(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas COMPORTAMENTO

Como animais de estima��o estimulam o c�rebro das crian�as

Escolher animal de estima��o come�a com entendimento de como eles se adaptam � vida familiar. E seu impacto � profundo sobre desenvolvimento dos pequenos


28/06/2022 10:02 - atualizado 28/06/2022 10:03
683

Criança com porquinho da índia
Crian�as costumam formar fortes la�os com animais de estima��o, mas benef�cios s�o muito maiores, segundo pesquisas (foto: Getty Images)

Pegue um livro qualquer na estante de uma crian�a pequena. Provavelmente, o protagonista ser� um animal e n�o um ser humano.

Desde uma lagarta faminta at� grandes baleias-jubarte, as crian�as parecem universalmente fascinadas pelos animais. Mas, embora os personagens de um livro ilustrado muitas vezes estejam longe da realidade, os animais de estima��o que muitos de n�s temos em casa oferecem �s crian�as uma vis�o mais realista do mundo animal — e um relacionamento significativo que as influencia em in�meras outras formas.

 

 

 

Compreender esse relacionamento pode n�o apenas ajudar os pais a escolher o animal de estima��o ideal para seu filho, mas tamb�m fornecer uma vis�o mais profunda dos fatores que comp�em um relacionamento verdadeiramente bem-sucedido.

Para muitas pessoas, os animais de estima��o s�o membros da fam�lia muito queridos que oferecem apoio em muitas etapas da vida. Eles podem ajudar os casais a consolidar seu relacionamento, atuam como colegas de brincadeiras para crian�as pequenas e oferecem companhia para os pais quando os filhos saem de casa.

 

Um estudo nos Estados Unidos concluiu que 63% das resid�ncias com beb�s com menos de 12 meses de idade tinham um animal de estima��o e outro na Austr�lia constatou um aumento de 10% das fam�lias com pets mais ou menos na �poca em que as crian�as entram em idade escolar.

 

Muitos pais sentem intuitivamente que cuidar de um animal pode fornecer li��es valiosas �s crian�as sobre cuidados, responsabilidade e empatia.

 

"� muito importante, especialmente para as crian�as mais jovens, aprender que o ponto de vista de algu�m pode ser diferente do dela pr�prio", afirma Megan Mueller, professora de intera��o entre seres humanos e animais da Universidade Tufts, nos Estados Unidos. "Talvez seja uma li��o mais f�cil de aprender com um animal do que, digamos, com um irm�o ou colega."

Mas os estudos sobre os impactos ben�ficos dos animais de estima��o sobre as crian�as v�o al�m. Eles indicam que os pets podem influenciar as habilidades sociais, a sa�de f�sica e at� o desenvolvimento cognitivo das crian�as. Cuidar de animais � associado a n�veis mais altos de empatia. E, para crian�as com autismo e suas fam�lias, cuidar de animais de estima��o pode ajudar a reduzir o estresse e criar oportunidades para formar relacionamentos de apoio.

 

Outras pesquisas demonstram que os animais tamb�m ensinam as crian�as a concentrar-se. Estudos observaram crian�as que cometiam menos erros em uma tarefa de classifica��o de objetos e precisavam de menos lembretes em uma tarefa de mem�ria na presen�a de um c�o na mesma sala.

 

H� ainda pesquisas que chegaram a indicar que, pelo menos para os adultos, o simples ato de considerar nossos animais de estima��o como membros da fam�lia melhora o nosso bem-estar — embora as manchetes promovendo os amplos benef�cios de ter animais de estima��o costumem sofrer cr�ticas, j� que as pessoas muitas vezes acreditam que seus pets melhoram sua sa�de e felicidade, mesmo quando as medi��es objetivas n�o demonstram nenhuma diferen�a.


Criança cadeirante brincando com um cachorro e mãe
Terapia assistida por c�es � usada em muitos pa�ses, como nesta imagem na Fran�a (foto: Getty Images)

A intera��o com os pets — e com as outras pessoas

Mas os animais de estima��o s�o realmente os respons�veis por todos esses benef�cios ou somos n�s que pensamos assim?

Hayley Christian, pesquisadora e professora da Escola de Sa�de Global e da Popula��o da Universidade da Austr�lia Ocidental em Perth, vem tentando separar a causa do efeito.

 

Usando dados de um estudo longitudinal com 4 mil crian�as com cinco a sete anos de idade, Christian e seus colegas descobriram que existe uma rela��o entre ter um animal de estima��o e menos problemas com os colegas e melhor comportamento social. Em pesquisas separadas, os pesquisaores conclu�ram que crian�as com dois a cinco anos de idade que tinham um c�o na fam�lia eram mais ativas, passavam menos tempo nas telas e dormiam mais, em m�dia, que as crian�as que n�o tinham animais de estima��o.

Fundamentalmente, era a atividade f�sica possibilitada pelo c�o — como sair para levar o animal para passear — que fazia a diferen�a.

 

Em outro estudo publicado em 2021, as duas partes do quebra-cabe�as s�o reunidas. Excluindo o efeito da situa��o socioecon�mica, os

pesquisadores observaram que as crian�as que se dedicavam regularmente a atividades f�sicas relacionadas a c�es apresentaram melhores resultados de desenvolvimento.

 

"Podemos realmente afirmar que ter animais de estima��o e interagir com eles ao longo do tempo no in�cio da inf�ncia parece ser a causa desses benef�cios adicionais, em termos do desenvolvimento socioemocional [das crian�as]", afirma Christian, que tamb�m � pesquisadora s�nior do instituto Telethon Kids.

Mas isso n�o significa que todas as fam�lias devem ter um animal de estima��o, ou que toda crian�a que tem um c�o apresenta melhores resultados do que as que n�o t�m. Quest�es de comportamento, necessidades m�dicas complexas e o encargo financeiro de cuidar de um animal podem tornar a vida com o pet menos agrad�vel.

E as fam�lias que moram em resid�ncias inadequadas para animais tamb�m enfrentam outras barreiras.

"N�o acho que chegaremos algum dia ao ponto de recomendar a todos os que t�m crian�as que adotem um cachorro", afirma Mueller.

De fato, Mueller examinou se a sa�de mental dos adolescentes americanos com animais de estima��o era melhor que a de seus amigos que n�o tinham pets durante a pandemia de covid-19. Ela concluiu que os animais aparentemente n�o fizeram diferen�a. "Minha hip�tese � que a covid foi um fator de estresse imenso e que provavelmente n�o existe nada suficiente para super�-la", afirma.

� tamb�m poss�vel que a pandemia tenha eliminado uma das formas em que viver com um c�o pode nos ajudar. "Temos os benef�cios sociais de interagir com o c�o, mas tamb�m existe a forma em que os animais podem facilitar a intera��o social com outras pessoas", afirma Mueller. Durante os confinamentos, os adolescentes podem ter ficado restritos �s suas caminhadas di�rias com o c�o, mas evitado conversar com outros donos de animais, perdendo esses pequenos momentos de intera��o social.


Criança com hamster
Menina ucraniana acarinha seu pet na esta��o de trem de Vars�via, na Pol�nia. Pesquisas indicam que crian�as consideram seus animais de estima��o entre criaturas mais importantes das suas vidas (foto: Getty Images)

Relacionamento forte

Com rela��o � influ�ncia positiva dos animais de estima��o sobre as crian�as, � fundamental o estado do seu relacionamento — e n�o apenas viver sob o mesmo teto.

"A qualidade do relacionamento parece prever melhor alguns desses efeitos sobre a sa�de do que apenas se voc� tem ou n�o um animal de estima��o em casa", afirma Mueller.

