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Foi depois daquele momento, quando foi repreendida pelo seu marido, que ela decidiu abandonar as redes sociais. "Foi como se [algu�m dissesse] 'isso tem que parar'", relembra Macdonald, cidad� brit�nica que mora perto de Granada, na Espanha.
"Tirar foto era a primeira coisa em que pensava quando sa�a do carro", ela conta. "Pensar todo o tempo em criar conte�do e me preocupar com o que dizer estava ocupando espa�o demais na minha cabe�a e me deixando deprimida."
Uma semana depois, ela postou no Facebook e no Instagram que estava deixando as plataformas. "Foi surpreendente ver que foi a minha postagem mais curtida no Instagram. Todos estavam comentando 'eu queria poder fazer o mesmo' e 'voc� � muito corajosa'."
Macdonald � coach pessoal, especializada em ajudar as pessoas a parar de beber. Ela percebeu que passava, em m�dia, cerca de 11 horas por semana nas redes sociais.
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E afirma que a ideia de abandonar os aplicativos era muito mais assustadora do que a a��o real de sair. "Depois que sa�, n�o tive mais vontade de voltar", ela conta. "Foi bem libertador. Estou agora h� mais de seis meses sem acessar as redes sociais e recuperei parte daquela sensa��o de paz e liberdade que experimentei quando parei de beber."

Muitos de n�s passamos uma parte enorme do tempo nas redes sociais. Um estudo global em julho de 2022 estimou que uma pessoa passa, em m�dia, duas horas e 29 minutos por dia nesses aplicativos e websites — cinco minutos a mais do que no ano passado.
Algumas pessoas podem achar que este � um mau h�bito que deveria ser eliminado. Mas, para outras, � uma forma real de depend�ncia que elas precisam de ajuda para superar.
A organiza��o UK Addiction Treatment (UKAT), que mant�m centros de tratamento de depend�ncia em redes sociais, afirma que houve um aumento de 5% da quantidade de pessoas que buscam aux�lio para o problema nos �ltimos tr�s anos.
"Sem d�vida, a sociedade desenvolveu forte depend�ncia das redes sociais e da internet, de forma geral, durante a pandemia", afirma Nuno Albuquerque, consultor da UKAT.
O aumento da conscientiza��o sobre essas preocupa��es levou mais pessoas como Macdonald a abandonar as redes sociais ou pelo menos reduzir o tempo gasto nelas. E os provedores est�o observando a tend�ncia.
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No in�cio do ano, a empresa Meta, propriet�ria do Facebook, informou que seu n�mero di�rio de usu�rios ativos diminuiu pela primeira vez na sua hist�ria.
E um relat�rio interno do Twitter que vazou em outubro afirmava que seus usu�rios mais ativos agora est�o tuitando menos. O Twitter n�o desmentiu a autenticidade do vazamento.
At� o novo dono do Twitter, o bilion�rio Elon Musk, especulou no in�cio do ano: "o Twitter est� morrendo?"
E, recentemente, sua aquisi��o fez com que celebridades de Hollywood declarassem que ir�o sair do Twitter, por estarem insatisfeitas com as opini�es de Musk sobre a liberdade de express�o e seus planos para o servi�o.
Mas, de volta ao mundo real, quais s�o as outras raz�es que est�o levando as pessoas a abandonar as redes sociais?
'Cada vez menos privacidade'
A empres�ria Urvashi Agarwal saiu do Instagram em 2014, mas sua aus�ncia durou apenas cerca de um ano.
At� que, em agosto de 2022, ela excluiu sua conta pessoal pela segunda vez e afirma categoricamente que, desta vez, n�o haver� retorno.

"Sa� definitivamente", afirma a fundadora da marca brit�nica de ch�s JP's Originals, que mora em Londres. "Cem por cento. N�o � s� uma grande perda de tempo, mas parece que simplesmente h� cada vez menos privacidade no mundo. Tudo o que voc� faz � constantemente publicado."
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Agarwal tamb�m n�o usa mais o Twitter, nem o Facebook. Ela acha libertador: "Adoro. Agora, leio 15 p�ginas de um livro todas as noites."
A psicoterapeuta de Londres Hilda Burke, autora do livro The Phone Addiction Workbook ("Livro de exerc�cios sobre a depend�ncia do telefone", em tradu��o livre), afirma que existe atualmente maior consci�ncia sobre a quantidade de tempo que as pessoas est�o "desperdi�ando" nas plataformas das redes sociais.
"Agora, isso pode ser quantificado facilmente, pois a maioria dos telefones mostra detalhadamente como voc� est� passando seu tempo online", afirma ela.
"Ver a soma de tudo isso pode ser um alerta poderoso", explica Burke. "Muitos dos meus clientes expressaram correla��o entre o uso intenso das redes sociais, m� qualidade de sono e aumento da ansiedade."
Ela aconselha �s pessoas que sa�rem das redes sociais que informem todos os seus amigos, para que eles n�o continuem tentando entrar em contato por meio das plataformas.
"Ofere�a outras formas de contato. Talvez uma liga��o telef�nica � moda antiga possa atender melhor ao relacionamento na aus�ncia de mensagens diretas", aconselha Burke.
J� a executiva de rela��es p�blicas Kashmir, que prefere n�o informar seu sobrenome, tem 27 anos de idade e mora em Rochester, no Reino Unido. Ela saiu do Instagram 10 meses atr�s e, antes, tamb�m j� havia abandonado o Snapchat.

"O principal fator foi minha sa�de mental", afirma ela. "Existe muita press�o para acompanhar o que as outras pessoas est�o fazendo, o que realmente n�o � representativo, nem a realidade daquela pessoa."
"Eu ficava rolando a tela � noite para depois ter uma noite de sono ruim e n�o me sentir revigorada quando acordava", conta Kashmir.
"Agora, n�o estou fazendo compara��es na minha vida di�ria e realmente n�o sei o que as celebridades est�o fazendo."
"Isso me permite estar mais firme e presente, comprometida com as decis�es que tomo, em vez de ser influenciada", ela conta. Kashmir acrescenta que n�o estar no Instagram, nem no Snapchat, n�o afetou seu trabalho em rela��es p�blicas e que ela ainda usa o LinkedIn sempre que est� procurando um novo emprego.

Nuno Albuquerque, da UKAT, afirma que as redes sociais podem causar depend�ncia por muitas raz�es. A principal delas � que as redes servem de forma de escape, especialmente para a gera��o mais jovem.
"� simplesmente uma forma de conectar-se sem conex�o, um conforto dispon�vel a todo momento para fazer companhia a muitas pessoas", explica ele.
"Mas a depend�ncia alimenta o isolamento e, se algu�m passar mais tempo vivendo online que no mundo real, naturalmente ela ficar� isolada, o que pode gerar mais depend�ncia."
Ele aprova o fato de que mais pessoas est�o abandonando as redes sociais. "� prov�vel que, em algum momento, come�aremos a perceber os danos que elas podem causar aos nossos relacionamentos, � nossa sa�de mental e � nossa experi�ncia dos momentos da vida real."
De volta � Espanha, Gayle Macdonald afirma que est� mais feliz sem as redes sociais. "� t�o libertador sentar e tomar uma x�cara de ch� sem me preocupar com a imagem, a legenda e se deve ou n�o ser um story, reel ou postagem. Realmente, existem outras coisas na vida al�m disso."
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-63567891