mulher grávida

mulher gr�vida

Imagens/TV Brasil

“� um sonho, a gente vive a realidade, mas daquilo que a gente sonhou um dia!”, afirma a advogada Renata Wenceslau Monteiro, sobre ser m�e da pequena Alice Catarina, de quase tr�s anos. Depois de dois abortos, que resultaram na retirada das duas trompas, ela disse que perdeu o ch�o, j� que n�o conseguiria engravidar de forma natural. Ela chegou a falar para o marido procurar outra pessoa que pudesse dar filhos a ele.

Mas, o marido Rafael Ramos disse que queria ter filhos com ela. No entanto, o casal n�o tinha condi��es financeiras para pagar uma fertiliza��o in vitro (FIV), �nica t�cnica que ela poderia tentar, j� que o embri�o � feito no laborat�rio e n�o precisa das trompas. Assim, foram pesquisar para descobrir o caminho para engravidar por meio da sa�de p�blica.

“Sab�amos que o SUS [Sistema �nico de Sa�de] fazia o tratamento, mas a gente tinha pouqu�ssima informa��o. No �ltimo aborto, meu m�dico tinha me encaminhado para o hospital refer�ncia, o P�rola Byington, para poder fazer essa fertiliza��o, mas descobrimos que n�o bastava a carta dele”, contou Renata.

mãe e filha

Renata e sua filha Alice Catarina. Reprodu��o assistida foi feita no SUS

Divulga��o

 

 

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Mas, o marido Rafael Ramos disse que queria ter filhos com ela. No entanto, o casal n�o tinha condi��es financeiras para pagar uma fertiliza��o in vitro (FIV), �nica t�cnica que ela poderia tentar, j� que o embri�o � feito no laborat�rio e n�o precisa das trompas. Assim, foram pesquisar para descobrir o caminho para engravidar por meio da sa�de p�blica.

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S%u0101o Paulo (SP) - Renata Wenceslau Monteiro posa para foto com sua filha Alice Catarina Wenceslau Ramos. Mulheres que lutam para serem m�es: como est� o processo de reprodu��o assistida no SUS. Foto: Divulga��o
Renata e sua filha Alice Catarina. Reprodu��o assistida foi feita no SUS. Foto: Divulga��o

Foi ent�o que se informaram, entraram em grupos nas redes sociais e descobriram o caminho. “Tem que passar pelo sistema interno, que chama o sistema Cross, [a Central de Regula��o de Oferta de Servi�os de Sa�de]. Ali come�ou a efetiva��o do nosso sonho.”

At� dar tudo certo, ela n�o quis contar para muitas pessoas, para n�o criar expectativas.

“Mas quando eu consegui engravidar, comecei a falar para poder levar informa��o para as pessoas, n�o � toa muita gente me procura para querer saber como � o ingresso”.

Ela resume: “Voc� vai na central de regula��o da AMA [Atendimento M�dico Ambulatorial), v�o te inserir no cadastro do sistema Cross [Central de Regula��o de Ofertas e Servi�os de Sa�de] e ali fica na fila”.

No caso dela, o ingresso foi r�pido. “N�o fiquei dias na fila, fiz todo o procedimento na mesma semana, a resposta veio diretamente do hospital, recebi um e-mail para ir na consulta dia 30 de abril de 2019. N�o esque�o essa data.”

Doadora de �vulos


Na primeira consulta, Renata foi informada da possibilidade de ser doadora de �vulos, j� que com uma idade jovem - na �poca tinha 24 anos - poderia ajudar outras mulheres a engravidar, como pacientes oncol�gicas e com idades superiores. “Nesse dia eu aceitei ser doadora. E quando o m�dico soube que meu fator sangu�neo � B negativo, ele disse que tinha receptora B negativo e n�o tinha doadora no hospital. Fiquei bem feliz em poder ajudar algu�m, al�m de receber ajuda.”

De maio a outubro de 2019, ela fez exames e cuidou de uma infec��o. Assim que terminou essa fase, estava apta a iniciar a estimula��o ovariana [tratamento farmacol�gico para desenvolver os fol�culos ovarianos at� torn�-los maduros]. O que resultou em hiperest�mulo e foram coletados 26 �vulos de Renata. Destes, 15 �vulos estavam maduros. “Fiquei com oito e doei sete, que ficaram com a receptora. Espero que ela tenha conseguido engravidar tanto quanto eu”.  

Renata esperou dois ciclos de menstrua��o para poder fazer a transfer�ncia embrion�ria e deu certo na primeira tentativa. “Fiz o primeiro ultrassom com seis semanas. Estava l� um embri�ozinho no lugar dele certinho dele, com o cora��o j� batendo”, relembra.

A gravidez foi tranquila, diz Renata. “Tive dois sangramentos no come�o, mas fora isso foi tranquila. Em 16 de julho de 2020 a Catarina nasceu, linda, perfeita, maravilhosa. A� come�ou a nossa jornada na maternidade

Op��o


Al�m de ser uma op��o para casais como Renata e Rafael, a reprodu��o assistida pode ser o meio para pessoas que optam pela produ��o independente, pessoas com doen�as que causaram (ou poder�o causar) infertilidade, como em doen�as oncol�gicas, para casais homoafetivos ou para casais inf�rteis.  

