
Um grande amigo me disse, recentemente: “Ricardo, n�o h� qualquer raz�o para imaginar que o brasileiro m�dio seja diferente, ou mais maduro, cultural e intelectualmente, que o italiano e o alem�o m�dios de 85 anos atr�s”. Perfeito. Minha ilus�o foi imaginar que o s�culo XXI enterrara, sen�o completa e definitivamente, mas praticamente, comportamentos medievais - e de manada. Ledo engano.
Pessoas violentas, rancorosas, insens�veis, incapazes de conviver em sociedade n�s as temos aos montes - e sempre! Beleza. Novidade alguma. Mas jamais as tivemos em t�o grande n�mero e t�o pr�ximas assim. A impress�o que tenho � que, a partir de agora, tal movimento tende a crescer, e l�deres como Bolsonaro, Nikolas, Zambelli e afins tornar-se-�o cada vez mais numerosos e mais populares.
Como iniciei este texto, o tal bolsonarismo n�o representa o Messias, mas, sim, o que ele representa: intoler�ncia, preconceito, autoritarismo… totalitarismo! � surreal assistir a pais e m�es que conhe�o h� d�cadas, gente que sempre imaginei ser da melhor qualidade, apoiar e repetir discursos de �dio contra pobres e nordestinos. Ali�s, gente que se dizia preocupada com a democracia, ir para as ruas pedir golpe militar.
Nos �ltimos dois meses, contudo, at�nitos - ao menos eu estou - assistimos a crian�as, pr�-adolescentes e adolescentes comportarem-se como leg�timos nazifascistas, publicando coisas horrendas nas redes sociais e praticando viol�ncia f�sica contra colegas nas escolas. Uma menina de 16 anos, colega da minha filha, falou em “derramar sangue” contra o PT. Outra em “pegar em armas para impedir a posse do ladr�o”.
No Col�gio Loyola, de Belo Horizonte, uma das mais tradicionais escolas da cidade, alunos “bolsonaristas” hostilizaram colegas “petistas”. Recorro �s aspas pois n�o s�o nada ainda, sen�o crian�as repetindo os pais. At� em institui��es de pr�-prim�rio os pequeninos rompiam as brincadeiras contra quem fosse petista. Meus Deus! Estou falando de criaturinhas com menos de 10 anos. Com quem aprenderam isso?

Indignado, ou melhor, abafado, assustado, sem saber mais o que pensar e fazer, gravei um v�deo que viralizou e que foi assistido por mais de 500 mil pessoas at� este s�bado. Sou judeu e, como tal, n�o consigo aceitar preconceito, viol�ncia, amea�a, enfim, contra qualquer etnia ou grupo social. Ali�s, nem mesmo contra um �nico indiv�duo que seja. Vai contra a minha g�nese, entendem?
E foi justamente em uma escola judaica, em Porto Alegre, que mais um ataque inaceit�vel, um ataque de cunho nazifascista ganhou as manchetes neste s�bado. Alunos judeus, ofendendo outros alunos por causa da cor, origem e classe social, que votaram em Lula. Que filhos de Abra�o s�o estes? Ali�s, filhos de que pais? De pais judeus? Judeus como aqueles do clube A Hebraica, no Rio de Janeiro?
Nas manifesta��es golpistas, ilegais e criminosas dos �ltimos dias, assistimos a cenas inacredit�veis de crian�as sendo utilizadas, ao modo dos terroristas palestinos, como “escudos humanos”. E gente bem miudinha, mas miudinha mesmo, com bandeiras e faixas nas m�os, pedindo o fim da democracia. Caramba! Deveriam estar brincando e jogando bola, e n�o praticando crime e aprendendo sobre viol�ncia.
Como n�o sou nem nunca fui de esquerda, e como, declarada e comprovadamente n�o votei em nenhum destes dois p�ssimos candidatos, sendo, inclusive, historicamente antipetista e, lamentavelmente, eleitor, no segundo turno de 2018, de Bolsonaro, me sinto muito � vontade para exercer o tal “lugar de fala”, sem qualquer comprometimento pol�tico ou ideol�gico. Minha guerra � contra os extremos e pronto.
O nazismo, o fascismo, o comunismo, o mao�smo, enfim, todas as tiranias sanguinolentas da hist�ria contaram com a resist�ncia de gente brava, humana, que correu riscos - e perdeu a vida -, combatendo o mal. Decidi fazer parte desta resist�ncia. Daqui a, sei l�, 30 anos, ou mais, os livros de hist�ria retratar�o esse momento cruel do Brasil, onde at� crian�as tornaram-se agentes da desgra�a, e eu estarei l�..
Sim, como eu disse, o “bolsonarismo” n�o ir� passar. Como n�o ir�o passar os milh�es de brasileiros que lutam e lutar�o contra a viol�ncia dessa gente. Quando os historiadores contarem o que aconteceu, como meus av�s me contavam sobre o holocausto, quero meu nome gravado ao lado de quem, meu netos, ter�o como justos e do bem. Este ser� o meu grande legado. Ainda que muitos n�o gostem e tentem me cercear.