Riyi Shi

Riyi Shi e colegas criaram um minic�rebro para observar a rea��o

Universidade Purdue / Charles Jischke


O tempo entre uma pancada na cabe�a e o in�cio do surgimento de danos associados � doen�a de Alzheimer pode ser de apenas algumas horas. � o que indica um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, divulgado, nesta ter�a-feira (29/08), na revista Lab on a Chip. A equipe liderada por Riyi Shi desenvolveu um c�rebro em miniatura para avaliar o fen�meno.

Com o dispositivo em m�os, submeteu grupos funcionais de neur�nios de ratos cultivados em laborat�rio a tr�s golpes de for�a com impacto m�ximo semelhante ao recebido por um jogador de futebol americano em uma pancada na cabe�a, durante uma partida. Segundo o ensaio, o trauma reproduzido em um chip levou ao aumento imediato na produ��o de acrole�na, uma mol�cula associada ao estresse oxidativo e a doen�as neurodegenerativas.

Leia:
 Como as cabe�adas se tornaram uma das maiores preocupa��es do futebol

 

No experimento, os cientistas tamb�m notaram, no minic�rebro, uma eleva��o na quantidade de estruturas anormais formadas pelo ac�mulo inadequado da prote�na beta amiloide 42 (AB42), condi��o que � comumente encontrada em pessoas com doen�a de Alzheimer. "Essa patologia beta amiloide come�ou em poucas horas. Talvez, imediatamente. Nunca se ouviu falar disso", ressalta, em nota, Shi.

Segundo Marcelo Lobo, neurologista do Hospital Santa L�cia, em Bras�lia, estudos cient�ficos sugerem que les�es cerebrais traum�ticas podem desencadear uma s�rie de eventos neuroinflamat�rios e altera��es metab�licas que contribuem para o ac�mulo anormal de prote�na beta amiloide no c�rebro. "A resposta inflamat�ria resultante do traumatismo craniano pode interferir no processo de elimina��o normal da beta amiloide, favorecendo seu ac�mulo. No entanto, mais pesquisas s�o necess�rias para esclarecer os mecanismos subjacentes e as implica��es cl�nicas dessa liga��o", pondera.

Leia: Rem�dio para esquizofrenia � usado off label para agressividade causada por Alzheimer

 

Shi e os colegas acreditam que o c�rebro em miniatura ajudar� ele e a equipe a aprofundar o entendimento sobre a rela��o entre les�es traum�ticas na cabe�a e a doen�a de Alzheimer. "Isso est� bem estabelecido na observa��o cl�nica. Mas descobrir o caminho b�sico e essencial n�o � f�cil. Com a tecnologia em um chip, somos capazes de testar muitas hip�teses que seriam muito dif�ceis de avaliar em animais vivos", relata.

Tratamento

A inven��o usa um p�ndulo para fornecer for�a G a uma pequena c�mara que abriga cerca de 250 mil neur�nios. Um conjunto microeletr�nico embutido na c�mara mede a atividade el�trica das c�lulas nervosas, enquanto uma esp�cie de porta permite a observa��o microsc�pica delas. De tempos em tempos, os pesquisadores removem o aglomerado de neur�nios para fazer avalia��es bioqu�micas. "H� v�rias coisas �nicas que fazemos aqui, mas uma das maiores � que voc� pode atingir esse chip sem danific�-lo para poder causar impacto em um modelo vivo e continuar a estud�-lo", destaca Shi.

Segundo a equipe, o dispositivo tamb�m pode ser utilizado para testar poss�veis terap�uticas, incluindo medicamentos conhecidos por reduzir os n�veis de acrole�na. No estudo atual, eles observaram esse efeito, ap�s a simula��o de uma pancada com o uso da hidralazina, droga aprovada nos EUA para reduzir a press�o arterial. "Agora que sabemos o que est� acontecendo, h� algo que possamos fazer a respeito? E a resposta � sim. Aqui, mostramos que, se reduzirmos a acrole�na com esse medicamento, podemos diminuir a inflama��o e a agrega��o de AB42", explica.

Leia:  A nova droga que interrompe evolu��o do Alzheimer

 

De acordo com o artigo, nas primeiras 24 horas ap�s uma pancada, os resultados mostram n�veis elevados de acrole�na nos aglomerados de neur�nios e um aumento de 350% na produ��o de AB42 defeituoso. "Gra�as a esse dispositivo, as pessoas devem saber que quando voc� sofre uma concuss�o, n�o h� 10 anos para ver os danos. O tempo come�a a contar imediatamente E se quisermos fazer algo a respeito, precisamos agir rapidamente", alerta Shi.

Luan Diego Marques, psiquiatra do Instituto Meraki Sa�de Mental, em Bras�lia, refor�a a import�ncia da tecnologia. "A capacidade de construir e estudar um c�rebro em laborat�rio � um marco na neuroci�ncia. Em combina��o com a atual literatura sobre Alzheimer, essa pesquisa pode revelar novas nuances sobre como traumas e fatores ambientais contribuem para doen�as neurodegenerativas, abrindo portas para terapias preventivas e tratamentos mais eficazes", avalia. "Inclusive, pode ser fundamental dosar subst�ncias identificadas nesse estudo como maneira de perceber o risco no desenvolvimento do Alzheimer."