
Vamos falar da mentira. No nosso dia a dia, tanto entre as pessoas an�nimas quanto entre os maiores l�deres deste mundo, as mentiras tornaram-se comuns. Quer sejam ditas com a inten��o de enganar quer com a inten��o de poupar de uma verdade prejudicial, a mentira continua sendo um engano.
A responsabilidade de uma mentira ainda � incerta: n�o se sabe, efetivamente, se � daquele que a comete ou daquele a quem se destina. Pode ser que o destinat�rio n�o suporte a verdade, o que obriga o remetente a mentir.
A mais dura das verdades � que todos n�s mentimos em algum momento da vida: mentimos, �s vezes, ao iniciar um relacionamento, para parecermos melhores que na realidade somos (talvez com leve desejo de sedu��o), mentimos para as almas fr�geis, quando a realidade � por demasiado angustiante; mentimos por polidez para n�o desagradar a imagem ou a est�tica alheia, entre outras mentiras, tratadas como mentirinhas aceit�veis para viver bem em sociedade, para alguns.
Que Kant n�o nos escute e, se escutar, nos perdoe.
Trata-se de um ato, tristemente, cotidiano, que somente o homem est� dotado de possuir, ao atingir um elevado desempenho cognitivo, diferentemente de outras esp�cies animais (sem desmerecer a capacidade mental de outras esp�cies n�o humanas, que podem enganar), mas o homem altera de n�vel ao mentir.
Fala-se o falso da mesma forma como se fala a verdade. N�o existe uma marca lingu�stica que as distinga, o racioc�nio gramatical � o mesmo. Se existissem estruturas lingu�sticas destinadas �s mentiras, pouco sucesso, com certeza, elas teriam.
De modo geral, o triunfo da mentira depende da credibilidade que ela alcan�a. Pior � que se pode mentir sem dizer uma �nica palavra, s� pela omiss�o, num ato silencioso da linguagem.
Os estudos realizados indicam que, quanto mais cr�vel, mais bem sucedida torna-se a falsidade difundida. Principalmente, quando o autor da mentira, o mitoman�aco (em negrito mesmo para se referir a um certo indiv�duo mentiroso que assim � chamado por aqueles que o devotam), sabe que o ouvinte est� pronto para ouvi-la.
O mitoman�aco � a pessoa que tem a impress�o, mais ou menos consciente, de que n�o tem grande valor. S�o pessoas sem confian�a, segundo os especialistas. A necessidade de mentir vem do desejo de se exibir, ou para se proteger, encobrir fatos e informa��es que n�o querem ver conhecidas. Elas podem n�o estar mentindo, mas ainda mentem.
Os cientistas acreditam que a mentira chega na tenra idade; a partir dos 3 a 4 anos, a crian�a j� testa o adulto com leves mentiras, o que indica, para a ci�ncia, uma complexidade da mente de elaborar teorias. Entre 10 e 11 anos, as crian�as podem mentir como um adulto, segundo os estudiosos.
Alguns consideram o feito not�vel. Os pais, entretanto, devem incutir em seus filhos que eles n�o devem mentir, mesmo que eles pr�prios mintam.
"Todo homem � um mentiroso". Esta afirma��o aparece no livro de Salmos (116, 11). Tal atitude � t�o universal que aquele que nunca mentiu atire a primeira pedra naquele que mente. O mentiroso poderia dizer a verdade, mas, considerando todas as possibilidades, opta por dizer o falso.
Joseph Goebbels disse que “uma mentira repetida dez vezes permanece uma mentira; repetido dez mil vezes, torna-se uma verdade. Nunca vimos verdade maior como nos tempos de polariza��o, pandemia, fake news e de CPIs.
H� estudos que mostram que o indiv�duo pode ser treinado para mentir e, como resultado, menos esfor�o cognitivo ser� gerado para repetir continuamente a mentira, tornando-a mais dif�cil de ser detectada e convencendo mais facilmente multid�es cegas (ou surdas) �s claras evid�ncias de trapa�as recorrentes.
O mais incompreens�vel de tudo � que � mais dif�cil mentir do que dizer a verdade. A verdade ocorre espontaneamente; j� a mentira � intencional e cuidadosa e, portanto, requer esfor�o mental para produzi-la. Gasta-se tempo e energia preciosa para constru�-la.
O mentiroso deve inventar sua hist�ria garantindo que ela seja veross�mil e que esteja em conformidade com tudo o que o interlocutor sabe ou poderia saber. O embusteiro deve, portanto, lembrar de sua mentira, t�o fielmente quanto poss�vel, para permanecer o mais coerente e se esfor�ar para parecer honesto aos olhos do ouvinte.
N�o � isso a que estamos assistindo.
Uma pesquisa realizada no Centro de Economia e Neuroci�ncias, da Universidade de Bonn, na Alemanha, em 2008, com 91 homens: 46 deles receberam aplica��o de gel de testosterona e a outra metade placebo, e a pesquisa concluiu que, aqueles com maior concentra��o de testosterona (o mais poderoso horm�nio masculino, estimulador da sexualidade, libido, coragem...bl�bl�bl�), mentiam menos.
H� um bando de homens no alto escal�o do poder precisando de dosagens cavalares desse horm�nio. Endocrinologistas de plant�o ofere�am tratamento gratuito, por favor.
� f�cil identificar os necessitados!
E contrariando, em parte, Pin�quio (o boneco que encantou crian�as em todo o mundo), cujo nariz crescia a cada mentira contada, os pesquisadores da Universidade de Granada, na Espanha, ao usarem uma c�mara t�rmica, identificaram que esse �rg�o da face incha e se aquece na ponta, laterais e pr�ximo ao m�sculo orbital ao mentir.
Conclus�o: pode-se mentir ao outro, mas n�o ao nosso corpo. A mentira muda a temperatura do nariz. D� vontade de sair apertando narizes por a�!
Mas, � preciso lembrar que a �nica maneira de ter certeza de que uma pessoa mentiu � saber a verdade e, diante da inverdade, as vozes n�o podem se calar.