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Estado de Minas PENSAR

Livro une literatura, ci�ncia e um jovem Darwin rom�ntico

As escritoras Leda Cartum e Sofia Nestrovski montam um fascinante quebra-cabe�a do in�cio da trajet�ria do pesquisador ingl�s em livro


05/08/2022 04:00 - atualizado 06/08/2022 10:08

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Esqueleto de mastodonte, de Georges Cuvier, 1812 (foto: The Linda Hall Library of Science, Engineering & Technology)
Era uma vez um menino que adorava colecionar pedrinhas e fazer experimentos em um laborat�rio improvisado dentro de casa. Por causa das explos�es e fuma�as que sa�am pela janela, as crian�as da regi�o o apelidaram de “g�s”. Quando completou 16 anos, teve que obedecer ao pai, um m�dico renomado e de muitas posses, e cursar medicina.

 

Mas o garoto n�o tinha voca��o para seguir aquela carreira porque considerava as aulas entediantes demais. Naquele tempo, os herdeiros de fam�lias ricas s� poderiam optar, ent�o, por outra coisa: ser cl�rigo. Sempre foi muito curioso pelas coisas que via e participava de clubes de estudos, at� que um professor o indicou para viajar em um navio com nome de cachorro. Aquela aventura mudaria para sempre a vida do jovem Charles Darwin.


A trajet�ria de um dos pesquisadores mais importantes da hist�ria da ci�ncia foi contada na primeira temporada do podcast “Vinte mil l�guas”, realizado pela revista “Quatro Cinco Um”, em parceria com a livraria Megafauna e com o apoio do Instituto Serrapilheira.
 
O nome � uma homenagem ao livro “Vinte mil l�guas submarinas”, do escritor franc�s Julio Verne. Durante os programas, que est�o nos principais tocadores de �udio, as escritoras e roteiristas Leda Cartum, mestre em literatura francesa, e Sofia Nestrovski, mestre em teoria liter�ria, t�m o objetivo de ler os cientistas como escritores e fazem um convite aos ouvintes: abrir novos livros depois de ouvir os epis�dios. 

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Imagem presente na monografia de Charles Darwin sobre a subclasse Cirripedia, com figuras de todas as esp�cies


Leda e Sofia, que ministram um curso on-line de introdu��o a Simone Weil, denominado ‘Como sumir’, tamb�m publicaram o livro: “As vinte mil l�guas de Charles Darwin – o caminho at� a origem das esp�cies”, pela editora F�sforo. As 320 p�ginas d�o continuidade ao trabalho realizado durante uma fase de muitas restri��es impostas pela pandemia do novo coronav�rus, quando as escritoras e roteiristas precisaram gravar o podcast de ci�ncias e livros cada uma de sua casa.
 
O livro � uma adapta��o dos roteiros de �udio para o texto narrativo e traz mais informa��es, casos e personagens que ficaram de fora dos programas, mas que enriquecem e ajudam a entender todo o contexto vivido por Darwin na Inglaterra vitoriana, e que contribuiu para a elabora��o da teoria da sele��o natural. 

As escritoras ressaltam que Darwin “anotava tudo aquilo que via e, a partir do que via, o que pensava e sentia. Seus textos eram compostos com sutileza, para que ele conseguisse mostrar com a maior precis�o poss�vel aquilo que tinha diante de si”.
 
Ele gostava de autores imaginativos, como um de seus mentores intelectuais, Charles Lyell, ainda citado entre os nomes mais importantes da geologia. Al�m disso, amava poesia, estava sempre com uma edi��o de “Para�so perdido”, de John Milton. Com o passar dos anos, se tornou um leitor ass�duo de romances: “t�m sido um al�vio maravilhoso e um grande prazer para mim, e sempre aben�oo todos os escritores desse g�nero”, escreveu. Por usar uma linguagem acess�vel, Darwin conseguiu ir al�m da classe cient�fica e alcan�ar pessoas de v�rias camadas sociais. 
 
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Esqueleto de uma pregui�a-gigante, de Georges Cuvier, 1812


O s�culo 19 foi um per�odo de expans�o imperial inglesa, como destacam as autoras. Os navegantes n�o exploravam o mundo apenas para descobrir coisas novas, havia um objetivo pol�tico. Nesse cen�rio, o jovem Charles Darwin embarcou para fazer uma viagem que, no fim das contas, duraria quatro anos e nove meses.
 
