(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas LITERATURA

Virginia Woolf: confira as sinopses dos livros lan�ados pela editora N�s


13/08/2021 06:00 - atualizado 13/08/2021 07:43

Capas dos livros de Virginia Woolf lançados pela Editora Nós(foto: Divulgação/ Editora Nós)
Capas dos livros de Virginia Woolf lan�ados pela Editora N�s (foto: Divulga��o/ Editora N�s)


“Sobre estar doente” 
Tradu��o de Ana Carolina Mesquita e Maria Rita Drumond
128 p�ginas
R$ 35

Quase cem anos depois de sua primeira publica��o com o t�tulo original “Being ill”, o ensaio de Virginia Woolf reemerge atual�ssimo, pela primeira vez traduzido no Brasil a partir do texto originalmente publicado pela Hogarth Press, editora brit�nica fundada em 1917 pelo casal Leonard e Virginia Woolf. Trata-se da vers�o revisada por Woolf em seu �ltimo trabalho como tip�grafa, compositora e preparadora de texto, � frente de todo o processo de “transformar em livro as palavras que vieram � sua mente”, assinala Ana Carolina Mesquita, que compartilha a tradu��o com Maria Rita Drumond Viana.

Para al�m da dor do corpo que emerge “quando as luzes da sa�de se apagam”, h� beleza na doen�a, descrita pela autora como uma viagem a “assombrosas terras desconhecidas”, entre “ermos e desertos da alma”, “precip�cios e prados salpicados de flores coloridas”, capaz de desenraizar em n�s “os carvalhos antigos e obstinados”. Tal � a transforma��o espiritual que essa circunst�ncia t�o comum em nossa exist�ncia proporciona, diz ela, nos libertando da escravid�o do combate di�rio em ser produtivos, ao mesmo tempo em que a cabe�a deitada nos libera do “ex�rcito de eretos”, descortinando paisagens n�o vistas, uma nova percep��o da realidade, que agora mira para cima e para o c�u, em um “tempo de presente suspenso”.

Virginia Woolf estranha que “a doen�a n�o tenha conquistado, ao lado do amor, das batalhas e do ci�me, seu lugar entre os principais temas da literatura”. N�o o faz porque a literatura se esfor�a em demonstrar a primazia da mente sobre o corpo, diz ela. Entretanto, o que ocorre � justamente o contr�rio, acredita a autora, lembrando como o corpo interv�m sobre a mente, trava grandes guerras, “tendo o pensamento como seu escravo”, contra febres e melancolias, na solid�o de um quarto.
“Pensamentos de paz durante um ataque a�reo” 
Tradu��o de Ana Carolina Mesquita
80 p�ginas
R$ 28

Publicado postumamente, foi escrito por Virginia Woolf em 1940 durante um ataque a�reo � Inglaterra. Ela est� em sua casa em Rodmell, localizada a apenas seis quil�metros de dist�ncia de Newhaven, onde o ex�rcito nazista, na frustrada opera��o Le�o Marinho, pretendia atracar. “Os alem�es sobrevoaram esta casa na noite passada e na anterior. Aqui est�o eles de novo. � uma experi�ncia estranha, ficar deitada no escuro ouvindo o zumbido de uma vespa que a qualquer momento pode matar voc� com uma ferrroada. � um som que interrompe qualquer pensamento cont�nuo e racional sobre a paz.

E, no entanto, � um som que – muito mais que as ora��es e os hinos nacionais – deveria nos impelir a pensar sobre a paz. Se n�o pensarmos na paz como uma realidade, n�s – n�o este corpo espec�fico nesta cama espec�fica, mas os milh�es de corpos que ainda est�o por nascer – iremos jazer na mesma escurid�o e escutaremos o mesmo estr�pito da morte acima das nossas cabe�as”, registra a autora, numa profunda reflex�o sobre a viol�ncia, a guerra e o papel das mulheres no conflito.