Um dos fatores � o tempo que a crian�a passa com o pet. Se o seu irm�o tiver um hamster que vive no seu quarto, � menos prov�vel que voc� sinta uma conex�o forte com ele, por exemplo, que com um c�o da fam�lia que voc� leva para passear todo dia depois da escola.

A idade da crian�a pode tamb�m ajudar a determinar como o relacionamento dela com um animal de estima��o � s�lido. Crian�as com seis a dez anos de idade desenvolvem liga��es mais fortes com animais mais parecidos com os seres humanos, como c�es e gatos, que com esp�cies biologicamente mais distantes, como p�ssaros e peixes. Mas crian�as mais velhas, com 11 a 14 anos de idade, relatam ter o mesmo tipo de conex�o com as esp�cies com rela��o mais distante, incluindo camundongos, em compara��o com seus c�es ou gatos.

A din�mica familiar tamb�m tem o seu papel. O estudo longitudinal da Austr�lia observou que crian�as sem irm�os podem se beneficiar mais com os animais de estima��o, talvez porque, �s vezes, eles agem como um irm�o substituto.

"Os pais s�o mais propensos a permitir que seu filho saia de casa de forma independente [por exemplo, para dar um recado sozinhos] se sair com um irm�o ou um amigo", segundo Christian, "e adivinhe com quem mais? Com um c�o."

Os animais de estima��o podem at� ajudar na intera��o social nas resid�ncias. Pesquisas mostram que, em fam�lias de acolhimento, um pet pode ajudar a promover relacionamentos pr�ximos entre os cuidadores e as crian�as, al�m de oferecerem companhia por si pr�prios.

Quando as crian�as conhecem seus animais de estima��o, elas se abrem para uma compreens�o mais profunda dos animais no mundo como um todo. "Elas tendem a aprender com o seu pet, de alguma forma, a serem mais compreensivas, emp�ticas e a reagir aos animais em geral", afirma John Bradshaw, ex-palestrante sobre o comportamento dos animais de companhia da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e autor de diversos livros sobre c�es e gatos.

Um estudo brit�nico concluiu que as crian�as que t�m animais de estima��o em casa s�o propensas a acreditar mais na mente dos animais, ou seja, elas acreditam que os animais t�m pensamentos e sentimentos pr�prios.

"Voc� pode ter todo tipo de hist�rias imagin�rias na cabe�a sobre um le�o, mas, at� que algu�m o leve para a �frica, voc� nunca encontrar� um deles na natureza", afirma ele. "Mas um c�o ou um gato est� ali e pode ensinar a voc� como realmente � ser um animal, que os animais n�o s�o humanos, que eles t�m vidas muito especiais que pertencem a eles e n�o a n�s."

At� os beb�s observam e aprendem com os animais no seu conv�vio. Uma pesquisa conduzida por Karinna Hurley e Lisa Oakes, da Universidade da Calif�rnia em Davis, nos Estados Unidos, concluiu que os beb�s em resid�ncias com um pet reconhecem melhor os rostos dos animais quando t�m 10 meses de idade que as crian�as que n�o t�m animais.

E o relacionamento da crian�a com seu animal de estima��o pode tamb�m fornecer uma liga��o muito necess�ria com a natureza. "Ter um animal vivo de verdade, respirando e fazendo um pouco de bagun�a pela casa � uma boa forma de fazer essa conex�o", afirma Bradshaw.


Criança com cachorro
Animais de estima��o podem trazer diferentes benef�cios para desenvolvimento das crian�as (foto: Getty Images)

O que os animais pensam das crian�as?

Relembrar as origens selvagens dos nossos animais de estima��o pode nos dar uma ideia de como eles veem as nossas fam�lias.

Os c�es evolu�ram para viver ao lado dos seres humanos e podem formar la�os muito fortes conosco. J� os gatos s�o criaturas solit�rias por natureza. Mesmo assim, eles parecem considerar seus companheiros humanos como sua fam�lia.