Por ser um aristocrata, recebeu a miss�o de acompanhar o capit�o Robert FitzRoy, afinal, “era proibido, para um homem desse cargo, conviver com os seus subordinados”. A tripula��o deveria aprimorar a cartografia da Inglaterra para que os navios do pa�s pudessem ter uma navega��o mais padronizada. Os viajantes queriam mapear as costas continentais e saber a localiza��o dos portos estrangeiros para dominar economicamente os territ�rios da Am�rica do Sul.

O problema � que Darwin detestava o mar e n�o tinha nenhuma voca��o para navegar. Ele passava boa parte do tempo dentro da cabine, enjoado. Mas, ao contr�rio de muitos naturalistas daquele per�odo, considerava a pr�tica t�o importante quanto a teoria. Levou 245 livros e, durante a viagem, come�ou a recolher pistas, “como um detetive com uma lupa na m�o”.
 
Passou por Cabo Verde, Ilhas Malvinas, Ilhas Can�rias, Ilhas Seychelles, Cabo da Boa Esperan�a, Noronha, Bahia, Minas, Rio, Buenos Aires, Terra do Fogo, Patag�nia, Valpara�so, Ilha de Chilo�, Gal�pagos, Taiti, Hava�, Nova Zel�ndia, Nova Guin�, Nova Caled�nia, Austr�lia, Tasm�nia, Madagascar e Ilhas Cocos. Nestes lugares, coletou amostras de animais, plantas, pedras e ganhou apelidos como “catador de mosca”.

Carnaval na Bahia

Presenciou um carnaval na Bahia. Sobre isso, escreveu: “[...] est�vamos decididos a enfrentar seus perigos sem medo. Os perigos consistem em ser bombardeado por bolas de cera cheias de �gua, ou ficar encharcado por grandes esguichos. Provou-se bastante dif�cil manter a dignidade ao caminhar pelas ruas. [...] valente aquele que caminha sem apertar o passo quando baldes de �gua est�o prontos para serem derramados sobre ele de todos os lados”.
 
Darwin ficou maravilhado com a natureza do Brasil, mas a escravid�o o deixou bastante incomodado. O tema, inclusive, foi o motivo de uma s�ria discuss�o com o comandante Robert FitzRoy, talvez a �nica durante toda a viagem. A defesa do abolicionismo estava no sangue do jovem naturalista, neto de Josiah Wedgwood, que tamb�m � destacado pelas autoras.

Mas e o caminho at� a teoria da origem das esp�cies? O livro explica como um terremoto, f�sseis de animais gigantes e bicos de p�ssaros contribu�ram para que Charles Darwin come�asse a se fazer v�rias perguntas: por que a vida � t�o curta? As ostras t�m livre arb�trio? As plantas t�m uma ideia de causa e efeito? As vespas raciocinam? Por que os homens t�m mamilos?
 
Enquanto n�o encontrava respostas, enchia seus cadernos de anota��es e recolhia amostras que, mais tarde, lhe ajudariam a desenvolver um longo racioc�nio. Leda e Sofia elaboram, tamb�m, minicap�tulos com hist�rias que aconteceram paralelamente a isso, como: “a rela��o entre os f�sseis e o umbigo de Ad�o”, “Dois poetas rom�nticos” e “um menino que tocava violino”.

Ap�s a viagem, quando retornou � Inglaterra, Darwin “criou seu pr�prio mundo”. Aquele bom cidad�o ingl�s, polido, discreto e pacato, se afastou da vida movimentada de Londres e levou o in�cio de uma ideia transgressora e revolucion�ria para uma casa na cidadezinha de Downe, que chamou de Down House.
 
O lugar parecia parado no tempo, congelado em uma �poca anterior � Revolu��o Industrial. Havia um jardim, que era seu maior laborat�rio, onde seus filhos (ele teve 10) o ajudavam a fazer experimentos. Sim, Darwin se casou e passou a viver com a fam�lia em uma regi�o que tinha cerca de 500 habitantes, muito longe das tens�es e medos da “superpopula��o”, hip�tese sombria levantada � �poca pelo cl�rigo Thomas Malthus.