A autora intercala a v�vida descri��o dos avi�es que interrompem a quietude da noite, sobre o telhado de sua casa. “Uma bomba cai. Todas as janelas chacoalham”, relata, enquanto reflete sobre como s�o prisioneiros os homens em seus avi�es; as mulheres em suas camas. Todos s�o escravos e podem acabar mortos. “Tentemos arrastar at� a consci�ncia o hitlerismo inconsciente que nos tolhe. Ele � o desejo de agress�o; o desejo de dominar e escravizar. Mesmo no escuro podemos enxergar isso com clareza. Podemos ver o esplendor nas vitrines das lojas; e mulheres olhando; mulheres pintadas; mulheres arrumadas; mulheres com l�bios carmesim e unhas carmesim. S�o escravas tentando escravizar. Se pud�ssemos nos libertar da escravid�o, libertar�amos os homens da tirania. Os Hitlers s�o gerados por escravas”, afirma a autora, considerando como a emo��o do medo e do �dio � est�ril e inf�rtil.

“T�o logo o medo se vai, a mente se expande e instintivamente revive, buscando criar. Como o quarto est� �s escuras, s� lhe � poss�vel criar a partir da mem�ria. Ela se expande at� outros agostos – em Beirute, ouvindo Wagner; em Roma, caminhando pela Campagna; em Londres”. A autora afirma que s�o as ideias, os sentimentos criadores que geram felicidade e libertam o ser humano, retiram-no de sua pris�o para o ar livre.

“A morte da mariposa” 
Tradu��o de Ana Carolina Mesquita
48 p�ginas
R$ 22

Ensaio cl�ssico, foi escrito no contexto da Segunda Guerra Mundial, j� ao final da vida dela, sob o assombramento das bombas, batalhas, mortes e os campos de exterm�nios que cercam o continente. Embora em momento algum a guerra alcance a superf�cie do bel�ssimo texto de Woolf, � sobre esta que a autora reflete todo o tempo. A autora observa numa bela manh� de outono, o entusiasmado voo dessa fr�gil criatura h�brida, diurna, que n�o tem a alegria das borboletas nem � sombria como as noturnas de sua pr�pria esp�cie.

“A mesma energia que inspirava as gralhas, os lavradores, os cavalos e at� mesmo, assim parecia, as colinas de costas nuas, fazia a mariposa esvoa�ar de um lado para o outro no seu quadrado da vidra�a. Era imposs�vel afastar os olhos. Sem d�vida, t�nhamos consci�ncia de um estranho sentimento de pena por ela. As possibilidades de prazer naquela manh� pareciam t�o gigantescas e t�o diversas, que contar apenas com o quinh�o de vida que cabe a uma mariposa – e a uma mariposa diurna, ainda por cima – parecia ser um duro destino, e o entusiasmo que ela sentia em aproveitar ao m�ximo as suas oportunidades minguadas, rid�culo”.

Face � imin�ncia da inevit�vel morte, � precisamente sobre a puls�o da vida que reflete Virginia Woolf, contrastando com ternura a luta do delicado inseto para conservar aquilo que ningu�m mais valorizava ou desejava manter: “S� se podia observar os esfor�os extraordin�rios das perninhas min�sculas contra uma sina que se avizinhava e que poderia, se quisesse, submergir uma cidade inteira, e n�o apenas uma cidade, mas massas de seres humanos: nada, eu sabia, tinha a menor chance contra a morte. No entanto, ap�s uma pausa de exaust�o, as pernas se agitaram mais uma vez. Esse �ltimo protesto foi espl�ndido, e t�o fren�tico que ela conseguiu afinal se aprumar. Nossas simpatias, obviamente, estavam do lado da vida”.

“Um esbo�o do passado” 
Tradu��o de Ana Carolina Mesquita
128 p�ginas
R$ 48

�ltimo ensaio de Virginia Woolf, foi escrito entre abril de 1939 e novembro de 1940. Sob espectro dos campos de concentra��o nazista e da Segunda Guerra Mundial, aos 59 anos, em 28 de mar�o de 1941, Virginia Woolf, pressentindo os sinais de um novo colapso mental, encheu os bolsos do casaco com pedras e se lan�ou ao rio Ouse. “Um esbo�o do passado”foi publicado postumamente: os textos n�o foram revisados e preparados pela autora, como costumava fazer; encontram-se preservados em sua qualidade de esbo�o. “H� dois manuscritos datilografados que foram usados pela pesquisadora Jeanne Schulkind para compilar a vers�o aqui apresentada: um que se encontra na Universidade de Sussex e outro na British Library”, explica a tradutora da obra, Ana Carolina Mesquita.