"Nossos gatos nos cumprimentam erguendo suas caudas e se esfregando nas nossas pernas — exatamente o que eles fazem quando encontram outro gato conhecido ou que consideram um membro da fam�lia", escreve Bradshaw em seu livro The Animals Among Us ("Os animais � nossa volta", em tradu��o livre).

Mas a transforma��o dessa afinidade para as crian�as depende das experi�ncias de vida anteriores do pr�prio pet. C�es e gatos t�m uma breve janela — para filhotes, entre 8 e 16 semanas de idade — em que eles aprendem sobre os tipos de pessoas que poder�o encontrar nas suas vidas.

"Sabemos que, se os filhotes n�o conhecerem crian�as at� cerca de seis meses de idade, dependendo do seu temperamento pr�prio, eles podem exibir rea��es bastante adversas", explica Bradshaw.

"Isso indica que eles realmente n�o reconhecem as crian�as como seres humanos, a menos que tenham sido apresentados a elas como parte do pacote humano."

Isso faz totalmente sentido quando voc� observa do ponto de vista do animal, segundo ele. "Um beb� n�o se parece em nada com um ser humano adulto. Ele � muito menor, n�o consegue ficar de p�, faz barulhos muito diferentes dos humanos adultos e seu cheiro � muito diferente de um humano adulto."

Compreender como um animal de estima��o v� o mundo � fundamental para que todos se deem bem. Se um gato urinar em um novo ber�o ou carrinho de beb� trazido para casa, por exemplo, � f�cil tra�ar conclus�es.

"Se voc� n�o compreender a forma como o gato pensa, voc� poder� pensar 'o gato est� apenas com raiva porque vamos ter um beb�, ele deve saber'", afirma Bradshaw. "� claro que ele n�o sabe. Muitas vezes, � o ambiente olfativo [o cheiro da casa] que foi alterado e o gato perdeu seus pontos de refer�ncia familiares."

Os c�es e os gatos dependem muito dos seus narizes. Por isso, ter muitos cheiros novos na casa � como "chegar em casa e descobrir que algu�m pintou suas paredes de cores totalmente opostas", segundo Bradshaw.

Por outro lado, os aromas familiares podem mant�-los felizes. Em um estudo, Bradshaw e seus colegas colocaram na cama de um c�o uma camiseta que havia sido usada pelo dono do animal. "Aquele cheiro familiar parecia fazer maravilhas para o c�o, que ficou muito mais relaxado", conta.

N�o antropomorfizar nossos animais de estima��o — ou seja, n�o esperar que eles pensem e se comportem como seres humanos — � especialmente importante quando o assunto � a seguran�a da crian�a.

"Voc� nunca pode ter 100% de certeza de como um c�o ir� reagir em qualquer situa��o espec�fica", afirma Bradshaw. "Existe todo tipo de coisas poss�veis que podem acionar um modo diferente de comportamento de um c�o — talvez algo que o dono nunca havia visto antes."

Por fim, cada relacionamento entre uma crian�a e um animal de estima��o � �nico, com suas pr�prias peculiaridades, benef�cios e dificuldades — e, de algumas formas, os pesquisadores est�o apenas come�ando a compreender o que torna o relacionamento de uma crian�a com seu pet ben�fico para ambos.

"Esse campo realmente est� avan�ando pela observa��o dessas diferen�as mais individuais", afirma Mueller.

Enquanto isso, as pr�prias crian�as consideram os animais de estima��o entre os seres mais importantes das suas vidas, beneficiando-se dos seus companheiros animais para apoio emocional e conforto, al�m de serem confidentes infal�veis para os seus segredos.

"� muito dif�cil quantificar [alguns desses benef�cios] porque eles s�o muito individuais e a ci�ncia lida com popula��es e grandes n�meros", segundo Bradshaw. "[Mas] apenas porque n�o � muito tang�vel e facilmente medido, isso n�o quer dizer que n�o seja real."

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-61932265

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)