Apesar disso, manteve contato com outros cientistas, com quem chegou a trocar mais de 14 mil cartas. Foi uma vida reclusa, mas com tarefas e descobertas que n�o acabavam mais. Naquele lugar, ele passaria 20 anos amadurecendo e elaborando o que estaria, enfim, no livro “A origem das esp�cies”. Darwin trabalhava sem pressa, queria conseguir mais evid�ncias, at� que recebeu uma carta de um jovem chamado Alfred Russel Wallace.
 
O conte�do da correspond�ncia fez o naturalista “suar frio” e perceber que precisava correr contra o tempo. At� aquele instante, suas pesquisas estavam concentradas em v�rios cadernos de anota��es, mas, a partir da not�cia que recebeu, precisou fazer um resumo e publicar o que j� havia conseguido.

Racismo cient�fico, perda de biodiversidade, surgimento de pandemias e o medo do fim do mundo. Todos esses assuntos j� cercavam Darwin de alguma forma.
 
Por serem temas t�o atuais, Leda Cartum e Sofia Nestrovski conversaram com o professor de Filosofia da Universidade de S�o Paulo (USP), Pedro Paulo Pimenta, tradutor da edi��o de “A origem das esp�cies” publicada pela editora Ubu, e Maria Isabel Landim, tamb�m professora e curadora do Museu de Zoologia da USP.
 
As duas entrevistas est�o publicadas na parte final do livro como uma forma de complemento � pesquisa. As autoras pedem que o leitor/ouvinte fa�a uma pausa, para que, assim, consiga dar um passo � frente voltando no tempo. E afirmam: ler a ci�ncia como quem l� poesia � uma forma de tomar partido do mundo. 

'As vinte mil léguas de Charles Darwin: o caminho até a origem das espécies'

“As vinte mil l�guas de Charles Darwin: o caminho at� a origem das esp�cies”

.De Leda Cartum e Sofia Nestrovski
.Editora F�sforo
.320 p�ginas
.R$ 69,90 (livro) e R$ 44,90 (e-book)

Entrevistas

Sofia Nestrovski/Escritora

Sofia Nestrovski/Escritora
(foto: Caio Pedr�n)

“O per�odo de Darwin no Brasil foi marcado por sentimentos antag�nicos”

Por que voc�s optaram por come�ar com a hist�ria de Charles Darwin? A pandemia do novo coronav�rus influenciou nesta decis�o?
 
O nome do Darwin foi uma sugest�o da Fernanda Diamant, que foi quem primeiro teve a ideia de fazer um podcast de ci�ncias pela revista Quatro cinco um. Isso foi no final de 2018, muito antes da gente imaginar o quanto um v�rus iria influenciar nossas vidas.
 
Mas � claro que, j� em 2020, quando eu e a Leda est�vamos trabalhando mais intensamente na cria��o dos epis�dios, a pandemia virou um tema incontorn�vel.
 
Falar de Darwin foi uma maneira de jogar uma outra luz sobre as discuss�es que estavam acontecendo naquele momento – quisemos fazer um recuo, para poder abordar aquilo que est�vamos vivendo com menos imediatismo, e alguma profundidade.
 
 
Darwin esteve no Brasil durante sua viagem. Como este per�odo o ajudou para a elabora��o da teoria da sele��o natural? Por qu�?
 
O per�odo de Darwin no Brasil foi marcado por sentimentos antag�nicos: por um lado, o maravilhamento diante da riqueza de fauna e flora, por outro, o horror diante da escravid�o. Darwin saiu daqui dizendo que desejava nunca mais ter que voltar a uma terra de senhores de escravos.
 
Falamos disso no livro, e � esse o assunto do �ltimo epis�dio da primeira temporada do “Vinte mil l�guas”, o podcast – trata-se de uma entrevista com o soci�logo Matheus Gato de Jesus, que discute justamente a escravid�o e o racismo cient�fico no Brasil do s�culo 19. Por�m, o Brasil foi um dos lugares onde Darwin passou mais tempo em sua viagem – viveu em Botafogo por alguns meses e p�de conhecer o carnaval da Bahia.
 
Aqui, ele descobriu f�sseis da extinta Megafauna do Pleistoceno (animais como o tatu gigante, que viveram h� mais de dez mil anos), e isso foi uma primeira chave para ele come�ar a entender que as esp�cies se transformam no tempo.
 
No livro voc�s mostram a import�ncia de mulheres como Mary Ann Evans e Julia Wedgwood. Poderia falar um pouco sobre elas?
 
