Fernanda Vianna, de 40 anos, conta que fumou dos 13 aos 18 anos e parou at� os 35, quando retomou o h�bito, agora, com cigarro eletr�nico (foto: Leticia Spirandelli/Divulga��o )
Ser seduzido pelo cigarro para entrar em um grupo, fazer parte de uma turma, estar na moda, por timidez, ansiedade, entre outros motivos. Muitas pessoas se veem presas numa armadilha que pode ser fatal. Todo cigarro � prejudicial � sa�de e acarreta diversas disfun��es e doen�as. A personal organizer Fernanda Vianna, de 40 anos, � uma dessas pessoas capturadas pelo cigarro quando ainda era adolescente. “Minha rela��o com o cigarro comum come�ou cedo. Tinha um s�tio num condom�nio, na �poca era moda fumar, havia um grupo de pessoas mais velhas em que todos fumavam e eu, com uns 13 anos, comecei a fumar para fazer parte da galera. Nunca me dei bem com cigarro, passava mal, vomitava, mas, enfim, fumei dos 13, 14 anos at� os 18”, conta Fernanda.
Fiz a bi�psia e veio o resultado. C�ncer est�gio 4, afetando a l�ngua e o assoalho da boca. Tive linfonodos, j� sentia dor no ouvido e no pesco�o
Fernanda Vianna, de 40 anos, personal organizer
“Nunca fui de fumar muito, dois, tr�s por dia, no m�ximo. Era pontual. Fumei at� os 18 e decidi que queria uma vida saud�vel e parei, nunca mais fumei. Mas, aos 35 anos, passei por um momento complicado, um pouco deprimida, nervosa, ansiosa e voltei a fumar, e fumar com tudo. Sei l�, 10 cigarros por dia, parava e voltava. Fumei um ano, parei seis meses e assim foi dos 35 aos 40.”
At� largar o cigarro novamente, aos 40 anos, diante de um diagn�stico de c�ncer de boca/l�ngua, Fernanda Vianna conta que se entregou ao cigarro eletr�nico: “A hist�ria de fumar o cigarro eletr�nico entrou na minha vida crente de que iria parar aos poucos. A sensa��o era de que o vape era menos pior do que o cigarro. Fumava at� o eletr�nico que n�o tinha muito sabor. Para mim, ele era um auxiliar para parar de fumar. S� que o cigarro eletr�nico � de f�cil acesso, pode fumar em qualquer lugar, ele n�o d� cheiro, ent�o voc� est� com ele na m�o o tempo todo”, comenta.
“E a�, com essa vida ansiosa que a gente leva, p�e o cigarro na boca. Fa�o at� a rela��o de quem tem compuls�o por comida. O cigarro eletr�nico na minha m�o, gostoso, de menta, virando moda tamb�m... Quando comecei, era caro, trazido dos EUA, depois veio o vape. Vivia com o vape na m�o o tempo todo, fumando. Achando que era mais inofensivo. O pensamento era: ‘N�o estou fumando cigarro mais n�o, s� o eletr�nico.’”
Est�gio avan�ado
Fernanda destaca que seus m�dicos n�o sabem dizer se foi o cigarro comum ou o cigarro eletr�nico ou se ela tinha predisposi��o para desenvolver o c�ncer. “Seria err�neo dizer que foi s� o cigarro que causou meu c�ncer, at� porque meus m�dicos n�o sabem dizer. Porque o que tive, o c�ncer de l�ngua, de boca, normalmente d� em homens e acima de 65 anos, pessoas que fumaram a vida inteira. Meu caso foi apontado como raro e avan�ado. E tamb�m, vale dizer, que fui fumante passiva a vida inteira, meus pais fumavam, vivia sob a fuma�a – do caf� da manh� ao almo�o.”
At� ter fechado seu diagn�stico, Fernanda sofreu e peregrinou por consult�rios: “Tive um corte na l�ngua que melhorava e piorava. Como me incomodava, procurei dentistas e o primeiro diagn�stico foi de bruxismo, que eu mordia a l�ngua. Mas depois que tive COVID, os sintomas aumentaram: dor na boca, dificuldade para falar. Ao procurar outro dentista, ouvi que tinha nascido um siso, que mudou a mordida, que teria de tirar, mas nada de melhorar.
Fernanda acabou recorrendo a uma terceira dentista. “Ela foi minha salvadora. Olhou e me orientou a fazer uma bi�psia por precau��o. Fui at� o hospital, passei por um bucomaxilo de plant�o que, ao olhar minha boca, j� n�o me deixou ir em casa. Fiz a bi�psia e veio o resultado. C�ncer est�gio 4, afetando a l�ngua e o assoalho da boca. Tive linfonodos, j� sentia dor no ouvido e no pesco�o. Precisava fazer a cirurgia para ontem, porque o pr�ximo ponto seria pulm�o e met�stase”, disse, assustada.
