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Estado de Minas SA�DE

Cigarro eletr�nico aumenta risco de ter c�rie, diz estudo

O teor a�ucarado e a consist�ncia viscosa do vapor produzido pelos e-cigarettes, inalados pela boca, t�m alguns de seus componentes aderidos aos dentes


24/11/2022 10:08 - atualizado 24/11/2022 11:48

mulher fumando cigarro eletrônico
Estudo, publicado no The Journal of the American Dental Association, � o primeiro conhecido a investigar a associa��o dos cigarros eletr�nicos com uma maior vulnerabilidade ao surgimento de c�ries (foto: sarahjohnson/Pixabay)
Chamados de pods, vaporizadores ou e-cigarettes, os cigarros eletr�nicos s�o cada vez mais consumidos pelos brasileiros — o Minist�rio da Sa�de estima que, em 2019, havia cerca de 1 milh�o de usu�rios do dispositivo cuja venda � proibida no pa�s. Estudos v�m mostrando os riscos diversos desse h�bito � sa�de. Agora, uma equipe da Tufts University School of Dental Medicine, nos Estados Unidos, inclui um novo preju�zo � lista: uma maior probabilidade de ocorr�ncia de c�ries e de outros problemas odontol�gicos.

O estudo, publicado no The Journal of the American Dental Association, � o primeiro conhecido a investigar a associa��o dos cigarros eletr�nicos com uma maior vulnerabilidade ao surgimento de c�ries. Karina Irusa, professora-assistente de cuidados integrais da institui��o americana, e colegas analisaram dados de mais de 13 mil pacientes acima de 16 anos tratados nas cl�nicas odontol�gicas de Tufts, entre 2019 e 2022.

A maioria dos volunt�rios afirmou n�o usar os pods, mas, entre os adeptos do dispositivo, os cientistas constataram uma diferen�a significativa nos n�veis de risco da doen�a bucal. Os resultados mostraram que cerca de 79% dos pacientes que usavam vapes foram categorizados como tendo alto risco de c�rie, em compara��o a quase 60% do grupo de controle — composto por aqueles que n�o consumiam cigarros em geral.

Uma das raz�es apontadas pelo estudo para a maior suscetibilidade � o teor a�ucarado e a consist�ncia viscosa do vapor produzido pelos e-cigarettes, que, quando inalado pela boca, tem alguns de seus componentes aderidos aos dentes. Os cientistas observaram que o aerossol produzido pelo dispositivo n�o apenas aumenta a prolifera��o microbiana da cavidade bucal, como tamb�m facilita a ades�o da Streptococcus mutans, principal bact�ria respons�vel pela c�rie.

 
"O biofilme bacteriano � um conjunto de bact�rias que vivem em um determinado equil�brio. Quando voc� usa um produto que favorece a reprodu��o e a maior quantidade de uma determinada bact�ria — e, no caso do cigarro eletr�nico, a bact�ria que � justamente respons�vel pela c�rie —, voc� aumenta a probabilidade de essa pessoa ter c�rie", explica Giuseppe Alexandre Romito, docente titular da disciplina de periodontia e vice-diretor da Faculdade de Odontologia da Universidade de S�o Paulo (USP).

Vaporizadores s�o ricos em a��car

Segundo Romito, os vaporizadores t�m como um dos princ�pios b�sicos serem mais ricos em a��car, o que garante o sabor diferenciado. H� ainda outras subst�ncias que tamb�m modificam a microbiologia da boca e aumentam a ades�o de bact�rias que causam a c�rie. "� como se voc� estivesse colocando uma bala na boca, uma bala com a��car", compara.

O propilenoglicol, a glicerina vegetal e a nicotina s�o alguns desses compostos que amea�am a sa�de bucal. Segundo Camille Vanini, especialista em periodontia pela Universidade de Bras�lia (UnB) e secret�ria da associa��o Brasileira de Odontologia do Distrito Federal (ABO-DF), estudos recentes da Universidade de Rochester, em Nova York, evidenciam que os tr�s ingredientes mais comuns nos cigarros eletr�nicos est�o associados � forma��o do biofilme bacteriano e � desmineraliza��o do esmalte do dente.