Segundo a Sociedade Brasileira de Reprodu��o Assistida (SBRH), a infertilidade conjugal acomete cerca de 15% dos casais brasileiros em idade reprodutiva, o que representa cerca de 20 milh�es de indiv�duos ou 10 milh�es de casais. Atualmente, cerca de 10% dos ciclos de reprodu��o assistida s�o feitos por casais homoafetivos, informou a SBRH.

Cada tentativa de engravidar pelas t�cnicas de reprodu��o assistida, custa entre R$ 5 mil e R$ 30 mil, explica o presidente da associa��o, Paulo Gallo de S�, ginecologista e especialista em reprodu��o humana. “O custo do tratamento particular vai depender o tipo de tratamento de reprodu��o assistida e da qualidade do centro de reprodu��o.”

A insemina��o intrauterina (IIU) custa em m�dia R$ 5 mil, incluindo a medica��o. A t�cnica consiste na insemina��o e introdu��o no interior do �tero de s�men preparado no laborat�rio, com objetivo de obter a gesta��o. Desse modo, a insemina��o aproxima o(s) �vulo(s) dos espermatozoides para que a fertiliza��o ocorra naturalmente na tuba uterina.

Fertiliza��o


A fertiliza��o in vitro (FIV) privada pode custar em m�dia R$ 30 mil, incluindo a medica��o. A FIV � um tratamento que consiste em realizar a fecunda��o do �vulo com o espermatozoide em ambiente laboratorial, formando embri�es que ser�o cultivados, selecionados e transferidos para o �tero.

Alguns servi�os oferecem uma variante do processo, apelidada de mini-FIV, que custa em m�dia menos da metade: R$ 14 mil, com a medica��o. “S�o tratamentos de baixo custo, com menor dose de medica��o, buscando menor n�mero de �vulos e evitando o congelamento de embri�es excedentes”, afirma o ginecologista.

Quem n�o tem condi��es financeiras de pagar esses valores pode tentar por meio da sa�de p�blica em um dos centros de atendimento credenciados pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS). Desde 2012, uma portaria do Minist�rio da Sa�de destina recursos financeiros aos estabelecimentos de sa�de que realizam procedimentos de aten��o � reprodu��o humana assistida, no �mbito do SUS, incluindo fertiliza��o in vitro e/ou inje��o intracitoplasm�tica de espermatozoides.

“O Brasil possui pouqu�ssimos centros de reprodu��o humana assistida que realizam as t�cnicas de alta complexidade (fertiliza��o in vitro)”, segundo Paulo Gallo de S�, que aprova os servi�os. “Todos os dez centros s�o considerados de refer�ncia e atendem �s condi��es de seguran�a e qualidade exigidos pela Anvisa [Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria], disse.

A embriologista Vanessa Rodrigues Alves concorda com Gallo de S� referente ao n�mero de centros no pa�s. “S�o pouqu�ssimos os centros de reprodu��o que s�o totalmente gratuitos. Acho que falta o suporte do governo para ficar um pouco mais barata [a FIV] mesmo no particular, ou seja, existem outras formas do governo ajudar, n�o s� custear 100% o tratamento. Taxas mais baratas nos medicamentos e equipamentos que utilizamos na fertiliza��o poderia popularizar um pouco mais a reprodu��o humana e ter um n�mero maior de cl�nicas no Brasil”.

Especialista em reprodu��o humana, Vanessa trabalhou por oito anos no Hospital P�rola Byington, em S�o Paulo. Ela detalha como � a entrada no hospital. “A paciente tem que passar por um ginecologista do AMA, que vai coloc�-la no sistema Cross do governo estadual, que faz essa sele��o para entrar no hospital e conseguir a reprodu��o humana assistida. Leva algum tempo para ser chamada, mas n�o � uma fila de anos como antigamente”, explica.

Para a especialista, a reprodu��o humana assistida vem crescendo e tem que ser mais valorizada. “Muitas pacientes sofrem de doen�as que impedem de engravidar, a infertilidade � um tipo de doen�a reconhecida, deveria ser um tratamento obrigat�rio. Temos o direito de formar uma fam�lia”, opina.  

A especialista destaca ainda que o sonho de engravidar vai al�m da infertilidade. “Temos os casais homoafetivos de mulheres, por exemplo, que precisam do s�men de um banco, que n�o � barato,  casais homoafetivos masculinos que precisam de uma barriga solid�ria e v�o precisar de �vulos doados para poder ter uma gesta��o”.
Centros de reprodu��o humana assistida

Os centros de Reprodu��o Humana Assistida (CRHAs) est�o em sete capitais do pa�s, sendo quatro em S�o Paulo: Hospital P�rola Byington, Hospital das Cl�nicas da Universidade de S�o Paulo - USP (na capital e em Ribeir�o Preto) e Hospital S�o Paulo da Universidade de S�o Paulo (Unifesp).