“Gra�as a Deus n�o chegou nesse est�gio. Fiz uma grande cirurgia, um m�s de recupera��o, com sess�es de r�dio todos os dias e quimioterapia uma vez por semana por 24 meses. Foi sucesso absoluto. Sempre fui positiva, apesar de n�o ser f�cil. Mas a maneira como a gente leva o problema, com seguran�a e otimismo, influencia. Podia nunca mais falar, comer, engolir, rosto deformado, podia acontecer milh�es de coisas. Mas deu tudo certo”, comemora.
Mas a luta de Fernanda continua. Ela conta que ficou debilitada depois da r�dio e da quimioterapia, teve pneumonia, encarou um m�s de interna��o, e revela que sofreu mais do que com o c�ncer em si. “Fa�o acompanhamento de tr�s em tr�s meses e sigo rezando para n�o voltar. E se voltar, j� estou preparada para lutar com todas as armas”, afirma, confiante.
Reaprender tudo
Diante dessa batalha, Fernanda destaca que sua rela��o com o cigarro mudou. “Sempre que posso, ao ver pessoas fumando, eu alerto. Mas as pessoas n�o acreditam, algumas s�o agressivas. � importante conscientizar, porque o cigarro voltou a virar moda. O povo acha bonito, que n�o faz mal, quer estar no contexto e fazer parte de uma galerinha. Hoje, estou �tima. S� acompanhando. Fa�o muita coisa, fisioterapia, perdi um pouco da sensibilidade do lado esquerdo, a boca ficou um pouco torta, a quest�o da fala, degluti��o. S� tenho metade da l�ngua, perdi o paladar. � reaprender tudo. Mas com o tempo fui recuperando. Agora consigo saborear as coisas, como tudo de que gosto. Tudo era dif�cil, mas faz parte da vida.”
Com tratamento multidisciplinar, Fernanda fez fisioterapia por conta da mobilidade do seu pesco�o. Ela n�o levantava o ombro, o corpo ficava enrijecido. “A fisioterapia me ajudou n�o s� com a cervical, mas com exerc�cios para deglutir melhor a comida, para o ganho de abertura da boca, ter uma qualidade de vida melhor, para falar, j� que fa�o um esfor�o maior do que o normal e sinto dor.”
Diante da for�a de Fernanda, sua positividade e da forma como lidou com tudo, ela foi convidada para fazer parte da campanha Julho Verde, em 2023, para dar seu depoimento. “Vou contar sobre a forma como lidei com tudo e que fez diferen�a na minha vida. Sempre fui bem-humorada e otimista. Estou feliz com o convite para ajudar e espero que todos tenham um processo leve igual ao meu.”
Aumento de casos
Priscila Ferreira, fisioterapeuta cervicocraniomandibular, diz estar surpresa com o aumento de pacientes que tem atendido com c�ncer de boca. Mas ela enfatiza que n�o tem como atribuir essa alta exclusivamente ao cigarro eletr�nico (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
Priscila Ferreira, fisioterapeuta cervicocraniomandibular, diz que est� surpresa com o aumento de pacientes que tem atendido com c�ncer de boca. Mas ela enfatiza que n�o tem como atribuir essa alta exclusivamente ao cigarro eletr�nico. “Apesar de o cigarro eletr�nico estar na quarta gera��o e presente no Brasil desde 2009, ainda � muito recente para termos muitos casos na popula��o. Por�m, existem casos espec�ficos. Tive tr�s casos isolados de c�ncer de boca este ano no consult�rio, decorrente do vape”, alerta.
“Pacientes que apresentaram t�o rapidamente c�ncer de boca decorrido ao vape, provavelmente estariam expostos tamb�m a outros tipos de agente, como fator gen�tico, fumantes secund�rios ou etilistas. A idade m�dia desses pacientes foi de 32 anos, mulheres, e na fase de vida ativa. Agora, t�m aparecido mais homens, entre 40 a 65 anos, para tratamento p�s-c�ncer de boca devido ao cigarro convencional.”.
A fisioterapeuta cervicocraniomandibular aponta os passos para quem consegue seguir o tratamento. “Os m�todos terap�uticos utilizados para o tratamento das neoplasias de cabe�a e pesco�o incluem as ressec��es cir�rgicas, a radioterapia e a quimioterapia, em conjunto ou separadamente. Embora esses tratamentos sejam efetivos na erradica��o do tumor e aumento da sobrevida, as sequelas est�ticas e funcionais s�o a grande causa de morbidade entre os pacientes, levando a impactos f�sicos, psicol�gicos e sociais.”
