(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PENSAR

Saramago: livro relata rela��o do escritor com brasileiros e mineiros

Em "Saramago - Os seus nomes", o escritor fala de admira��o por Drummond, por Minas e relata hist�ria curiosa com o ent�o prefeito de BH, C�lio de Castro


25/11/2022 04:00 - atualizado 25/11/2022 00:43

 

Saramago em Ouro Preto em 1983
Saramago visitou Ouro Preto em 1983 e refletiu sobre a rela��o Brasil-Portugal (foto: Funda��o Jos� Saramago/Divulga��o)
Carlos Drummond de Andrade, Jo�o Cabral de Melo Neto, Machado de Assis, Lygia Fagundes Telles, Jorge Amado e Z�lia Gattai, Chico Buarque, Caetano Veloso, Sebasti�o Salgado, Oscar Niemeyer e C�lio de Castro. E ainda os profetas de Aleijadinho em Congonhas, de Ouro Preto e Salvador. No belo livro autobiogr�fico e ilustrado “Saramago – Os seus nomes: Um �lbum biogr�fico”, edi��o de Alejandro Garcia Schnetzer e Ricardo Viel, que acaba de ser lan�ado no Brasil pela Companhia das Letras, o escritor portugu�s Jos� Saramago, al�m de in�meros personalidades internacionais de sua �poca e do passado, de amigos e amigas e lugares mundo afora onde esteve, revela sua amizade e admira��o por brasileiros e brasileiras e as impress�es das cidades visitadas. Fala, por exemplo, de sua identifica��o com o poema “E agora, Jos�?”, do mineiro Carlos Drummond de Andrade: “Aquelas horas em que o mundo escureceu, em que o des�nimo se fez muralha, fosse de v�boras, em que as m�os ficaram vazias e at�nitas”. 

E agora, Jos�?

 

E agora, Jos�,

A festa acabou,

A luz apagou,

O povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, Jos�?

e agora, Jos�?

voc� que � sem nome,

que zomba dos outros,

voc� que faz versos,

que ama, protesta?

E agora, Jos�?

Carlos Drummond de Andrade, Jos�, 1942

 

“H� versos c�lebres que se transmitem atrav�s das idades dos homens, como roteiros, bandeiras, cartas de marear, sinais de tr�nsito, b�ssolas – ou segredos. Este, que veio ao mundo muito depois de mim, pelas m�os de Carlos Drummond de Andrade, acompanha-me desde que nasci, por um desses misteriosos acasos, que fazem do que viveu j�, do que vive e do que ainda n�o vive, um mesmo n� apertado e vertiginoso de tempo sem medida. Considero privil�gio meu dispor deste verso, porque me chamo Jos� e muitas vezes na vida me tenho interrogado: 'E agora, Jos�?' Foram aquelas horas em que o mundo escureceu, em que o des�nimo se fez muralha, fosse de v�boras, em que as m�os ficaram vazias e at�nitas. 'E agora, Jos�?'. Grande, por�m, � o poder da poesia para que aconte�a, como juro que acontece, que essa pergunta simples aja como um t�nico, um golpe de espora, e n�o seja, como poderia ser, tenta��o, o come�a da intermin�vel ladainha que � a piedade por n�s pr�prios.”

 

“E agora, Jos�?”, “A bagagem do viajante, 1973

 

 

 

Aleijadinho e Ouro Preto

 

“H� uma raz�o especial [para viajar a Minas Gerais]. � que acaba de ser publicado aqui, ap�s ser publicado em Portugal no ano passado, meu romance ‘Memorial do convento’, que decorre no s�culo XVIII entre 1711 e 1739 e que aborda a constru��o do Convento de Mafra, que foi financiado com a riqueza do Brasil e particularmente aqui de Minas Gerais. Ouro, diamante e tudo mais. Sendo assim, al�m do meu interesse pelo Barroco e eu n�o concebia como sequer poss�vel vir ao Brasil e n�o ir a Ouro Preto e Congonhas. No fundo, esse meu desejo de vir a Minas, Ouro Preto, Congonhas, � para confirmar num sentido pr�prio, p�r a m�o em cima, aquilo que eu via em fotografias. Tinha um conhecimento a duas dimens�es e agora quero ter as tr�s dimens�es, pondo as m�os nos Profetas de Aleijadinho e vendo Ouro Preto, pondo as m�os em cima.”

 

Suplemento Liter�rio de Minas Gerais, 3 de dezembro de 1983

 

 

C�lio de Castro

 

“Durante uma breve estadia em Belo Horizonte foi me narrada pelo respetivo prefeito, o m�dico C�lio de Castro, respeitad�ssima figura de pol�tico, uma instrutiva hist�ria. Com estas ou semelhantes palavras, eis o que da boca dele ouvi: 'Quando o governo do Brasil anunciou o denominado pacote econ�mico, esse conjunto de medidas fiscais e administrativas destinadas a minorar as consequ�ncias do sismo financeiro mundial provocado pela crise da bolsa de Hong Kong e os seus efeitos na economia brasileira, uma mulher aqui residente veio � prefeitura e pediu para falar comigo. E o que ela me disse foi o seguinte: 'Prefeito, sei muito bem que n�o cabe nas suas compet�ncias o dever de resolver estas quest�es, mas pe�o-lhe ao menos que me explique porque raz�o n�o jogando eu na bolsa, n�o sabendo sequer como a bolsa funciona, vou ter de pagar os preju�zos daqueles que, quando ganharam, n�o partilharam comigo ou seus lucros'. A resposta que dei foi simples: 'Senhora, o absurdo n�o pode ser explicado'. Tenho-me interrogado (conclus�o de C�lio de Castro) se existir� uma respostas � pergunta daquela mulher, ou se estamos a viver num pesadelo feito de pesadelos, cada qual mais o absurdo do que os outros”.

 

“Cadernos de Lanzarote”, 7 de dezembro de 1997

 

 

“Saramago: Os seus nomes  – Um �lbum biogr�fico” 

 

  • Organizadores: Alejandro Garcia  
  • Schnetzer e Ricardo Viel 
  • 352 p�ginas 
  • Companhia das Letras 
  • R$ 199,90 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)