H� tamb�m dois centros em Porto Alegre: Hospital de Cl�nicas de Porto Alegre e Hospital F�mina, um centro em Bras�lia, o Hospital Materno Infantil de Bras�lia; em Belo Horizonte, o Hospital das Cl�nicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Em Goi�nia, o Hospital das Cl�nicas da Universidade Federal de Goi�s e um em Natal, a Maternidade Escola Janu�rio Cicco da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Destes centros, somente em quatro o tratamento � completamente gratuito: a Maternidade Escola Janu�rio Cicco, Hospital P�rola Byington, Hospital das Cl�nicas da Universidade de S�o Paulo - USP e o Hospital Materno Infantil de Bras�lia. Nos demais, a paciente precisa arcar com as medica��es a um custo m�dio de R$ 5 mil.

Em nota enviada � Ag�ncia Brasil, o Minist�rio da Sa�de informou que o Sistema �nico de Sa�de (SUS) oferta acompanhamento integral para o planejamento familiar nos servi�os da aten��o prim�ria, incluindo consultas, exames, entre outros procedimentos; e de reprodu��o assistida nos estabelecimentos de sa�de habilitados em procedimentos de reprodu��o humana assistida.

“Ampliar o acesso das mulheres aos servi�os, bem como assegurar o acompanhamento de qualidade no SUS � prioridade do Minist�rio da Sa�de”, destacou a pasta, mas informou que n�o tem o n�mero de fam�lias que aguardam por reprodu��o assistida no SUS.

De acordo com relat�rio disponibilizado pela Anvisa, o SisEmbrio. Em todo o pa�s, existem 181 Centros de Reprodu��o Humana Assistida (CRHAs) e somente dez oferecem tratamento pelo SUS. A maioria dos centros est�o na Regi�o Sudeste, sendo que 60 deles se concentram no estado de S�o Paulo.

Os dados do SisEmbrio tamb�m mostram que, no ano passado, a taxa de fertiliza��o de pacientes menores de 35 anos ficou em 76,68%, com 1363 gesta��es cl�nicas e em pacientes maiores de 35 anos, a taxa de fertiliza��o foi de 79,63%, com 2023 gesta��es cl�nicas.

O SisEmbrio inclui dados de congelamento de embri�es para pesquisa, fertiliza��es in vitro, taxas de gesta��o cl�nica, congelamento de gametas, transfer�ncias embrion�rias e informa��es sobre taxas e indicadores de qualidade.

Caminho


Quem est� na cidade de S�o Paulo, como a Renata Wenceslau, deve primeiro ir a uma das 470 unidades b�sicas de sa�de (UBSs) que s�o a porta de entrada para a linha de cuidado voltada � sa�de da mulher na capital paulista, inclusive para o acompanhamento ao casal que possui dificuldade em engravidar.

Nas UBSs da cidade s�o realizados exames de cl�nica m�dica e ginecol�gicos para a investiga��o de poss�veis dist�rbios menstruais e infecciosos, que possam indicar a causa de infertilidade, e tamb�m o espermograma para os homens. Al�m disso, s�o feitas orienta��es sobre os momentos mais oportunos para uma gravidez, tanto no aspecto f�sico e psicol�gico, quanto no socioecon�mico.

Ap�s a an�lise dos exames, o paciente � inserido na Central de Regula��o de Ofertas de Servi�os de Sa�de (Cross) para acompanhamento na rede especializada, da Secretaria de Estado da Sa�de (SES) de S�o Paulo.

Segundo a SES, os agendamentos s�o feitos pela Aten��o Prim�ria � Sa�de via Central de Regula��o de Ofertas e Servi�os de Sa�de (Cross), obedecendo protocolo estabelecido, que � ter 37 anos, 11 meses e 30 dias de idade m�xima e diagn�stico pr�vio de infertilidade. Assim que a paciente � atendida, s�o solicitados os exames necess�rios e � indicado o tratamento adequado.

A SES informou que n�o tem o n�mero de pacientes em espera para serem atendidas nos centros de reprodu��o assistidas. “As filas s�o descentralizadas, estamos trabalhando para unific�-las”, informou a assessoria de imprensa da pasta.

Esperan�a


Para quem est� na fila a espera de uma chance de engravidar pelo SUS, Renata aconselha a n�o desistir. “Tudo tem um tempo certo para acontecer, pode parecer muito clich�, eu ouvi essa frase v�rias vezes quando eu estava tentando engravidar. Mas, vale a pena esperar,  realmente se voc� n�o tem condi��es de fazer um tratamento na rede particular, espere. E se voc� pode ser doadora, dependendo da idade, vale a pena buscar as cl�nicas”.

O caminho n�o foi f�cil, ela relembra. “Os dias na indu��o foram nove dias intermin�veis, foi a pior parte para mim, al�m das dores f�sicas que eu sentia, tinha o medo, muito medo, quem lida com infertilidade sabe, a gente tem muito medo”.

Passada essa luta, ela agora ela comemora a vida da filha. “Ser m�e tem o b�nus e o �nus, eu n�o romantizo a maternidade, mas � m�gico mesmo, eu amo ser m�e da Catarina.”