Emma Thompson sobre prazer e maturidade: Precisei de coragem para ficar nua

"N�o conhe�o mulher alguma que viva com um corpo do qual goste", diz a atriz Emma Thompson, de 63 anos.

Apesar da longa carreira, a brit�nica avalia que um de seus maiores desafios chegou com seu mais recente filme, "Boa sorte, Leo Grande": aparecer completamente nua na tela.

A atriz, que j� ganhou in�meros pr�mios, incluindo dois Oscars, disse � imprensa que foi a coisa mais dif�cil que fez em sua vida.

Mas tamb�m contou, em entrevista � BBC, que vem sendo chamada de "corajosa".

Isso porque, segundo ela, ver uma mulher de 60 anos nua n�o � algo normalizado. "� isso. A realidade � que nunca vemos corpos normais na tela."

Mas n�o se trata do �nico ato de "coragem" que vemos neste filme.

O primeiro orgasmo... aos 50

O filme, que deve chegar aos cinemas brasileiros em julho, � dirigido pela australiana Sophie Hyde, que ganhou o pr�mio de melhor diretora no festival de Sundance por "Toda Ter�a-Feira".

O roteiro � da atriz e comediante brit�nica Katy Brand e trata, entre outras coisas, da rela��o entre um homem e uma mulher, intimidade e rela��es sexuais.

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Mas n�o como estamos acostumados.

Nancy Stokes (Emma Thompson) � uma professora aposentada de 55 anos que acaba de ficar vi�va de seu marido, com quem passou a maior parte da vida.

Ap�s a morte dele, decide cumprir uma lista de fantasias sexuais. A primeira e mais simples: ter seu primeiro orgasmo.

Para isso, procura os servi�os de um profissional do sexo, Leo Grande, interpretado por Daryl McCormack (da s�rie brit�nica Peaky Blinders).

Katy Brand contou com a consultoria de profissionais do sexo para escrever o roteiro. "O filme traz � tona o que os profissionais do sexo podem fazer. Tenho respeito por eles, pela forma como trabalham", diz McCormark � BBC.

A� vem outro marco do filme: Leo Grande � muito mais jovem que Nancy Stokes. E estamos acostumados a ver homens buscando mulheres mais jovens do que eles nos filmes.

As poucas vezes em que vemos o contr�rio, geralmente isso acontece a partir do ponto de vista masculino, tanto do jovem que fantasia se relacionar com uma mulher mais velha quanto do que � seduzido por uma.

Por isso, o foco estar na mulher e em sua busca pelo prazer � algo pouco comum.

Mas n�o se trata de uma vers�o de "Uma Linda Mulher" mudando o g�nero do cliente e do profissional do sexo. N�o se trata de romance.

H� intimidade, mas � sexo. Sexo na maturidade.

Assim como a rela��o de Nancy consigo mesma, seu corpo e sua sexualidade mudam.

Uma mensagem que pode ser muito poderosa em uma sociedade acostumada, cada vez mais, a corpos esbeltos e eternamente jovens na grande tela e nas redes sociais.

Para se preparar, tanto McCormack quanto Thompson ficaram um dia inteiro de ensaios completamente nus. As cenas de sexo foram todas filmadas juntas no fim das grava��es.

Aproveitar o corpo que temos

Em uma cena, Nancy coloca o �culos na ponta do nariz para ler a lista de fantasias que ela quer que Leo realize. "N�o tire sarro de mim", diz.

Ela transmite inseguran�a em sua voz e gestos. Nancy quer falar sobre seu pr�prio prazer e fica envergonhada de que seja alvo de chacota.

A partir da� at� o momento em que ela consegue se olhar no espelho, se ver e se reconhecer, existe um caminho de despertar sexual que muda sua vida, o que fez Emma Thompson refletir sobre si mesma e seu corpo.

"Precisei de coragem para ficar nua porque vivo com um corpo de que n�o gosto", diz ela.

"Minha pergunta para todos hoje em dia �: por que estamos desperdi�ando nosso tempo, paix�o, energia e dinheiro nos odiando em vez de aproveitar o corpo que temos para viver?"

A atriz tamb�m reflete sobre a recep��o diferente que o filme teria se tivesse sido lan�ado antes do MeToo, o movimento que surgiu em 2017 para denunciar agress�es e ass�dios sexuais como resultado das den�ncias feitas ao produtor de cinema americano Harvey Weinstein.

"Teria sido muito diferente antes disso. Sou muito grata, o movimento mudou muitas atitudes", diz Thompson.

Em "Boa sorte, Leo Grande", o tema das rela��es sexuais consensuais tamb�m � discutido.

Thompson destaca, no entanto, que h� uma "conversa muito s�ria" que ainda est� pendente e que n�o foi trazida � tona com o MeToo: falar abertamente sobre o prazer.

"Temos um grande problema com sexo, temos um grande problema com viol�ncia sexual. Se o prazer sexual fosse mais e melhor compreendido, acho que ver�amos uma grande queda nessa viol�ncia", diz.

'Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-61950622'

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