Doen�as cerebrovasculares: press�o alta na gravidez � fator de risco

A partir do Mayo Clinic Study for Aging (MSCA), um relat�rio baseado no envelhecimento cognitivo de indiv�duos com 50 anos ou mais que vivem em Minnesota, nos Estados Unidos, os autores avaliaram uma amostra de 2.239 mulheres com, em m�dia, 73 anos. "As informa��es sobre as gesta��es foram extra�das a partir dos prontu�rios m�dicos para determinar se foram gestantes hipertensas e de qual tipo", conta a autora do estudo, Michelle Mielke, professora e presidente de epidemiologia e preven��o na Wake Forest University School of Medicine.

Na pesquisa, os autores tiveram como enfoque dois dist�rbios hipertensivos na gravidez: a pr�-ecl�mpsia e a ecl�mpsia. "A pr�-ecl�mpsia � uma doen�a progressiva, multissist�mica, que se desenvolve ap�s 20 semanas de gesta��o. � caracterizada pelo surgimento de eleva��o da press�o arterial associado a edema e/ou perda de prote�na na urina", explica �ngelo Pereira, coordenador da Obstetr�cia do Hospital Santa L�cia, em Bras�lia. "Pode ocorrer tamb�m nos casos de hipertens�o associado a les�o de �rg�os alvo, como cora��o, pulm�o, c�rebro, rins e f�gado", completa. Segundo o m�dico, a ecl�mpsia � o desenvolvimento de crises convulsivas generalizadas em gestantes com sinais e sintomas de pr�-ecl�mpsia.

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As participantes da pesquisa estadunidense foram submetidas a testes a cada 15 meses, durante cinco anos, e os resultados foram utilizados para avaliar o impacto de cada dist�rbio hipertensivo e o decl�nio percebido. "Todas fizeram testes cognitivos, que inclu�ram quatro dom�nios: mem�ria, aten��o/fun��o executiva, linguagem e visuoespacial. Tamb�m foi avaliada a cogni��o global, que � uma m�dia de todos esses dom�nios", continua Mielke.

Das mulheres, 83% tiveram pelo menos uma gravidez. E entre aquelas com gesta��es que ultrapassaram 20 semanas, 147 tiveram pr�-ecl�mpsia ou ecl�mpsia, 100 tiveram hipertens�o gestacional ou cr�nica e 1.607 n�o apresentaram dist�rbios hipertensivos. Os resultados da an�lise mostraram que mulheres com qualquer dist�rbio hipertensivo durante a gravidez experimentaram maiores decl�nios tanto na cogni��o global quanto na espec�fica, comparadas �s com gesta��es normais. Os desfechos foram piores para aquelas que tiveram pr�-ecl�mpsia ou ecl�mpsia. "Elas demonstraram maiores decl�nios na cogni��o global, linguagem, aten��o e fun��o executiva", afirma Mielke.

Diana Santana, neurocirurgi� do S�rio-Liban�s de S�o Paulo, explica que o decl�nio cognitivo global � caracterizado por uma desordem nas variadas fun��es cognitivas. "Fazem parte dessa avalia��o diversos dom�nios: aprendizado e mem�ria, linguagem, fun��es executivas, aten��o complexa, motora perceptiva e cogni��o social", lista. "Para a defini��o de decl�nio cognitivo global, � necess�ria a altera��o de pelo menos dois dom�nios cognitivos, enquanto o espec�fico vai apresentar deteriora��o em apenas algumas dessas �reas".

Em rela��o a poss�vel conex�o entre os fatores de risco vascular, como a hipertens�o, e o comprometimento cognitivo, Santana afirma que a intensa vasculariza��o do c�rebro faz com que qualquer doen�a que cause comprometimento dos vasos sangu�neos, afetando a circula��o cerebral, possa trazer consequ�ncias delet�rias. "Portanto, a cogni��o tamb�m pode estar prejudicada quando o fornecimento de sangue n�o acontece de forma adequada devido a doen�as como hipertens�o, diabetes e h�bitos de vida, como o tabagismo", enfatiza.

No caso da hipertens�o gestacional, da ecl�mpsia e da pr�-ecl�mpsia, a neurologista lembra que se tratam de doen�as sist�micas. "Elas podem promover algum grau de disfun��o endotelial e inflama��o sist�mica, afetando a circula��o cerebral e resultando em um dano vascular a longo prazo, o que pode se manifestar como um decl�nio cognitivo", detalha.

 

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Os autores da pesquisa afirmam que, com base na compreens�o da fisiopatologia do comprometimento cognitivo induzido pela hipertens�o, � prov�vel que os mecanismos subjacentes a esse fen�meno sejam complexos, multifacetados e atrelados aos processos de envelhecimento vascular. Por isso, a import�ncia de que a investiga��o cient�fica continue. "Estudos adicionais s�o necess�rios para avaliar se o controle adequado desses fatores pode reduzir o risco de decl�nio cognitivo na velhice", indicam.

Al�m disso, as integrantes da amostra eram predominantemente brancas, o que pode, segundo os autores, fazer com que os resultados n�o sejam generaliz�veis para outras popula��es. "Mulheres que s�o minorias sub-representadas t�m taxas mais altas de dist�rbios hipertensivos da gravidez. � fundamental examinar a rela��o com a cogni��o entre esses grupos", concluem.

S�o as pacientes em sua primeira gesta��o, aquelas acima do peso, sedent�rias, que t�m idade acima dos 35 anos, apresentam alguma doen�a autoimune, diabetes, doen�a renal, hist�ria familiar de press�o alta, gesta��es gemelares ou mulheres que engravidaram por meio de t�cnicas de reprodu��o humana, como a fertiliza��o in-vitro.

Isso pode ser explicado por fatores gen�ticos, bem como h�bitos, condi��es de vida e doen�as pr�vias que s�o fatores de risco comuns �s doen�as. Mas sabe-se tamb�m que a pr�-ecl�mpsia induz a altera��es metab�licas e fisiol�gicas, como disfun��o endotelial, resist�ncia insul�nica, atividade pr�-inflamat�ria e altera��es do colesterol, que podem permanecer mesmo ap�s o parto e causar doen�as card�acas e neurol�gicas anos mais tarde. As altera��es vasculares no c�rebro em decorr�ncia da pr�-ecl�mpsia podem levar a dem�ncia, transtorno de estresse p�s-traum�tico e depress�o.