
Toda vez que o vejo assim, sinto a alegria de um pai que comemora a formatura de um filho. Nenhuma gradua��o, mestrado ou doutorado � capaz de chegar perto daquela felicidade. Ali�s, os templos acad�micos cheiram a outro tipo de poeira, aquela ressentida pelos anos de desuso. A sujeira infantil � diferente, tem o aroma das coisas que est�o por vir.
A vida gerencial e higienizada que, na maioria das vezes, queremos impor �s crian�as � assustadora. Aulas distribu�das entre pequenos espa�os de tempo, novas l�nguas visando o mercado de trabalho, atividades extracurriculares, digitaliza��es e terapias hol�sticas fazem delas pequenos CEO’s, sigla para Crian�as Exclu�das do �cio.
Enquanto isso, na educa��o, vamos fazendo tudo ao contr�rio. Privamos as crian�as do brincar e da sujeira pedag�gica que lhes oferece anticorpos simb�licos. Quando chegam no Ensino M�dio, fase que exige um contato direto com o esfor�o e obriga��es da vida adulta, tentamos corrigir a falha. A� projetamos um ensino mais “l�dico”, “m�o na massa”, cheio de espa�os recreativos que criam, nos jovens, a expectativa de que a vida ser� uma eterna jornada de experi�ncia em um escrit�rio da Google: colorido, com hor�rio flex�vel, partidas intermin�veis de videogame e refrigerante acompanhado de pizza a qualquer hora.
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Vale lembrar que a inf�ncia n�o � um per�odo que antecede outra etapa da vida, como se fosse uma antessala, local de prepara��o para o que vir�. Ela � uma dimens�o existencial, uma condi��o humana. N�o cabe a ela ser anteced�ncia ou consequ�ncia de outras idades. Como todo momento vital, ela � um fim em si mesmo.
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Interessante � que a pr�pria filosofia era vista, em Atenas, como uma brincadeira cognitiva, coisa de crian�a. Por isso que os homens ocupados com seus neg�cios e suas guerras n�o aceitavam o fato de algu�m dedicar tempo para essa coisa in�til que chamamos de pensamento, reflex�o, sabedoria.
A educa��o de algu�m n�o pode ser vista como investimento, na qual depositamos um valor, no presente, e esperamos receb�-lo, com lucro, no futuro. Ela se parece, muito mais, com o ato de doa��o, entrega que desamarra ego�smos e enla�a sentimentos de coletividade em torno de uma narrativa que d� sentido a pessoas que precisam de um grupo para viver. � preciso se sujar para se relacionar, verdadeiramente, com o conhecimento.
Chego a pensar que s� � bom educador aquele que se especializou no letramento dos uniformes sujos.