O propilenoglicol, por exemplo, � um �lcool que se mistura facilmente com aromatizantes e � apontado como um dos principais agentes de ressecamento da boca, processo que, quando cr�nico, pode causar c�ries e doen�as gengivais. A glicerina, por sua vez, � uma subst�ncia viscosa quase t�o doce quanto a sacarose. Apesar de n�o ser metabolizada pelas bact�rias associadas ao desenvolvimento da c�rie, estudos mostram que, quando combinada com aromatizantes, pode aumentar em at� quatro vezes a ades�o microbiana ao esmalte dent�rio e impulsionar em duas vezes a forma��o do biofilme bacteriano. "A import�ncia de se desenvolver pesquisas nessa tem�tica � que foi amplamente divulgado falsamente a ideia de que o cigarro eletr�nico n�o � nocivo ou menos nocivo que o cigarro tradicional", diz Vanini.

Outras amea�as

Karina Irusa alerta que, mesmo que a pesquisa tenha como foco a rela��o dos pods com o maior risco de c�rie dent�ria, os cigarros convencionais podem ser t�o prejudiciais quanto. "� por esse motivo que nosso estudo excluiu pacientes que usavam cigarros convencionais, pois isso poderia distorcer os resultados", afirma. "Alguns estudos demonstraram que o uso de cigarros convencionais tamb�m afeta as bact�rias causadoras da c�rie, fazendo com que elas adiram mais � superf�cie do dente. Os cigarros eletr�nicos t�m sabores a�ucarados adicionais dos quais as bact�rias se alimentam".


Giuseppe Romito lembra que, nos dois tipos de cigarro, as amea�as � sa�de bucal n�o se limitam a uma maior ocorr�ncia de c�ries. Outra complica��o � a doen�a periodontal. "� uma doen�a inflamat�ria, de origem infecciosa, que causa um processo inflamat�rio nos tecidos que s�o respons�veis pela sustenta��o do dente na boca. Uma vez que isso acontece, esse processo inflamat�rio vai causando, de maneira muita lenta, a destrui��o do osso que segura o dente na boca", detalha.

Se o paciente n�o for diagnosticado e tratado, ele pode chegar a perder todos os dentes. "A velocidade com que a doen�a ocorre � maior entre os fumantes", alerta o professor da USP. Segundo ele, o princ�pio � o mesmo quando se usa cigarros eletr�nicos. Por�m, faltam estudos cient�ficos com dados mais precisos sobre esse impacto. "Mas j� existem trabalhos que mostram que os pacientes que usam vapes t�m maior progress�o de doen�a periodontal, se comparados aos n�o fumantes", afirma Romito.

A autora principal do estudo tamb�m reconhece a necessidade de mais investiga��es sobre o efeito dos e-cigarettes na sa�de bucal. Ela e a equipe buscam financiamento para uma nova etapa do estudo: investigar melhor o mecanismo que leva ao risco aumentado de c�ries. "Acreditamos que entender o 'como' � fundamental no desenvolvimento de protocolos preventivos e de gerenciamento de c�rie para indiv�duos que usam cigarros eletr�nicos", justifica Irusa. Os autores do estudo recomendam que os dentistas perguntem rotineiramente sobre o uso de cigarros eletr�nicos e incluam essa informa��o no hist�rico m�dico de seus pacientes. A recomenda��o tamb�m se estende para dentistas pedi�tricos que atendem adolescentes, j� que esse � o grupo que mais faz uso do dispositivo.

Danos al�m da boca


Paulo Corr�a, pneumologista e coordenador da Comiss�o de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia

"Os cigarros eletr�nicos s�o como o cigarro tradicional: uma mistura qu�mica complexa de quase 2 mil subst�ncias de natureza ignorada. Eles v�o provocar as mesmas doen�as que os cigarros tradicionais. A quest�o vai ser o tempo para elas se mostrarem. As doses de nicotina no cigarro eletr�nico s�o muito mais altas. Portanto, seu poder de provocar depend�ncia � mais elevado. Al�m disso, existem riscos espec�ficos, como a inala��o de metais. Ent�o, sabemos que tem n�quel, lat�o, cobre, cromo, uma s�rie de subst�ncias. Por exemplo, os estudos mostraram que o n�vel de n�quel � entre duas a 100 vezes maior nos usu�rios de cigarros eletr�nicos do que nos cigarros convencionais. O n�quel j� foi relacionado com outros desfechos ruins para o usu�rio de cigarro eletr�nico, como o c�ncer de pulm�o e o c�ncer de seios paranasais. Ent�o, n�o, o cigarro eletr�nico n�o � s� vapor de �gua."

* Fernanda Fonseca, estagi�ria sob a supervis�o de Carmen Souza


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