Escrevendo a biografia de seu grande amigo, o pintor e cr�tico de arte Roger Fry (1866–1934), profundamente impactada por mais uma guerra, Virg�nia Woolf estava em sofrimento, com dificuldade para dar forma linear aos fatos, emo��es e impress�es. Considera o conselho de sua irm�, Vanessa Bell, e come�a a escrever as pr�prias mem�rias. “O que temos � uma autora em sua plenitude, que se debru�a sobre o pr�prio passado: por�m de um modo peculiar. Como leitora de di�rios, mem�rias e biografias, Virginia aponta que o maior problema desse tipo de literatura era deixar de fora a pessoa de quem se fala, enfatizando apenas aquilo que lhe acontece. Encontra, ent�o, uma forma em que ela se justap�e simultaneamente: presente e passado se intercambiam, mesclando o estilo memorialista e o diar�stico”, afirma Ana Carolina Mesquita. Sob a indaga��o de “quem era eu, ent�o?”,

Virginia Woolf se olha do lugar em que est� no tempo, incluindo o presente no passado e vice-versa, em permanente di�logo consigo mesma: “2 de maio… Escrevo a data porque creio que descobri uma forma poss�vel para essas anota��es. Isto �, fazer com que incluam o presente – pelo menos o bastante para que ele sirva de plataforma onde se p�r de p�. Seria interessante fazer com que as duas pessoas, a eu de agora, a eu de antes, fossem colocadas em contraste. Al�m do que, esse passado � muit�ssimo afetado pelo presente. O que escrevo hoje n�o escreverei daqui a um ano. Mas n�o consigo colocar isso em pr�tica; melhor deix�-lo ao acaso, j� que escrevo aos arrancos, para tirar umas f�rias de Roger”. E assim, a autora, neste derradeiro e impressionante ensaio, de forma magistral e po�tica, constr�i a si mesma em sua escrita, elevando-se sobre um mundo em destro�os. 

“Os Di�rios - Volume 1 (1915-1918)” 
Tradu��o de Ana Carolina Mesquita
344 p�ginas
R$ 70

A partir do ano de 1897, entre os 15 anos at� quatro dias antes de se suicidar, em 1941, com algumas poucas interrup��es, Virginia Woolf escreveu di�rios. Foram 33 cadernos, classificados pela tradutora Ana Carolina Mesquita, como algo pr�ximo a um “hub”da produ��o da autora de romances como “Mrs Dalloway”, “Ao farol”e “As ondas”. “Todas as obras dela convergiam para aquele di�rio de alguma maneira e tamb�m sa�am dele. Quando comecei a estudar os manuscritos, percebi que quando ocorria alguma ideia - por exemplo aquela que originou o romance “O quarto de Jacob”(1922) - come�ava a escrever, trabalhava aquilo, discutia a pr�pria literatura, o que pretendia fazer, e depois dava a nova forma. Eram uma esp�cie de sketchbook, em que testava personagens, testava a voz dela, testava observar a consci�ncia”, considera Ana Carolina.

Publicado pela primeira vez em 1953 com muitos cortes feitos pelo marido dela, Leonardo Woolf, a edi��o integral do di�rio adulto de Virginia Woolf s� foi lan�ada entre 1977 e 1984: cobriram 26 cadernos - englobando o per�odo entre 1915 a 1941 - , a partir de um esfor�o de pesquisa da estudiosa em literatura Anne Olivier Bell, casada com Quentin Bell, sobrinho da autora.

Esse trabalho de Bell, que teve a ajuda de Andrew McNeillie a partir do terceiro volume, foi a base para a presente edi��o do primeiro volume dos di�rios, in�ditos em portugu�s, agora lan�ado no Brasil e em Portugal. At� o centen�rio de publica��o de Mrs Dalloway, em 1925, a N�s programa publicar as edi��es traduzidas dos outros quatro volumes. “Esse primeiro volume dos di�rios compreende o per�odo em que Virginia Woolf est� se formando como escritora. � impressionante a proximidade que alcan�amos com ela nessa obra. E � muito bonita a forma como percebemos a autora em busca dessa voz, n�o achando, e usando o di�rio para isso, para conseguir se encontrar como escritora. Pelos di�rios conseguimos acompanhar como, a cada ano, Virginia Woolf vai ficando mais senhora de si, consagrando-se nesta autora que a literatura mundial reverencia”, afirma Ana Carolina Mesquita.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)