Obra re�ne dois livros da d�cada de 1960, "As cosmic�micas" e "T = 0", (foto: Reprodu��o/Marcelo Cipis)
“Um sinal no espa�o”
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Transportado nos flancos da Gal�xia, nosso mundo navegava al�m dos espa�os long�nquos, e o sinal l� estava onde o havia deixado para assinalar aquele ponto, e ao mesmo tempo assinalava a mim mesmo, trazia-o comigo, habitava-me, possu�a-me inteiramente, intrometia-se entre mim e todas as coisas com as quais pudesse tentar relacionar-me.
� espera de voltar a encontr�-lo, podia tentar dele extrair outros sinais ou combina��es de sinais, s�ries de sinais iguais e contraposi��es de sinais diversos.
Mas j� haviam se passado dezenas e dezenas de milhares de mil�nios a partir do momento em que o havia tra�ado (ou antes: a partir dos poucos segundos em que o havia atirado ao cont�nuo movimento da Via L�ctea) e exatamente agora, quando tinha necessidade de t�-lo presente em todos os seus particulares (a m�nima incerteza sobre sua forma tornava incertas as poss�veis distin��es quanto a outros sinais eventuais), me dei conta de que, n�o obstante o tivesse em mente em seus contornos sum�rios, em sua apar�ncia gen�rica, algo me escapava: em suma, se buscasse decomp�-lo em seus v�rios elementos, j� n�o me recordava se entre um elemento e outro era assim ou assado.
Era preciso t�-lo ali na frente, estud�-lo, consult�-lo, mas em vez disso estava ainda n�o sabia qu�o longe, porque o fizera exatamente para saber o tempo que levaria para reencontr�-lo, e enquanto n�o o tivesse reencontrado n�o poderia saber.
Um depoimento sobre o livro
Adriana Iozzi Klein
ESPECIAL PARA O PENSAR
“As Cosmic�micas refletem a paix�o de Calvino pela imagina��o, pela fantasia e pelas formas breves tamb�m. H� um enunciado ‘cient�fico’, uma linguagem seca e, logo em seguida, a gente v� esse personagem que n�o tem uma defini��o. Ele n�o � uma pessoa, mas um ser que existe antes mesmo da cria��o do universo, do Big Bang, com o nome que � um pal�ndromo impronunci�vel, mas � uma esp�cie de olhar tamb�m.
E um olhar numa perspectiva antiantropoc�ntrica que � muito interessante. Uma figura que tem caracter�sticas humanas, do ponto de vista mental, de racioc�nio, etc., mas que n�o se configura como um ser humano. Isso � muito leopardiano. As operetas e os op�sculos morais do Giacomo Leopardi t�m uma proposta desse tipo: os personagens que ali aparecem dialogando s�o, muitas vezes, seres n�o-humanos.
Mas o que Calvino faz tamb�m � uma brincadeira com a ci�ncia, a proposta � de inova��o da mat�ria liter�ria a partir de um experimento. O nome Cosmic�micas tamb�m � um neologismo que o Calvino inventa com a jun��o do c�smico e o c�mico, mas existe outra inten��o: usar a ideia dos comics, da hist�ria em quadrinhos.”
Adriana Iozzi Klein � professora do Departamento de Letras Modernas e do Programa de P�s-gradua��o em L�ngua, Literatura e Cultura Italianas da Universidade de S�o Paulo (USP), e autora do livro “A po�tica da reescritura em As cidades invis�veis de Italo Calvino” (Nova Alexandria)
Sobre o livro
Trecho de “Um sinal no espa�o”, uma das hist�rias inclu�das no volume “Todas as cosmic�micas”, de Italo Calvino, que acaba de ganhar edi��o no Brasil com ilustra��es de Marcelo Cipis.
Reuni�o de dois livros da d�cada de 1960, “As cosmic�micas” e “T = 0”, cont�m narrativas que come�am com um enunciado cient�fico (ou pretensamente cient�fico) sobre as origens do universo e dos planetas e outros temas do passado c�smico remoto para dar, em seguida, a palavra para as reflex�es de um personagem de nome impronunci�vel: Qfwfq.