 210 p�ginas
• Lan�amento: 5 de dezembro, das 11h �s 14h, na �rea externa da Livraria Ouvidor (Rua Fernandes Tourinho, 253, Savassi, Belo Horizonte)
