
Grande parte do �dio a Bolsonaro � culpa do bolsonarista de rede social. Aquela pessoa de quem voc� l� um post virulento batendo abaixo da cintura, lastreado na desqualifica��o at� da apar�ncia f�sica do advers�rio, e pensa:
— Ah, n�o. N�o d� para votar em Bolsonaro. Essa gente n�o pode voltar ao poder.
Assim como grande parte do �dio a Lula � culpa do petista de rede social. Aquela pessoa de quem voc� lia um post virulento batendo um pouco acima da cintura, lastreado em acusa��es de fascismo ao advers�rio, e pensava:
— Ah, n�o. N�o d� para votar em Lula. Essa gente n�o pode voltar ao poder.
Quando Lula recuperou seus direitos pol�ticos, na anula��o de suas senten�as na Lava-Jato, aquele petista mais renitente de faca nos dentes voltou ao baile como em domingo de carnaval depois de uma pandemia.
Queria, como sempre, restabelecer a sua verdade de que Lula � inocente no seu modo muito pr�prio de chamar a plateia de idiota. Quando n�o de fascista, a servi�o de Bolsonaro.
Acabou dando ineg�vel contribui��o por colocar Lula como o polo oposto e �nico alternativo a Bolsonaro. E, com isso, refor�ar a velha impress�o de que se trata apenas do outro lado da mesma moeda, com a mesma tenta��o para o �dio.
Suscitando do outro lado do teclado:
— Ah, n�o. N�o d� para votar em Lula. Essa gente n�o pode voltar ao poder.
Coube aos mais inteligentes perceber o estrago e come�ar um processo de panos quentes virtuais. Num discurso mais elaborado de que n�o se pode equiparar as duas personalidades.
Como de fato, n�o. Emp�tico, caloroso, negociador de ber�o, feroz mas quase sempre no campo das ideias, est� longe de qualquer tra�o de car�ter de Jair Bolsonaro. � impens�vel que fizesse uma live nacional desqualificando advers�rios pelo peso ou alguma defici�ncia f�sica.
— O comunista gordo, o ladr�o de nove dedos — como definiu Bolsonaro na semana passada, como se estivesse num boteco de b�bados e n�o sentado na primeira cadeira do pa�s.
A ideia de polariza��o de dois iguais, embora diferentes em car�ter, levou Lula e os mesmos mais inteligentes das redes a empreender uma cruzada para coloc�-lo como a alternativa de centro que a direita democr�tica n�o est� conseguindo construir.
Um moderado que negocia com todo mundo, sempre teve boas rela��es com os empres�rios, os militares, os pol�ticos e a imprensa, como ele bem pautou os militantes na coletiva palanque depois da sua liberta��o pelo STF.
Veja trecho do v�deo: Lula acena ao centro para n�o ser contraface de Bolsonaro
Como a ideia de equipara��o persistia, muito tamb�m por contribui��o dos principais interessados nela — Bolsonaro e os candidatos � terceira via —, o discurso evoluiu para uma sofistica��o de que comparar os dois � fazer uma "falsa simetria".
Come�ou com o argumento de uma "criminaliza��o da pol�tica" pela Lava-Jato — puxado com sofistica��o por Reinaldo Azevedo, o novo guru de grande parte da esquerda — como uma das explica��es para a deteriora��o do ambiente pol�tico que resultou em Bolsonaro.
Nas palavras do cientista pol�tico e professor da FGV, Cl�udio Couto, numa live da semana passada no canal TV247, do site de esquerda Brasil247:
— Esse emburrecimento do debate pol�tico que coloca a corrup��o como o mal de todos os males, esse debate burro que resultou nessa antipol�tica que teve na Lava-Jato seu grande motor, mas n�o o �nico, (...) levou � elei��o de um oportunista, de um aventureiro, de um marginal da pol�tica extremista.
E � ideia, enfim, "da simetria das coisas que n�o s�o sim�tricas", como ele diz na mesma live, para contrapor o que seria uma esquerda democr�tica ao que seria uma extrema direita — como diria um petista — fascista.
Quanto por�m Bolsonaro e Lula n�o s�o ou n�o foram sim�tricos? A esquerda seria de fato democr�tica?
Fora as diferen�as de car�ter, h� boas raz�es para acreditar que Bolsonaro repetiu Lula no principal, no exerc�cio da Presid�ncia.
Tentou controlar o Judici�rio, comprou o Congresso, pagou milit�ncia jornal�stica virtual para afrontar a imprensa, desqualificar advers�rios e distribuir �dio. Tem a mesma tenta��o de atacar para defender e alimentar mil�cias sat�lites, como foi o MST de Lula, posto na janela para assustar "a zelite" sempre que passava aperto.
Tanto n�o foi democr�tica a esquerda de Lula no poder, que despejou do PT e do governo muitos homens de esquerda sofisticados, sobretudo depois do esc�ndalo do Mensal�o. Tanto quanto se criminalizou a pol�tica, desde quando Lula dizia que havia 300 picaretas no Congresso.
Admito por�m que Lula n�o tem tenta��es golpistas, como parece muito claro em Bolsonaro. Articula bem num sistema democr�tico e h� boas raz�es para acreditar tamb�m que tenha mudado de fato, muito, mais ainda, em dire��o ao centro.
Como afian�a seu novo e insuspeito adepto, Fernando Henrique Cardoso.
Se ganhar, vai fazer o mesmo governo de vi�s social-democrata que se seguiu ao de seu novo fiador, num mundo em que n�o d� mais para defender liberalismo e extrema direita. Distribuir� gorjetas sociais � esquerda e subs�dios � direita, no nosso eterno modelo de economia, esse sim, fascista.
N�o se sabe se mudou no que precisa ser a principal plataforma de qualquer candidato em 2022: distender e n�o acirrar o ambiente pol�tico, reduzir a zero o clima de �dio, que tamb�m n�o nasceu com Bolsonaro.
Problema, como se sabe, s�o os petistas. Vai que a gente cruza com um post chamando a ele de Deus e a gente de fascista. Vamos ter que pensar:
— Ah, n�o. N�o d� para votar em Lula. Essa gente n�o pode voltar ao poder.
Mais textos meus em: