
A Barnes & Noble �, atualmente, a �nica rede norte-americana de livrarias que resta em p� ap�s a invas�o das lojas online e da expans�o dos livros digitais. Fundada em 1971, a rede cresceu at� seu �pice, de 726 lojas, em 2008. De l� para c�, muitas fecharam.
Por muito tempo, foi acusada de erradicar de forma desleal as pequenas livrarias de bairro por todo o pa�s. A acusa��o n�o era infundada, e seguia a mesma din�mica - e os mesmos impactos - que as grandes redes supermercadistas sobre os com�rcios locais e familiares: a extin��o dos �ltimos num curto espa�o de tempo.
Quem nos conta essa hist�ria � Tania Menai (@taniamenai) numa mat�ria no Brazil Journal. Mais do que o relato das turbul�ncias e terremotos num mercado em profundas mudan�as, a mat�ria desvenda a estrat�gia adotada pela rede para se reinventar e, ap�s anos, voltar a crescer.
Nada de planos mirabolantes, nada de teses acad�micas complexas ou de consultorias de classe mundial. Nada de grupos focais ou estrat�gias de marketing, nada de reinventar a roda.
Pensando bem, foi isso mesmo: voltar a olhar para a roda, aquela coisa simples, geometricamente perfeita, o �pice da l�gica (junto com o clips), e um dos pontos altos do engenho humano. Uma cria��o fundamentada em, essencialmente, tr�s aspectos: l�gica, experimenta��o e bom senso.
Melhor ainda, royalty-free, ou seja, conhecimento dispon�vel sem custo e de dom�nio p�blico para quem quiser usar, desenvolver ou buscar outras solu��es a partir dessa.
A Barnes & Noble decidiu administrar cada uma de suas lojas como se fosse uma livraria local, adaptando os pedidos e o estoque ao gosto e prefer�ncias dos consumidores locais, reconhecendo a exist�ncia de uma cultura e perfil particular em cada lugar. Mais do que isso, a curadoria saiu dos "especialistas" do escrit�rio central e dos "cr�ticos especializados" e passou a ser responsabilidade dos gerentes locais, aqueles em contato constante com os clientes.
A Barnes & Noble come�ou a escutar os maiores interessados, os clientes de cada loja. Trocou o planejamento central pela escuta das demandas e oportunidades locais, mediadas diretamente entre os clientes e os gestores das lojas.
Fazendo um paralelo com as cidades e zona degradadas, equivale a ter objetivos e planos estrat�gicos de m�dio e longo elaborados e desenvolvidos por uma ag�ncia municipal de urbanismo "de estado" (e n�o "de governo), e projetos e programas de curto e m�dio prazos para cada bairro, setor (dentro de um bairro) e, at� mesmo, para determinados quarteir�es.
Vis�o de conjunto para a cidade, lupa para bairros, setores e quarteir�es.
Mobilidade urbana, seguran�a p�blica, saneamento e abastecimento, grandes equipamentos e desenvolvimento de voca��o para a metr�pole, projetos de interven��o urbana, caminhabilidade, �reas verdes, lazer, educa��o e sa�de em forma de "acupuntura urbana", como dizia Jaime Lerner.
� momento da gest�o das cidades ser delegada a uma ag�ncia urbana municipal, independente e composta por pessoal t�cnico, tanto do setor p�blico quanto do privado, com mandatos definidos, em indica��o pelo governo de plant�o e que n�o sejam servidores p�blicos de carreira, e sem filia��o partid�ria.
Mas n�o vai bastar: � necess�rio criar e fortalecer os conselhos de bairros, para al�m dos "representantes sociais" com eternas pretens�es pol�ticas, eleitos pelos membros de cada bairro, que tenham capacidade e isen��o para colher as necessidade locais, e defend�-las perante a ag�ncia urbana.
Nada revolucion�rio, nada acad�mico ou mirabolante. Como no plano da Barnes & Noble, uma esp�cie de "volta �s origens" e �s melhores pr�ticas, que s�o aquelas j� bastante testadas, e de dom�nio p�blico.
Gostasse a natureza de mudan�as bruscas e saltos de f�, as crian�as j� estariam nascendo com 3 bra�os (um s� para carregar o smartphone).
E quem sabe, a roda e as livrarias venham a salvar as nossas cidades.