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Estado de Minas FILOSOFIA EXPLICADINHA

Nepotismo: o mal da pol�tica

Poder�amos nos espantar com a necessidade de uma legisla��o para regulamentar uma a��o que, por natureza, � imoral


04/10/2023 15:32 - atualizado 04/10/2023 16:03
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Esplanada dos Ministérios, em Brasília
Esplanada dos Minist�rios, em Bras�lia (foto: Ana Volpe/Ag�ncia Senado)
Plat�o afirma que a vida pol�tica deve ser uma desintoxica��o dos costumes privados e familiares. Para o pensador, o cidad�o deve ser educado de uma forma que saiba diferenciar, claramente, as rela��es regidas pelo parentesco daquelas republicanas, orientadas pela impessoalidade da justi�a.

 

Todo o livro “A Rep�blica” se concentra a discutir qual a forma��o ideal para o governante e, consequentemente, para os cidad�os da P�lis. Plat�o afirma que a educa��o � um dever da Rep�blica e, por esse motivo, n�o deve ser entregue aos desvarios familiares. Cada fam�lia, educada para si mesmo, n�o forma um Estado.  

 

Cada crian�a iniciaria seus estudos para, em primeiro lugar, ser capaz de se desvincular dos v�cios familiares. Ali, no ambiente educativo, ele deixaria de ser filho para se tornar cidad�o, n�o mais regido pelos interesses privados, mas pelas regras coletivas. Ao final desse processo ter�amos o famoso “Rei Fil�sofo”.

 

Educando o corpo e alma, ao longo de muitos anos, cada sujeito perceberia sua aptid�o. Alguns para as atividades do corpo, outros para a vida laboral, alguns para as estrat�gias militares e poucos para a vida intelectual. Nessa �ltima dimens�o, caberia ao Estado fornecer um desenvolvimento adicional, pois estes se mostrariam mais aptos aos assuntos pol�ticos. Para Plat�o, a educa��o �, na verdade, um desvelar da alma. Cada um j� carregaria, dentro de si, uma natureza espec�fica. O processo educativo teria como miss�o ajudar cada sujeito a descobri-la.  

 

O radicalismo do fil�sofo era t�o grande que propunha entregar os filhos, logo ao nascer, para que fossem educados por terceiros. Com isso, sua forma��o conservaria a objetividade de tutores t�cnicos e neutros. Ter�amos, nesse caso, leg�timos filhos da P�lis.

 

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Por mais que caibam in�meras cr�ticas a esse modelo, considerado elitista e excludente, ele tenta apresentar uma tese muito importante: educar-se politicamente � aprender a atravessar uma moral privada, familiar, caminhando em dire��o ao bem comum, quase sempre conflitante com os desejos ego�stas.  

 

Plat�o era, tamb�m, um cr�tico da democracia ateniense. Primeiro, por ela ter sido respons�vel pela morte de seu grande mestre, S�crates. Segundo, porque a considerava uma forma de governo deturpada pela vontade da maioria, sempre voraz, acr�tica e massificada. A justi�a n�o pode ser uma quest�o de “voto da maioria”, muito menos as a��es �ticas. � dif�cil estar correto sozinho. Bem mais f�cil errar junto com o grupo, n�o �? Por isso que a ideia de maioria sempre � mais confort�vel.

 

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No Brasil, a pr�pria lei incentiva a termos v�cios privados para obter benef�cios p�blicos, o oposto do pensamento plat�nico. A s�mula vinculante de 2008, do Supremo Tribunal Federal, tipifica como nepotismo a nomea��o de c�njuge, companheiro ou parente at� terceiro grau. No entanto, n�o tem efeito para os “cargos de confian�a”. Isso faz com que diversos agentes p�blicos aproveitem a situa��o para utilizar a m�quina p�blica para benef�cio pr�prio.

 

Essa “brecha” ajuda cerca de 12 governadores a “convidar” parentes para ocupar cargos p�blicos, segundo levantamento do GLOBO. Goi�s e Alagoas se destacam nesse quesito. Com sal�rios altos, benef�cios e outras quest�es envolvidas, parentes tratam a coisa p�blica como um quintal privado.

 

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Poder�amos nos espantar com a necessidade de uma legisla��o para regulamentar uma a��o que, por natureza, � imoral. No entanto, tratando de seres humanos, sabemos que a �tica n�o � capaz de conduzir todas as a��es. Quando ela n�o d� conta, precisamos mesmo � do rigor da lei. Mas quando a pr�pria lei n�o legisla? Ca�mos nos interesses subjetivos e desejos perversos daqueles que se enriquecem por meio do trabalho alheio.

 

O Estado, essa m�quina que nada produz, tem, por natureza, o objetivo de tudo levar. Quando ele � governado e gerido por subjetividades perversas, que n�o educaram as vontades e os esp�ritos para o bem comum, tende a ser tornar ainda mais cruel e tirano. 

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