Mary Ann Evans (tamb�m conhecida como George Eliot, seu nome de romancista) e Julia Wedgwood foram duas intelectuais p�blicas da Inglaterra vitoriana. Eram exce��es em um meio dominado por homens. No entanto, o trabalho de ambas era levado a s�rio e as duas foram muito conhecidas em vida.
 
As duas leram “A origem das esp�cies” no calor do momento, e cada uma respondeu ao livro � sua maneira. Julia Wedgwood, que era sobrinha de Darwin, publicou uma cr�tica em uma revista, dizendo que o livro tinha um problema grave: embora explicasse a origem das esp�cies, n�o resolvia o problema da origem da vida, muito menos apontava qual seria o sentido da vida. S�o quest�es que at� hoje a ci�ncia n�o tem como responder – talvez n�o seja o papel da ci�ncia respond�-las.
 
J� George Eliot/Mary Anne Evans trouxe para dentro da literatura de fic��o as descobertas e a metodologia da ci�ncia de sua �poca, e escreveu uma obra-prima, que acaba de ser relan�ada no Brasil, chamada Middlemarch (editora Pinard, tradu��o de Leonardo Fr�es).
 
O livro tem minicap�tulos e v�rias p�ginas que destacam hist�rias que se relacionam ao assunto principal. Estes trechos podem servir como um quebra-cabe�a a ser montado pelo leitor?

Todo livro � um quebra-cabe�a a ser montado pelo leitor. No nosso caso, talvez isso seja um pouco mais literal, porque de fato h� se��es para serem lidas em qualquer ordem, n�o necessariamente a linear.
 
Quisemos fazer isso porque, no formato do podcast, quem define a ordem e o ritmo das coisas � a nossa voz – no livro, o leitor pode pausar a leitura quando desejar, voltar para um trecho anterior e passear pelas p�ginas como bem entender. O projeto gr�fico da Fl�via Castanheira beneficia isso. 
 
Com todo o material, voc�s mostram que arte e ci�ncia caminham juntas. O podcast e o livro tamb�m s�o uma tentativa de desmistificar os dois temas? Por qu�?
 
Falar de ci�ncia e de literatura s�o maneiras de falar sobre o mundo – mas um mundo que � um pouco menos horr�vel do que o que temos visto nas not�cias. Ou, pelo menos, um mundo no qual os horrores s�o filtrados pela intelig�ncia e pela imagina��o.
 
Entrar em contato com a vida e o pensamento de algu�m como Darwin, e olhar para tantas pessoas brilhantes e criativas que existiram � volta dele, � ter acesso a um legado da cultura humana – um legado que � nosso, por direito.
 
N�o podemos nos esquecer disso, n�o podemos pensar que os maiores momentos da intelig�ncia humana n�o nos pertencem. Uma teoria como a de Darwin faz parte, sim, da nossa cultura – a gente pode se apropriar desse conhecimento com alegria.

Leda Cartum/Escritora

Leda Cartum/Escritora
(foto: Sara De Santis)

“Fomos encontrando hist�rias humanas nas teorias cient�ficas”

Quais as principais mudan�as que o ouvinte do podcast “Vinte mil l�guas” vai encontrar no livro? Como foi a adapta��o dos roteiros para o texto final?
 
O podcast “Vinte mil l�guas” tem como uma das suas principais marcas a trilha sonora, composta por Fred Ferreira, que tem instrumentos como a viola da gamba. A trilha, nos epis�dios, � um elemento narrativo. No livro, obviamente, n�o h� como manter a m�sica.
 
A ambienta��o do texto � de outra natureza: o projeto gr�fico de Fl�via Castanheira organizou os cap�tulos alternando o texto central com boxes contendo curiosidades, informa��es extras e ilustra��es da �poca de Darwin, que est�o espalhadas por todo o livro.
 
Al�m disso, nos epis�dios em �udio, como o ritmo � ditado pela nossa voz, entendemos que cita��es muito longas ficariam cansativas para o ouvinte. No livro, pudemos incluir passagens maiores, j� que o leitor pode l�-las no seu pr�prio tempo.
 
E muitas das descobertas feitas durante a pesquisa que n�o couberam na temporada do podcast, de personagens como a paleont�loga Mary Anning ou o bi�logo T. H. Huxley (conhecido como "buldogue do Darwin"), encontraram espa�o no livro.
 