Nesse contexto, a fisioterapia especializada em cabe�a e pesco�o tem o papel de preservar, desenvolver e restaurar a integridade cin�tica e funcional, como tamb�m prevenir altera��es causadas pelo tratamento do c�ncer de cabe�a e pesco�o.
Priscila Ferreira destaca que as principais disfun��es relacionadas aos tumores de cabe�a e pesco�o em que a fisioterapia cervicocraniomandibular atua s�o: dor, perda de for�a muscular, limita��o de amplitude do movimento (ADM) e funcionalidade do ombro homolateral, edemas e linfedemas de face, deforma��o na face, paralisia facial, parestesia (falta de sensibilidade), hipersensibilidade, trismo (rigidez na face) e les�o nervosa, gerando a “s�ndrome do ombro caido”.
“Essas altera��es podem ocorrer devido � tentativa de retirada completa do tumor ou de linfonodos cervicais comprometidos (esvaziamento cervical), lesionando estruturas acess�rias e importantes. Todas essas complica��es s�o fatores limitantes, que impactam negativamente na qualidade de vida do paciente com c�ncer de cabe�a e pesco�o. Por�m, a institui��o de um programa de fisioterapia cervicocraniomandibular direcionado e individualizado logo no p�s-operat�rio � capaz de prevenir e/ou minimizar tais sequelas. Por exemplo, com rela��o � dor.”
No consult�rio, Priscila Ferreira explica que os casos mais atendidos s�o o de carcinoma epidermoide, de l�ngua. “Normalmente, os pacientes procuram atendimento devido ao caro�o ou pequeno machucado intraoral, quando n�o h� uma melhora. Com isso, inicia-se o processo de investiga��o com o dentista estomatologista e o cirurgi�o de cabe�a e pesco�o.
A fisioterapia cervicocraniomandibular � aplicada de acordo com demandas individuais. “Cada paciente apresenta uma necessidade cl�nica. Por�m, o mais importante � o comprometimento do paciente e o conhecimento que o mesmo deve ter sobre seu corpo e em �mbito cient�fico. Com isso, conseguimos ter percep��es das pequenas evolu��es at� que o corpo obtenha resposta ao tratamento.”
No caso de pacientes com c�ncer de cabe�a e pesco�o, � fundamental uma equipe especializada e multidisciplinar, como dentista estomatologista, fisioterapeuta cervicocraniomandibular, oncologista, cirurgi�o de cabe�a e pesco�o, psic�logos e fonoaudi�logos. “S�o profissionais da sa�de que conhecem os aspectos relacionados � doen�a e todas as particularidades que a envolvem.”
Famosos que sofreram com cigarro eletr�nico
(foto: Instagram/Reprodu��o)
Modelo Lucas Viana
“Estava em uma festa e, de repente, me faltou o ar de um jeito surreal. Parecia que estava tudo entupido, como se estivesse afogando. Fui socorrido, me deram um aparelhinho de oxig�nio. Tudo isso aconteceu por conta de cigarro eletr�nico, vape”, acredita o modelo.
Cantora Solange Almeida
"Eu n�o conseguia atingir os tons na mesma facilidade que eu tinha antes. O uso indevido do cigarro eletr�nico quase culminou na perda total da minha voz e do meu emocional por inteiro. Me tirou do ch�o, de verdade”, diz a cantora.
(foto: Instagram/Reprodu��o)
Z� Neto, da dupla com Cristiano
"Realmente, passei por um problema s�rio no pulm�o devido a cigarro, esses vapes. Inclusive, dou um alerta para quem mexe com essa porcaria... Para com isso porque � um cigarro como qualquer outro e faz mal do mesmo jeito ou at� mais", alerta o cantor.
SAIBA MAIS
E o narguil�?
Apesar de ser tratado como produto inofensivo, o narguil� tem origem em pa�ses �rabes e o que o usu�rio ingere � um tabaco que sofre combust�o, aquecido com carv�o. Isso significa que, al�m da nicotina, ele tem mon�xido de carbono e alcatr�o. Ou seja, tamb�m � uma subst�ncia que traz danos � sa�de, al�m do risco de contamina��o ao ser compartilhado entre os usu�rios. M�dicos dizem que “uma hora de inala��o cont�nua de narguil� equivale � fuma�a de 100 cigarros”. No Senado, tramita um projeto de lei (PLC 104/2018) que pro�be a venda de narguil�s para crian�as e adolescentes. A proibi��o se estende a acess�rios como cachimbos, piteiras e pap�is para enrolar cigarro. J� no relat�rio Covitel, a pesquisa mostrou a taxa de experimenta��o de narguil� entre os brasileiros: 9,8% dizem ter consumido, contra 5% das mulheres. A faixa dos 18 aos 24 anos tamb�m � a que mais usa — 17% da popula��o da faixa et�ria.
receba nossa newsletter
Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor