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Estado de Minas MUDAN�AS AMBIENTAIS

Tempestades de poeira no Brasil: um silencioso Dust Bowl tropical

O desastre clim�tico dos anos de 1930, nos Estados Unidos, pode servir de alerta para as tempestades de areia nas cidades brasileiras.


18/10/2021 06:00 - atualizado 21/10/2021 07:04

Tempestade de areia cobre o céu de cidades de São Paulo
Cidades do interior de S�o Paulo ficaram com o c�u encoberto ap�s tempestade de areia (foto: Metsul/Reprodu��o )
Era o ano de 1932. A hist�ria come�a no vizinho ao Norte, os Estados Unidos.  Uma “seca diferente” de qualquer outra vista na regi�o das plan�cies do Sul havia atingido a regi�o. 
 
Durante as d�cadas anteriores, no cora��o do Meio-Oeste americano, o homem havia limpado, arado e semeado uma terra pouco f�rtil e pouco acolhedora para transform�-la no celeiro dos EUA. Os campos foram subjugados e transformados em “deserto” com as pr�ticas agr�colas adotadas. 
 
Foram os humanos os principais atores dessa trag�dia. 
 
A geografia norte-americana, resumidamente, � representada pelas altas montanhas, na por��o ocidental, as plan�cies, na por��o  central e os planaltos orientais. As plan�cies, recobertas, originalmente, por uma vegeta��o de pradarias, com predom�nio de gram�neas era o habitat dos n�mades amer�ndios e onde os animais pastavam livremente. Nenhuma atividade agr�cola havia sido realizada ali devido � inconsist�ncia das chuvas. 
 
Por�m, nos anos 1900, a terra era barata, e a constru��o de uma ferrovia que cruzava a regi�o atraiu muitos imigrantes e agricultores em busca de uma vida melhor e mais pr�spera. � a partir da� que v�rios fatores mudar�o o curso da hist�ria: a Primeira Guerra Mundial, um per�odo de fortes chuvas (difundiu-se a cren�a de que “a chuva seguia o arado”), os avan�os tecnol�gicos em equipamentos agr�colas, levaram � convers�o de milh�es de hectares de pradarias em campos de cereais. 
 
As gram�neas, com suas ra�zes profundas, que ajudavam a fixar o solo e a armazenar a umidade nos per�odos de seca, foram substitu�das por campos plantados
 
A Grande Depress�o atinge os Estados Unidos, resultante do crash da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, acaba afetando a regi�o. Os agricultores decidem aumentar a produ��o para compensar suas perdas. E, ao fazerem isso, o n�mero de terras aradas aumenta exponencialmente. 
 
Como nada � t�o ruim que n�o possa piorar, a partir 1932, secas severas atingiram a regi�o, deixando a terra desnuda, exposta ao sol e aos ventos. S�o esses ventos que v�o levantar a terra seca e a poeira para formar verdadeiras tempestades de areia, cada vez mais frequentes e cada vez mais mortais. 
 
Em 1932, 14 delas varreram a regi�o. No ano seguinte, eram 38. Essas altera��es ecol�gicas v�o durar mais de uma d�cada. O evento (originalmente, identificava a �rea atingida) ficou conhecido como “Dust Bowl”. 
 
As nuvens de poeira deslocaram do Sul para o Norte, atingindo Chicago, nos Grandes Lagos e, para Leste-Nordeste, alcan�ando Cleveland, Washington, Nova York etc. Dias se transformavam em noites. No inverno de 1934-35, neve vermelha caiu sobre Nova York.
 
Nesse momento, os norte-americanos se atentaram para a enormidade do problema.  O New Deal, o plano de recupera��o da economia dos EUA,  implantou um programa de contrata��o de desempregados, que tinha como objetivo a revitaliza��o da terra e o sustento de fam�lias inteiras. Foram implementados programas de reflorestamento e o desenvolvimento de novos modelos agr�colas, garantindo a recupera��o da terra ao longo do tempo (se o homem n�o voltar a interferir. O temor existe). 

No Brasil, no final de setembro, em plena primavera, esta��o que anuncia o per�odo chuvoso em boa parte do pa�s, cidades do interior de S�o Paulo e parte de Minas Gerais foram surpreendidas com um c�u apocal�ptico: tempestades de areia vermelha transformaram o dia em noite.  
 
A seca que atinge a regi�o de S�o Paulo h� v�rios meses (o per�odo de outono-inverno, que se estende de mar�o a setembro, � seco nessa parte do pa�s) e os ventos fortes que atingem 100km/h contribu�ram em grande parte para levantar essa poeira e criar uma tempestade monstruosa.

Essas tempestades, em que fortes ventos levantam uma vasta parede de poeira que pode medir milhares de metros de altura, � conhecida como haboob. O termo sudan�s, vem da palavra �rabe "habb", que significa "soprar". As paredes de poeira, que se movem rapidamente, s�o comuns em partes �ridas do mundo. N�o em cidades!
 
Haboobs s�o raros nesta parte do Brasil. Com essa intensidade n�o h� registros na �rea atingida. Pelo menos seis pessoas perderam suas vidas em consequ�ncia dessas condi��es atmosf�ricas. As seis v�timas morreram afogadas ou devido a queda de �rvores, desabamento de casas ou inc�ndios. 

Pouco se fala de um fator determinante: essas regi�es concentram um grande n�mero de planta��es de cana-de-a��car, laranja, soja etc. com grandes �reas sem vegeta��o e, portanto, um maior n�mero de part�culas pass�veis de voar com as rajadas de vento. Todos est�o calados perante a intensidade do problema. � um Dust Bowl tropical ignorado.  
 
O Brasil tornou-se um “jardineiro” comercial. Desmata e planta para abastecer mercados mundiais. O ciclo se intensifica em ritmo alarmante, mas n�o sensibiliza e um sil�ncio ensurdecedor paira sobre todos: o mercado, pol�ticos,  a sociedade civil e a imprensa n�o evidenciam a gravidade do que se anuncia. Os sinais est�o a�, s� n�o ver quem n�o quer. 
 
O espectro da seca se aproxima mais uma vez e as mudan�as clim�ticas s�o ignoradas pelos l�deres mundiais, ecocida ocupa cargo de poder, ex-ministro do meio ambiente trafica �rvores e deixa passar a boiada, o desmonte das leis ambientais � cont�nuo. As coisas acontecem como se n�o houvesse futuro. A agudeza do problema � ineg�vel.
 
� angustiante. H� todo momento somos informados de uma nova tempestade de areia em cidades do cora��o econ�mico do pa�s. N�o somos mais surpreendidos. N�o gera como��o ou medo. A not�cia virou lugar comum. 
 
� a ressurei��o do p�. Vamos louvar “o p� acima de todos”. Am�m! 
 

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