 

Levando em conta o atual cen�rio do Brasil, a ideia de ler os cientistas como escritores e ler textos cient�ficos como obras liter�rias pode contribuir para a mudan�a de perspectiva sobre a ci�ncia? Por qu�?
 
N�s nos aproximamos da ci�ncia a partir de fora, do ponto de vista da literatura. Fomos encontrando hist�rias humanas dentro das teorias cient�ficas.
 
A hist�ria da ci�ncia � parte da hist�ria da humanidade: � tamb�m cheia de d�vidas, de contradi��es, de pequenos e grandes erros, frustra��es e desejos. O que nos interessa � perceber e mostrar que as �reas de conhecimento n�o s�o t�o diferentes entre si – o cientista olha para o mundo com uma curiosidade que muitas vezes pode ser parecida com a do escritor.
 
Olhar para as teorias cient�ficas atrav�s das pessoas e das suas hist�rias pode ser uma maneira de se sentir mais pr�ximo delas. Durante a primeira temporada do podcast, n�s ficamos sabendo que um criacionista escutou os epis�dios sobre Darwin – e gostou!
 
Voc�s se debru�aram em uma hist�ria com v�rias camadas, muitas informa��es, personagens que levavam a outros. Como foi essa pesquisa e o que mais lhe chamou a aten��o?

� uma pesquisa infinita – quanto mais voc� se embrenha nas hist�rias e nos livros, mais surgem outras hist�rias e livros para serem lidos. Darwin � um cientista que deixou quase tudo registrado: temos acesso f�cil na internet a toda a sua correspond�ncia, com mais de 15 mil cartas, e a todos os seus cadernos de anota��es.
 
Para realizar essa pesquisa, com tantas informa��es dispon�veis, organizamos as leituras fazendo muitos fichamentos e conversando o tempo todo, contando uma para a outra anedotas que encontramos no meio do caminho.
 
E, talvez por n�s duas termos forma��o em literatura, o que mais nos chama a aten��o muitas vezes n�o s�o as grandes conclus�es, mas as pequenas hist�rias, os detalhes (como uma receita de arroz encontrada no meio de um di�rio de Darwin), as pessoas que foram esquecidas e que descobrimos em uma leitura. 
 
No podcast e no livro voc�s destacaram o pedido do mestre budista Nagasena ao rei Milinda: “Aguce o seu ouvido”. Por que � necess�rio agu�ar o ouvido para a ci�ncia atualmente?

Na hist�ria que contamos, quando o mestre Nagasena pediu que o rei agu�asse o ouvido, ele tinha acabado de entregar a ele um livro. E quando o rei, aos poucos, agu�ou o ouvido – prestou aten��o, uma aten��o verdadeira –, ele come�ou a escutar n�o apenas os barulhos ao seu redor, mas tamb�m os ru�dos do passado: a voz daquele que, muito tempo antes, tinha escrito o livro que estava em suas m�os.
 
Agu�ar os ouvidos, nesse sentido, � escutar mais do que a sobreposi��o de sons do tempo presente, que muitas vezes pode ensurdecer; � buscar ouvir tamb�m os sons mais sutis, as camadas que se escondem embaixo de n�s. Em qualquer momento que seja, � bom lembrar que o presente � feito de muitos outros tempos, e que as coisas existem da maneira que as conhecemos porque, h� s�culos e at� mil�nios, pessoas trabalharam para isso. 

Ao final da primeira temporada e, com a publica��o do livro, como voc� definiria Charles Darwin? Por qu�?
 
Fazer essa pesquisa foi entender que Charles Darwin, como n�s o conhecemos hoje, n�o � apenas Charles Darwin. O nome de Darwin re�ne dentro de si uma rede de outros nomes, de influ�ncias, cruzamentos: poetas rom�nticos, ge�logos, paleont�logos, romancistas, economistas, capit�es, criadores de pombos…
 
Quando falamos o nome de Darwin, estamos convocando tamb�m muitos outros nomes, e eles nos interessam tanto quanto o pr�prio. A teoria da sele��o natural � uma ideia brilhante tamb�m porque ela consegue sintetizar muitas das vontades e pensamentos de uma �poca – e tudo isso segue ecoando no nosso tempo.


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